ONDE AS SOMBRAS ACABAM - CAPÍTULO 15: Onde a sombra termina

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 4331 palavras
Data: 18/09/2023 05:10:33
Última revisão: 06/05/2025 05:57:56

GENTE! CHEGUEI AO FINAL DE MAIS UMA HISTÓRIA. ESTOU MUITO FELIZ COM A SAGA DO ETHAN E DO JIMMY.

ESPERO QUE VOCÊS GOSTEM E COMENTEM O QUE ACHARAM DA HISTÓRIA. O SEU VOTO, AUDIÊNCIA E COMENTÁRIO É DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA O MEU TRABALHO, POIS CONSIGO SABER SE ESTÃO GOSTANDO OU NÃO. OBRIGADO AOS LEITORES FIES QUE ME ACOMPANHAM DESDE 'AMOR DE PESO'. SEGUE O FINAL:

JIMMY

Minha cabeça não sai do Hospital Santa Maria. No quarto 345 está o meu bem mais precioso. Depois do tiro disparado pelo meu pai, o Sr. Ward virou uma fera e o espancou até a chegada da polícia. Sabe qual é a pior parte? Eu não sinto pena. Gostei de cada soco e pontapé que aquele desgraçado levou. Meu sogro briga bem — isso é uma grata surpresa.

Passei semanas indo ao hospital com a Betty e o Trevor. Aos poucos, os pais do Ethan começaram a me dar abertura. Chegaram até a permitir que eu ficasse no quarto para fazer os exercícios e projetos da escola.

— James — diz o sr. Ward, surpreso ao me ver narrando o exercício de física para o Jimmy —, que surpresa.

— Estou repassando as atividades para o Ethan — Explico e deixo o livro de lado.

— Trouxe um toca-discos e alguns álbuns que ouvia quando o Ethan era criança. — Explica, enquanto coloca a caixa sobre a mesa e começa a montar o aparelho.

— Quer ajuda? — Pergunto.

— Claro.

Fala sério, o Ethan ficaria muito feliz em saber que estou me dando bem com os pais dele. Tivemos várias conversas difíceis, mas sempre defendi o ponto de vista do Ethan. Inclusive, contei como nos conhecemos, no dia em que ele tentou tirar a própria vida.

Eles me pediram perdão várias vezes, mas, na verdade, o único que precisa perdoar é o Ethan. Infelizmente, o tempo passa e ele continua sem reagir, sem dar sinais de melhora.

Também acompanho o processo contra meu pai. De repente, outras denúncias apareceram — inclusive de violência sexual. Finalmente, o desgraçado vai ter o fim que merece: atrás das grades. Tenho até pena dos presidiários que vão conviver com esse bastardo.

Uma novidade? Mudo para a casa da Sra. Watanabe. Na verdade, nós mudamos de bairro, já que ela vai abrir um café e precisa de ajuda no processo. Ganho uma mãe e um emprego de meio período. O melhor de tudo é não sentir medo ao fechar os olhos para dormir, pois sei que ninguém vai tentar me machucar.

Na escola, os alunos criam várias teorias sobre o que aconteceu. Reúno toda a coragem do mundo e posto uma foto minha com o Ethan. "Amor, volte para nós", escrevo, sem medo de ser feliz. Claro que surgem comentários e fofocas, mas só quero o Ethan ao meu lado. Será que ele vai se surpreender ao descobrir que o pai aceitou nossa relação?

— Acorda, Robinson! — Grita o treinador Schmitt, da beira do campo. — Marca o 34!

— Ok! — Respondo, voltando minha atenção para o jogo.

Os alunos gritam em euforia — uma verdadeira sinfonia de emoção e apoio. Meus olhos se fixam no marcador, onde o tempo parece diminuir a cada segundo. As luzes do estádio me incomodam — são intensas demais —, mas não posso perder o foco. Corro na direção do meu destino. Esse jogo não é só meu, é de todos os meus colegas. É do Ethan também.

