Sabe quando na sua vida chega aquele momento da "virada de chave", você acaba crendo que será para o aspecto positivo de tudo.
Eu sempre fui uma pessoa conformista. Infelizmente, sempre acabei me confirmando com o pouco que eu recebia uma hora ou outra. Não importava o quão poucas eram as migalhas, a atenção ou o afeto, eu apenas os recebia e esquecia de todo o resto.
Eu me conformei.
Agora, sou obrigado a ver meu pai e ela se tratando carinhosamente pelos cantos, ouvi-los gemer sem pudor algum, ter que aturar seus beijos ao meu lado exatamente como estou fazendo agora: tentando assistir o filme, mas ouço os estalos umidos de seus lábios dançando um contra o outro. Tento não olhar para os braços de meu pai rodeando o corpo dela, ou a mão boba de Mirela escorrendo para dentro do short preto de meu pai, vez ou outra.
Uma provocação prazerosa para ele que solta uma arfada de prazer, vez ou outra.
Me concentro para não a puxar de seu colo e dar uma surra nos dois. Se bem que eu provavelmente perderia, já que meu pai é duas vezes mais forte do que eu, e têm a vadia também.
O corte em minha testa ainda lateja. Um lembrete de o quanto ela pode ser perigosa quando quer.
Por isso, apenas solto um gemido de raiva que não passa desapercebido por ele. Meu pai me olha rapidamente, franzindo o cenho e em seguida olhando para minha irmã. Tentou afasta-la, mas ela se apertou ainda mais, sussurrando algo em seu ouvido:
— Ficou maluca? Aqui não! — Tentou se levantar, mas ela o fez sentar, jogando todo o seu peso ao rebolar em sua cintura.
Em seguida, ela fez algo que me deixou atônito. Abaixou, puxou o short de meu pai para baixo, revelando seu pênis grande e ereto, e então caiu de boca como de não houvesse amanhã. Meu pai apenas gemia de maneira sofrega, sem nem me olhar diretamente.
Meu coração pulsou. Uma onda de inveja atravessou meu corpo. Era para ser eu ali no lugar dela, com a boca ocupada, subindo e descendo por aquele pirocão grosso de cabeça vermelha. Deveria ser eu a sentir o gosto de seu sêmen, a engasgar como ela está engasgando agora.
E essa constatação me faz levantar do sofá, fico de costas para eles e aperto meus punhos:
— Gael... — gemeu alto e descontroladamente. — D-Desculpa...
— Vão para o inferno, seus doentes de merda! — Soltei antes de me virar e sair de casa.
Abraço meu corpo por conta do frio que começa a me tomar. Ando pela calçada por um bom tempo, até me ver bem longe de casa, em uma área de avenida. Estou com um pouco de medo, sinto uma exposição anormal aqui. Mas tudo isso passa quando vejo uma figura conhecida, com um cigarro na boca e falando com um bando de homens mal encarados, que parecem fumar também.
Eles conversam de maneira cúmplice com minha mãe. Há certa animosidade, pois riem e falam alto até. Quando estou próximo o suficiente, um deles aponta uma pistola na minha direção e eu travo.
— Qual foi, mermão? Tá olhando o quê?
Mamãe quando me vê, arregala os olhos, sorri e se joga na frente do homem dizendo:
— Não, Ademar! Esse menino aí é meu filhotinho! Vem aqui, bebê da mamãe! — Falou alto e os homens se entreolharam.
Tudo bem! É só ignorar que está em minoria entre homens armados.
Dei alguns passos cautelosa até estar perto o suficiente para minha mãe me segurar pelos ombros:
— Gael, meu filho, esses são meus amigos. O Ademar, o Miguela, João e José.
Ademar é um homem careca, alto como um armário e magro. Tem um porte de quem te mataria com uma caneta se fosse necessário e ainda te esquartejaria usando os dentes. Mas sua beleza é inegável, tem uma barba por fazer e aspectos duros.
O Miguela é o mais "feio", deles, mas também é atraente. Tem um sorriso safado nos lábios, daqueles que parece estar sempre com um safadeza na mente e o pau pronto para ser usado. Ele é baixo, quase do meu tamanho, tem o cabelo cacheadinho, olhos mais claro e a pele da mesma cor do Ademar.
O João parece ter saído de algum condomínio de gente branquela. Ele tem um porte de pitboy, riquinho de academia. Carrega um cigarro com um cheiro característico de maconha entre os dedos, seu olhar é marrento, quase como se tentasse a todo momento passar um ar de perigoso sem ser realmente. Os cabelos são bem curtos, quase no estilo, "maloqueiro", como o pessoal chama hoje em dia. O nome correto é corte militar. Mesmo com sua pose marrenta, tudo é quebrado por conta de um óculos de grau em seu rosto.
E José parece ser uma versão mais velha do João, só que mais imponente. Esse sim tem uma feição de homem perigoso, por causa de suas orelhas deformadas de quem luta jiu-jitsu, olhos profundos e escuros e o porte musculoso colossal. Tem a pele bronzeada, mais bronzeada do que a do irmão que é bem clara.
Confesso que fiquei um pouco "umidificada" com tantos homens me olhando como se eu fosse uma nova presa no pedaço. Uma gazela em meio a predarorss ferozes.
Minha mãe falava, falava e falava sobre mim, disse até que sou gay. Ela não notou quando eles trocaram olhares entre si, quase como se trocassem uma mensagem interna de disputa. O tal do Miguela até chegou mais perto de mim, estendendo a mão em minha direção e pegando-a de maneira terna, seu olhar tinha uma sedução excitante. Sua voz é lenta, arrastada e o olhar perscrustando minha alma.
Devolvi seu olhar com um sorriso tímido.
— Boa madruga, coisa linda... — sua voz me causou um arrepio. — Uma coisa gostosa igual a você não deveria sair uma hora dessas, e ainda por cima, sozinho.
— Não estou com medo de ser ferido. — Eu estava, e ainda sinto um pouco.
— Fica tranquilo, ninguém vai fazer nada que você não queira, hoje...
Minha mãe nos observava com curiosidade, fumando seu cigarro.
Caralho, esse homem é um tesão!