O estrangeiro e seu caralhão
Aposto que você nunca ouviu falar de Panagia, muito menos de Afrati e, se você não é grego e nem se aventurou como turista, muito provavelmente também não conhece Serifos, uma ilha a oeste das Cíclades no Mar Egeu, uns 170 quilômetros à lés-sudeste do Porto de Pireus. Sabe porque eu conheço a vila de Panagia e o vilarejo de Afrati? Simplesmente porque nasci na vila e cresci no vilarejo onde, aliás todos se conhecem, pois Serifos inteira nunca chegou a ter 1500 habitantes. A vida ali acontece devagar em meio a uma natureza estonteante, dominada pela quietude das águas coloridas.
Não me lembro de minha mãe, ela faleceu de uma doença misteriosa; uns diziam que foi um tumor que a levou, outros atribuíam sua morte à solidão, depois que meu pai foi levado pelo mar numa noite tempestuosa junto com alguns de seus companheiros pescadores, deixando viúva não só a minha mãe como outra meia dúzia de mulheres da ilha. Tudo o que lhes restou dos maridos foram algumas pranchas coloridas de madeira do costado da embarcação e outros itens sem importância que foram aparecendo na praia trazidos pelas marés algumas semanas depois de haverem partido para a pesca que os sustentava. Portanto, eu também não o conheci. Meu único parente era meu avô materno que me criou desde então. Na parede do meu quarto havia uma fotografia de cada um deles, embora eu não reconhecesse naqueles rostos nem um pai nem uma mãe, eram tão somente pessoas. Contudo, em certas ocasiões quando estava deitado na cama e as observava, brotavam-me as lágrimas; não sei se por não os reconhecer, ou por nunca os ter tido ao meu lado.
Morávamos numa casa caiada de branco com janelas e portas azuis no alto de uma colina implantada num terreno de cinco acres, onde cresciam oliveiras centenárias, limoeiros e laranjeiras próximos às janelas dos quartos e que perfumavam as noites de primavera com o perfume doce de suas floradas. A frente da porta da sala havia um parreiral que fazia sombra nas tardes quentes de verão, e sob o qual fazíamos as refeições nessa época do ano. Já nem se sabia mais há quantas décadas a propriedade estava na família do meu avô, as gerações foram se sucedendo, e ela abrigando a todas. Era uma casa grande, tinha bastante conforto com os cômodos amplos, iluminados e frescos, pois todas as aberturas deixavam passar a brisa constante do mar que soprava na direção sul-sudoeste. As noites nunca eram muito frias, nem mesmo no inverno, quando um cobertor fino dava conta do recado. Os dias eram ligeiramente mais quentes, mas no inverno um agasalho era obrigatório uma vez que o vento trazia ares mais gelados.
Serifos nunca foi uma ilha importante. Durante o Império Romano serviu de exílio. Um modesto crescimento econômico se deu no início do século XX com a exploração de seus extensos depósitos de minério de ferro, mas isso durou pouco, e o ostracismo voltou a dominar os dias da ilha e das poucas pessoas que a habitavam. Era uma vida pacata, guiada pelas estações do ano e pelas marés, nada mais parecia mudar ao longo dos anos. As pessoas incorporaram esse niilismo à sua existência e não esperavam muito mais do que aquela consecutividade monótona. Elas não se julgavam mutuamente, ou não se importavam com a maneira como cada um conduzia sua vida, pois se conheciam e sabiam por quais mazelas cada um havia passado. Portanto, julgar as ações do alheio, conhecendo seu passado, não fazia o menor sentido. As pessoas se aceitavam como eram, e isso as levava a fazer o mesmo com os outros.
Meu avô, Konstantin Karagiannis, descendia dos Karagiannis que chegaram à ilha alguns séculos depois da queda do Império Romano e, não havia em toda Serifos quem não conhecesse um Karagiannis. Por profissão era ourives, outra tradição secular que acompanhava os descendentes. No entanto, foi apenas meu avô quem mais se beneficiou da profissão quando seus trabalhos foram vistos por uma turista inglesa em férias pela Grécia, e que se encantou com as peças produzidas por ele, adquirindo-as para diversas joalherias em Londres e outras capitais europeias. Com uma demanda constante, à qual ele mal dava conta, vieram também os lucros, o que nos permitia ter uma vida estável e confortável. Aos dez anos eu já vivia sentado ao lado dele num dos cômodos da casa que abrigava seu ateliê, passando horas em sua companhia vendo-o trabalhar, ao mesmo tempo em que ele procurava incutir em mim o gosto pela ourivesaria, que também seria a minha profissão no futuro.
Meu tempo se dividia entre o ateliê, a escola e algumas horas de ócio que, no inverno eram usadas para fazer longas caminhadas em companhia do meu cão Zikos ou de algum garoto da vizinhança que encontrasse pelo caminho; e no verão eram passadas na praia da pequena enseada em formato de ferradura onde só se chegava descendo por uma trilha entre as rochas, onde a rapaziada se distraía com brincadeiras e mergulhos no mar. A praia ficava tão isolada que ninguém se preocupava em levar roupas de banho, tiravam-se simplesmente as que estavam no corpo e entrava-se nas águas transparentes da enseada que iam do incolor à beira da praia, passavam por um verde cristalino e continuavam com um azul índigo antes de ganharem o tom mais escuro do mar nas profundezas.
Eu gostava de ir ao encontro da molecada, pois sempre estavam ou jogando bola ou fazendo algo divertido. Para ser aceito nalguma brincadeira, costumavam me cobrar alguma coisa, uma vez que eu era o mais jovem dos rapazes do vilarejo, e não levava muito jeito para certos tipos de brincadeira sendo sempre preterido pelos que já estavam mais entrosados. As cobranças dependiam de quem estava no grupo, ou do que eu eventualmente trazia comigo, como alguma fruta, um chocolate, um petisco ou mesmo um brinquedo. Elas também iam de um pedido inocente, a algumas exigências libertinas, especialmente quando havia garotos na adolescência. Eles, por estarem com os corpos carregados de hormônios, sem terem muitas opções para liberarem o ardor que eles cobravam, viam na minha nudez a oportunidade de saciar suas taras. Eu não compreendia bem que prazer podia haver em deixar que lhe chupassem o pinto, uma das cobranças que os mais velhos me faziam para me deixar participar das brincadeiras; mas o fazia mesmo assim, e sem nenhuma culpa ou remorso. Eles acabavam rindo e se divertindo com a minha ingenuidade, e me ofereciam seus falos púberes assanhados com a lascívia a lhes transbordar pelos olhos em júbilo. Acabei ficando conhecido como Yorgos boqueteiro, o que não mudava muita coisa na minha vida, mas me permitia participar das brincadeiras.
Dimitrius e seu irmão mais novo, Karolos eram meio que os líderes da turma, uma vez que eram os mais velhos com até quatro anos de diferença entre o restante dos garotos, cujas idades se assemelhavam à minha. Nessa condição, eram eles que impunham as regras, decidiam sobre as brincadeiras e impunham castigos aos que ousassem questionar suas decisões. Ambos já haviam entrado na puberdade, tinham os corpos mais fortes e, juntamente com o Achilleus, eram os únicos a terem a virilha coberta de pentelhos densos e negros. Isso, por si só, já fazia com que os garotos os respeitassem, pois compreendiam que ele era um sinal de amadurecimento e poder, com o qual não viam a hora de também serem contemplados. Eu e o Dimitrius tínhamos uma estranha relação de dominância e submissão, uma vez que nunca lhe atribuí o poder que os demais garotos respeitavam. Por conta disso, ele procurava dobrar minha resistência em aceitá-lo como líder inquestionável, ao mesmo tempo em que se sentia responsável por me proteger dos demais garotos, quando tentavam me subjugar. Foi dele a ideia de me fazer chupar as rolas dos garotos para ser aceito no grupo, sendo o primeiro no qual fiz um boquete, com ele me orientando, dado que nunca tinha colocado uma pica na boca. No dia em que o fez, o grupo todo assistiu embasbacado eu lambendo e chupando um pinto, o pinto grosso e cabeludo dele, enquanto ele grunhia de prazer. Todos quiseram descobrir que tipo de prazer era aquele que deixava o Dimitrius tão extasiado e satisfeito. E, o descobriram quando os chupei, um a um, para me aceitarem naquela pequena e seleta comunidade. Eu não sentia nada de especial, fazia-o mecanicamente, dava umas lambidas em todo cacete, chupava uns poucos minutos a chapeleta e o tanto que conseguia colocar na boca e estava cumprida a missão. O que variava eram os sabores e os cheiros de uma rola para a outra, mas isso pouco me importava, eu ainda desconhecia a sensualidade, pois os hormônios responsáveis por incutir essa sensação ainda não circulavam em minhas veias.
Já nessa época, o Dimitrius, o Karolos e o Achilleus implicavam com meu corpo; talvez o termo correto não seja implicar, mas se extasiar com a minha nudez. Por alguma razão, eles gostavam de me tocar, de grudarem seus corpos ao meu quando me agarravam por alguma necessidade de uma brincadeira qualquer e, também de beliscar as minhas nádegas que eram, sem dúvida, as maiores dentre todos os rapazes. Também isso eu desconhecia, a capacidade que meu corpo tinha de excitar aqueles três fazendo com que me bolinassem a torto e direito. Ninguém via maldade naquilo, era tão somente uma brincadeira, uma maneira de zoar com um colega. Também com isso eu não me importava, achava natural, até porque essas mãos bobas eram sentidas por todos, como se fizéssemos parte de um formigueiro, onde cada formiga toca na outra para deixar seus feromônios e identificando os da outra como pertencente à mesma colônia.
A primeira vez em que fiquei realmente zangado com o Dimitrius, desistindo inclusive de participar da brincadeira daquele dia e voltando para casa, foi quando ao chupá-lo, ele ejaculou na minha boca, enquanto impedia que eu me afastasse de sua rola e me obrigando assim a engolir sua porra. Àquela altura, eu já sabia o que era aquele líquido espesso, leitoso e viscoso e para que ele servia, por isso fiquei tão furioso com ele.
- Volta aqui, Yorgos! Desculpe, foi sem querer! Você ainda precisa chupar os outros, ou não vamos te deixar brincar da próxima vez! – exclamava ele atrás de mim quando subia os rochedos para voltar para casa. – Volta aqui moleque! Se contar isso para alguém vou te dar uma surra!
Fiquei emburrado por alguns dias, sem voltar à praia, embora os dias estivessem bastante ensolarados e quentes. Meu avô me perguntou se eu havia brigado com meus amigos, e eu neguei. Por algum motivo eu não queria que ele ficasse sabendo do acontecia naquelas areias quentes longe das vistas de todos, especialmente de adultos que pudessem se objetar ao que vissem. Contudo, já fazia um tempo que eu queria entender o porquê de uns garotos, e mesmo homens, terem corpos tão diferentes uns dos outros, tanto no que tange à musculatura, à quantidade de pelos distribuídos pelo corpo quanto por aquela voracidade tão presente no Dimitrius, Karolos e Achilleus. O que significava aquele brilho que havia no olhar deles toda vez que observavam minha nudez, e que os demais garotos não tinham?
- Vovô, por que os homens são tão diferentes uns dos outros? – soltei subitamente, quando estava ao lado dele vendo-o incrustar uma pedra num pingente que ele havia fundido no dia anterior.
- Todos os indivíduos são diferentes entre si, não apenas os homens. Cada ser vivo é individual, é único! Por que a pergunta, Yorgos? De onde você tirou isso? – questionou.
- Não sei! É que tenho a impressão que alguns homens são mais homens que outros!
- Como assim?
- Sabe os nossos vizinhos, Dimitrius e Karolos, e também o filho da dona da padaria, o Achilleus, eles têm pelos em diversas partes do corpo, enquanto nós outros garotos não temos. – meu avô largou o que estava fazendo e me encarou, havia chegado a hora de ele me explicar algumas coisas que não sabia bem por onde começar. Daí um silêncio prolongado, onde notei que ele procurava uma maneira de responder à minha pergunta sem falar demais, e nem deixar uma abertura para aquele monte de porquês com os quais eu costumava atormentá-lo até que minha mente tivesse montado todo o quebra-cabeças de determinado assunto.
- Você em breve vai ficar parecido com eles, é o que acontece quando se cresce. – foi a melhor resposta que encontrou, não a que ia me satisfazer.
- Por quê?
- Porque durante o crescimento até o homem se tornar adulto e até depois disso, passamos por diversas fases. Desde um bebê até um homem velho como eu. – minha cara lhe dizia que ainda haveria mais porquês.
- Vou ficar peludo como você?
- Não sei, Yorgos! Provavelmente não tanto quanto eu, e acredite, isso é bom, pois essas costas todas peludas são muito desconfortáveis em dias quentes como hoje. Seu pai não era tão peludo, então acho que você também herdou essa característica dele, como tantas outras. Mas, só o tempo dirá! – toda vez que ele mencionava meu pai, eu aproveitava para lhe fazer algumas perguntas, pois já havia notado que ele não gostava de falar sobre esse assunto.
- Você gostava do meu pai, vovô?
- Ora que pergunta boba, Yorgos!
- Por que você não gosta de falar dele, vovô? Ele era ruim?
- Não Yorgos, claro que não! Seu pai era uma boa pessoa! Tomara que quando crescer você fique como ele.
- Então por que você não gosta dele, sempre evita falar dele?
- Porque ele morreu! Ele não podia ter morrido! – exclamou enfático
- Mas como ele ia fazer para não morrer se todos que estavam no barco também morreram?
- Você está impossível hoje, Yorgos! O que deu em você para fazer tantas perguntas num só dia? Se ele não tivesse morrido, sua mãe hoje estaria viva e conosco, por isso ele não podia ter morrido, não podia! Ela se foi para ficar junto dele, e nos deixou! – a dor de perder a filha ainda não estava superada, e aquele olhar marejado me dizia que jamais o seria. Resolvi encerrar meu interrogatório por aquele dia, embora ainda houvessem centenas de perguntas sem resposta.
Meio que estremecido com o Dimitrius, deixei de ir à praia por uns dias para não o encontrar. Eu sabia que aquilo que ele me fez engolir era fruto de sacanagem e, embora o sabor alcalino e amendoado daqueles jatos cremosos não fosse ruim, foi o olhar dele enquanto os ejaculava na minha boca que me deixou abalado.
Quando voltei, foi ele quem me ignorou, fazendo-se de ofendido. Porém, o irmão Karolos é quem estava com a corda toda naquela manhã. E algo me dizia que todo aquele fogo se devia ao fato de o Dimitrius ter lhe contado sobre o que aconteceu. Próximo a hora do almoço, a molecada foi deixando a praia desfazendo os dois times que disputavam uma pelada. Fui um dos últimos a entrar no mar para tirar a areia e o suor do corpo. Como sempre, todos estavam nus; era quase um ritual, descer o rochedo e se livrar das roupas para só então ingressar nas brincadeiras. Caminhei até onde as ondas chegavam à minha cintura, pois apesar de saber nadar com certa desenvoltura ainda carregava aquele medo que meu avô incutiu em mim narrando suas inúmeras histórias de pessoas que se afogaram no mar. O Karolos me seguiu de perto, mal dois passos de distância, e quando me abaixei para que a água lavasse meus ombros, ele me segurou abraçando-me por trás. Ao ficar novamente em pé, senti algo duro roçando meu reguinho. Virei-me rapidamente e, através da transparência da água, constatei que era seu pinto, que estava duro e acrescido.
- Você é tão gostoso, Yorgos! Sua pele, seu corpo, essa bunda redondinha e carnuda, me deixam maluco, sabia? Eu queria entrar nessa bundinha! Chupa minha rola como chupou a do meu irmão, até me fazer esporrar nessa boquinha linda! – grunhia ele junto ao meu ouvido, enquanto me encoxava com vigor.
- Para Karolos! Por que está esfregando essa coisa em mim? Me solta! – protestei, desconfiado que aquilo fosse outro tipo de sacanagem, pois ele, o Achilleus e o Dimitrius só andavam falando sobre sexo, seios e vaginas de garotas, bundinhas de nós ainda não entrados na puberdade e outro tanto de coisas que deixavam a molecada embasbacada mesmo que só parte daquilo tudo fosse compreensível.
- Porque estou com tesão, muito tesão nessa sua bundinha e no seu corpo tesudo! – respondeu ele. – Sabe o que é tesão, Yorgos?
- Não, não sei! E nem quero saber! Só quero que me solte e pare de esfregar seu pinto em mim! – exclamei, procurando me desvencilhar de seus braços musculosos, sem sucesso.
- Tesão é quando a gente quer fazer sexo, é quando como eu agora, fico cheio de vontade de enfiar minha pica no seu cuzinho, toda ela, até lá bem no fundo! – rosnava ele, tomado de uma gana desenfreada.
Os poucos garotos que ainda estavam na água, ficaram observando a cena, ele parecia um daqueles cachorros que sobem em cima da traseira das cadelas agarrado a mim que não encontrava uma maneira de me livrar dele. O Dimitrius nos observava da praia, sentado na areia com um sorriso ganancioso estampado na cara. De repente, uma onda maior se abateu sobre nós e ambos caímos no chão, foi minha chance de escapulir e correr em direção à praia, pegar apressadamente minhas roupas e escalar as rochas antes mesmo de vesti-las. Cheguei em casa esbaforido, pois parte inicial do trajeto fiz correndo e com o coração aos saltos. A partir daquele dia pressenti que corria perigo nas mãos daqueles três, só me faltava descobrir que tipo de perigo era esse.
Com o passar dos anos fui compreendendo o que significavam certos olhares que os rapazes, que deixaram de ser meninos e estavam virando homens, e mesmo alguns homens mais maduros, lançavam sobre mim e meu corpo. Eu não era como eles, havia crescido obviamente, mas era um rapaz sem todos aqueles pelos, sem tantos músculos, embora os que tinha fossem bastante harmoniosos, e principalmente, era um rapaz que não tinha aquele mesmo fogo pelas garotas ardendo dentro de mim. Onde quer que fosse ouvia a expressão – que garoto lindo – sendo pronunciada na maioria das vezes à meia voz. Contudo, eu não me achava mais bonito do que ninguém, e ignorava essas observações. Até onde eu julgava, na verdade gostava mais dos rapazes do que delas, apesar de ser amigo de muitas delas. Isso tudo também me fez encarar aquelas safadezas que faziam comigo por outro ângulo, eu agora reagia mais violentamente quando me apalpavam, bolinavam ou encoxavam, pois isso me fazia ter sensações estranhas que ainda me assustavam por não serem plenamente compreendidas.
- Eu acho que não sou um homem como os outros, vovô! Deve haver algo errado comigo! Todos os meus amigos ficaram peludos com jeito de homem, também gostam das meninas de um jeito diferente do que eu gosto delas, será que sou homossexual? – soltei essa conversa num dia chuvoso, onde mal deu para sair de casa, e me vi por horas ao lado do meu avô, que também parecia estar meditando sobre a vida.
- Você está obsessivamente preocupado com isso, Yorgos! O que te leva a pensar que não é homem e sim homossexual? Homossexuais também são homens, Yorgos! – retrucou ele, ao ser tirado de seus pensamentos.
- O Dimitrius e o Karolos dizem que não, que veados não são homens! – exclamei
- Ah, só podiam ser aqueles dois! E você dá ouvidos aqueles sem-vergonhas cafajestes e enche sua cabeça de dúvidas pelas besteiras que aqueles falam! Ser homem não reside apenas nas aparências, ser homem está aqui dentro, olha! – afirmou, batendo com a ponta dos dedos na cabeça. – Ser homem é ter valores, é ter caráter, é ser honesto, é ser solidário com as tristezas e fraquezas dos outros, é saber viver em comunidade respeitando as pessoas como elas são. Você não age assim?
- Sim! Acho que faço isso!
- Então não se aflija procurando uma resposta que virá com o tempo, à medida em que você for amadurecendo. E, se depois disso, você achar que ainda gosta mais dos rapazes do que das garotas, seja sincero consigo mesmo e viva sua vida pautada nisso.
- Mas e o que vão falar de mim?
- É com isso que está preocupado? Pois saiba que ninguém pode viver a sua vida por você, portanto, ninguém pode te julgar pelo que é. E, se alguém o fizer, nunca se deixe influenciar pelo que os outros dizem a seu respeito. Quem mais te conhece, é você mesmo! – sentenciou. – Em nossa cultura os homens são levados o tempo todo a provar que são homens, ao mesmo tempo em que a cultura masculina é homoafetiva. O homem gosta de estar com outros homens, de conversar com homens, rir com outros homens, admirar diversos aspectos em outros homens, celebrar outros homens, a até amar outros homens. Das mulheres eles querem o sexo, querem garantir sua continuidade, não as suas ideias e opiniões.
- Então gostar de outro homem não é uma coisa tão ruim assim?
- É claro que não, Yorgos! Se esse sentimento for verdadeiro, te fizer feliz e ao outro também, não há nenhum problema em amar outro homem. Na ancestralidade, sobre esse mesmo solo onde você pisa hoje, os relacionamentos entre dois homens não tinham a mesma conotação pejorativa que nossa cultura atual inculcou nas pessoas. Não se esqueça nunca, Yorgos, a moral é volátil, ela muda à maneira que as pessoas também mudam. – concluiu.