A multidão vira um borrão de cores, e o barulho se transforma em um zumbido distante. A linha final se aproxima, e sinto a vitória quase ao alcance. Enquanto corro, minhas pernas queimam, o cansaço me domina, mas a determinação fala mais alto. Mergulho em direção à linha, esticando o braço com a bola firmemente agarrada.

E então, o impacto. O choque do meu corpo contra a grama e a sensação de estar no limite. Um sorriso surge no meu rosto ao ouvir a explosão da torcida. Levanto com dificuldade, o coração parece que vai sair pela boca. Vejo meus companheiros de equipe correndo na minha direção. Sou erguido em uma celebração intensa. Ganhamos as nacionais. Acho que até vejo o treinador chorando num canto do campo.

Cara, eu sei que o futebol americano foi uma forma de fugir do abuso do meu pai, mas aqui eu encontro mais do que um time — encontro amigos e um irmão para a vida. Mesmo depois de sair do armário, meus companheiros me apoiam e não se importam com os comentários dos outros times.

— Ei, garoto. Você não deveria estar comemorando? — Pergunta o treinador ao entrar no vestiário. Como não respondo, ele se senta ao meu lado. — Preocupado com seu namorado? O Ethan está bem, cara.

— Eu sei, treinador. Só tenho medo de me tornar igual ao meu pai. — Confesso, segurando as lágrimas.

— Jimmy. — Ele segura meu ombro. — Existem poucos garotos que passam por situações de violência doméstica e seguem um bom caminho. Você tem um caminho maravilhoso, filho. Um caminho muito distante do que seu pai é.

— Valeu, treinador. O senhor foi muito importante para mim. Tenho muito orgulho de fazer parte do time. — Digo, enquanto o abraço.

— Eu que agradeço, Jimmy. Eu que agradeço.

Depois de duas semanas viajando, voltamos para casa com um lindo troféu. A Sra. Watanabe me recebe com um cartaz de boas-vindas nas mãos. Eu a abraço e aproveito para registrar o momento com uma selfie. Quero comemorar com meus amigos, mas antes preciso ir ao hospital visitar o Ethan.

— Querido, o Pastor Ward me ligou. Eles estão transferindo o Ethan de leito. Para evitar contaminações, a equipe médica restringe as visitas. — Ela me informa, segurando meu ombro.

— Ele não vai receber visitas? — Pergunto.

— Não, querido. Mas os Ward vão nos manter informados sobre qualquer alteração. Agora vamos para casa. Fiz churrasco. A Betty está nos esperando. Leve seu amiguinho também. — Pede a Sra. Watanabe.

***

ETHAN

Não me lembro mais de muitas coisas, só do gosto do sangue na minha boca. Perdi os sentidos. Lembro da minha antiga escola e de como me sentia oprimido naquele lugar. De repente, me vejo andando na floresta. Ia me matar naquele dia, mas algo aconteceu. O Jimmy aconteceu. O Jimmy, com seu sorriso travesso e confiança inabalável, mesmo com o coração todo partido, ainda encontrou espaço para me acolher.

— Jimmy... — Tento dizer, mas não consigo.

— Ethan, meu filho? — Ele pergunta. — Doutor! Doutor, o Ethan acordou!

Acordei? O que aconteceu? Quando tento me levantar da cama, sinto uma dor aguda na barriga. O tiro. Devo ter passado por uma cirurgia e agora estou acordando. Preciso encontrar o Jimmy; ele deve estar assustado. Não consigo falar — algo bloqueia minha garganta.

Meu pai volta para o quarto. Seu rosto está cansado, mas ele não disfarça o sorriso. Agradece a Deus e beija minha testa.

— Ethan, Ethan, que susto, garoto! — Diz um homem que se aproxima da minha cama. — Estamos felizes em tê-lo de volta. Foram dois meses de luta, mas você venceu.

Dois meses? Dois meses? Estou aqui há dois meses? Não faz sentido — acabei de levar um tiro. Lembro do som do disparo, do cheiro de pólvora e do olhar vitorioso do Sr. Robinson. Não é possível que eu tenha ficado nessa cama todo esse tempo. E o Jimmy?

