Rapidamente disfarço, pego meu celular e mando um whats para o Dr Fernando com a seguinte mensagem: ‘’ELE ESTÁ AQUI FORA”.
Guardo celular no bolso, e vejo que ele ainda me olha. Em segundos me vêm o seguinte pensamento: “Não posso simplesmente parar, olhar para ele e sair andando como se nada tivesse acontecido. Ele pode ser tudo, menos idiota. Preciso fazer algo”
Respiro fundo, ando um pouco, me aproximo dele e falo:
- Bom dia! O senhor poderia me informar onde tem uma farmácia aqui por perto?
Ele me olha durante uns cinco segundos e responde:
- Bom dia! Acho que tem uma a 4 quadras daqui.
- Certo, muito obrigado, tenha um bom dia.
Viro as costas e sigo em frente, fingindo que iria para tal farmácia, caminho totalmente diferente para ir ao ponto de ônibus para ir para o meu trabalho, que inclusive já estava atrasado. Ele me pede para esperar.
- Ei, espera um pouco.
Me arrepio dos pés à cabeça.
Nesse momento ele olha para o relógio e diz pensando em voz alta:
- Depois resolvo isso....mas enfim, te dou uma carona até lá, vou pelo mesmo caminho.
- Não, que isso..não tem necessidade, vou andando mesmo, não quero incomodar.
- Não incomoda. Vamos, entra aí, porque sofrer nesse calor?
Ali vi que não tinha para onde correr. Teria que entrar no carro com ele.
Minha cabeça neste momento estava a mil. Pensava: ‘’ele deve saber de alguma de coisa, não é possível. Como que uma pessoa vai oferecendo carona pra quem ele não conhece?
Entro no carro. Olho pela janela e vejo que Dr. Fernando está na frente de seu consultório, fumando um cigarro e disfarçando, olhando para o que estava acontecendo. Rapidamente ele volta para dentro.
Começo a suar frio. Começa me dar ânsia de vômito e também vontade de chorar de desespero, confesso. Tento respirar com calma.
O marido entra no carro e dá a partida. Liga o som do carro e pergunta:
- Curte jazz?
- hammmm...não conheço muito - Respondo
- Como é teu nome?
- Rogério - Respondi, mentindo.
- Faz o quê da vida?
De novo respondo mentindo.
- Sou advogado. Amanhã estou indo embora já. Vim visitar um parente.
Nisso, toca o seu celular. Era Lívia ligando.
- Lívia, é bom me dar uma boa explicação - Disse ele, quase gritando.
Escuto a voz dela no telefone, também em um tom mais elevado.
- Lívia, acha que eu nasci ontem? Por acaso eu mandei você ir ao mercado? .... na hora do almoço a gente resolve isso.
Desliga o telefone na cara dela. Vira pra mim e fala:
- Desculpa aí você ter que ouvir isso...mas sabe como é, né? Essas mulheres de hoje em dia você tem que tratar assim mesmo.
- Sim, é verdade - Respondi, ainda com ânsia de vômito.
De repente ele tira uma 38 da cintura, e guarda na porta do motorista. Me bate um desespero visível. Ele diz:
- Fica tranquilo, só estou deixando ela mais fácil de pegar caso necessário, São Paulo está muito perigoso, e preciso me proteger, ainda mais andando nesse carrão.
- Sim, verdade - Respondi
- Pronto. Chegamos. Aqui é a farmácia - Disse o marido de Lívia.
- Muito obrigado. Tenha um bom dia - Falei já abrindo a porta e saindo do carro o mais depressa possível.
- Que isso, foi um prazer.
Rapidamente entro na farmácia. Espero cerca de 5 minutos, e saio, rumo ao apartamento.
Quando chego em meu apartamento, ligo para o Dr. Fernando. Ele não me atende.
Fico agoniado. Ainda passando mal. Ligo para o trabalho, informo que estou com uma indisposição estomacal - o que não era nenhuma mentira naquele momento - e que não iria conseguir ir na parte da manhã.
Penso em voltar ao consultório do Dr Fernando, mas depois do tinha acabado de acontecer, resolvi não arriscar, de não colocar a vida de todos em risco.
Chega a tarde. Vou ao trabalho. Chega o fim de tarde. Volto do trabalho.
Obviamente, só conseguia pensar em uma coisa: O QUE IRIA ACONTECER COM LÍVIA?
Uma semana se passou. Eu ainda sem ter notícias da Lívia, e a minha agonia aumentando cada vez mais.
Nesse meio tempo, ainda estava mantendo contato com Mariana, que inclusive, dormiu na minha casa dois dias depois do ocorrido com o marido de Lívia.
Mas estava levando as coisas com ela no automático. Porque só conseguia pensar na Lívia. Seja pelo sexo, por estar gostando dela, seja por pura preocupação também.
Certo dia, não aguentando mais ficar sem notícias, espero anoitecer, e vou ao consultório do Dr, Fernando. Vejo que já não tem mais nenhum carro por ali, só o dele.
A tua secretária não estava mais lá. A porta do consultório está trancada. Toco o interfone. Dr Fernando atende e abre a porta, pois me viu pela câmera.
Ele sai de sua sala e diz:
- Você tá querendo matar nós dois mesmo, né? Aliás, nós três, se é que Livia já não morreu.
- Como assim? Do que você está falando? - Perguntei assustado.
Ele rapidamente apaga todas as luzes do consultório e responde:
- Depois daquele dia eu nunca mais a vi. Ela não voltou para a sua clínica. Então, das duas opções, uma você pode ter certeza que aconteceu: OU ELE MATOU ELA, OU A ESPANCOU.
- Meu deus! E qual foi a reação dela aquele dia?
- Ela esperou ele sair e foi correndo para o mercado disfarçar. Mas ela sabia que não iria adiantar. E o que aconteceu para você ter entrado no carro dele?
- Fingi que estava buscando informação, querendo saber onde tinha uma farmácia aqui perto, e ele me deu uma carona.
- Só isso? - perguntou Dr. Fernando.
- Sim.
- Não vai ser só isso. Pode ter certeza disso......