- Como vou saber que encontrei a pessoa certa, vovô? Essa pessoa que o senhor diz que vai me fazer feliz e eu a ela? Como se descobre isso?
- Você vai saber, não se preocupe. Isso acontece sem uma explicação lógica, só acontece por que o coração sabe e sente. Quando as tuas mãos e as dessa pessoa se encaixarem e você sentir uma onda de calor seguindo direto para o seu coração, essa será a pessoa certa. – disse ele, com seu sorriso afetuoso me observando.
Todas essas minhas dúvidas advinham do fato de eu, naquela época, já manter relações sexuais com quase todos aqueles meus amigos de infância. Foi algo que surgiu naturalmente, havia uma forte atração física, havia aqueles anos todos de amizade, havia a necessidade de expressar todo aquele tesão que nossos corpos carregavam.
Tudo começou quase como se já estivesse predestinado a isso, com os irmãos Dimitrius e Karolos, uma vez que eram os dois os que mais me acercavam. Foi num domingo de primavera durante o feriadão ortodoxo da Páscoa, na casa de um dos mais velhos moradores do vilarejo, o Sr. Dimopoulous, cuja família compunha quase um terço de todos os habitantes. Eles costumavam fazer uma grande festa em sua propriedade que já fazia parte das programações da ilha. Havia o círculo dos anciãos, dos homens casados, dos que ainda estavam solteiros mas tratavam de mudar seu status, das mulheres que falavam de seus maridos e filhos, das garotas solteiras que estavam ali para serem escolhidas por algum dos solteiros e a galera mais jovem, onde não havia distinção de gênero, rapazes e garotas falavam de assuntos típicos da idade. Era nesse grupo que eu estava engajado, até porque conhecia quase todos. Após o almoço, as rodinhas foram ficando menores, alguns procurando descansando sob alguma árvore mais frondosa, ou debaixo do parreiral, outros empreendendo uma caminhada pelos arredores que permitiam vistas esplendidas das baías mais abaixo, e outros simplesmente procurando um canto mais sossegado.
Havia um certo grau de parentesco entre o pai ou a mãe, não sei ao certo, com os Dimopoulous, o que permitia que o Dimitrius e o Karolos se enfiassem em cada canto da casa e da propriedade, mesmo não sendo convidados para tal. Ambos tinham provado mais do que o recomendável do Ouzo, uma espécie de aguardente à base de anis, uma vez que ninguém os vigiava. Com o cérebro embebido no Ouzo começaram a perder a inibição e me tornei o alvo de suas sacanagens. Nenhum dos dois estava bêbado, mas estavam mais assanhados do que deveriam e, junto com o assanhamento veio o tesão reprimido pelo meu corpo. Um pouco afastada da casa havia uma construção com grossas paredes de pedra onde o Sr. Dimopoulous armazenava alguns toneis de vinho que ele mesmo produzia, num porão cujo acesso era feito por uma escada estreita também de pedra. Foi lá que fui parar com aqueles dois me bolinando o tempo todo, o que também me deixou excitado. Eles queriam que eu os chupasse e, como já fazia algum tempo que aqueles cacetes deles me deixavam salivando, eu topei.
Tomados de lubricidade, antes mesmo de chegarmos ao fim da escada, ambos estavam com os cacetes de fora, prontos para serem envolvidos pela minha boca. O Karolos foi mais rápido que irmão e, tão logo eu estava ajoelhado aos seus pés, pincelou a jeba úmida no meu rosto. Imediatamente identifiquei aquele aroma sensual como sendo dele; àquela altura, eu já distinguia o cheiro de cada um dos caralhos da molecada. Envolvi a rola com meus lábios segurando-a com uma das minhas mãos para controlar a penetração, pois se deixasse isso por conta de qualquer um daqueles safados, as picas iam parar direto na minha garganta. Assim que o Karolos sentiu a maciez da minha boca encapando sua glande, soltou um gemido de satisfação enquanto um sorriso aparecia em seu rosto me encarando cheio de tesão. Chupei-o bem por uns dez minutos, ouvindo suas exclamações de prazer, o que ia atiçando o tesão do irmão que manipulava seu caralhão a pouca distância do meu rosto, esperando sua vez de ser agraciado pelos meus préstimos sexuais.
- Isso, Yorgos, chupa minha caceta, chupa gostoso como só você sabe chupar! – gemia ele, enquanto eu lambia e sorvia seu pré-gozo aromático e saboroso.
- Pega a minha também, seu tesudinho do caralho! Veja como estou babando para você! – exclamou excitado o Dimitrius, me exibindo sua rola cabeçuda da qual um longo fio translúcido e viscoso de pré-gozo era vertido pelo largo orifício uretral.
Com uma pica em cada mão, fui me revezando entre elas, mesclando seus sabores ligeiramente salgados com a minha saliva e deglutindo seus sumos. O Karolos sacou a pica da minha boca por duas vezes, pois estava a um triz de gozar, e como já não se continha mais, me puxou de encontro ao tórax, me beijou devassamente enquanto amassava minhas nádegas nuas e me debruçou sobre um daqueles tonéis vazios enfileirado a um canto. A curvatura do tonel me obrigava a ficar com as pernas ligeiramente abertas, ele se ajoelhou, abriu as bandas da minha bunda e começou a lamber meu cuzinho. Eu gemia alucinado com aquela língua libertina rodando sobre as minhas preguinhas, e empinava o rabo externando meu desejo. Ele se posicionou atrás de mim, apontou a cabeçorra na fendinha rosada e deu uma estocada firme, enfiando a pica no meu cuzinho virgem. Soltei um grito quando senti meu ânus sendo rasgado pela jeba grossa dele, enquanto ela deslizava fundo em mim.
- Ssshhh! Tesão do caralho, como esse moleque é estreito! – gemeu ele, compartilhando seu prazer com o irmão.
- Ai Karolos, para, para, está me machucando! – gani, quando uma segunda estocada fazia a rola penetrar ainda mais fundo em mim.
- Vai devagar, seu imbecil, não vê que está machucando ele? Foi por isso que eu falei que queria ser o primeiro, você é muito estúpido! O Yorgos é virgem, tem que abrir ele devagar e com carinho. Não é como as garotas da casa de madame Athina; em primeiro lugar porque um cu é sempre mais apertado que uma buceta, segundo porque o cuzinho do Yorgos nunca sentiu uma pica e isso machuca bastante na primeira vez, por mais cauteloso que se seja. – instruiu o Dimitrius ao irmão afobado.
- Eu não quero mais, chega! Tira Karolos, tira! Está doendo muito! Não quero mais continuar! – suplicava eu, com aquele cacetão pulsando indômito no meu rabo rasgado.
- Viu o que você fez, sua besta! Deixou o moleque apavorado! Sai daí, deixa que eu continuo! – ordenou o Dimitrius
- Não, não quero fazer mais, já chega! – implorei
- Eu ainda não gozei, quero gozar no cuzinho apertado dele! – exclamou o Karolos, determinado a não tirar a pica do meu cu. – Para quieto, Yorgos! Se está doendo é porque você não para de se agitar! – ordenou. Eu encarei o Dimitrius com os olhos marejados, ele era minha única salvação.
- A culpa não é dele, seu idiota! É sua que não sabe desvirginar um cuzinho! – afirmou o Dimitrius.
- Como eu faço então? Daqui é que eu não saio enquanto não esporrar nesse cuzinho apertado!
Seguindo as instruções do irmão, ele começou a me estocar com mais brandura, enquanto o Dimitrius colocava a rola na minha boca, tanto para sufocar meus ganidos agudos quanto para me incutir coragem, pois era do que eu mais precisava naquele momento. Eu estava tão apavorado e tenso que não conseguia relaxar os esfíncteres, por mais que ambos me pedissem, e só conseguia sentir muita dor enquanto ele me arrombava as preguinhas. Para sorte minha, o Karolos não demorou a gozar, estava tão excitado com aquela foda que não conseguiu se segurar por muito tempo e encheu meu cuzinho com sua porra pegajosa e quente, enquanto rugia feito um leão liberando aquela profusão de jatos. Quando quis ficar em pé, meu corpo todo tremia e, ao encarar o Dimitrius, vi que aquele olhar de cobiça ainda estava lá querendo ser saciado.
- Por favor, não, Dimitrius! Eu não vou aguentar! O Karolos me machucou, é sério, não estou brincando! – balbuciei assustado.
- Eu sei, Yorgos! Você foi muito corajoso, muito! Vem cá, me abraça, é assim mesmo na primeira vez, dói bastante e machuca, mas não vai ser sempre assim. Você vai gostar, eu prometo! – disse ele, me apertando contra o peito largo e forte, onde encostei meu rosto naquela abundância de pelos que o cobria.
Eu só pensava em sair dali, correndo se fosse possível, o que não era o caso, uma vez que parecia haver um rombo gigantesco no meu cuzinho úmido e dolorido.
- Seu bruto! Nunca mais vou deixar você enfiar esse troço enorme em mim! – sentenciei, quando nos sentamos nos degraus da escada.
- Me perdoe, acabei perdendo a cabeça! Você é muito mais gostoso do que as meninas de madame Athina. Juro que não vou te machucar da próxima vez, só não diz que não quer mais fazer comigo, pois eu não vejo a hora de fazer você outra vez, Yorgos! – penitenciou-se o Karolos, visivelmente arrependido da voracidade com que me fodeu.
Se, por um minuto, eu achei que meu suplício tinha acabado, estava redondamente enganado. O Dimitrius estava disposto a não sair dali sem também meter o cacete no meu rabinho. Ajudou o fato de eu estar em seus braços e de sentir o calor que o corpão musculoso dele emanava. Ele acariciava meu rosto enquanto conversávamos e pousava beijos sutis e úmidos sobre os meus lábios, o que fazia meu cuzinho lanhado piscar. Ele amassava minhas nádegas com suas mãos fortes, foi introduzindo gentilmente uma delas no meu reguinho, o que imediatamente acelerou minha respiração e me fez arfar. Um dedo rodopiou sobre as preguinhas rotas e molhadas, pois eu estava sangrando. Ele o introduziu lentamente no meu ânus e eu senti aquela dor querendo voltar, mais branda é certo, mas dando sinais que podia se tornar tão insuportável quanto a que senti com o pauzão do Karolos enfiado ali.
- O que você está fazendo, Dimitrius? Não faz isso comigo! – pedi, embora meu cuzinho tivesse uma opinião diametralmente oposta.
- O quê, Yorgos? Não estou fazendo nada!
- Então o que esse dedão, que não para de se mexer, está fazendo? Eu não quero!
- Não quer, ou está com medo? Pois eu estou sentindo o quanto o seu cuzinho me deseja! – exclamou lascivo provocando meu tesão. – Deixa eu te fazer, prometo ser bem cuidadoso. – sua voz propositalmente rouca era sedutora demais para resistir.
Logo me vi sentado em seu colo, de frente para ele, sendo beijado por aquela boca que não se desgrudava da minha e com a língua dele me vasculhando sem pressa numa sensualidade irrecusável. O dedo impudico não parava de se mover sobre a minha rosquinha e, lentamente foi sendo substituído pelo roçar da pica dura dele. Ele a guiou cautelosamente sobre a fendinha ferida e ao me sentar depois que lhe ofereci um dos meus peitinhos para ele chupar, a caceta entrou no meu cu. Voltei a gritar, mas já era tarde, a cabeçorra já estava engatada e meus esfíncteres que se contraíram abruptamente com sua introdução, a retinham no meu casulo. A porra do Karolos atuou como um lubrificante e com alguns impulsos vigorosos o Dimitrius meteu o pauzão até o talo no meu cuzinho, me fazendo sentir seus pentelhos roçando meu reguinho.
- Dói, Dimitrius! Está me machucando, é melhor parar! – balbuciei, enquanto ele me encarava e afagava meu rosto com sua mão quente.
- Eu sei que dói, meu tesudinho! Faz uma forcinha para aguentar, logo você vai sentir só o prazer, o prazer da minha pica pulsando no seu cuzinho, não é isso que você quer? – ele não era tão impulsivo quanto o irmão, já havia aprendido a ter paciência, a esperar pelo momento certo de forçar o cacete numa fendinha para tirar disso o prazer que almejava.
Eu fui cedendo, seus beijos ficavam cada vez mais saborosos, o latejar ritmado de sua rola fazia minhas entranhas vibrarem na mesma cadência, eu o desejei com todas as minhas forças e me entreguei por inteiro. Meu corpo tremia em suas mãos, eu sentia o tesão se apossando dele, meu pinto voltou a ficar rijo e, durante o vaivém daquele cacete entrando e saindo do meu cuzinho, eu me esporrei todo numa onda de prazer sem igual.
- Ai, Dimitrius! – gemi, liberando toda aquela devassidão que me consumia.
- O que foi Yorgos? O que tem o Dimitrius, fala para mim? O Dimitrius te fez gozar, foi? Fala para mim, tesãozinho do caralho! Faz o Dimitrius gozar também, faz! Faz ele encher esse rabinho guloso de porra, faz! – grunhia ele junto ao meu ouvido, enquanto sua boca úmida se esfregava em meu rosto me atiçando.
Em pouco tempo ecoou um urro rouco dele por todo o porão, enquanto os jatos de porra iam encharcando meu cuzinho. Eu parecia estar flutuando nas nuvens, meu corpo estava leve como uma pluma, ainda estremecendo nas mãos dele que o seguravam junto ao dele. A virgindade se foi, ela escorria viscosa e morna entre as minhas coxas, mas a experiência de dor e prazer que senti naquela tarde naquele porão jamais seria esquecida.
Levei uns dias para me recuperar completamente, para poder tocar no meu ânus sem desencadear aquela sensibilidade dolorida. Depois disso, procurei pelo prazer com todos aqueles amigos que cresceram comigo, Achilleus, Ermis, Omiros, Stamatios e, é claro, os dois que me desvirginaram iam sendo agraciados pelos meus favores sexuais. Nossas amizades ganharam novos contornos, éramos mais íntimos, mais ligados do que antes dos coitos que se sucediam à medida que o tesão clamava. Eu não era mesmo um homem comum, era um homem que gostava de estar com outros homens, era um homem que sentia e dava prazer a outros homens. Numa ocasião cheguei mesmo a saciar o Achilleus e o Stamatios numa dupla penetração que, embora muito prazerosa, também me deixou sem conseguir sentar e caminhar direito por alguns dias. O engraçado nisso tudo, é que eu não era visto como as putas de madame Athina, eu continuava sendo aquele amigo com quem se compartilhava segredos, se falava de tudo sem reservas, se trepava quando a carência pedia pelos meus afagos e pelo aconchego do meu cuzinho. Nunca me rotularam por ser como sou, eu era apenas aquele amigo que os compreendia talvez melhor do que eles a si próprios.
Questão de pouco mais de um mês após o meu aniversário de dezessete anos, numa manhã chuvosa de inverno, estranhei meu avô estar dormindo até tão tarde. Quando digo tarde, me refiro algo próximo às oito horas da manhã, pois ele costumava madrugar. Às seis costumava estar de pé, abrindo portas e janelas para arejar a casa, como sempre dizia, e preparando o primeiro café do dia, uma vez que os passava pelo menos três vezes ao dia, de tanto que apreciava a bebida.
- Vovô! Vovô! A chuvinha que está caindo lá fora te deixou preguiçoso, foi? – perguntei ao entrar no quarto dele. Não obtive resposta. – Ora vejam só que dorminhoco! Já fiz o café, não sei se vai gostar! Que tal se eu abrir essas janelas e deixar a brisa entrar, talvez se disponha a levantar! – continuei, enquanto ele continuava calado e coberto até o pescoço. – Está sentindo alguma coisa, vovô? Você nunca dorme até tão tarde? – novamente nenhuma resposta, o que me fez sentar à beira da cama e cutucá-lo. Imediatamente soltei um grito, ele estava pálido e rijo com uma expressão mortiça naqueles olhos azuis embaçados. Morrera dormindo, em silêncio, feito um passarinho.
De início fiquei sem ação, apenas chorava com a cabeça encostada em seu peito, onde tudo estava em silêncio. Nenhum movimento de respiração, nenhuma batida no coração, apenas a quietude cadavérica. A dor que se instalou em mim nunca teve paralelo, pois foi a primeira vez em que pude sentir a perda de um ente querido, uma vez que era pequeno demais quando perdi meus pais. Agora eu estava completamente só nesse mundo, e ele repentinamente me pareceu gigante demais diante da minha pequenez.
- Por que você fez isso comigo, vovô? O que será de mim agora, sem você? Por favor, volte vovô! Volte, e me diga que foi só um engano, que isso não aconteceu de verdade! – choramingava eu, mas ele continuava tão imóvel quanto antes, me fazendo ver que nunca mais ouviria sua voz me dando conselhos, nunca mais receberia aqueles seus sorrisos quando estava cheio de orgulho por eu ter feito alguma coisa, nunca mais sentiria aqueles olhares dele me observando como se eu fosse a coisa mais importante da vida dele.
Corri até o vizinho mais próximo e, lá chegando, despejei desordenadamente tudo o que estava na minha cabeça, entre o choro e a rapidez com que as palavras brotavam na minha boca.
- Acalme-se Yorgos! O Sr. Karagiannis morreu? É isso que está tentando nos dizer? – perguntava incrédulo o Sr. Dimopoulous. Eu só conseguia acenar com a cabeça e soluçar sem parar.
Logo a casa foi se enchendo de pessoas vindas de cada canto da ilha, e até nas ilhas vizinhas a notícia ia chegando aos poucos, pois muita gente conhecia o famoso ourives de Serifos, quase um patrimônio das Cíclades. Até o bispo ortodoxo do monastério de Taxiarchon se fez presente no velório, muito embora meu avô nunca tivesse sido um exemplo de fiel, pois tinha lá suas reservas quanto ao que a religião pregava, mas não era de todo ateu ou agnóstico. A divindade que ele cultuava estava nele mesmo, naquilo que a vida foi lhe ensinando e em suas próprias observações sobre o mundo e a natureza humana. De qualquer forma, o bispo resolveu lhe dedicar algumas palavras junto ao ataúde que se iniciaram com o proêmio – Bendito seja o nosso Deus, em todo tempo, agora e sempre e pelos séculos dos séculos – e terminou convocando a todos a lhe dar o último adeus – Vinde todos dar-me o último beijo, pois ontem estávamos juntos – antes do ataúde ser fechado. Apenas eu lhe depositei um beijo na testa com as lágrimas a gotejarem dos olhos chorosos. Lembro-me de ter pensado que deveria ir mais vezes à igreja, talvez eu pudesse compreender o porquê de todos meus entes queridos terem me abandonado.
Nas semanas e meses que se seguiram ao sepultamento nunca me deixaram ficar sozinho, a casa sempre tinha alguém me visitando, passando a noite, me trazendo alguma coisa para comer, vindo partilhar aquela dor para afugentar a solidão. As vizinhas meio que me adotaram e se sentiam na obrigação de fazer o papel de mães. Os maridos estavam sempre lá para me dar algum conselho ou me perguntar como eu ia me sustentar dali em diante, ao que eu respondia – fazendo o que o vovô me ensinou, ele me deixou um legado que não vou deixar morrer – o que os fazia me congratular. Os velhos companheiros de infância estavam sempre lá, ora apenas para conversar, ora para saciarem suas taras no meu cuzinho generoso. Prestativos, nunca me abandonaram. Até o Ermis, que engravidou uma garota na ilha de Cítnos, e se vira obrigado a casar sem nutrir nenhum sentimento pela moça, vinha afogar suas mágoas na minha cama. Ele fora vítima de uma armadilha ardilosa da garota, transara com ela apenas uma vez após uma balada quando ela estava no auge do período fecundo tentando se livrar do jugo de um pai autoritário e constantemente embriagado. O Ermis até tentou se isentar daquela barriga que crescia sem parar, mas quando o garotão que saiu lá de dentro já tinha traços tão semelhantes aos dele e, um teste de DNA provou que foram mesmo os espermatozoides dele que inseminaram a moça, não teve mais jeito. Toda vez que vinha ter comigo, falava no divórcio, mas não queria deixar de conviver com aquele garotão que crescia chamando-o afetuosamente de pai e rindo de qualquer besteira que ele dissesse, que não eram poucas, fica o registro.
- Por isso é tão bom transar com você, nunca se precisa temer por uma surpresa dessas! Não sei onde estava com a cabeça para cair numa cilada dessas? Ela nem de longe é tão apertada quanto você, aposto que fui o único trouxa que entrou naquela vagina sem uma camisinha, pois aquilo já estava mais do que laceado. – resmungava ele, o que me fazia rir.
- Pense no garoto, e esqueça o resto! – sugeria eu.
- Isso por que não é você que está casado com ela! Nem aguento olhar para a cara dela! – exclamava ele desolado.
- Então se divorcie! Que mal pode haver nisso? Faça um acordo para continuar convivendo com o seu filho, qualquer juiz vai entender sua situação.