— Calma, não force muito. A enfermeira vai retirar o tubo. Você vai respirar normalmente — O médico me tranquiliza, apertando meu ombro.

Sigo as instruções da equipe médica, que me ajuda em todo o processo. Meu corpo parece ter sido atingido por um raio — cada molécula dói. O médico explica novamente o que aconteceu comigo, e as memórias invadem minha mente. Nunca vou esquecer o rosto do Sr. Robinson me encarando. Ele me odiava.

Já meu pai parece um poço de arrependimento. Tive coragem de pular na frente de uma bala para defendê-lo. Duvido que ele faria o mesmo por mim. Os pensamentos se embaralham na minha cabeça, mas só uma pessoa ocupa todos eles: o Jimmy.

Segundo meu pai, o Jimmy está bem, mas precisou viajar para um jogo em outro estado. Aparentemente, meu corpo teimoso demorou mais do que o normal para se recuperar, e a vida seguiu em frente para os outros. Peço ao meu pai para não avisar ninguém sobre meu estado. Quero fazer uma surpresa.

Decido não ver o Jimmy. Tenho um longo caminho pela frente até me recuperar por completo. Se ele me ama do jeito que acredito, o tempo será apenas um detalhe. Nossa conexão vai muito além da distância e dos obstáculos. Mas e se o Jimmy já está com outra pessoa? Meu Deus. Calma, Ethan. Respira e segue o fluxo.

No hospital, os médicos ficam satisfeitos com a minha evolução. Infelizmente, ganho uma cicatriz grande na barriga. No terceiro dia de internação, um fisioterapeuta vem me avaliar—afinal, passei dois meses em coma, e minhas articulações precisam de estímulo.

Meus pais se revezam para que eu não fique sozinho no quarto. Os dois mal conversam, e o clima fica sempre pesado. Lembro do Sr. Robinson mencionando uma amante do meu pai. O Pastor Ward, que sempre me criticou pelo "pecado" da homossexualidade, é acusado de adultério pela comunidade cristã. Ele até perde a permissão para pregar na congregação.

Numa das noites, ouço meu pai conversando com um antigo colega sobre voltar à arquitetura. Antes da vida religiosa, o Sr. Ward era um arquiteto renomado, que trabalhava para uma grande empresa em Nova York.

Minha mãe volta a revisar livros para a editora. Sei que um dos motivos é a conta do hospital. Não preciso me preocupar, certo? Afinal, a culpa é deles. A culpa é deles e desse maldito preconceito.

Na segunda semana de recuperação, dou meus primeiros passos. O médico explica que a falta de sensibilidade nas pernas é normal depois de um coma prolongado. Estou reaprendendo tudo e desafiando meus limites, na esperança de reencontrar o Jimmy. Será que ele está bem? Minha mãe conta que ele está morando com a Sra. Watanabe e que o pai dele vai responder pelas acusações na prisão.

Num domingo à noite, fico com sede e não há ninguém no quarto. Junto todas as minhas forças e decido pegar água sozinho. Pego a bengala e me arrasto para fora da cama. No início, as pernas tremem, mas uso as técnicas que aprendi nas sessões de fisioterapia.

Não existe nada mais gostoso que água gelada. Deixo o copo em cima do frigobar e levo um susto ao ver meu pai parado na porta. Ele entra e sorri para mim.

— Você já está tão independente, Ethan. — Afirma ele, deixando a mochila em cima da mesa. — Nem parece mais aquele menino carente que adorava abraços.

— Já faz tempo disso, pai. — Respondo, caminhando em sua direção.

De repente, ele se ajoelha e começa a chorar. Seu pranto é forte, e ouço palavras desconexas, mas uma se repete: "perdão".

— Perdoa-me, Ethan. Você não merece um pai como eu. Fui horrível e não te amei como deveria. — Suplica, ainda de joelhos.

— Pai...

— Deixa, Ethan — Interrompe minha mãe, entrando e fechando a porta. — Nós merecemos isso. Fomos péssimos pais e entendemos se você não quiser mais nos ver.

— Mãe... — Balbucio, mas as lágrimas impedem que eu continue. — Desculpa... Eu juro que tentei ser diferente, mas sou assim e...