- O problema é aquele pai e um irmão troglodita que ameaçaram me capar se eu me divorciar dela! – reclamava ele, me fazendo rir. – Estou aqui te contando meu drama e você só consegue tirar uma com a minha cara, que espécie de amigo é você, Yorgos?
- O tipo de amigo que sempre te deu um conselho que você nunca acatou – pense com a cabeça que está sobre o seu pescoço, não com a que está na ponta desse pintão – relembrava eu, abraçando-o e trazendo-o para o meu colo onde ele se deixava acariciar feito um gato manhoso.
Outro que havia deixado a ilha para estudar em Atenas foi o Achilleus, que me mandava mensagens diárias pelo Whatsapp contando de sua vida e do que estava aprontando por lá. Também se queixava de não ter encontrado ninguém tão estreito quanto eu onde pudesse enfiar sua rola, e vivia me pedindo para ir visitá-lo numa quitinete onde residia perto da universidade, e onde dizia que se masturbava todas as noites relembrando dos dias maravilhosos em que me enrabava na praia e era acalentado pelo meu cuzinho quente e receptivo. Toda vez que vinha visitar os pais por alguns dias, ele aparecia em casa querendo aplacar aquela carência imposta pela distância que nos separava.
Os demais daquele grupinho que ainda permaneciam no vilarejo estavam sempre me cercando com o mesmo tesão que os levava a me comer quando não passávamos de adolescentes despreocupados com a vida. Com os anos as suas vidas também mudaram, ora estavam namorando, ora estavam solteiros livres e soltos aprontando todas, ora vivenciavam dramas familiares e perdas inevitáveis ao longo do caminho.
Por sorte consegui manter o acordo que meu avô havia feito para a confecção de joias, passando eu mesmo a produzi-las conforme ele havia me ensinado. Usei os desenhos que ele havia esboçado e ainda não produzido; mas com o tempo, me aventurei a produzir peças próprias a partir de inspirações que via em revistas especializadas e de moda. Dessa forma, consegui me sustentar sem depender da ajuda de ninguém e, nem mesmo, tocando na reserva financeira que meu avô havia me deixado junto com a propriedade onde morávamos e um imóvel no centro da Chora alugado para um pequeno comércio.
Durante pouco mais de um ano, o Stamatios e eu engrenamos num relacionamento que até hoje não consegui definir. Foi algo como um namoro pode-se dizer, embora não o tivéssemos oficializado, o que não impedia dos demais colegas de infância transarem comigo. Essa falta de posicionamento dele e a questão do ciúme que ele parecia não sentir é que me deixava desiludido com o relacionamento, pois era como se ele não existisse.
- O que você quer que eu faça, que os impeça de te enrabar quando já fazem isso há anos? São nossos amigos! Vou arrumar briga com todos eles por serem tarados pelo seu cuzinho? – questionava ele quando eu pedia uma definição.
- Se me amasse de verdade é isso mesmo que faria! Não ia aceitar que eles continuassem a bolinar comigo. Sou só eu quem lhes impõem limites, você não faz nada. É capaz até de deixar eles me foderem na sua frente. – protestava eu, indignado com a indiferença dele.
- Você está fazendo uma tempestade de um copo d’água! Há tempos atrás você não reclamava quando metíamos nossas picas no seu cuzinho lá na praia! – retrucava ele.
- Era diferente! Naquela época não tínhamos um compromisso, eu não estava gostando de ninguém em particular, como gosto de você agora. – justificava eu
- É cedo demais para nos prendermos só a uma pessoa, não acha? Temos a vida toda pela frente! Ademais, não são estranhos, são nossos amigos de sempre, isso não é considerado traição! – argumentava ele.
- Você não me ama! Não sente nada por mim, por isso acha tudo natural. Então acho melhor que a partir de hoje você não passe mais tanto tempo aqui em casa comigo, como se fosse um namorado que não me assume. – impus. Ele se zangou, ficou umas semanas sem falar comigo e a coisa se resolveu dessa maneira. O que nunca me permitiu entender que relacionamento foi aquele.
Eu estava com 22 anos, estávamos em fins de abril, quando ele se mudou para a casa dos Laskaris nossos vizinhos, depois que o Sr. Laskaris teve um AVC e precisou ser internado numa clínica em Atenas onde moravam os dois filhos casados. A Sra. Laskaris sempre foi uma espécie de avó para mim e a partida dela para tão longe me entristeceu bastante, era como se mais um ente querido me abandonasse. Os filhos me convidaram a visitá-la quando quisesse, pois me conheciam desde garoto, mas isso seria algo esporádico, aquela passada rápida que eu dava na casa deles todos os dias para dizer um olá ou ver se precisavam de alguma coisa não seria mais possível.
- É um americano, jovem ainda, deve ter poucos anos mais do que você. Só não me peça para lembrar do nome dele, minha cabeça já não é mais a mesma com todas essas preocupações com a doença do Amyntas. É um rapagão imenso e forte, fala pouco, ou talvez seja porque não sei falar inglês e ele ainda está aprendendo nosso idioma, tem um rosto triste, mas isso pode ser apenas impressão de uma velha como eu que passou a ver a tristeza com mais facilidade depois que o Amyntas ficou doente. Ele integrou as tropas ocidentais que atuaram no Afeganistão, em 2019 voltou aos Estados Unidos, mas não conseguiu mais se adaptar à vida que levava antes e, desde então, vinha procurando um novo país para morar. Foi assim que veio parar na Grécia, é essa a história do sujeito, segundo me contou meu filho, que fez a negociação da venda da nossa propriedade. Eu espero que vocês se deem tão bem como nós durante todos esses anos com seu avô e você, que eu vi nascer. – revelou ela.
- Vou sentir saudades Vó Agnes! Desejo tudo de bom para a senhora e o Vô Amyntas!
- Prometa que vem nos visitar, Yorgos! – exigiu ela, embora eu soubesse que seria uma promessa difícil de cumprir.
Avistei-o algumas vezes de longe, mas não me atrevi a me aproximar, pois como tinha dito a Vó Agnes a cara dele não inspirava uma aproximação. Ao contrário dela, que definiu o rosto dele como triste, eu via nele um sujeito carrancudo nem um pouco disposto a estabelecer qualquer tipo de contato com os vizinhos. Talvez fosse um tipo de ermitão para vir parar num vilarejo tão sem importância numa ilha grega quase desconhecida pelo restante do mundo. O que traria um homem jovem como aquele para um lugar tão desolado? Foi o que me perguntei da primeira vez que o vi. Em poucas semanas me esqueci dele, assim como os demais vizinhos, inclusive aqueles que tentaram dar boas-vindas e foram tratados com frieza e indiferença. O que resultou disso foi que fiquei sabendo seu primeiro nome, Ryker, o que também explicava o fato da Vó Agnes não se lembrar de um nome tão impopular.
A praia da enseada era quase privativa por distar das mais procuradas pelos turistas que visitavam Serifos e pelo difícil acesso através do rochedo que começava no final da rua onde morávamos. Praticamente apenas nos moradores das redondezas iam até ela, isso explicava o porquê de nós garotos da vizinhança nos sentirmos tão à vontade nela, não nos preocupando em usufrui-la completamente pelados.
Naquele domingo ensolarado da última semana de maio, logo cedo o Dimitrius e o Karolos, além do Stamatios, do Ermis e do Omiros vieram passar o dia comigo. No meio da manhã fomos até a praia, já fazia calor e a água já estava mais quente prenunciando a proximidade do verão. Como de costume, descemos o rochedo e nos despimos expondo nossos corpos ao sol acalentador. Improvisamos uma partida de voleibol com os dois times desfalcados; eu, o Dimitrius e o Karolos contra os outros três. Era quase um clássico, pois toda vez que era para compor os times, o Dimitrius era bastante impositivo exigindo que fizesse parte do time obviamente capitaneado por ele. A dominação dele sobre mim não mudara nesses anos todos, eu achava até que ele tinha uma obsessão doentia não admitindo que ninguém tivesse essa primazia. Após uma lavada de três partidas a zero contra nossos adversários ele estava possesso, pois não admitia perder. Começou a me culpar pelo desastre, depois ao irmão, citando os lances que havíamos perdido.
- E os teus lances errados, por que não os imputa nas perdas das partidas? Você é tão culpado quanto seu irmão e eu! – revidei quando ele resmungava sem parar.
- Está me culpando por não conseguir levar o time sozinho nas costas, seu bundudinho do caralho?
- Estou! E você não levou o time sozinho nas costas, não fossemos nós dois você teria perdido bem mais, seu convencido arrogante! – devolvi zangado, pois também não esperava perder de tanto. Segui direto para o mar onde o Ermis e o Omiros já se refestelavam na água fresca.
Bastou eu me aproximar deles para começarem a brincar comigo, como nos velhos tempos, querendo afundar minha cabeça na água, passar mergulhando entre as minhas pernas e se aproveitarem para bolinar com as minhas nádegas. A velha tara não demorou a se manifestar, estavam com ereções enormes entre as pernas, o que os deixava ainda mais sedutores, agora que seus corpos eram bem mais másculos do que naquele tempo. O Ermis foi o primeiro a me agarrar, roçando sua rola rija nas minhas nádegas enquanto amassava meus peitinhos salientes com suas mãos devassas. O toque com aquele corpão deixou meu cuzinho assanhado e piscando, e eu empinei minha bunda contra a virilha dele, sentindo o cacetão se alojar no meu reguinho. Ele sussurrou umas sacanagens no meu ouvido e quando menos esperei, senti a jeba deslizando para dentro do meu cuzinho, me obrigando a ganir para controlar a dor da penetração abrupta.
- Esse rabinho fica cada vez mais delicioso! Rebola na minha pica, rebola tesudinho! – grunhia ele, forçando o pauzão para dentro do meu cu até eu sentir suas bolas comprimidas contra o reguinho.
- Vai devagar, Ermis! Não se esqueça que meu cuzinho não é vagina da sua ex! – protestei, quando das estocadas impetuosas dele.
- Como é que eu vou me esquecer, seu cuzinho é mil vezes mais apertado que aquela buceta! Você me deixa tarado, seu putinho gostoso! – devolveu ele, bombando lascivamente meu cu que já sentia o prazer de alojar aquela pica sedenta, me fazendo gemer sedutor e passivo.
O Dimitrius estava insuportável, a perda da partida e agora ver o Ermis me enrabando o deixou furioso. O Ermis mal tinha acabado de encher meu cuzinho de porra quando ele veio me cobrar explicações.
- Ficou maluco, eu não te devo explicação alguma! Para de ser tão autoritário, Dimitrius, já encheu!
- Quem vai te encher sou eu, e de porradas seu putinho safado! Eu tinha que ser o primeiro, ou você já se esqueceu de como funciona o esquema aqui na praia? – citou ele, como costumava fazer para eu ser admitido nas brincadeiras quando éramos moleques.
- Você não é meu dono! Os tempos de garoto já se foram! Se continuar me enchendo não vou deixar você me tocar, assim você aprende a não ser tão babaca! – revidei.
Ele veio para cima de mim feito um maluco e após uma pequena luta na qual tentei me livrar de seus braços, ele meteu o cacetão no meu cuzinho. Sempre gostei da forma como ele me possuía, havia algo de libertino em sua pegada forte, e na maneira como enfiava sua jeba grossa até o talo no meu rabinho, sacrificando algumas pregas durante a penetração. Estavam todos na água enquanto eu gemia com o Dimitrius abraçado a mim. Por exigência do Karolos fomos até uma parte mais rasa, pois ele queria que eu o chupasse enquanto o irmão continuava engatado no meu rabinho. Acabei dando para todos eles, embora isso não estivesse nos planos, mas como fazia tempo que não nos encontrávamos não se podia esperar outra coisa. Precisei de ajuda para escalar o rochedo ao regressarmos para casa, uma vez que meu cuzinho ardia feito brasa, depois de cinco machos se saciarem nele, deixando-o maravilhosamente encharcado com seus espermas cremosos. Confesso que eu gostava daquela sensação pegajosa que o néctar viril deles deixava nas minhas entranhas, e recompensava-os com aqueles mimos e carícias dos quais eles tanto gostavam e vinham procurar em mim.
A primeira vez que o encontrei foi na praça central de Afrati, ao entrar no supermercado. Ele vinha saindo com algumas compras nas mãos e se atrapalhou ao tentar abrir a porta. Como estava com as mãos livres, abri a porta e o deixei passar.
- Olá! Me chamo Yorgos, sou seu vizinho! Está gostando da casa dos Laskaris? Eles foram nossos vizinhos desde que eu era criança! E do vilarejo, é bem acanhado, já se adaptou? As pessoas daqui são muito acolhedoras, todos se conhecem, de uma forma ou de outra. – desatei a falar, com um sorriso meio aparvalhado, quando me deparei com sua figura máscula e musculosa, metida numa bermuda e numa camiseta que cobria um tórax largo e maciço. Era o homem mais sexy que já tinha visto.
- Não tenho nenhum interesse em me relacionar com pessoas como você! Se me der licença, estou com pressa! – respondeu ele, mal olhando nos meus olhos, o que me deixou sem entender o que ele quis dizer com – pessoas como você – uma vez que nunca nos tínhamos visto antes.
- Me desculpe, mas o que significam pessoas como eu? – questionei ofendido.
- Não me envolvo com veados, gays! Não gosto desse tipo de gente! – respondeu, esbarrando em mim com força, pois sem o notar eu atravancava parte de sua passagem.
Fiquei em choque, nunca antes alguém havia me chamado de veado ou gay, e a maneira como essas palavras soaram ao saírem da boca daquele homem me penetrou dolorosamente como se fosse um punhal. Eu tinha plena ciência e convicção de que era homossexual; porém, nunca ninguém havia me definido dessa maneira. Para todos eu era apenas Yorgos, o amigo, o colega Yorgos que todos conheciam e se relacionavam como se relacionavam com qualquer outra pessoa. Naquele dia ficou claro para mim que eu definitivamente não era um homem igual aos outros, como tantas vezes havia questionado meu avô. Aquele homem me distinguiu, me separou do que considerava ser um homem de verdade, e isso doeu.
- Imbecil! – exclamei, quando ele havia passado por mim.
- Eu ouvi isso! – devolveu ele com petulância. Que se foda, pensei comigo mesmo ao seguir meu caminho.
Aquilo me incomodou por alguns dias. Até então, as pessoas sempre tinham simpatizado comigo logo de cara. O que deu nesse sujeito para me tratar assim? Íamos ser vizinhos doravante, por que dessa hostilidade gratuita?
Algumas semanas depois, ao final de uma tarde quente de um dia em que eu fiquei muitas horas enfurnado no ateliê para terminar umas peças que estavam sendo aguardadas em Londres para os próximos dias, resolvi aproveitar o restante de sol mais ameno que só se punha por volta das 20:00 horas naquela época do ano, e fui até a praia dar uns mergulhos para exercitar os músculos e relaxar antes do jantar. Não avistei ninguém quando desci o rochedo em direção à areia, estendi a toalha e lancei minhas roupas sobre ela, seguindo nu até o mar como de costume. Após um quarto de hora mergulhando na água tépida, fui me estirar de bruços sobre a toalha, recebendo os últimos raios mornos do sol nas costas mais relaxadas.
- É assim que você fica esperando pelos machos para te enrabarem? – cheguei a me assustar ligeiramente, pois a areia quente e o sol me aquecendo me fizeram cochilar. Ao me virar na direção da voz, vi que era ele, em pé, a menos de dois metros de distância, olhando para a minha bunda sem aquela cobiça característica dos caras que eu conhecia.
- Qual é o seu problema comigo? – perguntei desafiador
- Nenhum!
- Então me esqueça, e suma daqui!
- Não me parece que a praia seja privativa, propriedade sua! Estou num espaço público, e tenho todo o direito de estar onde estou! – retrucou ele, com aquela mesma arrogância da primeira vez. – Também não é do meu conhecimento que esta seja uma praia de nudismo! Você não deveria cobrir todo esse despudoramento?
- Meus amigos e eu vimos a essa praia desde garotos, e nunca nos preocupamos ao ficar pelados! – devolvi indignado
- Há algumas semanas pude observar as safadezas que você e seus amigos fizeram por aqui! Quantas doenças venéreas você já teve, dando o cu para cinco machos sequencialmente? Vocês gays são de uma promiscuidade sem paralelo, algo nojento! – continuou ele. Não sei o que me deu, mas comecei a chorar e perdi a vontade de responder àquele sujeito que nada sabia sobre mim e minha vida para me dizer coisas tão descabidas e ofensivas.
- Idiota! – foi tudo que consegui exclamar, quando ele começou a se afastar.
- Também ouvi isso! – afirmou ele, já a certa distância.
Minha tarde acabou ali, fiquei tão desolado que juntei minhas coisas e só pensava em chegar em casa. Chorei o caminho todo, não sei se de raiva, ou porque aquele homem me fazia sentir um lixo. O Dimitrius havia acabado de chegar e, ao me ver vindo da praia, ficou me esperando no portão.
- O sujeito que acabou de passar é o seu novo vizinho? – perguntou, pois o sujeito caminhava algumas dezenas de metros à minha frente em direção a casa dele. – Você está chorando, Yorgos? – perguntou preocupado quando me encarou.
- Não! Acho que caiu um grão de areia no meu olho! – menti
- Você está chorando, Yorgos! Por quê? O que você estava fazendo com esse sujeitinho lá na praia? Ele fez alguma coisa com você, te machucou? – inquiria ele exigente.
- Nada! Eu não estava fazendo nada! Não estava com esse idiota! Só fui dar uns mergulhos, só isso! Por que, não posso? – devolvi, tentando disfarçar os olhos vermelhos e inchados.
- Não mente para mim, Yorgos! Você está chorando que eu estou vendo! Ele te machucou, foi isso! Vou matar esse filho da puta! Fala, Yorgos, o que foi que ele fez com você, caralho?
- Não grita comigo, Dimitrius! Não grita! – retruquei, precisando enxugar as lágrimas. Ele me enrodilhou em seus braços e afagou meu rosto.
- Eu estou aqui, nada vai te acontecer! Só me conta o que aconteceu lá na praia. Você confia em mim, não confia? – insistia, pousando um beijo carinhoso na minha testa.
- Não foi nada! Não aconteceu nada! Eu confio em você, é claro, você sabe disso! – devolvi, disposto a encerrar aquela conversa. – Faz dias que você não aparece, estava com saudades! Janta comigo?
- Precisei ir até Naxos resolver algumas coisas, também estava com saudades suas! Eu trouxe vinho e uma Kreatopita que minha mãe assou esta tarde quando eu disse que viria te visitar. Aliás, ela mandou que eu te cobrasse uma visita e mandou aquele montão de beijos que costuma colocar nas tuas bochechas.
- Devo mesmo uma visita aos teus pais, eles são sempre tão afetuosos comigo! Vou fazer uns pepinos com molho tzatziki para acompanhar.
- São só eles que são afetuosos com você, eu não conto? – indagou, ao me abraçar por trás e me encoxar fazendo sentir sua ereção.
- Não Dimitrius, hoje não! Me solta, não sou um pervertido! – exclamei, rechaçando-o.
- Ei, ei, ei, o que deu em você? Nunca me tratou assim! Quem disse que você é um pervertido? Nunca nenhum de nós falou um absurdo desses para você! – retrucou ele, abismado com a minha reação invulgar.
- Desculpe! Eu não quis dizer isso! Só estou um pouco nervoso! Não estou com vontade de fazer sexo hoje! – afirmei.
- Foi o sujeitinho, não foi? Foi ele quem te chamou de pervertido, não foi? Responda Yorgos! – de repente, ele estava amassando meu braço e exigindo uma resposta.
- Outro dia, na saída do supermercado, ele me disse que não se relaciona com pessoas como eu, homossexuais. Há pouco, ele me perguntou quantas doenças venéreas eu já tive por me entregar a cinco homens seguidos. Nunca ninguém me tratou com tanto desprezo, Dimitrius, nunca! – respondi, procurando abrigo em seu tronco peludo e sólido. – Eu nunca tive nenhuma doença por me deitar com vocês, você bem sabe, nunca Dimitrius! – emendei, deitando minha cabeça em seu ombro
- É claro que não, Yorgos! Todos sabemos disso! Nenhum de nós ia transar com você se soubesse que está com alguma coisa. Sempre que fomos fazer sexo com as meninas de madame Athina usamos proteção e, faz muito tempo que nenhum de nós vai procurá-las, você tem suprido todas as nossas carências de homem. Nós cuidamos de você como cuidamos de nós mesmos, até mais, porque te adoramos, Yorgos! Não se deixe influenciar pelo preconceito desse sujeitinho! – disse ele, numa voz mansa e rouca para me inspirar confiança. – O que esse sujeitinho está precisando é de uma lição, mas disso eu e os rapazes nos encarregamos, ele não perde por esperar! Vamos ver se depois ainda vai ter coragem de te ofender. – emendou.
- Não Dimitrius! Me prometa que vocês não vão fazer nada com ele! Não quero que se envolvam com esse sujeito e nem com meus problemas, deixem que eu resolvo essa questão! – retruquei impositivo. Se ele ia aceitar meu ditame já era outra questão.
A presença do Dimitrius me fez bem naquela noite, eu precisava de companhia e a dele era mais que bem-vinda. O Karolos apareceu depois de findo o jantar, tinha chegado em casa e sido informado que o irmão veio ter comigo e resolveu se juntar a nós trazendo outra garrafa de vinho. O Dimitrius contou tudo a ele deixando-o igualmente indignado e disposto a tirar satisfações. Pouco antes da meia-noite fomos para a cama, os três e, ao pegar no sono, meu ânus estava preenchido com o sêmen deles.
No meio da tarde do dia seguinte bateram insistentemente à minha porta. Demorei a atender pois estava fundindo umas peças e não podia interromper o processo.
- Não vai abrir? Sei que está em casa! – disse a voz exigente que logo reconheci como a sendo do sujeitinho, meu vizinho.
- Está aberta, pode entrar! – respondi, embora quisesse vê-lo longe. – Estou trabalhando e não posso interromper o que estou fazendo. – esclareci, quando ele chegou ao ateliê com a cara de quem levou uns belos socos que deixaram o olho esquerdo roxo e inchado, e o lábio superior no canto da boca com o dobro do tamanho normal e igualmente arroxeado. – O que faz aqui? Estou sem tempo para conversa! – emendei, sem fazer menção àquela cara estropiada, fingindo não tê-la percebido.
- Olá! O que está fazendo? – perguntou, sem obter uma resposta. – Não quero te atrapalhar, só vim saber se pode me fazer um favor. – continuou, depois que percebeu que eu não ia responder e que não me mostraria gentil.
- Um favor? Está querendo pedir um favor a uma pessoa como eu? – ironizei.
- É, um favor! Ainda está ressentido com as minhas palavras?
- O que você acha? Gentis é que elas não foram! – exclamei. – Agora se puder me dar licença, é um favor! – continuei, o que para um bom entendedor já significava o mesmo que – se manda, vaza!
- E o favor que vim te pedir? – insistiu
- Que favor? Desembucha e me deixe trabalhar!
- Você também não é nenhum exemplo de gentileza! – afirmou, observando-me atentamente a preencher a mufla com o ouro liquefeito no cadinho.
- Como é mesmo seu nome? – perguntei, pois até então ele não havia sequer se apresentado direito.
- Ah, é Ryker! Me esqueci que não nos apresentamos! – devolveu levemente constrangido pela falta de educação.
- Engano seu, eu me apresentei sim, na saída do supermercado, quando você me disse que não tinha interesse em se relacionar com pessoas como eu, chamando-me inclusive de veado e gay! – respondi. – Portanto, Ryker, não vejo motivo para você estar aqui me pedindo um favor. – emendei.
- É, você ficou zangado comigo, dá para perceber! – retrucou, ficando sem jeito.
- Talvez nem te interesse saber, mas você foi a primeira pessoa que me chamou de veado, de gay. Eu sei que sou homossexual, nunca neguei isso quando me perguntaram, mas o tom de sua voz quando pronunciou essas palavras foi ofensivo, no mínimo, desprezível.
- Não sei porque falei aquilo! Foi tolice minha, reconheço! – devolveu, mas não pediu desculpas.
- Pois bem, Ryker, agora pode me deixar em paz?
- Minha geladeira quebrou, e como fiz compras esta manhã corro o risco de perde-las se ficarem sem refrigeração. Foi esse o favor que vim te pedir, deixar os alimentos na sua geladeira até a minha ser consertada, o que só deve acontecer amanhã segundo o técnico que contatei. Você teria espaço na sua por esse período? – tive vontade de mandá-lo à merda.
- E você tem coragem de deixar seus alimentos na geladeira de uma pessoa como eu? Não tem receio de que fiquem contaminados pelo fato de eu ser gay? – questionei.
- Vai usar sempre a minha fala infeliz como pretexto para me recriminar pelo que te disse? – perguntou.
- Fala infeliz? Isso é uma piada, ou o quê? – perguntei assombrado com a cara de pau dele. – Eu nem devia ter deixado você entrar na minha casa para início de conversa! Sou eu quem não quer contato com pessoas como você! – retruquei sarcástico.
- Isso quer dizer que não tem como você me fazer esse favor? – inquiriu, diante da minha beligerância. Também não lhe respondi. Ele ficou uns instantes parado ao meu lado, sem saber como agir, até se virar e seguir rumo à porta.
- É muita coisa? Tenho algum espaço na geladeira, se quiser trazer algumas coisas pode ajeitá-las, mas terá que fazer isso sozinho, pois como eu disse não posso interromper o que estou fazendo. – afirmei, quando ele já estava cruzando a porta da saída.
- Não é muita coisa! Fico grato pelo favor! Vou buscar as coisas que precisam de refrigeração e já volto. – ele estava visivelmente constrangido, não esperava essa reação minha. Mais uma vez, não lhe dirigi a palavra. Na verdade, estava puto comigo mesmo por ser tão idiota a ponto de ajudar um sujeitinho desprezível como ele.
Ele fez umas três viagens até trazer e acomodar tudo nas prateleiras da minha geladeira. Eu só o acompanhei com o olhar enquanto terminava meu trabalho. O desgraçado era lindo para cacete, tinha um corpão de fazer qualquer um ter ideias libidinosas, ainda mais com aquele torso enorme e peludo sem camiseta. Pena que é tão homofóbico e grosseiro, pensei com meus botões, enquanto via-o passando para lá e para cá.
Ao terminar o que estava fazendo, fui à cozinha conferir como ele tinha alocado as suas coisas na geladeira. Ele me perguntou se estava bem como tinha ajeitado as coisas e eu afirmei que sim, ainda de modo bastante lacônico e indiferente.
- Encontrei com alguns dos seus amigos esta manhã quando estava fazendo as compras. – começou, quando eu o acompanhei até a saída. – Como você pode constatar pela minha cara, não foi um encontro amistoso. – eu fingi dar pouca importância ao fato. – O tal do Karolos é um sujeitinho bem invocado, veio me cobrar por ter feito você chorar com as minhas palavras no nosso primeiro encontro e no da praia também. Quando disse que não lhe devia explicações ele me acertou um belo soco de direita e a briga começou, logo se juntaram a ele o irmão, ao que me parece, e mais um tal de Omiros que também tomaram suas dores. – revelou.
- Você os machucou? Não acredito que você seja um cara tão imbecil que sai por aí distribuindo socos nos meus amigos e ainda tem a coragem de vir me pedir favores! Eu te odeio, cara! E olha que eu não sou o tipo de pessoa que se indispõem com as pessoas. – retruquei
- Você está preocupado com aqueles três que vieram me tirar satisfações e me pergunta se eu os machuquei? Foram três contra um, meio injusta essa briga, não acha? Eu me defendi, só isso! Dei umas porradas porque eles mesmos estavam pedindo por isso. – respondeu.
- Como eles estão? Seu desgraçado! Aí que raiva eu estou sentindo de você! Eles deviam ter quebrado a sua cara, embora eu tenha pedido para nenhum deles se meter nesse assunto. – devolvi furioso.
- Como eles estão, é essa a sua grande preocupação? Três contra um e você está todo preocupado com seus amiguinhos, seus cães de guarda devo dizer.
- É melhor você sumir da minha frente antes que eu perca a paciência com você, seu mastodonte encrenqueiro! – exclamei, empurrando-o porta afora.
Assim que me livrei da presença dele, fui ao celular e liguei para o Karolos, preocupado com o estado dele, do Dimitrius e do Omiros.
- Levamos alguns sopapos, o sujeito bate bem, sabe se defender, não recusou a briga! Mas, estamos bem, nada além de algumas escoriações que até o final de semana já estarão saradas. A cara dele também não deve estar das melhores, socamos ele como merecia! – vangloriava-se o safado.
- Eu não disse para vocês não se meterem nesse assunto? Por que tinha que comprar briga com esse sujeito? Deixem que eu lide com meus problemas, não preciso de ninguém para fazer isso por mim! – retruquei
- Se mexeu com você, mexeu com a gente! Não íamos deixar isso passar em branco! É bom para ele saber que não deve se temer com você! O recado foi dado! – revidou ele.
- Vocês estão bem mesmo? Não me esconda nada, Karolos! Não banquem os valentões! Vocês estão muito machucados? – perguntei penalizado
- Eu particularmente preciso de uns carinhos seus para ajudar na cicatrização das feridas, e estou pensando em passar aí mais tarde para você cuidar de mim! – provocou o sacripanta rindo.
- É bom que venha mesmo, vou terminar de arrebentar essa sua cara de safado que não consegue respeitar o que te peço. Você, seu irmão e o Omiros que apareçam aqui, para ver o que os espera! – ameacei. Ele continuou rindo.
- O Dimitrius disse que sua dívida com ele só estará paga quando deixar ele enfiar a rola no seu cuzinho e você o recompensar com muitos beijos. O Omiros e eu endossamos a sugestão dele.
- Bestalhão! Todos vocês são uns bestalhões! Nem sei porque ainda gasto minha saliva com vocês! – devolvi me fazendo de zangado, embora estivesse preocupado com os estragos que o Ryker pudesse ter feito neles.
Passei o restante da tarde zangado com esse bando de imbecis se metendo na minha vida, saindo na porrada por minha causa como se eu fosse um imprestável que não pudesse tomar conta de mim mesmo, precisando que outros o fizessem por mim. E, especialmente, com esse tal de Ryker que parece ter vindo só para fazer da minha vida um verdadeiro inferno com seus preconceitos e sua pose arrogante. Estava me perguntando por que tomei tanta birra dele. É certo que ao me definir como – gente como você – naquele nosso primeiro encontro foi de uma grosseria e preconceito extremos, uma vez que ele nem me conhecia para se referir a mim nesses termos. Por outro lado, o fato de ele ser tão macho e ainda por cima lindo não ajudava em nada, pois bastava abrir a boca para eu enxergar nele um sujeitinho desprezível. No começo da noite bateram à porta, e eu já esperava dar de cara com o Karolos e o Dimitrius que tinham dito iam aparecer para falar da briga que tiveram com o Ryker dando sua versão da história. Caminhei em direção a ela a passos firmes pronto para dar um esporro neles e mandá-los à merda por terem feito o que fizeram. No entanto, ao abrí-la, lá estava novamente o Ryker, e pior, sem camisa, apesar da tênue brisa fresca que soprava do mar.
- Você de novo! O que quer agora? – questionei, impaciente.
- Bem! Está na hora do jantar e eu não sei se você se lembra, mas minhas coisas estão na sua geladeira. Não tenho nada em casa para comer, está tudo aqui. – respondeu ele
- Então pegue o que precisa e dê o fora! – exclamei
- Vejo que continua zangado comigo! Contudo, eu tinha planejado fazer o jantar para nós dois aqui mesmo, em vez de ficar transportando as coisas de um lado para o outro, dessa forma retribuo a gentileza que você está me fazendo deixando eu guardar as coisas na sua geladeira. – esclareceu. Encarei aquele olhar, aquele sorriso, aquele tronco másculo e perdi até a noção do porque eu estar tão zangado. – E aí, vai me deixar entrar e preparar o jantar ou vai continuar me olhando com essa cara indefinida?
- Entre! – mal sabia eu o quanto isso me custaria.
- Gosta de massa com frutos do mar? Comprei uma porção deles esta manhã, bem frescos, diretamente dos pescadores e, modéstia à parte, faço um molho delicioso com eles, que eu gostaria que você provasse. – revelou. Meu olhar ainda estava focado naquele torso enorme e musculoso e o perfume amadeirado dele ao passar rente a mim já havia embotado meus pensamentos. – Também trouxe esse vinho para acompanhar! Pode me mostrar a cozinha, prometo deixá-la como se não tivesse sido usada?
- É o que espero! – balbuciei, me perguntando por que não consegui mandá-lo à merda.
Em meia hora a cozinha e a casa estavam tomadas pelo aroma perfumado de frutos do mar e ervas sendo cozidos. Eu o observava quase sem falar, pois ele estava tagarela como nunca enquanto manejava a faca com maestria cortando e picando como se fosse um chef. Até cheguei a lhe oferecer ajuda, mas ele recusou, disse que era para eu ficar bebericando o vinho e deixar tudo por conta dele. Que ombros, que braços, e esse redemoinho de pelos sensuais ao redor dos mamilos, essa barba por fazer dando uma aparência selvagem e máscula ao rosto anguloso, como fazem um macho tão erótico e o deixam solto por aí? É o que se passava na minha mente. Não sei se ele sacou meus pensamentos quando desviava rapidamente o olhar na minha direção e abria um sorriso que fazia meu cuzinho piscar sofregamente, como jamais tinha piscado para homem algum antes.
- Se quiser ir pondo a mesa, está tudo pronto, podemos jantar! – disse ele, me desviando daquelas imagens lascivas que minha mente estava construindo.
- Hã?
- A mesa! Eu disse que você pode colocar a mesa, está tudo pronto!
- Ah, claro! – será que até leso eu estava ficando? Não se esqueça, Yorgos, que ele é um homofóbico de carteirinha, não adianta seu cu ficar todo ouriçado porque ele nunca vai querer nada com você, seu pateta deslumbrado!
A massa ficou esplendida, tenho que reconhecer, a melhor com frutos do mar que já havia provado. Ao reconhecer seu talento evitei de olhar nos olhos dele, com receio de que os meus denunciassem o que eu estava sentindo naquele momento, com aquele homem encantador bem na minha frente.
- Eu não disse que era bom nisso? – devolveu ele, com sua arrogância peculiar. Eu só acenei com a cabeça concordando.
- Esse machucado não dói? – perguntei de supetão, deixando-o momentaneamente um pouco confuso. – O machucado do lábio e do olho, não doem? – repeti, diante da cara confusa dele.
- Um pouco, o do lábio principalmente! – respondeu, evitando tocar a taça com o vinho ao tirar um gole dela.
- Estão ambos bastante inchados, vamos colocar uma bolsa de gelo sobre eles quando terminarmos de jantar, vai ajudar a diminuir o inchaço. – por que eu estava preocupado com isso? Ele não fez por merecer, então que raios me importa se ficou com a cara arrebentada?
- Ok! Por motivos óbvios não tive como colocar gelo sobre eles! – devolveu ele. – Fico grato por sua preocupação.
- É nisso que dá ficar comprando briga sem motivo! – retruquei
- Não foi sem motivo! Seus amigos me provocaram, e eu não sou do tipo que foge a uma boa briga quando a causa é justa! Você foi o motivo! Foi se queixar com eles pelo que falei e eles tomaram suas dores e vieram tirar satisfações, não se contentando com as minhas explicações. Deu no que deu! – respondeu ele.
- E você conseguiu ter alguma explicação plausível pelo que me disse? Não me queixei com eles, apenas revelei o que você me falou, nunca pensei que aqueles estrupícios fossem te provocar. Eu disse textualmente que cuidaria da situação pessoalmente, sem ninguém se metendo no assunto. – retruquei.
- Pois é, parece que eles não te ouviram. Mas, já está tudo esclarecido, acabamos nos entendendo.
- Como? Se quebrando a cara mutuamente? Isso é se entender?
- Exatamente! Sei que fui leviano ao te dizer aquelas coisas, mas não ia me deixar intimidar pelos teus cães de guarda. Durante a briga eles foram me falando de você, de quem você era, por tudo que já passou na vida e como se sustenta sozinho desde os dezessete anos quando perdeu seu avô. Compreendi porque te defendem e te protegem tanto, e não lhes tiro a razão. – sentenciou, me surpreendendo.
- Não sou e nunca fui nenhum coitado! Não preciso que fiquem fazendo as coisas por mim!
- Eu não duvido disso, mas o que eles estão fazendo é para o seu bem. Eu faria o mesmo por um amigo. – eu ficava cada vez mais surpreso com as palavras dele. – Eles me disseram que te conhecem desde criança, que você era o mais novo da turma que se juntava na praia para as brincadeiras. E que, com o tempo, começaram a te abordar atraídos e seduzidos por seu corpo e sua bunda, coisa de moleques cheios de hormônios. Também disseram que você não os impedia de assediá-lo, que eram justamente esses coitos que mantinham todos vocês unidos, voltados só a te proteger, tipo uma matilha onde os mais fortes protegem os mais fracos, se tocando e se cheirando para manter os laços que fazem da matilha uma coisa coesa e forte.
- Não sou nenhum fracote! Deixo que eles pensem assim para não ficarem brigando entre si por qualquer bobagem como faziam durante as brincadeiras. Quando me enrabavam esqueciam das discussões. Fomos crescendo e esse vínculo só se fortaleceu, hoje todos continuam amigos. - revelei
- Você nunca se apaixonou por algum deles? Nunca rolou algo com algum deles além de sexo? – quis saber.
- Não, nunca! Uma vez até pensei que sim, mas foi só uma impressão errada de minha parte.
- Com qual deles, o tal Karolos? Ele vira uma fera quando a questão envolve você! – ponderou
- Não, não foi com ele! Ele é na verdade um sem-vergonha que não consegue manter aquele pinto dentro das calças. O cara pelo qual achei que estava apaixonado é o Stamatius, você não o conhece. Mas, como eu disse, tudo não passou de uma imaginação de minha parte. – não sei porque estava revelando tanto da minha vida para aquele sujeito, afinal ele não merecia minhas explicações.
- Ele fez algo que te magoou?
- Não! E vamos mudar de assunto que eu não estou aqui para falar da minha vida para você! É melhor colocarmos gelo nesses seus machucados e você voltar para sua casa, já está tarde!
- Vai me expulsar assim, sem mais nem menos? Está sendo uma noite tão prazerosa! – admitiu ele
- Prazerosa? Com gente como eu? Você diz que está tendo uma noite prazerosa com um gay que você detesta, com o tipo de pessoa com a qual você não quer conviver? Acho que você já tomou mais vinho do que deveria, está até mais simpático! – retruquei
- Me acha simpático? – ele me encarou de uma maneira devassa ao fazer a pergunta capciosa.
- Não acho nada! Acho que está na hora de você voltar para a sua casa! – respondi, desviando do assunto, sem encará-lo.
Preparei dois sacos com bastante gelo e estava aplicando os curativos sobre as feridas quando o Dimitrius e o Karolos apareceram conforme tinham dito. Ambos nem se deram ao trabalho de bater na porta, foram entrando como de costume, e me flagraram fazendo os curativos no Ryker.
- Que porra está acontecendo aqui? Dá para me explicar, Yorgos? O que esse cara está fazendo aqui a essa hora e, principalmente, o que você está fazendo, cuidando dele, é isso? – berrou o Karolos, partindo para cima do Ryker feito um leão.
- Pare! Pare com isso, Karolos, agora! Você está na minha casa, não vou admitir que comece uma briga aqui dentro. Segura seu irmão, Dimitrius, vocês já fizeram besteira de mais para um só dia! – exclamei elevando a voz.
- Olha só para isso, mano, ele cheio de cuidados com esse sujeitinho desgraçado! A gente tentando protegê-lo e ele fazendo cafuné do sujeito! Eu vou acabar de arrebentar a cara desse sujeito! – berrava o Karolos, inconformado com a cena. Enquanto isso, o Ryker cerrava os punhos pronto para desferi-los sobre o primeiro que avançasse na direção dele.
- Você vai é se comportar ou vai embora daqui! – devolvi encarando-o desafiador.
Só então reparei que a cara dele não estava melhor do que a do Ryker e me tomei de compaixão por ele. O Dimitrius também trazia as marcas da briga daquela manhã estampada na cara ferida e deformada pelos inchaços e hematomas.
- Belo trio de imbecis! Vocês deviam trabalhar num circo, suas caras estão prontas para isso! Vocês dois, sentem aí que estão precisando dos mesmos cuidados que estou dispensando para esse cretino aqui! E chega de ameaças aqui na minha casa, ou deem o fora, entendido? – ordenei, sem que nenhum deles revidasse.
Comecei a rir quando estavam sentados ao redor da mesa enquanto eu fazia os curativos nos rostos barbados de homem que, contudo, não passavam de moleques invocados. Eles não precisavam saber o quanto eu gostava deles, cada um à sua maneira, inclusive o safado do Ryker, por quem eu começava a nutrir algo que ainda não conseguia entender direito.
- Está rindo do quê? – perguntou o Dimitrius, encabulado por se ver naquela situação vexatória.
- Da nossa cara de patetas que tentam ajudá-lo e são traídos sem a menor comiseração! – exclamou o Karolos.
- Estava tudo indo bem até vocês aparecerem! – sentenciou o Ryker, contrariado por perder a hegemonia da minha atenção.
- Como é que é? O que você está falando aí, seu cretino? Não pense que vai chegando aqui e se metendo na nossa amizade de tantos anos e criando confusão sem que fique sem resposta. Eu quebro a sua cara, pode contar! – ameaçou o Karolos.
- Chega Karolos! Já mandei você parar com essas ameaças! – ordenei
- Só me responde uma coisa, o que esse sujeito está fazendo aqui a essa hora, sozinho com você? Me esclareça isso, Yorgos, antes que eu perca a paciência com você também! - indagou o Karolos
- A geladeira dele estragou e ele veio guardar umas coisas na minha, fez um jantar em agradecimento e foi só isso. – respondi
- E isso incluía você ficar alisando o rosto dele?