— Não, querido. — Ela me abraça e beija meu rosto. — Você é perfeito assim. Nós pedimos perdão por demorar tanto para enxergar. Você sempre foi um filho maravilhoso. Nunca se meteu em confusão. Perdoa sua mãe e seu pai.

— Eu te amo, filho. — Meu pai se levanta e toca meu rosto. — Quando te vi caído no chão, senti um ódio imenso daquele monstro. Me vi no lugar dele. E não quero ser assim, Ethan. Não posso. — Ele olha para minha mãe. — Judy, por favor, deixa eu voltar para casa. Errei feio, mas juro que não significou nada.

— Phil. — A mamãe pensa com cuidado nas palavras —, preciso de tempo para me entender. O Ethan vai voltar para casa, e preciso de ajuda. Você pode ficar no quarto de hóspedes.

***

JIMMY

Faz três semanas que não vejo o Ethan. Os Wards o colocam em uma ala diferente, e eu não tenho acesso fácil. Até tento ir ao hospital algumas vezes, mas não consigo vê-lo. O que me resta é ajudar a Sra. Watanabe no café e nos preparativos para a formatura. É tão injusto o meu namorado não se formar conosco.

Na escola, a Betty entra para o meu grupo junto com o Trevor. Tenho certeza de que eles estão se pegando. Dou a dica sobre o porão da escola e até já flagro os dois entrando lá. Não tenho direito de reclamar; na verdade, torço por eles. De uma maneira disfuncional e bastante estranha, esse casal funciona.

Minha antiga casa está alugada para outra família. Espero que eles sejam felizes, algo que eu não consigo ser. No meu antigo quarto, encontro a Sra. Watanabe estressada. Ela tem dificuldades para passar a minha beca de formatura.

— A senhora não precisa fazer isso...

— Deixa. — Ela diz, usando um vaporizador no tecido. — É o meu segundo filho que vai se formar. — O tom orgulhoso dela me faz sorrir.

— Obrigado. — Eu a abraço. — Obrigado por ser tão boa para mim.

— Eu não faço mais do que a minha obrigação, Jimmy. — A Sra. Watanabe deixa a roupa de lado e me abraça de volta. — Você merece toda a felicidade e amor do mundo. Estou muito orgulhosa do homem que você se tornou. Eu te amo, filho.

— Obrigado por tudo. — Agradeço mais uma vez.

Ainda não estou pronto para chamá-la de mãe, mas não consigo deixar de pensar que a Sra. Watanabe é, sim, uma mãe para mim. Durante todos esses anos, ela sempre está ao meu lado. Na verdade, quem deveria ter morrido sou eu, e não o filho dela. Alguém que recebeu carinho materno a vida toda saberia como agir nesses momentos.

Na escola, tudo gira em torno da formatura. Eu não tenho motivos para comemorar, tenho? A vida me tira tanto. Por muitos anos, caminho em uma área nebulosa, onde as sombras são minhas únicas companheiras. Agora, tenho amigos que me conhecem por completo e uma chance real de entrar na universidade.

O técnico Schmidt está em contato com alguns recrutadores que gostam do meu desempenho no jogo final. Mas o mais importante para mim é saber como o Ethan está. Por culpa do meu pai, ele é o mais prejudicado dessa história. Eu entendo se, depois de tudo que aconteceu, o Ethan não quiser mais saber de mim.

Como sempre, montam um palco no jardim da escola. O clima coopera para que usemos as becas de formatura. Neste ano, o comitê estudantil escolhe a cor verde para representar a esperança. Infelizmente, não posso sentar perto do Trevor e da Betty, já que seguimos a ordem alfabética para receber o diploma.

O diretor faz um discurso interminável sobre responsabilidade e a importância de seguir um bom caminho na vida. Cada um de nós, para chegar até aqui, enfrenta medos e obstáculos. Eu enfrento vários, e nem sei até quando eles vão continuar aparecendo. Me perco tanto nos pensamentos que nem percebo quando o diretor chama o orador da turma. Mas, em vez do Gregory, quem sobe ao palco é o Ethan.