- Karolos, chega! Deixa de ser imbecil! – exclamei perdendo a paciência de vez. – E agora, que todos estão devidamente assistidos, vão para casa! Não quero ver mais ninguém aqui! Fora! Todos, fora!
- Estávamos pensando em fazer companhia para você esta noite, foi por isso que viemos! – disse o Dimitrius
- Pensaram errado! Vão dormir nas suas casas! – exclamei, empurrando-os porta a fora.
Naquele risinho sarcástico do Ryker deu para perceber a satisfação que ele estava sentindo por aqueles dois não se meterem na cama comigo. De certa forma, ele considerou que tinha vencido aquela batalha.
Por mais absurdo que possa parecer, passei a noite me revirando na cama, tendo sonhos eróticos com aqueles três se revezando no meu cuzinho, enquanto eu os cobria de afagos sentindo meu corpo envolvo numa aura de prazer indescritível. O que estava acontecendo comigo, nunca fui assim, tão devasso?
Acordei atordoado com os golpes que estavam sendo desferidos contra a porta da cozinha e a voz rouca do Ryker me chamando. Saí da cama cambaleando de tão sonolento e, por uns segundos achei que pudesse haver uma tragédia em andamento. Quando a destranquei dei de cara com ele metido numa bermuda e sorrindo para mim.
- Você de novo! Só pode ser um pesadelo! O que quer agora, já não me encheu o saco o suficiente ontem? Ainda é madrugada, o que faz aqui? – despejei
- Já passa um pouco das 06:30 horas! Hora do café, e minhas coisas estão na sua geladeira, lembra? – respondeu ele, já entrando e resvalando aquele corpão cheio de músculos em mim.
- Só pode ser brincadeira! Você é maluco ou o quê? Bater na porta da casa dos outros a essa hora, é coisa de doido! Pegue o que precisa e feche a porta ao sair! Não vou levantar em plena madrugada para tomar café! – devolvi, cambaleando de volta para o quarto, onde simplesmente me joguei sobre a cama e agarrei meus travesseiros voltando a dormir.
Não sei por quanto tempo ele estava ali, me observando, esparramado só de cueca sobre a cama, quando a luz clara me despertou e me fez esfregar os olhos. Ao abri-los cheguei a levar um susto com o vulto enorme dele sentado ao lado da cama.
- Finalmente a bela adormecida acordou! Você é sempre tão dorminhoco? O sol já está alto, sabia? – perguntou, sem tirar os olhos do meu corpo, que só então notei estar quase nu.
- Você ainda está aqui? Resolveu acampar na minha casa, é isso? Quem te deu permissão de entrar no meu quarto? – perguntei indignado, quando percebi que ele nem se abalou com minha reprimenda. – Sujeitinho folgado! – resmunguei, à caminho do banheiro.
- Eu ouvi isso! – retrucou ele. – Só estava esperando você acordar para trazer o café. – emendou, seguindo em direção à cozinha e voltando em seguida com uma bandeja montada nas mãos. – Café na cama, mais uma maneira de te agradecer pela gentileza. – completou rindo. Eu podia jurar que aquele olhar sobre o meu corpo o estava deixando perturbado.
- Você preparou isso tudo? Há quanto tempo está aqui tumultuando a minha cozinha?
- Não tumultuei nada, pode conferir! Há pouco mais de hora e meia! Já ia jogar um balde a água fria em cima de você para ver se acordava! – disse caçoando.
- Você que se atreva! Eu não tinha mandado você pegar suas coisas e vazar?
- Tinha, mas tenho certa dificuldade de deixar que os outros me digam o que devo ou posso fazer!
- Isso eu já percebi! De qualquer forma, obrigado pelo café! – pensei em vestir algo que me cobrisse um pouco mais, pois aquela cueca curta não dava conta de cobrir nem as minhas nádegas, mas como aquele olhar cheio de cobiça não desaparecia da cara dele resolvi tripudiar um pouco com seus brios de macho homofóbico, e tomamos juntos o café na cama.
Ele sentou-se na beira da cama, uma perna fletida debaixo da outra que ficara para fora com o pé apoiado no chão, o que deixara suas pernas musculosas e peludas bem abertas. Pela primeira vez tive curiosidade de lançar uma olhadela para o meio delas, pois dava para ver nitidamente o contorno de uma rola colossal como ele todo, encostada na perna esquerda. Tudo aquilo não podia ser a pica dele, o tecido da bermuda devia estar formando aquele túnel, pois homem algum teria uma rola daquele tamanho. Enquanto isso me passava pela mente, me esqueci que o olhar havia ficado fixo naquele volumão e, quando percebi que ele estava me encarando corei feito um pimentão.
- Achou algo interessante? – o desgraçado estava tirando uma com a minha cara.
- O que eu haveria de encontrar de interessante? - questionei, sentindo o rosto em brasa. Ele apenas sorriu sabendo que não me era indiferente. – Você não combinou um horário com o técnico da geladeira? Melhor voltar para casa antes que ele não te encontre por lá e eu tenha que te aturar por mais um dia ou dois! – sentenciei para disfarçar, mas ele já sabia que estava despertando meu tesão. – Ademais, tenho muito trabalho a fazer e você só vai me atrapalhar! Depois, o Dimitrius ficou de passar por aqui e não quero que o encontre novamente aqui dentro.
- Por quê, tem medo que ele pense que estou dando em cima de você para roubá-lo dele?
- Não fala besteira! Em primeiro lugar não pertenço a ele ou a quem quer que seja para poder ser roubado; em segundo lugar, essa seria uma preocupação descabida dele, pois não há nenhuma chance de você se interessar por mim, uma vez que você não gosta de gente como eu, não é? E o mesmo vale para mim, nenhuma chance de sentir absolutamente nada por um cara feito você! – afirmei
- Quantas vezes vai jogar na minha cara a fala infeliz que tive ao nos conhecermos? Eu já não pedi desculpas? O que mais espera de mim, que o faça de joelhos, que registre um documento oficializando as desculpas em cartório? Já não sei mais o que fazer para você me perdoar e esquecer essa fala infeliz! – questionou sincero
- Nada! Não faça nada! Apenas suma da minha frente, vá para sua casa tratar da sua vida! – exclamei exasperado, pois cada vez que me lembrava daquele primeiro encontro algo fervia de raiva dentro de mim e eu mal podia olhar para a cara dele, mesmo que aquele corpão estivesse me deixando com o corpo todo assanhado.
- Tá, tá, estou indo, não precisa me enxotar! – disse, enquanto eu o empurrava em direção à porta.
Naquela mesma tarde consertaram a geladeira dele e, é óbvio, que pouco depois ele estava novamente diante da minha porta para buscar as coisas que tinha deixado na minha geladeira. Senti um misto de satisfação e raiva por ter que revê-lo, este sentimento paradoxal começara a fazer parte de mim toda vez que colocava os olhos nele, e ainda não tinha encontrado uma explicação para ele.
- Felizmente vou me ver livre da sua presença! – exclamei espicaçando-o, enquanto juntávamos as coisas.
- E eu da sua! – respondeu ele, de pronto, revidando. – Pode ao menos me ajudar a levar alguma coisa para que não tenha que fazer mais viagens? – emendou.
- Quanto mais cedo me livrar de você melhor! – balbuciei baixinho.
- Eu ouvi isso! Cara, como você resmunga! Pior que um velho rabugento! – devolveu ele, à caminho de casa.
Ao passarmos pela garagem me deparei com uma motocicleta, parcialmente desmontada, Harley-Davidson FLH Electra-Glide que deveria remontar aos anos 1960 e, como um entusiasta pela marca desde garoto, não resisti a tentação de deslizar minha mão sobre o guidão e o tanque de combustível que brilhavam como uma estrela.
- Não toque nela! Tire as tuas mãos daí! Isso não é para o seu bico! E melhor, afaste-se dela agora mesmo! – ordenou quase berrando, o que me fez levar um susto de tão brutas que foram suas palavras.
- Estúpido! Eu só estava admirando a motocicleta! Não tenha medo, não vou arrancar nenhum pedaço dela, seu grosso! – retruquei exasperado.
- É bom mesmo! Não quero ninguém mexendo nela! Especialmente você que não deve entender absolutamente nada de motocicletas! Isso é coisa para homens! – revidou ele, me deixando ainda mais puto.
- Seu cretino! Talvez eu entenda mais de motocicletas Harley-Davidson do que você, seu imbecil convencido! Posso não ter uma, mas desde criança coleciono informações sobre as motocicletas da marca. Você é o maior idiota que eu já conheci, sabia? Aqui estão as tuas coisas e, obrigado por ter que usar a minha geladeira! Vá para o inferno! Não ouse mais aparecer na minha casa! Imbecil! – exclamei, largando o que tinha nas mãos sobre a mesa da cozinha dele e voltando para minha casa, com vontade de socar aquela cara até ela ficar em pedaços. Tinha o rosto coberto por lágrimas quando cheguei em casa, que escorriam sem controle dos meus olhos embaçados.
Não o vi por três semanas, apenas sabia que continuava vivo porque ouvia o motor da motocicleta roncando dentro da garagem. Ele devia estar restaurando a moto já há algum tempo.
Não recebi muitas visitas durante esse mesmo período, apenas o Karolos e o Ermis apareceram em dias distintos sem avisar. O primeiro, como sempre, com o tesão a lhe consumir com as bolas abarrotadas de esperma querendo meu cuzinho e, tentando disfarçar se dizendo preocupado com meu sumiço. O segundo talvez estivesse com a mesma intenção, mas alegou ter vindo para roubar uma boca livre no meu jantar e, para isso, trouxe até uma garrafa de vinho. Após a refeição, enquanto eu lavava a louça, ele me deu umas encoxadas junto a pia com o pauzão trincando de tão duro, e uns chupões no pescoço que só se tornaram bem visíveis no dia seguinte. Dormimos juntos naquela noite, mas me recusei a fazer sexo, o que ele estranhou, pois nunca me viu tão arisco durante a abordagem.
Que eu andava estranho até eu mesmo sentia, embora não soubesse explicar o motivo. Eu dava o cu desde garoto para esses amigos, incialmente para que me aceitassem no grupo e me deixassem brincar com eles na praia; depois, por que as transas com eles haviam se transformado numa espécie de ritual que nos mantinha unidos, sendo que eu nunca pensei nas transas como algo romântico ou que envolvesse amor, era tão somente sexo que desanuviava todo o tesão que sentíamos, nada além disso. Comecei a culpar o Ryker por me negar a transar com meus amigos como sempre fazíamos. E isso se devia aos sonhos eróticos que eu comecei a ter com aquele pulha desgraçado que a cada dia parecia estar mais enraizado no meu coração inexperiente. Neles, sobressaia o sentimento, o amor vicejava e era ele que levava ao sexo, me fazendo querer entregar não só meu cuzinho para ele, mas todo o meu ser. De onde surgiu essa necessidade nem eu mesmo sabia, e sentia até raiva de mim mesmo por senti-la. Contudo, ela crescia desmedidamente, na mesma intensidade com a qual eu queria vê-lo o mais longe possível de mim.
- Você está gostando daquele filho da puta, Yorgos? Só pode ser! Por que está reagindo assim cada vez que a gente tenta te tocar, você nunca foi disso? Você está transando com aquele desgraçado? – perguntou-me o Karolos, diante do irmão e do Omiros num final de tarde quando estávamos nos banhando nus na água morna do mar.
- Que absurdo! É claro que não! Eu odeio aquele sujeito, odeio! Vocês não sabem fazer outra coisa que não encher o meu saco? – revidei zangado
- Eu não sei não! Aí tem coisa! Você anda muito esquisito! E eu aposto que aquele sujeitinho está metido nisso, se não estiver metendo em você enquanto tenta nos enganar. – sentenciou o Dimitrius.
- Chega, para mim já deu! Vou para casa e nem se atrevam a me seguir, não quero ver a cara de vocês pelo próximo ano! – exclamei furioso, saindo da água em direção de casa.
- Até parece que vamos concordar! Volte aqui zangadinho! Estou com uma coisa bastante dura aqui para te acalmar! Vem cá sentir ela entrando nesse rabão gostoso! – dizia o Omiros pelas minhas costas, enquanto eu apontada meu dedo médio em riste para ele, sem me voltar.
Meia hora depois, estavam me aporrinhando na minha cozinha, enquanto o Karolos se punha a fazer uns sanduiches, pois todos estavam varados de fome. Nem me lembro mais de quantas vezes me encoxaram e passaram a mão pela minha bunda metida num short, nem dos amassos que cada um deles me deu, na tentativa de conseguir me levar para a cama naquela noite. A vontade de dar para eles tinha desaparecido misteriosamente, e eu ainda procurava uma explicação.
Fazia quase um mês desde a última vez que pus os olhos no Ryker quando ele me interceptou quando eu estava na minha scooter a caminho da vila para fazer umas compras e levar umas joias que produzi para despachá-las pelo correio.
- Terminei de restaurar a motocicleta, quer dar uma volta comigo? – perguntou ele, como se o episódio na garagem da casa dele nunca tivesse existido.
- Não quero nem ver a sua cara, quanto mais sair por aí com você! Me deixe passar, tenho coisas a fazer na vila. – respondi secamente
- Me desculpe! Sei que fui grosso com você naquele dia, pode me perdoar?
- Não, não posso! Quero que fique longe de mim! Longe, entendeu?
- Eu te levo até o vilarejo, assim você pode sentir como é dar uma volta com a motocicleta, já que as curte. – afirmou
- Qual parte do quero que fique longe de mim você não entendeu?
- Sei que tem motivos para estar bravo comigo, só quero fazer as pazes! Deixe eu te levar, vai!
- Cara, eu e você nem deveríamos estar no mesmo planeta, é pouco espaço para nós dois. – sentenciei.
- Tá, eu concordo! Mas, por enquanto, suba na minha garupa e cale essa boca, que quando mais fechada ela estiver, menos a gente a vai brigar. – devolveu o atrevido, sem abrir mão da obstinação que o movia.
- O mesmo vale para você! Quanto menos eu tiver que ouvir essa sua voz mandona, melhor!- respondi, ao mesmo tempo em que ele me arrastava para a garupa a despeito dos meus protestos e tentativas de me soltar daquela mão que mais parecia a garra de um urso apertando meu braço.
- Pode me abraçar se ficar com medo de cair! – proferiu rindo, enquanto dava uma aceleradas na motocicleta antes de soltar a embreagem e entrar na rua na direção do centro de Afrati. Dei dois socos naquelas costas largas e sólidas que estavam a minha frente. Ele nem os sentiu, ou fingiu não sentir.
Nas primeiras curvas, feitas a alta velocidade, achei mais prudente me agarrar a cintura dele antes de sair rolando pelo asfalto. Ele se voltou para trás, deu uma risada e acelerou feito um louco, fazendo o vento quente acariciar meu rosto e desmanchar meus cabelos. Debaixo da minha bunda o motor potente a fazia estremecer de um jeito excitante, somado ao calor que aquele corpão emanava, tão próximo de mim que dava para sentir cada pelo do corpo se ouriçando. Eu odiava esse sujeito, eu precisava odiar esse traste, mas estava cada vez mais difícil.
Fiz tudo o que precisava na vila e ele aproveitou para fazer umas compras também, almoçamos numa mesa ao ar livre no pequeno restaurante com pouco movimento àquela época do ano em que os turistas ainda não haviam chegado à ilha. Todo o tempo ele me encarou de um jeito estranho, que eu não gostei, pois parecia estar me devorando com aquele olhar tarado.
- Pare de me olhar desse jeito, está me irritando! – exclamei
- Que jeito? Ficou maluco, o que é agora, não se pode nem mais olhar na sua direção?
- Não desse jeito, como se fosse me comer vivo!
- Arre, que você é insuportável! Insuportável e lindo para caralho! Acho até que podia me apaixonar por você! – não sei até onde havia um fundo de verdade naquelas palavras, ou se eram apenas mais uma de suas ofensas gratuitas.
- E você mais ainda! Sujeito intragável! – revidei.
- Quer pilotar na volta? A sensação nem se compara com a sua scooter! Experimenta! – disse ele, o que estranhei depois de ter se mostrado tão ciumento em relação a motocicleta.
- Nunca pilotei uma moto tão grande, tem certeza? O que deu em você, não queria nem que eu relasse nela algumas semanas atrás, o que mudou?
- Vai começar a procurar confusão? Quer pilotar ou não, decide? Eu te ajudo!
Aproveitei a chance, talvez fosse a única de pilotar uma motocicleta histórica como aquela, e dei a partida com as mãos trêmulas segurando as manoplas. Ele as cobriu com as dele tão logo a pus em movimento, o que me fez sentir um arrepio, pois também o rosto dele estava tão grudado na minha nuca que dava para sentir o roçar da respiração dele sobre a pele. Fiz as curvas da estrada sinuosa sem pressa, apenas inclinando ligeiramente a motocicleta e nossos corpos para contorná-las com suavidade. O corpo dele gingava junto com o meu e, após as primeiras curvas, comecei a sentir a ereção dele cutucando minha bunda. Não sei dizer qual das sensações era a mais maravilhosa, ou se a combinação de ambas era a responsável por me deixar tão exultante.
Havíamos acabado de passar por um trecho da estrada que estava em obras por conta de constantes deslizamentos e solturas de pedaços de rocha que caíam sobre ela bloqueando por vezes completamente o acesso dos moradores até a o vilarejo. De repente, atrás de nós, detonaram alguns bastões de dinamite para explodir parte da rocha e acertar a inclinação da encosta para fazer as curvas de nível. O estrondo fez o Ryker levar as mãos aos ouvidos e se agitar tanto que quase me fez perder o equilíbrio da motocicleta. Tive que parar, enquanto ele tinha uma espécie de ataque de pânico, saltando da moto ainda em movimento e se contorcendo na beira da estrada como se estivesse sob um bombardeio real.
- O que foi? O que deu em você? Podíamos ter sofrido um acidente! Ryker, ei, você está bem? Fala comigo, o que está sentindo! – pedi, sacudindo-o, pois parecia tão transtornado que não me ouvia. Ele se agarrou a mim quando me aproximei dele, mas não disse uma palavra, só continuou transtornado como se tomado de um pavor insano. – Ei, está tudo bem, foram os operários que explodiram a rocha, se acalme! Eu estou aqui, nada vai te acontecer, juro! Vem, vamos para casa. – emendei, puxando-o em direção a moto. Até chegarmos em casa senti como o corpo todo dele estremecia agarrado ao meu, e entendi que aquilo devia ser um trauma que ele trazia dos tempos de Afeganistão.
Eu não podia estar mais surpreso, aquele homem enorme cheio de energia e músculos, com uma língua sempre afiada e pronta para subjugar os outros, agora não passava de um garotinho assustado procurando abrigo nos meus braços. Deixei-o em casa e, tão logo desceu da moto, foi direto para o quarto e se lançou sobre a cama encolhido em posição fetal. Fui até ele antes de voltar para a minha casa para ver se estava bem. Ele estendeu os braços na minha direção sem dizer nada, continuava tão calado quanto estivera depois das explosões, me puxou para junto dele e voltou a se agarrar em mim deitando a cabeça no meu colo. Afaguei-o nos cabelos e no rosto onde a barba espinhenta espetava minha mão, até sua respiração e batimentos cardíacos voltarem ao normal. Ele acabou adormecendo e, após um tempo, coloquei a cabeça dele sobre o travesseiro e fui para casa.
Eu já tinha lido e visto algumas reportagens sobre militares americanos que tinham voltado da guerra no Afeganistão com problemas psiquiátricos e de comportamento, não conseguindo mais se reajustar à sociedade devido aos horrores pelos quais passaram e presenciaram. Tive certeza que o Ryker era um deles, o que explicava parte de seu comportamento agressivo e sua personalidade taciturna. Talvez ele não fosse um sujeito tão ruim como eu pensava, concluí; e cheguei a me arrepender das coisas que falei para ele nos momentos em que ele me tirou do sério.
Havia anoitecido e nenhuma luz estava acesa na casa dele apesar de já passar das 20:00 horas. Atravessei a rua e fui à casa dele, o silêncio imperava na casa escura que continuava com as janelas e portas todas abertas.
- Ryker! Ryker! Você está aí, Ryker? – chamei quando nada se movia pelos ambientes. Ninguém respondeu. Fui até o quarto e ele continuava encolhido sobre a cama na penumbra. – Ryker, acorda, já anoiteceu! Você está bem? Ryker, está me deixando preocupado! – tornei a chamar, sacudindo seu ombro até ele abrir os olhos e começar a desferir golpes na minha direção como se estivesse se defendendo de algum inimigo. Por pouco não levei um soco na cara, mas alguns me acertaram e me fizeram cair da cama, tamanha a violência e força deles. – Santo Deus, homem! O que deu em você? Sou eu, Ryker! Não está me reconhecendo? Quer me matar, seu maluco?
- Perdão, perdão! Você me assustou! Não me deixe sozinho, Yorgos! Deita aqui comigo, não vá embora! – balbuciou ele, me puxando para junto dele.
- Você não está sozinho, e nada vai te acontecer! Por que se assustou tanto com os estouros da exploração das rochas? Você não está mais na guerra, Ryker! Está seguro na sua casa na ilha de Serifos onde só reina a calmaria ano após ano. – afirmei, enquanto ele me encarava.
- A explosão. Os corpos deles completamente destroçados e ensanguentados voaram pelos ares e eu não pude fazer nada, nada entende. Fui eu quem os mandou vasculhar o casebre em busca de talibãs escondidos quando a bomba detonou acabando com tudo que estava em volta. – disse ele murmurando, como se a cena ainda estivesse viva em sua mente. A expressão de seu rosto transfigurado tinha horror, medo e sofrimento estampados nele.
- Isso já acabou Ryker! Ficou no passado, você não pode se culpar! Não foi você, foi a guerra, Ryker. A guerra é a única culpada pelas mortes, não você! – afirmei, tornando a acariciar seu rosto.
- É um pesadelo, ele sempre volta! Nunca vou conseguir me livrar dele, nunca! – balbuciou
- Vai passar sim, confie em mim, Ryker! Um dia ele vai desaparecer para nunca mais voltar, acredite. O tempo se encarregara disso! - asseverei, mesmo não sabendo exatamente do que ele falava e nem do que tinha acontecido. – Venha comer alguma coisa, você deve estar com fome! Vem comigo, vem! – tirei-o da cama, mas ele não me soltou ao dar os primeiros passos.
Tivemos o azar do Achiellus aparecer sem aviso enquanto lanchávamos na minha casa. Só pelo olhar incriminador dele eu soube que teria problemas com meus amigos.
- O que esse sujeitinho está fazendo aqui outra vez? Vocês não se desgrudam mais! Você está dormindo com esse cara, Yorgos? Fale a verdade de uma vez, confesse que está dando o cu para esse cara! – cobrou ele, num instante em que estávamos um pouco mais afastados do Ryker e ele não podia nos ouvir.
- Não é nada disso! Não estou fazendo nada com ele, deixe de pensar besteiras! Depois eu explico, com mais calma. Por hora basta que você saiba que ele revive traumas da guerra, e hoje foi um deles. – expliquei
- E enquanto ele revive traumas da guerra você o acolhe no seu cuzinho, é isso? – questionou petulante
- Vá se foder, Achilleus! Você não tem o direito de falar assim comigo, me respeite! Você sabe muito bem que nunca fui leviano para que você ou qualquer um possa duvidar da minha honra. Agora suma daqui antes que eu perca a cabeça com você! – devolvi ríspido.
- Você mudou muito depois que esse sujeitinho apareceu por aqui! Não sabemos mais quem você é, Yorgos! E não estamos gostando nem um pouco desse novo Yorgos, isso eu te garanto! – exclamou ao partir contrariado.
- Até quando vai deixar que seus amigos te manipulem da forma como quiserem? – perguntou o Ryker quando voltei para junto dele.
- Você também? Todos resolveram encher meu saco agora? Parem de se meter na minha vida! – explodi, fazendo com que ele se calasse.
No dia seguinte tive que aguentar o Dimitrius e o Karolos me cobrando explicações, além de ouvir desaforos durante as ligações do Ermis e do Stamatius, todos enciumados com aquela aproximação com o Ryker, que nenhum deles aprovava. Eu nunca tinha passado por nada igual, repentinamente um bando de machos estava querendo controlar meus passos como se eu não fosse capaz de tomar minhas próprias decisões.
Havia alguns dias que eu não tinha ido à praia, pois estava com uma porção de encomendas acumuladas e as joalherias de Londres me cobrando celeridade. O sol despontara forte naquela manhã e resolvi descer o penhasco e dar uns mergulhos antes de encarar o trabalho. Fiz alguns alongamentos e quando estava prestes a entrar no mar notei a aproximação do Ryker. Eu ainda não me sentia confortável diante daquele corpão quase nu, daquele tronco maciço e másculo, daqueles olhos que me encaravam e sempre me faziam sentir como se estive pelado.
- Bom dia! Madrugou? – cumprimentou ele
- Bom dia! Está me seguindo?
- Para ser sincero, sim! Vi quando tomou a direção da praia e resolvi te fazer companhia. – ele não era de dar respostas tão objetivas. – Não vai tirar a bermuda?
- Não!
- Por quê? Você sempre fica pelado quando vem aqui com seus amigos.
- Porque não quero! Não vou ficar nu na sua frente!
- Pensei que ia ver a sua bunda de perto! Qual é o problema comigo? Enquanto seus amigos não param de bolinar suas nádegas você tem medo de mostrá-las para mim?
- Deixa de ser insolente! Não vou tirar a bermuda e acabou! – retruquei exasperado. Ele já me achava um veado leviano, não ia lhe dar mais munição para me julgar.
- Então eu tiro a minha para te animar! – exclamou, arriando a dele até fazer saltar para fora uma pica grossa e colossal.
- Você é mesmo um cretino, Ryker! – berrei, desviando o olhar daquela jeba e voltando a escalar o rochedo para voltar para casa.
- O que deu em você? Vive cercado de cacetes expostos e até dá o rabo para eles, qual é o problema com o meu? Volta aqui, vamos entrar na água. – gritou atrás de mim.
Meu sangue fervia nas veias quando cheguei em casa. Ele me tinha por um veado putinho e fácil, por isso me jogou isso na cara logo em nosso primeiro encontro. Vindo dele isso me afetava mais do que se qualquer outro pensasse isso de mim. Sou um idiota mesmo, pensei com meus botões, por uns instantes achei que esse macho homofóbico podia vir a sentir alguma coisa por mim. Burro, imbecil! Ele sente aversão a você, ao que você é! Só você mesmo para imaginar que um cara como esse ia te enxergar com outros olhos e gostar de você como você está gostando dele, seu babaca iludido!
- Yorgos! Cadê você? Eu não fiz nada diferente do que os seus amigos fazem com você, não sei porque ficou tão zangado! Por que saiu tão puto da praia? – questionou ele diante da minha porta algum tempo depois.
- Vai embora, Ryker! Não quero olhar para essa sua cara! Suma daqui! – berrei, sem deixá-lo entrar. Ouvi-o rindo.
- Bobão! Se assustou com a minha pica, foi? – disse ao partir.
Um dos joalheiros que adquiria minhas peças em Milão havia me convidado a expor algumas joias numa exposição especializada que ia acontecer na cidade, paralela a semana de moda primavera-verão. Ele achava que eu devia dar as caras para que mais pessoas se interessassem pelas minhas joias, contando um pouco da minha história na ilha de Serifos. Relutei em aceitar o convite, eu estava bem como estava, anônimo no meu canto.
- Pode ser uma boa! – disse o Karolos quando contei a novidade para eles durante o aniversário do Ermis, que comemorava a data depois de ter se divorciado da garota que engravidara.
- Posso te acompanhar, se quiser! Já imaginou nós dois descompromissados uma semana inteira em Milão? Você e eu curtindo as noites na cidade e terminando na cama todos os dias. – devaneou libidinoso o Ermis.
- Esquece, meu amigo! Ele está regulando o cuzinho desde que aquele sujeitinho se tornou vizinho dele. – sentenciou debochando, o Stamatius.
- Virou um celibatário! Sabe há quanto tempo nenhum de nós entra nesse rabão? Meses, meu amigo, meses! – acrescentou o Omiros.
- Vocês não têm outro assunto, não? É uma besteira atrás da outra! Vocês só se interessam pela minha bunda, sempre foi assim desde os tempos de criança. Mas, isso mudou, eu posso querer me preservar, não posso? – questionei
- Preservar para quem? Para aquele sujeitinho estrangeiro? Não é ele que ficava julgando seu caráter por ser homossexual? Por que está se preservando para um cara desses? – indagou o Dimitrius.
- Não tenho e nem vou ter nada com ele! Será que dá para falar de outra coisa? Vocês torram a minha paciência com esse assunto repetitivo.
- Ficaram sabendo que o sujeitinho anda passeando de motocicleta com o Yorgos na garupa por toda a ilha? Até sentado no colo do camarada nosso amigo aqui já foi visto enquanto rodavam pelas estradas. Durante esses passeios deixou a rola do cara entrar em você, Yorgos? – questionou o Karolos.
- Vão se catar, seus putos! Os únicos pervertidos que abusaram de mim foram vocês, seus cretinos! – devolvi zangado, pois eles nunca tinham se mostrado tão enciumados.
- Ele não serve para você, Yorgos! Será que você não enxerga isso, criatura? É um gringo, não se sabe nada da vida dele, pode ser um criminoso que precisou fugir do próprio país e veio se esconder nessas ilhas que poucos conhecem. Já pensou nisso? Aposto que não, que só consegue olhar para o corpão de macho dele e isso te faz perder o juízo. – afirmou o Karolos que não conseguia engolir o Ryker por nada nesse mundo, movido por uma paixão recolhida que sentia por mim desde criança.
- Vocês estão enganados! Muito enganados! Não acredito que ele seja uma pessoa ruim. É apenas um cara traumatizado por tudo pelo que passou. – justifiquei, sem entrar em detalhes. Eles se entreolharam trocando olhares de escárnio e dúvida.
Parti para Milão alguns dias depois, sem avisar ninguém, precisava daquela semana providencial para me distrair com outras coisas e, refletir sobre o que realmente sentia em relação ao Ryker, pois se esse sentimento ultrapassasse os limites da amizade, não teria nenhum futuro e só me faria sofrer, uma vez que homens como ele, não afeitos a gays, só trazem problemas. As primeiras ligações começaram a aparecer já no terceiro dia, Dimitrius e Stamatius ficaram indignados e ofendidos por eu não ter dito nada que ia viajar para o exterior. Perguntaram se eu estava com o Ryker e, mesmo eu tendo negado, sei que foram até a minha casa para conferir se meu vizinho estava por lá.
Durante o evento, conheci um empresário italiano bastante jovem, com não mais do que uns dois anos a mais do que eu e, por sinal, um tesão de macho. Nunca havia tido uma ligação tão rápida e espontânea com alguém, foi como se já nos conhecêssemos desde a infância. O sentimento pareceu ser recíproco, pois ele também logo passou a agir como se me conhecesse desde há muito. Jantamos na primeira noite, apenas nós dois, numa trattoria que ele costumava frequentar quando estava na cidade, deixando para trás o jantar oficial do evento. Falante e ousado como muitos italianos, ele quase conseguiu me levar para a cama. Não fossem as imagens do Ryker perturbado após a explosão deitado no meu colo, meu cuzinho certamente teria conhecido a pica daquele italiano sedutor. Mesmo frustrado por não alcançar seu intento, o que tentou durante toda aquela semana, acabou me convidando para estender minha viagem e passar cinco dias a bordo de um iate que ele e uns amigos haviam contratado partindo de Genova e contornando a Córsega com umas paradas em Bastia, Porto Vecchio, Bonifacio e Ajaccio até retornar a Genova. A proposta era tentadora, embora eu soubesse que o objetivo do convite era conseguir entrar no meu rabinho para descobrir o que eu tanto protegia. Foram dias esplendidos, boa companhia, refeições maravilhosas a bordo, passeios espetaculares pelas cidadezinhas e uma luta constante para driblar o assédio dele sem magoá-lo. Em dado momento justifiquei minha recusa alegando estar apaixonado pelo Ryker e não querendo trai-lo só porque estávamos passando por uma crise. Era uma mentira, claro, mas ele foi compreensivo e até me elogiou pela postura firme diante de sua insistência. Quando inventei essa estória ela me pareceu tão real que cheguei a acreditar que o Ryker e eu estávamos realmente apaixonados um pelo outro e, nessa condição, eu jamais conseguiria trai-lo.
- Por onde andou? Estou há duas semanas a sua procura! Nem aqueles seus cães de guarda sabiam exatamente onde você estava, com quem, e o que estava fazendo. Ficamos todos preocupados! Que ideia foi essa de sumir sem avisar ninguém? – foi essa a recepção que o Ryker protagonizou quando voltei para casa e, pior, com a colaboração do Dimitrius e do Karolos.
- Parem de se comportar como se fossem meus donos! Estive cuidando dos meus interesses comerciais e acabei esticando a estadia numa pequena viagem até a Córsega, satisfeitos? – respondi
- Com quem? – a pergunta chegou a soar engraçada uma vez que os três a fizeram ao mesmo tempo e eu precisei começar a rir.
- Qual é a graça? – questionu o Karolos, invocado.
- A graça é que isso não é da conta de vocês! E, só minha e do empresário italiano que conheci e que me proporcionou dias maravilhosos que me fizeram esquecer um pouco o quanto vocês são controladores. – respondi para provocá-los.
- Empresário italiano, é! O que de tão maravilhoso ele tinha a lhe oferecer, uma pica insaciável? – indagou o Ryker, expondo ela primeira vez algo que não fosse um questionamento quanto a minha moralidade enquanto gay, mas um ciúme indubitável.
- Por quê, está com receio de que a dele seja maior que a sua? – devolvi petulante. A resposta indignou aos três igualmente.
- É sério isso, Yorgos? Você nunca falou conosco desse jeito, o que está acontecendo com você? Você realmente viu a pica desse tal empresário, e a desse sujeito aqui? – perguntou o Dimitrius.
- Chega! O que pensam que estão fazendo comigo? Todos fora, fiz uma viagem longa e cansativa, e não vou ficar me explicando para vocês. Fora! Vão caçar o que fazer em suas casas e me deixem em paz! – descarreguei, sem arrependimento.
Não atendi a nenhuma ligação deles nos dias que se seguiram, eles precisavam aprender que eu também podia fazer as minhas escolhas sem me justificar. Aquilo era inédito para os mais antigos e para o Ryker algo que ele não conhecia da minha personalidade, aquela firmeza de postura que não me deixou sucumbir ao longo da vida quando perdi meus pais e meu avô, e tendo que me virar sozinho nesse mundo.
Embora estivesse sendo firme, algo distante e até demonstrando indiferença quanto ao que o Ryker pensava a meu respeito, eu continuava não me achando digno dele por ser um gay que havia deixado praticamente a vida toda meus amigos me enrabarem quando e como quiseram. As palavras dele quando do nosso primeiro encontro ainda repercutiam em mim – não tenho interesse em me relacionar com pessoas como você – o que exatamente significava para ele uma pessoa como eu? Apenas um gay? Ou, um homossexual promíscuo que se deixava enrabar livremente pelos amigos? Cada vez que essas questões me perturbavam, eu chegava a conclusão que era verdadeiramente um gay pervertido e que jamais seria digno de almejar o amor de um homem decente. Era isso que o Ryker devia pensar de mim. O que então o levava a ficar me procurando, pois isso era mais do que evidente, ele aparecia a todo momento na minha casa com alguma coisa como pretexto?
- Vou aos Estados Unidos visitar minha família, parece que minha mãe não está bem de saúde, e eu estou lhes devendo uma visita, faz cinco anos que não estou com eles. Quer vir comigo? – perguntou-me o Ryker, quando veio, meio sem jeito, interromper meu trabalho numa manhã logo cedo.
- O que ela tem?
- Não sei exatamente! Fizeram alguns exames e ainda não sabem dizer se é grave.
- Sei. Quando vai viajar?
- É por isso que estou aqui. Gostaria que viesse comigo quando isso não te atrapalhar.
- Estou com bastante trabalho, depois do evento de Milão recebi muitas encomendas. Não sei se é uma boa você me levar para a casa dos teus pais, pode dar uma impressão errada.
- O que você quer dizer com isso?
- Não sei! Só acho que não fica bem! Ainda mais quando estão passando por um problema familiar como esse.
- Não vou chegar lá e te apresentar como meu amante, se é isso que te aflige.
- Não diga besteira! Isso nunca me passou pela cabeça, sei que tem aversão a pessoas como eu.
- Outra vez essa história? Me diga, Yorgos, você nunca vai esquecer disso? Eu já não te pedi desculpas mil vezes por ter dito essas palavras impensadamente?
- Na verdade, nunca pediu desculpas! E, nem é isso que importa, o que você pensa a meu respeito não me interessa!
- Pois então eu peço agora! Perdão Yorgos por ter sido um babaca falando isso no nosso primeiro encontro! Estou profundamente arrependido! Será que pode me perdoar?
- Esqueça! Como eu disse, isso não importa mais!
- Mas você vive jogando isso na minha cara! Sinal de que importa sim, e muito pelo que parece.
- Eu não vou! Preciso dar conta das minhas encomendas! Espero que não seja nada grave com a sua mãe! Boa viagem!
- Por que está agindo assim comigo? Eu preciso de você, Yorgos! Por favor, vem comigo!
Quão tolo um gay consegue ser quando acha que está apaixonado por um cara heterossexual com o qual sonhou a vida toda? Muito tolo, posso lhes assegurar. Pois, bastaram aqueles olhos dele se encontrarem com os meus para eu deixar todos os meus outros interesses para trás e seguir com ele; nem que fosse para o inferno, eu iria feliz. Será que todo gay tem esse sentimentalismo arraigado em si e que o deixa tão imbecil? Foi isso que passou pela minha mente quando o avião decolou de Atenas com destino a Atlanta na Geórgia, onde a família do Ryker mora. Ele conversou pouco comigo durante todo o voo, algo o afligia, mas como todo macho, remoía tudo sozinho enclausurado em sua concha onde escondia seus sentimentos. Os pais dele me encararam com surpresa quando abriram a porta ao nos receber.
- Há quanto tempo, filho! Fez boa viagem?
- Cinco anos, pai! Cinco anos! – não sei porque ele quis frisar esse dado com tanta ênfase.
- Você não disse que viria acompanhado! – observou sua mãe.
- É acho que me esqueci de mencionar. Pai, mãe, este é o Yorgos! – respondeu ele
- Olá! Seja bem-vindo! – o constrangimento na voz da mãe era evidente. O meu não foi menor e, nem meu sorriso tímido amenizou a situação embaraçosa. – Preparei seu antigo quarto, só há uma cama lá! – continuou a mãe.
- Sem problema, o Yorgos e eu vamos dividi-la numa boa, não se preocupe! Não é mesmo, Yorgos? – devolveu o Ryker, o que fez ambos os pais me analisarem com mais interesse, chegando a me deixar corado. O que deu nesse sujeito para me apresentar dessa maneira, sem nenhum adjetivo explicativo, apenas – esse é o Yorgos – quem diabos é esse Yorgos deviam estar pensando; um amigo, um caso, um amante, um gay que nosso filho está enrabando? Tive vontade de esganá-lo, mas apenas sorri embaraçado.
À mesa do almoço o constrangimento não podia ser menor, todos pareciam medir cautelosamente as palavras antes de proferir alguma frase. Minhas mãos tremiam, meu corpo tenso e enrijecido doía como se eu tivesse levado uma surra. A garganta estava tão fechada que nem as palavras conseguiam sair direito e nem as poucas garfadas que dei na comida conseguiam descer. Quando olhava na minha direção, o Ryker parecia alheio ao meu sofrimento. A conversa girou basicamente em torno da doença recém descoberta da mãe, o que me alienou ainda mais do assunto que eles tratavam com muita reserva. Não consegui decifrar os olhares que o pai dele me lançava, só sabia que diziam – você não deveria estar aqui, não nessas circunstâncias – e tive vontade de evaporar no ar.
Ajudei a mãe dele com a louça após o almoço para tentar amenizar a situação e me mostrar solícito, enquanto o Ryker e o pai seguiram para o quintal de onde logo se podia ouvir uma discussão entre os dois. Eu mal me atrevia a olhar para a mãe dele e, num lampejo desesperado não me contive.
- Me desculpe! Peço perdão por estar aqui. O Ryker em nenhum momento me disse que não os tinha avisado da minha vinda. Vou procurar um hotel para que vocês possam ficar mais à vontade com ele. Perdão! Espero que ao diagnosticarem a sua doença não seja nada grave e a senhora se recupere o quanto antes. – estava quase chorando quando terminei de falar e, embora quisesse dar um abraço nela, não tive coragem de me aproximar.
- Você não precisa se desculpar, conheço meu filho, ou acho que conhecia antes de ele ir para o Afeganistão e voltar desse jeito. Você não precisa procurar um hotel, faço questão que fique conosco! Ficamos apenas surpresos por ele não ter dito que viria acompanhado. A essas alturas eu já não deveria me surpreender com mais nenhuma atitude dele. – retrucou ela.
- Seu filho, sem dúvida, é uma caixinha de surpresas! É difícil saber o que se passa dentro dele. Às vezes, ele me amedronta, em outras é como um garotinho malandro e perdido. – devolvi
- Percebo que talvez o conheça melhor do que eu! E também, que parece gostar dele para se sujeitar a uma situação como essa. – argumentou ela.
- Quero deixar claro que somos apenas vizinhos em Afrati, a casa dele fica do outro lado da rua, e nossos primeiros encontros não foram propriamente os mais amistosos. Porém, de alguma forma que eu mesmo ainda compreendo, fomos nos aproximando embora não se possa chamar nem de amizade o que há entre nós. Eu não deveria estar aqui, lamento! – retruquei. Ela veio me abraçar e eu sequei rapidamente a lágrima que rolou do meu olho antes que ela o percebesse.