Como num reflexo, me levanto, mas um colega me puxa de volta. Estou tão chocado que não reajo, apenas obedeço. O Ethan ainda está debilitado e anda com a ajuda de muletas. Um dos professores o auxilia até o púlpito. Olho para a Betty e o Trevor — os dois parecem tão surpresos quanto eu.

— Boa tarde. — A voz do Ethan ecoa pelo sistema de som. — Eu sou Ethan Ward, o esquisito que entra nesta escola no início do ano. Eu não sabia que minha vinda para Buffalo seria tão cheia de desafios. — Ele continua com um semblante sereno, o que me emociona. — Como todos viram no site da escola, eu sou gay. E, por ser diferente, sempre precisei desviar dos mais diversos tipos de obstáculos. Hoje, só quero ser quem eu sou. Sem máscaras e longe das sombras que vivem dentro de mim. Graças aos professores, e às boas notas que tiro durante o ano, posso me formar com vocês. É uma honra estar aqui e vivo. O preconceito até tenta me silenciar, mas vai precisar de muito mais para me derrubar de vez.

Estou chorando. É a única coisa que consigo fazer. Me levanto e corro na direção do Ethan. Foda-se essa cerimônia. Com um pulo, subo no palco e abraço o meu namorado. Tenho certeza de que o público está confuso e chocado — eu também estou.

— Você está aqui? — pergunto, tocando o rosto dele, que também chora.

— Sim, eu estou.

— Desculpa. Desculpa por te colocar nessa situação e...

— Cala a boca e me beija. — Ele me puxa e me beija.

Trevor começa a aplaudir, e os outros o seguem. Passei tanto tempo preocupado com a situação saindo do meu controle. Agora, meu coração está leve, porque sei que o Ethan não corre mais risco, e, se depender de mim, nunca mais correrá. Em meus braços, o meu namorado estará sempre seguro. Isso é uma promessa para a vida.

O diretor nos dá um sermão e pede para deixarmos a cerimônia continuar. Na ponta do palco, os Wards choram e aplaudem o filho. Será que estou em um multiverso? Eles decidiram apoiar o filho. Nos aproximamos, e os dois abraçam o Ethan com carinho. Do nada, o Sr. Ward me puxa para o abraço também.

Fico sem reação e começo a chorar. De repente, todas as preocupações e dúvidas somem dentro de mim. Estou leve. Estou feliz. Parece que, finalmente, as coisas vão entrar nos eixos para James Robinson.

A sensação de tê-lo de volta é indescritível. Ethan está aqui, ao meu lado, de verdade. Não mais preso a máquinas ou cercado por paredes brancas de hospital, mas vestido com uma camisa azul-marinho impecável, com aquele olhar que me desmonta. Eu ainda tento processar que ele sobreviveu. Que nós sobrevivemos.

Seguimos juntos até o restaurante mais famoso da cidade – elegante, silencioso, com luzes amareladas que deixam tudo com cara de filme. É o lugar onde todos escolhem celebrar grandes conquistas. E hoje é nossa vez: a formatura e, mais importante, a volta de Ethan.

Betty e Trevor já nos esperam na mesa redonda perto da janela. Betty acena com entusiasmo, e Trevor faz um gesto exagerado, como se fôssemos celebridades entrando no tapete vermelho. Rimos. Até a Senhora Watanabe está aqui, minha segunda mãe, arrumada num quimono floral, olhando tudo com aquele jeito sereno e atento. E ao lado dela, os senhores Ward – os pais do Ethan.

Sinto um frio na barriga quando os encaro. Durante meses, o nome deles era uma parede entre nós dois. Mas hoje... algo parece diferente. Assim que nos sentamos, Ethan segura minha mão embaixo da mesa.

— Ainda sinto um pouco de dor na perna, mas a fisioterapia está funcionando. Já consigo correr devagar e subir escadas sem parecer que levei outro tiro. — Brinca. A mesa toda ri, mesmo que a lembrança do que aconteceu ainda doa um pouco.