Após a discussão com o pai o Ryker saiu sem me dizer para onde ia. Voltou à noite, pouco antes do jantar e seu hálito cheirava a cerveja quando passou por mim sem dizer uma palavra e subiu para o quarto. Meu primeiro impulso foi ir atrás dele e cobrar explicações, mas isso só tornaria tudo ainda mais complicado. Que ele estava sob pressão e estresse desde que entrou naquela casa não restava dúvida e, eu não queria trazer ainda mais aborrecimentos. Ele não desceu para o jantar que aconteceu mais uma vez sob um clima constrangedor, embora os pais dele tenham me perguntado sobre a minha vida e a dele em Serifos. Eu aproveitei a ocasião para presentear a mãe dele com uma das minhas joias e isso arrefeceu um pouco os ânimos. E, talvez também o fato de a mãe dele ter contado ao pai que eu não era um amante do filho problemático. Antes de subir para me recolher pedi autorização para fazer um lanche para o Ryker para que não ficasse sem se alimentar.
- Obrigado por cuidar dele! – disse-me o pai quando subi.
Encontrei-o completamente nu esparramado sobre a cama com os cabelos ainda molhados no quarto às escuras.
- Eu te trouxe um lanche, deve estar com fome!
- Não precisava! Tudo o que eu tinha que engolir hoje já engoli! – retrucou ele.
- Por que não me chamou quando saiu? Eu teria feito companhia e você podia me contar o motivo da discussão com seu pai; então não precisaria beber.
- Eu precisava ficar sozinho! E precisava beber para esquecer essa merda toda! Você só ia me atrapalhar!
- Por que me trouxe para cá então?
- Não sei!
- Vista alguma coisa, uma cueca e uma camiseta ao menos. Me poupe de ver tudo isso assim exposto! – ele se voltou para mim e riu.
- Você dá o cu para cinco caras numa praia em plena luz do dia e se incomoda de me ver nu. Qual é a sua, Yorgos! Você pode ser qualificado de tudo, menos de puritano! E é assim que age comigo. – devolveu ele
- Por que você sempre me olha com esse olhar crítico, como se eu fosse a mais devassa das criaturas. Não quero te municiar com mais argumentos. – respondi
- Será que eles já se deram conta de que você é gay? Seria engraçado! – ele falava consigo mesmo.
- Você me usou ao me trazer para cá para afrontar sua família. Faz ideia do quanto isso me magoa? Com a sua mãe prestes a receber um diagnóstico você deveria ser mais gentil e solidário com todos eles. É assim que um filho deve agir numa situação dessas.
- Vai você também me dar um sermão? Você não sabe de nada! Acha que eles foram gentis e solidários comigo quando voltei do Afeganistão e encontrei minha noiva grávida do meu irmão? Não, não foram! Eles apoiaram a safadeza deles, acobertaram toda a vilania sem se importar com o que eu sentia. Portanto, não me venha pedir para tratá-los de maneira diferente. Eu sei o que estou fazendo e, porque estou fazendo. – revelou ele.
- Eu não sabia disso! Você podia falar com seu irmão, com a sua noiva, e esclarecer a situação. Deve ter havido um motivo para seus pais os apoiarem. – ponderei.
- Eu falei com o desgraçado, acha que não falei com aquele miserável? Sabe o que ele me disse, sabe? Que aconteceu! Aconteceu, assim do nada! Um belo dia ele acordou e resolveu enfiar o pau dele na buceta dela e tudo ficou bem para todos eles. Felicidade geral, comemorações! O irmão traidor e a puta da noiva do irmão que estava se fodendo na guerra foram aplaudidos pela atitude que tomaram. Aplaudidos, entende, Yorgos? Não, você não entende! Não entende por que nunca teve um irmão miserável e falso. Não entende por que nunca esteve apaixonado por uma vagabunda que se entregou para o primeiro homem que apareceu quando você partiu para os quintos dos infernos. Não entende por que seus pais nunca foram cúmplices de uma traição, não se importando nem por um segundo com o que você ia sentir quando descobrisse toda essa sujeira. – descarregou ele.
- Vem cá, deita a cabeça aqui no meu colo! Não foi uma coisa correta o que fizeram com você, eu concordo. É difícil dizer o que se deve fazer numa situação dessas mas se você quiser seguir em frente, vai ter que superar tudo isso. – argumentei
- O quê? Você também quer que eu os perdoe, que finja que está tudo bem só porque eles já se arranjaram, que passe a aceitar sem questionar que sou um corno? É isso que está me pedindo, Yorgos? – nesse momento ele levantou a cabeça do meu colo e me encarou com os olhos faiscando de raiva. – Não! A resposta é não, Yorgos! Eu nunca os vou perdoar! Aquele garoto que eles têm era para ser meu, não do desgraçado do meu irmão! Você nunca vai entender porque é gay, não é um macho que simplesmente aceita que lhe roubem a fêmea. – afirmou ele, explodindo de raiva.
- Acalme-se! Você nunca vai encontrar a paz enquanto ficar remoendo essa história! O que é mais importante, a sua felicidade, ou o desejo constante de desforra? Você só tem uma vida, trate de vivê-la o melhor possível procurando por aquilo que te fará feliz, e não o que te conduz a vingança. – argumentei, quando ele voltou a deitar a cabeça no meu colo e se deixou afagar entre os cabelos. – E por tudo que é mais sagrado, Ryker, cubra esse troço com uma cueca! Tenha santa paciência, que ninguém pode ser obrigado a encarar essa aberração! – emendei, uma vez que não tinha como desviar o olhar daquele cacetão grosso repousando sobre a coxa peluda dele.
- Você é uma figura, Yorgos! – exclamou rindo.
- E já que me colocou nessa situação esdrúxula me trazendo consigo nessa viagem, bem que você podia ser gentil comigo pelo menos uma vez e me deixar dormir na cama, enquanto você se aloja sobre o tapete. – sugeri.
- Vai sonhando! Cabemos os dois na cama, foi para isso que ela foi feita! Estou com as costas moídas pela viagem e não vou abrir mão da minha cama! – sentenciou decidido.
- Bem, então durmo eu no tapete! E você pode ir acrescentando mais uns bons débitos na conta que já tem comigo, seu ingrato! – devolvi
- Deixa de bobagem! O que tanto você implica comigo, Yorgos? Não suporta me ver pelado, não quer que eu me aproxime de você; tocar então, nem se fale. Qual é a sua? O que é isso tudo, medo de não resistir ao meu charme de macho? – indagou
- Você se acha, não é? Saiba que não tenho o menor interesse em você, nesse seu tal charme de macho, ou qualquer coisa ligada a você! – dizem que toda mentira repetida mil vezes acaba virando verdade, e era exatamente isso que eu estava fazendo para convencer a mim mesmo.
- Claro! Com cinco amiguinhos tarados por sua bunda à sua disposição, não é de admirar que não queira mais ninguém. – retrucou ofensivo.
- É isso mesmo! Tenho tudo o que preciso com eles! – revidei.
Fiz uma barreira de travesseiros e almofadas separando os dois lados da cama e tirei uma cueca e uma camiseta da mala dele lançando-as em sua direção como condição para não dormir no chão. Finda a arrumação ele debochou e, ambos exaustos, nos estiramos sobre o colchão acolhedor. Não devo ter levado nem cinco minutos para cair no sono, o voo e a diferença do fuso horário caíram como uma pedra sobre meu corpo cansado. Após algumas horas comecei a sentir os esbarrões de mãos e pés do Ryker que estava tendo um sono agitado, chegando até a resmungar palavras ininteligíveis. A barreira que construí não serviu para nada, o corpão dele se esparramou sobre quase toda a cama me encurralando num canto, prestes a despencar da beirada. Àquela altura eu já tinha levado nem sei quantos chutes e socos que se faziam sentir sobre a musculatura tensa. Remontei a barreira precariamente e tentei voltar a dormir, eram 04:30 horas e fazia um pouco de frio, por isso lancei o cobertor sobre o corpão do Ryker que estava todo descoberto. Voltei a acordar às 06:50 horas, o quarto estava menos escuro com a luminosidade da manhã que se infiltrava pelas janelas e, para meu espanto, meu braço estava pousado sobre o peito quente dele, o que me fez despertar de súbito. Tanto a camiseta quanto a cueca se foram, ele estava completamente nu e meu corpo colado ao dele.
- Ryker! Ryker! Ryker, acorde, já amanheceu! – chamei sacudindo-o de leve.
Praticamente voei para fora da cama com a reação violenta dele, dando chutes e socos a esmo como se estivesse a se defender de um inimigo imaginário. Um dos socos quase atingiu meu rosto, mas de um chute na virilha não me livrei e precisei gemer quando o pé dele atingiu meu pinto.
- Ryker, seu maluco! Quer me matar? Sou eu, não está me reconhecendo? Ai, esse doeu para valer! – reclamei, levando ambas as mãos para a virilha.
- Hã? O que? Hein? O que estava tentando fazer? – perguntou confuso e sonolento
- Tentando te acordar, ora essa! Não precisava tentar me matar só por causa disso! – respondi
- Desculpa, tive a sensação de estar sendo atacado! Te machuquei?
- Claro que machucou! Quem é que podia te atacar, Ryker? Você está no seu quarto, na casa dos teus pais, um lugar seguro, ninguém virá te atacar! Você precisa se livrar desse medo constante, dessas lembranças da guerra, isso já acabou, Ryker! Olha para mim, ninguém vai te ferir, você não tem que se defender de nada, está me ouvindo? – retruquei
- Posso me deitar no seu colo? Não sei como fazer para esses pensamentos desaparecerem de uma vez por todas, não sei, Yorgos! – disse ele, agarrando-se as minhas coxas e deitando a cabeça sobre elas. Um calafrio percorreu meu corpo com toda aquela intimidade que sua nudez exposta ensejava.
- Cadê a camiseta e a cueca? Por que está pelado outra vez?
- É só nisso que você pensa? Estava me sentindo sufocado e a cueca que você me deu estava me apertando as bolas, não consigo dormir com o pau e o saco confinados. – respondeu com naturalidade.
- Que seja! Por sorte ainda estou com meu pijama! – sussurrei
- Eu ouvi isso! – resmungou ele.
Toda vez que nos sentávamos à mesa para as refeições o clima ficava tenso e carregado, parece que ele escolhia essas ocasiões para lançar suas indiretas contra os pais que apoiaram o irmão ao invés dele. A mãe tentava pôr panos quentes, o pai ia se irritando e devolvia as agressões também com indiretas. Eu me sentia completamente deslocado e com vontade de sumir.
Para piorar a situação, o irmão dele, sem saber que o Ryker havia regressado, resolveu aparecer com a família para o almoço de domingo. Desde que soube disso fiquei inquieto, sabia que teríamos uma guerra. Não a quilômetros de distância num país longínquo, mas ali, bem diante das nossas caras. Fiquei com tanto medo que me sobressaltava por qualquer besteira, um carro que buzinava na rua, uma porta que batia com o vento, uma panela que escapava escorregando das mãos da mãe dele e caia ruidosa na pia, tudo fazia meu coração quase sair pela boca.
- Me promete uma coisa, Ryker. Não fique provocando seu irmão como já faz com seu pai, não arrume confusão com ele. É um almoço de família, faça tudo acontecer de maneira tranquila e natural. Me promete? – pedi, afagando o rosto dele que estava deliciosamente sensual por ele não ter feito a barba desde que chegamos a Atlanta.
- Não posso, sinto muito! Toda vez que o vejo na minha frente tenho vontade de matá-lo! O que está me pedindo é demais! – respondeu convicto.
- Juro que vou para um hotel e volto para a Grécia se você fizer desse almoço um campo de batalha. Pense na sua mãe, na saúde dela! Por favor, Ryker, seja razoável e me ouça. – implorei
- Você é dramático demais! Não se preocupe, prometo que não o mato na sua frente. – devolveu, me deixando falando com as paredes.
O irmão dele, Arlo, é igualmente um tesão de macho, enorme, musculoso, viril; mas eu jamais trocaria o Ryker o por ele. Não sei porque, talvez por estar apaixonado por ele sem o admitir, ou talvez porque o irmão não me inspirava confiança. Que era tão bissexual quanto o irmão não restava dúvida, pois quando nos cumprimentamos seu olhar penetrante praticamente me desnudou, e o jeito com o qual apertou a minha mão dentro da dele carregava uma sensualidade provocante. A esposa nada percebeu, ninguém mais além do Ryker, na verdade; e eu não gostei da expressão que se formou no rosto dele. Ela é alta e esguia, tem feições suaves, mas que não escondem certa arrogância; no geral pode-se dizer que é uma mulher atraente e que sabe se vestir de modo a valorizar sua silhueta. Seu cumprimento foi efusivo ao me abraçar com espontaneidade. Eu me encolhi, nem sei bem porque, me senti acuado. Josh, o garotão de seis anos deles é uma criança esperta e ativa e, depois de uma suspeita que havia me passado pela mente, fiz questão de examinar aquele rosto com mais afinco. Era a cara do Arlo em versão infantil, o que me fez suspirar aliviado. Pela idade, o Ryker não podia ser o pai dele, pois já estava no Afeganistão cerca de ano e meio antes de ele nascer. O menino se tomou de amores por mim, quis me mostrar a casa dos avós, o antigo quarto de seu pai que ele dizia ser dele agora que tinha dormido algumas vezes na casa dos avós, a casa no olmo nos fundos do quintal que o avô construíra para ele e toda uma gama de brinquedos com a qual fez questão que eu brincasse com ele. Nem a vivacidade inocente dele conseguia me deixar mais tranquilo, eu só olhava para o Ryker e para o Arlo como se estivesse esperando o primeiro round da luta começar. Eu não estava só nessa expectativa, o pai deles tinha a mesma preocupação. Os dois nem se cumprimentaram ficando distantes um do outro o quanto podiam. O Ryker cumprimentou a ex-noiva e recebeu uma devolutiva fria e impessoal. Não sei o que me fez sentir raiva dela nesse momento. Ciúme, quem sabe? Não consegui pensar em outra coisa que não aquele cacetão descomunal do Ryker alojado dentro da vagina dela, no fato de ela poder lhe dar um filho, e eu não. Sim, era mesmo ciúme o que eu estava sentindo.
A ideia infeliz do pai deles de acompanhar a refeição com vinho logo mostrou seus resultados. As indiretas e provocações começaram pouco depois de nos havermos sentado à mesa. Eu tocava sutilmente na coxa do Ryker debaixo da mesa assim que ele soltava uma provocação, para lembrá-lo do meu pedido. Foi inútil, dava para sentir a vontade dele de esganar o irmão. A recíproca também era a mesma para o Arlo, como se todas as brigas anteriores ainda não tivessem sanado as feridas que se abriram quando o irmão reivindicou a ex-noiva. Ela por seu lado, não fazia muito para evitar o confronto. Tive a sensação que aquela disputa entre os dois machos a excitava, e passei a odiá-la. O Josh deixou a mesa após algumas garfadas que só engoliu por insistência dos pais, e foi para a casa na árvore no quintal.
Mesmo estando em lados opostos da mesa, os dois se engalfinharam como dois leões ferozes, após uma resposta enviesada do Arlo. O pai, sentado na cabeceira da mesa, desferiu um soco que chegou a erguer louças e talheres, exigindo o fim da briga. Foi sumariamente ignorado. Eu tentei segurar o Ryker quando ele se levantou para atacar o irmão. O pai fez o mesmo com o Arlo, enquanto a mãe chorando pedia que parassem de se socar.
- Pare Ryker! Seja razoável! Há outras maneiras de vocês se acertarem. Por favor, Ryker, me ouça! – implorei inutilmente, a pancadaria corria solta.
Em nenhum momento ela interveio para cessar a briga, o que me deu a certeza de que aquilo a excitava. Precisei me controlar para não esbofetear aquela cara, o que certamente teria feito a briga entre os irmãos cessar no mesmo instante. Um grito agudo e uma súbita vertigem da mãe se encarregou de pôr fim ao caos. Amparei-a antes que ela despencasse sobre a cadeira. Com as respirações ruidosas e agitadas a pancadaria acabou, todos se entreolhavam sem saber como agir.
- Acalme-se Sra. Wheeler, isso só vai lhe fazer mal! – exclamei, quando a segurava tremula em meus braços.
- Eles vão me matar, é isso que estão fazendo, me matando dia após dia. – balbuciou ela entristecida.
- Venha se deitar um pouco, já acabou, eles não vão discutir mais! – nem eu mesmo acreditava nisso, mas achei que era o certo a se dizer naquele momento quando a levei com o marido até o quarto.
- Isso nunca vai acabar! Eles se odeiam, vão acabar cometendo um fratricídio! Me prometa que não vai permitir, meu querido, me prometa! – suplicou, encarando o marido desolado. – Não posso ficar aqui parada, preciso me distrair, preciso cuidar da louça do almoço. – emendou alvoroçada
- Deixe que eu cuido disso, Sra. Wheeler! Apenas descanse, tudo vai estar melhor depois. – sentenciei.
Quando desci o Ryker tinha saído numa caminhada sem destino. O Arlo se juntara ao Josh no quintal e ela estava sentada na sala com aquela expressão apalermada que eu já não conseguia encarar sem sentir um profundo ódio por aquela mulher.
Quando o pai deles e eu estávamos lavando a louça e ajeitando a cozinha ela se juntou a nós oferecendo ajuda, que ambos dispensamos. Nesse momento tive a impressão que o pai do Ryker também não morria de amores pela nora.
- Será que esses dois um dia vão parar de se estranhar? – perguntou, sem obter uma resposta.
- Talvez você seja a única que pode pôr um fim nessa situação. – afirmei
- Eu, como assim?
- Esclarecendo para o Ryker o motivo de ter optado pelo Arlo. Acho que ele merece essa explicação.
- Nunca pensei que eles chegassem a se odiar. Nem quis que isso acontecesse, eu juro!
- Então converse com ambos e peça que se entendam! – sugeri
- Eu sempre estive interessada só no Arlo, era ele quem eu queria desde o começo. Me aproximei do Ryker por que ele era mais expansivo e falante, também mais sedutor, tentando com isso me aproximar do Arlo que era mais retraído. Eu nunca senti nada pelo Ryker além de um coleguismo, eu sempre amei o Arlo. Vocês conhecem o Ryker, para ele tudo tem que acontecer logo, não consegue esperar, não tem paciência, foi me envolvendo, queria oficializar nosso compromisso, queria noivar, queria casar, tudo sempre às pressas, mal dando tempo de a gente conversar. Quando ele partiu para o Afeganistão a chance com o Arlo surgiu e nos apaixonamos um pelo outro. Não imaginávamos que ele, ao voltar, não aceitaria nosso casamento. Ficamos afastados por dois anos, não há amor que dure à distância. – revelou ela, deixando até o Sr. Wheeler surpreso, pois nunca tinha admitido não se interessar pelo Ryker.
- Quando não é verdadeiro, não dura mesmo! – afirmei. – Você já contou isso para o Ryker? Ele precisa saber disso, o quanto antes. Você lhe deve essa explicação, mais do que nunca. – continuei.
- Ele vai me odiar! O Arlo pode não gostar de saber que me aproximei dele usando o irmão. Não sei se tenho coragem, não sei como ele pode reagir. – disse ela.
- Eu não o culparia se ele te odiasse! Você me desculpe, mal nos conhecemos, mas seu caráter é bastante questionável. Você o usou, não foi sincera nem com seu marido, implantou a discórdia entre dois irmãos, trouxe a desarmonia para essa família, faz todos sofrerem por que não tem coragem de admitir que foi ardilosa e falsa. Seja ao menos uma vez honesta e vá ter essa conversa com eles! – impus com firmeza, diante do olhar embasbacado do Sr. Wheeler.
O Ryker ficou arrasado quando ela lhe contou tudo. O Arlo estava decepcionado com a esposa, para dizer o mínimo. Os pais dele, inconformados por não terem percebido antes que tipo de nora estavam acolhendo em sua casa.
- Ryker, Arlo, é hora de vocês se abraçarem e esquecerem essa história. Vocês são irmãos, foram criados juntos e não devem deixar que ninguém se interponha entre vocês. Façam as pazes, por favor, pela mãe de vocês, por vocês mesmos, pelo regresso da harmonia a essa família. – pedi, fazendo com que os dois se aproximassem. Quando a Sra. Wheeler desceu e presenciou a cena começou a chorar.
- O que foi que eu perdi? Vocês se reconciliaram, é isso? – perguntou ela, indo de encontro aos dois.
No da seguinte, segunda-feira, ambos estavam ao lado da mãe quando ela recebeu o diagnóstico definitivo de um problema cardíaco que a obrigaria a passar por uma cirurgia dentro em breve, com altas chances de uma cura completa. Naquela mesma noite embarquei para Atenas, só comunicando ao Ryker quando o táxi estava à minha espera diante da porta.
- Você não pode fazer isso comigo! – disse ele, quando desci com a bagagem. – Sua passagem de volta está comigo, não vai embarcar sem ela. – continuou.
- Eu comprei outra, Ryker! Estou te dizendo adeus aqui, por que não quero que me procure quando voltar para Serifos. – minha voz soou firme, apesar de eu estar mortificado por dentro.
- Adeus? Como assim, adeus? – ele passava desesperadamente as mãos pela cabeleira
- Eu te pedi para não arrumar confusão com seu irmão; pedi não, implorei, você fez exatamente o contrário. Você me trouxe para cá para afrontar sua família, não para ter uma companhia durante a viagem. Não consigo lidar com isso, me desculpe! – me afastei quando ele tentou me segurar, e fui em direção ao táxi.
- Obrigado, Yorgos! Obrigado pelo que fez pela minha família, por ter reconciliado meus filhos. – disse o pai dele, que me esperava na calçada e também tentava impedir que eu partisse daquela maneira. – Fique, vai ser bom para todos nós.
- Não vou cometer o mesmo erro que sua nora, Sr. Wheeler, escondendo o que sinto. Eu sou gay, e amo seu filho desde o primeiro momento em que pus os olhos nele. Mas, nós nunca vamos dar certo, e eu preciso aprender a viver sem ele, a procurar esquecê-lo para minha própria sanidade. O Ryker é um homofóbico de carteirinha, jamais se interessará por uma pessoa como eu. Não o culpo por isso, ninguém é obrigado a gostar de homossexuais, mas deve ao menos respeitá-los enquanto pessoas, e isso ele não sabe fazer. – descarreguei aos prantos.
- Lamento que ele esteja te fazendo sofrer. Talvez você esteja enganado, nesses poucos dias pude perceber que você tem muita influência sobre ele, que ele se sente amparado quando está perto de você. Pense nisso! E quanto a mim e a minha esposa, não tem importância alguma que você seja gay, você se mostrou uma criatura gentil e bondosa que consegue enxergar a dor dos outros e se solidarizar com eles. Se você o ama, dê-lhe uma chance! Vai ser bom para ambos. – sentenciou, me abraçando.
- Quem sabe, Sr. Wheeler, quem sabe! Obrigado por tudo e pelas palavras de carinho. Gostaria de lhe pedir um último favor, me mantenha informado quanto a cirurgia e recuperação da Sra. Wheeler. E, eu ficaria imensamente feliz se vocês fossem me visitar na Grécia, posso lhe garantir que as ilhas aonde nasci e me criei são um verdadeiro paraíso. – ele me puxou mais uma vez contra si e me apertou com força. Chorei até o sono se abater sobre mim dentro do avião.
Durante dois meses a casa do Ryker ficou fechada, pensei até que ele nunca mais voltaria a Serifos. Durante esse período recebi algumas fotografias e mensagens pelo Whatsapp do Sr. Wheeler, me informando da cirurgia da esposa e do progresso do processo de recuperação. Não fosse isso, não teria tido nenhuma informação do Ryker, uma vez que não me enviou uma palavra sequer. Conhecendo-o como eu o conhecia, sabia que estava zangado comigo por ter partido daquela maneira, contrariando a sua vontade, afrontando-o. No entanto, na minha opinião, era ele quem me devia desculpas por ter me feito passar por todo aquele drama familiar dele.
Decorridos esses dois meses, no meio de uma manhã, vi da janela do meu ateliê que ele havia voltado. Tenho que admitir que, apesar de tudo, senti uma alegria enorme quando o vi descendo do táxi com uma montanha de bagagens. Supus, inocentemente, que ele viria me procurar. Mas, decorridos mais dois meses de sua volta, ele nunca veio a ter à minha porta. Acabou, concluí. Acabou o que na verdade nunca começou, pois jamais havíamos conversado sobre aquele relacionamento estranho e precário que nos colocou frente a frente. Só na minha imaginação e nos meus desejos mais secretos existia aquela paixão que eu nunca admiti.
Ele saía com a motocicleta todos os dias, contrastando com sua rotina anterior à viagem aos Estados Unidos. Geralmente passava o dia todo fora, sabe-se lá onde e fazendo o quê, e só regressava nos finais de tarde. As luzes se apagavam cedo na casa do outro lado da rua, o que também se diferenciava dos tempos anteriores quando ainda iluminavam madrugada adentro. Em três ocasiões, durante finais de semana, vi-o seguindo em direção à praia com uma prancha de surfe debaixo do braço. Ao passar pela minha casa, ficava observando para ver se eu estava pelo quintal, mas nunca parava ou chamava por mim.
Porém, o mais estranho de tudo é que durante todo esses meses, ao receber a visita dos meus amigos ou estar com eles no centro do vilarejo, já não me perguntavam mais pelo Ryker, nem se referiam a ele com aqueles adjetivos pejorativos com os quais costumavam tratá-lo. Até o Karolos, que sempre o foi mais ferrenho deles todos, só me perguntou uma vez, pouco depois que regressei dos Estados Unidos, como tinham sido as minhas noites na cama com ele, o que lhe custou uma resposta enviesada de minha parte. Depois disso, ninguém mais tocou no assunto e, as poucas vezes em que o mencionaram, já era sem aquela agressividade costumeira. Outro fato estranho foi que, numa tarde bastante quente de um domingo pasmacento quando todos conseguiram se reunir na praia como nos velhos tempos, nenhum deles botou as manguinhas de fora querendo me enrabar, embora estivéssemos todos nus. Não que eu esperasse por isso, ou mesmo quisesse ser enrabado por algum deles, uma vez que já não me sentia tão à vontade para dar o cuzinho como fazia antes de conhecer o Ryker, chegando à abstenção celibatária, e de ele ter me classificado como – pessoas como você – com notória conotação de gay pervertido.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo, o que vocês estão escondendo? – perguntei numa noite em que tinha ido me encontrar com eles num barzinho em Panagia onde comemorávamos o aniversário do Omiros.
- Do que você está falando?
- Ora, não se façam de tontos que sei muito bem que nenhum de vocês é burro e que estão me escondendo alguma coisa. Desde quando resolveram não implicar mais com o Ryker e, por que não metem mais o pau nele como sempre fizeram?
- Nem nos lembramos mais da existência dele. Ele ainda vive? – questionou irônico o Dimitrius.
- Deixa de ser besta! Anda desembuchem! Quero saber o que estão me escondendo.
- Pensávamos que você já tinha se esquecido desse sujeitinho! – exclamou o Stamatios.
- Como vou me esquecer dele, é meu vizinho de frente, vejo-o quase todos os dias. – respondi
- E ainda continua todo apaixonado por ele e por aquele físico cheio de músculos, não é? – questionou sarcástico o Ermis.
- Nunca estive apaixonado por ele, de onde tiraram essa asneira? – todos se entreolharam e na cara de cada um surgiu um risinho disfarçado e debochado.
- É verdade! Por que é tão difícil de acreditar que nunca senti nada por ele? Vocês são uns babacas, os maiores que já conheci!
- Sabe, talvez ele seja o sujeito certo para domar esse geniozinho do cão! Pode ser que ele nem seja um cara tão escroto como pensávamos. – sentenciou o Karolos.
- O quê, você achando que ele não é tão escroto? Foi você quem sempre mais implicou com ele, que chegou até as vias de fato se socando com ele em plena rua. O que mudou? – perguntei perplexo com a afirmação dele.
- Nada, oras! – eu já tinha certeza de que estava rolando alguma coisa que estavam me omitindo. – É que ele veio nos procurar todo preocupado com você quando resolveu desaparecer e não dar notícias após aquela semana que passou em Milão. A preocupação dele era a mesma da nossa, temia que pudesse ter acontecido alguma coisa com você. Isso nos fez perceber que ele também quer te proteger. Não pode ser um cara tão ruim assim, se está tentando cuidar de você. - emendou
A confirmação veio poucos dias depois quando, sem que me vissem, encontrei o Ryker, o Stamatios e o Dimitrius confabulando animadamente ao redor de uma mesa num restaurante de Afrati em plena hora do almoço. Que raios esses três estão tramando? A curiosidade quase me matou, mas deixei passar.
- Yorgos! Yorgos, você está por aí? – era ele, meses depois era ele novamente na minha porta.
Hesitante se deveria ir abrir e com o coração a sair pela boca, fiquei estático e calado por um bom tempo, ouvindo ele repetir os chamados.
- Oi! Por que não veio abrir a porta? – perguntou ao me encontrar no ateliê depois de ter pulado uma das janelas da sala. Ele usava apenas uma bermuda, estava lindo e sedutor, por isso nem me atrevi a olhar para aquele torso desnudo e viril.
- Oi! Quando foi que te dei licença para invadir a minha casa? – foi tudo que consegui responder, pondo certa belicosidade na voz.
- Vai começar a brigar comigo?
- Não sei, depende de você! – respondi. Ele riu.
- Senti sua falta! Por que me deixou e foi embora daquele jeito, sem se despedir de mim?
- Não quero falar sobre isso! Eu estava sobrando naquela casa, nunca devia ter me arrastado para lá! E, se estava sentindo mesmo a minha falta, por que não veio me procurar antes?
- Não é o que meus pais e o Arlo acham! Estão todos babando por você, são só elogios. Por eles, você e eu já devíamos ser um casal! – devolveu, se aproximando da minha mesa de trabalho a ponto de eu conseguir sentir o perfume e o calor do corpo dele, e perder completamente a concentração daquilo que estava fazendo. – Não te procurei por que estava cuidando de uns negócios e também por que sabia que você estava bravo comigo. Aliás, você sempre está bravo comigo, eu já devia estar acostumado!
- Seus pais são uns amores! Fico feliz que tenha se acertado com seu irmão! – retruquei, com aquela respiração roçando no meu cangote e me deixando paralisado. – Que negócios são esses?
- Graças a você! Percebi que nem toda culpa era dele, o babaca caiu na lábia da minha ex! Dos negócios falo depois, estou aqui por outro motivo!
- Graças a mim, não! Graças a você deixar de ser turrão! De qualquer forma, sua mãe deve estar feliz por vocês parem de brigar.
- E nós, como ficamos?
- Não existe nós! Faz dois mais de dois meses que você voltou e só hoje resolveu me procurar. Do que está precisando agora? – perguntei furioso comigo mesmo por sentir meu corpo sendo tomado pelo tesão por aquele macho.
- De você! É por esse motivo que estou aqui! Eu preciso de você, Yorgos! Preciso desse amor que você vive escondendo de mim, preciso que fique ao meu lado, preciso te dizer que me apaixonei por você! Loucura, não é? Eu que te disse aquelas coisas horrorosas, me apaixonei perdidamente por você! – respondeu. Eu quase desmoronei. Meus olhos se embaçaram, nem a saliva desceu pelo nó que se fechou na minha garganta.
- Eu não .... – nem consegui terminar a frase, ele me puxou da cadeira onde eu estava sentado para junto de seu peito e colou a boca sofregamente na minha, metendo a língua inquieta dentro dela até sentir que eu me entregava sem resistência.
- Pode haver um nós se você ainda estiver apaixonado por mim como eu estou por você! – disse ele, com uma certeza desconcertante na voz
- Quem te disse que eu estou ..... – outro beijo impediu que eu me calasse, e a mão que entrou por baixo do meu short e agarrou uma das minhas nádegas era motivo mais que suficiente para eu retribuir aquele beijo cheio de tesão e carinho.
Deixei-o me levar ao quarto, me despir, me observar atentamente até ficar todo corado com seu olhar tomado pela cobiça. Ele foi se inclinando sobre mim na cama, uma sucessão de beijos devassos foi me inebriando, afogueando meu corpo, atiçando meu cuzinho que piscava alucinado. Seu corpão pesado se esfregava no meu, seus braços me apertavam contra o torso sólido onde dava para sentir o coração dele batendo acelerado.
- Quero você, meu gayzinho rabudo e gostoso! Quero você só para mim! Quero entrar nesse cuzinho até você gemer que me ama! – murmurava ele junto ao meu ouvido, deixando-o molhado com sua saliva, enquanto espasmos incontroláveis agitavam toda minha musculatura.
- Assim, do nada? Não é você o sujeito que não gosta de pessoas como eu? – balbuciei, travando uma batalha comigo mesmo enquanto decidia se devia ou não me entregar a um homem como ele para evitar sofrimentos futuros.
- Cala a boca, Yorgos! Ou você me dá esse cuzinho agora ou eu o tomo à força! Sei que sente por mim o mesmo que sinto por você, apesar de ambos nunca terem querido admitir. Mas eu te quero, te desejo, te amo, seu bobalhão tesudo! – retrucou ele, enfiando excitado a mão impudica no meu reguinho estreito e quente, enquanto exigia minha rendição.
Minutos depois, eu estava com o maior cacetão que já tinha visto dentro da boca, lambendo e chupando o pré-gozo viscoso que se derramava da cabeçorra estufada. Ele grunhia, gemia meu nome segurando-me pela cabeça enquanto eu trabalhava carinhosamente sua rola colossal e rija. Minhas mãos acariciavam simultaneamente sua barriga peluda e o sacão onde as duas bolonas ingurgitadas pendiam em alturas diferentes. O cheiro almiscarado de macho dele entrava pelas minhas narinas e atiçava meu tesão. Mordisquei delicadamente a pele do caralhão desde a base até a glande.
- Cuidado com esses dentes! Você está com uma coisa muito sensível e delicada na boca! - grunhiu ele, tomado pelo tesão.
- Acha que eu não sei disso? Sensível, delicada e muito, muito saborosa! – murmurei, fazendo-o perder o controle.
- Caralho, Yorgos! Vou encher sua boca de porra se continuar me provocando. – sentenciou, fazendo força para retardar o gozo.
- Estou louco para saboreá-la! – devolvi, voltando a fechar os lábios ao redor da cabeçorra no exato instante em que ele começou a esporrar jatos cremosos de uma porra morna e deliciosa.
- Você ainda me mata, Yorgos! Cacete como isso é gostoso! – anunciou, enquanto eu engolia toda aquela abundância de esperma, dirigindo meu olhar para seu rosto em júbilo.
Eu mal havia terminado de lamber o sêmen que escorregou pelos cantos da minha boca quando ele voltou a montar em mim. Seus beijos e chupões desciam pelo pescoço em direção aos meus mamilos, cujos biquinhos enrijecidos pelo tesão exibiam o prazer que ele estava me proporcionando. Ele lambeu e chupou cada um deles sem pressa, torturando os biquinhos salientes e deixando as marcas de seus dentes ao redor das aréolas. Eu gemia e me contorcia sob o peso do corpo dele e, lentamente, fui abrindo as pernas até enroscá-las ao redor da cintura dele. Eu estava pronto para a entrega total e irrestrita, só queria aquele macho dentro de mim.
- Me penetra! – pedi, acariciando seu rosto.
Ele escorregou até a beira da cama ficando de joelhos, enquanto mantinha minhas pernas erguidas no ar e meu reguinho vulnerável completamente aberto, mostrando a rosquinha anal rosada piscando no fundo dele. A barba dele pinicava na parte interna das minhas coxas enquanto ele lambia meu ânus tomado por um tesão desenfreado. Eu gemia incontrolado, sentindo a língua dele devassando minhas preguinhas sem nenhum pudor. Meus dedos estavam imersos em sua cabeleira, afagando-o enquanto a boca dele se apossava do meu cu. Aquele calor que incendiava meu corpo, que o fazia estremecer, que percorria toda minha coluna era como uma tortura sem fim. Meu único desejo, minha única necessidade era que ele entrasse em mim para que eu pudesse envolvê-lo com minhas carícias.
O Ryker se ergueu, engatinhou sobre mim, os olhos tinham um brilho único, um brilho que nunca tinha visto neles antes, um brilho de cobiça e predação. Fui tomado de um receio inexplicável, jamais tinha visto nenhum dos meus amigos se aproximando de mim daquela maneira quando iam me foder. Também me lembrei subitamente do tamanho do caralhão do Ryker, nunca nada tão grande e grosso tinha entrado em mim, talvez por isso aquele receio me fazia sentir aqueles espasmos convulsivos. Agora ele me encarava tão de perto que nossos rostos quase se tocavam, ele apontava aquela pica sobre a entrada do meu cuzinho e forçava. Segurei a respiração e esperei pela dor e o esgarçamento. Veio só a dor, gemi quando minha fendinha se distendeu até o limite de sua elasticidade e ele não conseguiu entrar. Veio mais uma estocada, forte, incisiva, dilacerando as pregas e varando impune os esfíncteres que logo se contraíram abruptamente se fechando ao redor daquele mastro que pulsava no meu rabo machucado. Pude notar o espanto na expressão dele, nem mesmo ele estava acreditando que eu era tão estreito e apertado, especialmente depois de ter transado com cinco caras seguidos naquele dia em que me flagrou sendo enrabado na praia.
- Estou te machucando? – ele me sorria, afagava carinhosamente meu rosto onde a dor da penetração estava estampada. Eu neguei, pedi que me beijasse e, quando nossos lábios se tocaram, ergui minha pelve e relaxei os esfíncteres, permitindo que a nova estocada dele fizesse o cacetão deslizar fundo nas minhas entranhas. Meu ganido preencheu o quarto de luxuria e devassidão. Estávamos atados, éramos um único ser.
Ergui meus braços até a cabeça numa entrega total e irrestrita, ele deslizou as mãos sobre eles até encontrar as minhas e elas se encaixaram; ao apertá-las, lembrei-me das palavras do meu avô – você saberá que é a pessoa certa quando suas mãos se encaixarem perfeitamente uma na outra e uma onda de calor rumar direto para seu coração – e foi isso que senti naquele momento. Ele bombou meu cuzinho com cuidado, sabia que as marcas do tesão e do prazer que eu estava lhe proporcionando em breve estariam expostas como feridas do destempero daquele desejo insano que nos consumia. Eu gozei sobre meu ventre durante um beijo no qual sua língua, enfiada até a minha garganta, se apoderava completamente de mim. Meu ânus voluntarioso mastigava a rola dele enquanto ela se movia ritmicamente dentro dele, dando prazer e amor ao mesmo tempo para aquele homem sem o qual eu já não concebia mais existir e viver.
- Eu te amo, Ryker! – sussurrei, enquanto esporrava meu ventre.
Ele conseguiu dar apenas mais algumas estocadas, a última tão profunda e forte que socou a minha próstata, antes de se despejar todo no meu cuzinho acolhedor. Enquanto os jatos fartos eram ejaculados, ele segurava meu rosto entre as mãos, seus olhos brilhavam de prazer e alegria.
- Meu Yorgos! Amo você, seu putinho safado! Amo você, meu amor! – ronronava me encarando.
Me revelaram o porquê daquela birra entre meus amigos e o Ryker ter terminado. Naqueles dois meses depois do regresso dele, quando não foi me procurar, ele estava montando uma agência de turismo no centro de Panagia, e tinha chamado o Stamatios e o Ermis para trabalhar com ele. Havia adquirido uma lancha com a qual pretendia levar os turistas pelas ilhas para mergulhos autônomos. Também estava reformando duas casas antigas no centro de Afrati que pretendia alugar nas temporadas através do Airbnb, seria seu trabalho doravante e sua subsistência em Serifos. A casa dele também foi disponibilizada para as temporadas e eventuais amigos dele que vinham dos Estados Unidos passar uma temporada na Grécia. Os pais dele, com a mãe completamente restabelecida foram os primeiros a passar um semestre inteiro conosco, uma vez que ambos estavam aposentados. Ele veio morar comigo, pois a casa além de maior era mais confortável e tinha um quintal maior onde cultivávamos alguns pés de frutas. Eu continuava comercializando as joias que produzia, cujo ensinamento era a mais vívida lembrança que tinha do meu avô, o homem que me criou e me amou até o último de seus dias. Ainda levou cerca de um ano até que o Ryker deixasse de ter aqueles pesadelos noturnos que o faziam acordar no meio da noite distribuindo golpes para todo lado para se defender de ataques imaginários. Ele reencontrou o equilíbrio e paz dos quais tanto precisava para superar os horrores vividos no Afeganistão. Ele agora me puxava para cima do peito dele, onde minha cabeça repousava enquanto eu deslizava meus dedos entre os pelos com os quais fazia pequenos cachos enrodilhados. De quando em quando, até que esse afago o conduzisse ao sono, ele cobria a minha mão com a dele e a levava até o cacetão para que eu o acariciasse. Ele dizia que eu tinha a mão mais suave e leve que já o tinha acariciado. Muitas vezes, em vez de adormecer com essas carícias, ele ficava mais desperto, o cacetão encorpava e endurecia feito um poste e eu acabava adormecendo com o cuzinho cheio de porra formigante.
Se um dia você for a Serifos e se aventurar a descer o penhasco rochoso onde as pedras anguladas e cortantes dificultam a descida até a pequena enseada de águas cristalinas e transparentes no mais belo tom de verde e azul que você já viu, não se espante se encontrar dois caras nus fazendo amor sobre a areia grossa, fofa e aquecida, sob um maravilhoso pôr do sol no Mar Egeu. Somos o Ryker e eu extravasando nosso amor desmesurado com os corpos atados pela paixão e a felicidade espocando em nossos corações.