— Eu... — Sr. Ward limpa a garganta. — queria pedir desculpas a vocês dois. — Olho para ele, surpreso. — Nós não facilitamos a vida de vocês. Fomos duros. Ignorantes. Mas ver o que passaram juntos... ver o amor de vocês... Me ensinou muito.

A Senhora Ward, ao lado dele, estende a mão e toca meu rosto com um carinho que me deixa sem palavras.

— Jimmy... eu fui cruel com você. Com vocês. Eu me envergonho disso. E se você me permitir... eu vou passar o resto da vida tentando compensar. — Ela declara e uma lágrima escorre no meu rosto, mas trato de limpa-la.

Minhas mãos tremem um pouco. Ethan aperta a minha.

A Senhora Watanabe observa tudo com um olhar profundo.

— Não é preciso entender tudo de imediato. Mas é preciso amar. Apoiar. Estar presente. Porque filhos não são versões de nós mesmos – são mundos inteiros, com coragens que muitas vezes nós mesmos não tivemos. — Ela declara e a Sra. Ward se emociona também.

As palavras dela pairam no ar como uma benção. Pela primeira vez, nossos mundos colidem sem ruído, sem dor. Só conexão. Parece irreal. Parece certo.

Enquanto Ethan e eu nos abraçamos para tirar uma selfie — minha boca encostando de leve na bochecha dele — um homem alto e corpulento se aproxima da mesa. Ele cumprimenta os pais de Ethan com um sorriso reservado. Mas seus olhos param em nós.

Fico tenso por um instante. Me afasto um pouco, esperando aquele climão inevitável. Mas então ouço:

— Esse é o Jimmy, namorado do meu filho.

As palavras do Sr. Ward cortam o ar como um raio de sol num dia nublado.

O homem parece engasgar com o próprio desconforto, murmura algo como "ah, claro..." e se despede rápido.

— Mandou bem, Sr. Ward! — comemora Trevor, batendo palmas de leve.

— O cara ficou sem fôlego. — Zoa Betty, rindo alto. Ainda tiramos sarro dela por ter fingido ser namorada do Ethan no passado, durante aquele episódio desastroso que tentamos esquecer.

O Sr. Ward toma um gole d'água, então encara o filho com olhos firmes. — Filho, não tenha mais medo.

Sei que é difícil para ele. Que as palavras custaram a sair. Mas elas saíram. E isso muda tudo.

— Sem medo? — Ethan me olha, os olhos brilhando.

— Sem medo. — Eu sorrio.

E o beijo que trocamos ali, diante de todos, é como uma promessa. Uma vida inteira começa nesse momento.

***

ETHAN

Sou feliz? Sim, sou. Percebo isso ao acordar ao lado do homem mais bonito do universo. O Jimmy dorme profundamente. Seus traços suaves e relaxados parecem uma obra de arte. Como passou o dia treinando o time de futebol da escola, levanto da cama para preparar o café da manhã.

Moro em Nova York com ele. O Jimmy conseguiu uma bolsa de estudos na Faculdade de Berkeley, com a condição de treinar o time de uma escola pública. Eu, por minha vez, estou focado em um curso de escrita criativa. Depois da formatura, entrei na lista de espera da Universidade Clarkson, que tem um excelente programa de artes.

Nosso apartamento fica no meio do caminho entre as duas instituições. Foi um presente da senhora Watanabe, que nos deu o dinheiro que seria para o Sato, seu filho, que morreu de forma trágica. No começo, o Jimmy não queria aceitar, mas a senhora Watanabe sabe como dobrar o filho do coração.

Meus pais também ajudam como podem. Meu pai ganha mais agora que se dedica ao escritório de arquitetura. Já minha mãe fechou diversos contratos para revisão de livros e está lecionando na faculdade comunitária de Montana. Os dois continuam fazendo terapia de casal para tentar se reaproximar, mas confesso que parecem mais felizes separados.

Antes de partirmos para Nova York, minha mãe fez sua famosa caçarola para o Jimmy. Ainda acho um pouco estranho levar meu namorado para casa, mas o tempo tem colocado tudo em seu lugar.

— Nem me acordou. — Diz o Jimmy, me surpreendendo.

— Estou fazendo café, bebê. Você estava dormindo tão sereno, não quis te acordar. — Respondo, enquanto coloco água quente na cafeteira. — Desculpa, eu sei que não é igual ao café da sua mãe, mas um dia eu supero.

— Tudo bem. O idiota do Trevor me ligou. Ele e a Betty chegam hoje do Brasil. — Avisa Jimmy, me abraçando e beijando minha nuca. — Esses idiotas tiveram sorte de não serem presos.

— Eu falei que não era uma boa ideia deixar a Betty e o Trevor soltos pelo mundo. — Brinco.

— Com certeza. Vou tomar um banho, tá?

O Jimmy e eu... que história construímos até aqui. Sei que ninguém vence na vida do nada. E nem acho que vencemos, porque ainda há muitos obstáculos pela frente. Mas, com terapia e muito diálogo, vamos avançando e eliminando qualquer rastro das sombras que nos perseguem.

Estou 100%? Não. Ainda sonho com o momento do tiro. Os olhos do pai do Jimmy. A forma como ele nos atacou. O desgraçado vai apodrecer na prisão, mas deixou estragos profundos em mim. A sorte é que tenho alguém forte e companheiro ao meu lado. Só quero ficar longe das sombras. Isso já é o suficiente para mim.

***

HÁ UMA ESCURIDÃO À FRENTE

VOU TE VER

ONDE A SOMBRA TERMINA

ATRAVESSE O DESERTO PARA SE ERGUER NOVAMENTE

VOU TE VER

ONDE A SOMBRA TERMINA

FIM

OIIIIIIIIIIIIII, TUDO BEM? VOU ESCREVER EM CAPS LOCK, POIS ESTOU FELIZ DEMAIS. SÓ PARA AVISAR QUE FINALIZEI MAIS UM LIVRO 'AMOR NO PARAÍSO'. O LANÇAMENTO VAI ACONTECER NO DIA 30 DE SETEMBRO, ÀS 20h. SEGUE A SINOPSE:

"Amor no Paraíso" é uma envolvente história que mergulha nas vidas de dois homens de mundos diferentes, cujos destinos se cruzam no cenário deslumbrante de Búzios, no Rio de Janeiro.

César Trajano é um empresário de sucesso, proprietário do luxuoso Hotel Trajano, conhecido por sua ambição incansável e dedicação ao trabalho. Sua vida parece perfeita, mas por trás da fachada impecável, ele anseia por algo mais do que simplesmente o sucesso nos negócios.

Hugo, por outro lado, é um camareiro talentoso do Hotel Trajano. Nas horas vagas, ele é um skatista apaixonado, deslizando pelas ruas de Búzios em busca de adrenalina e liberdade. Apesar de suas habilidades e paixão, Hugo luta para escapar das limitações de sua vida atual e almeja uma chance de uma vida melhor.

Quando o destino coloca César e Hugo frente a frente, o que começa como um encontro casual se transforma em uma conexão profunda e surpreendente. À medida que compartilham suas esperanças, sonhos e desafios, eles descobrem um amor que transcende as barreiras sociais e as expectativas.

"Amor no Paraíso" é uma história cativante sobre a busca pelo amor verdadeiro, pela autenticidade e pela coragem de seguir o coração. Em meio às paisagens deslumbrantes de Búzios, César e Hugo encontram não apenas o paraíso, mas também um amor que desafia todas as convenções. Esta é uma narrativa emocionante de como duas almas aparentemente opostas podem encontrar harmonia e felicidade em um lugar onde o amor floresce.

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Comentários

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Chorando sem parar de emoção e alegria pelo casal. Amo seus contos e sua forma de escrever mas fico ansioso entre um capítulo e outro por isso aprendi que agora só leio suas histórias quando já estão completas e aí faço a maratona como fiz hoje. Parabéns e muito obrigado por mais esta pérola. Forte abraço.

PS. Já vi que o próximo conto acontece em Búzios e eu moro pertinho aqui em Araruama. Vou adorar ler.

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