Amor no Paraíso - Episódio 6: Competição

Da série AMOR NO PARAÍSO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2225 palavras
Data: 06/10/2023 00:09:27

O Hotel Trajano Búzios já poderia estar operando. Durante três semanas, os funcionários se dedicaram para polir todos os atendimentos pedidos pelo Ministério do Turismo. Inclusive, uma equipe seria enviada para avaliar os serviços do espaço. Esse já era algo de praxe para César, porém, a maioria dos trabalhadores estavam temerosos.

Parte do treinamento havia acabado, então algumas pessoas foram escolhidas para tirar uma semana de folga. Quem conseguiu a sorte grande foi René, que acabou selecionada. Hugo, por outro lado, ficaria responsável pela manutenção do quarto de César e o lobby do Hotel, pois mesmo sem clientes a limpeza precisava estar em dia.

Cada setor ficou no máximo com seis funcionários, que atuariam em três turnos diferentes. O horário de trabalho seria reduzido para não sobrecarregar ninguém, ou seja, os passeios de Hugo e César ganhariam algumas horas a mais.

No fim da tarde de segunda-feira, os dois foram para a Orla Bardot, localizada na praia da Armação. No local, está um dos cartões postais da cidade, a estátua de bronze de Brigitte Bardot. Nos anos 60, a atriz francesa ficou hospedada por alguns dias em Búzios. Ela gostou tanto da experiência que voltou diversas vezes.

A estátua foi esculpida em bronze, pesa cerca de 160 Kg e tem a autoria da escultora Christina Motta, tendo sido inaugurada em 1999. César e Hugo estavam sentados perto da obra de arte e observavam o pôr do sol.

— Quem teve a ideia de trazer o hotel para Búzios? — quis saber Hugo, dando um gole na cerveja.

— A minha mãe, a Dona Joana Trajano. Ela atuou durante alguns anos como CEO da rede de hotéis, dai o meu pai morreu e...

— Você não fala muito sobre o seu pai, né?

— Ele era um grande homem, Hugo. E morreu durante uma tentativa de assalto. — contou César, que deixou algumas lágrimas rolarem do seu rosto.

— Sinto muito, César. — Hugo tocou a mão do empresário e o reconfortou.

— Ele foi o primeiro que soube da minha sexualidade. O meu tio estava com medo de um possível escandalo, mas em nenhum momento o meu pai pediu para esconder os meus sentimentos. — César lembrou com carinho dos conselhos que recebeu do pai. — Enfim, — respirando fundo. — a mamãe parou de trabalhar e coube a mim comandar a rede Trajano.

— E você faz isso com maestria, César. É o melhor chefe que eu conheço. — garantiu Hugo, ainda acariciando a mão de César. — Vamos mudar de assunto?

De repente, um grupo de garotas passaram pelos dois e começaram a comentar. Uma das moças andou na direção de César e pediu para ele beijar uma de suas amigas. Eles ficaram sem reação, porque as garotas estavam visivelmente embriagadas e celebraram uma despedida de solteiro.

— Qual é, moço. Você é solteiro e será o último homem que a minha amiga vai beijar. — implorou uma garota negra, que usava dreads nos cabelos. Ela fez César levantar e andar sem reação na direção do grupo, que aplaudia. — Sem vídeos, vagabundas! O que acontece em Búzios, fica em Búzios!

Que situação. Pimentão vermelho. Essa era a cor de César Trajano. Algumas brincadeiras acabam saindo do ponto e o empresário beijaria uma mulher pela primeira vez em sua vida. "Beija, beija", as moças começaram a gritar e celebrar. Nervoso, Hugo assistia tudo impotente e com um pouco de ciúmes. Fora que ele percebeu o desespero de César.

A noiva em questão não era uma bela mulher, mas César não sentia atração por mulheres. Ele fechou os olhos preparado para um beijo, porém, as vozes perderam a força e elas começaram a vaiar. Ao abrir os olhos, César se deparou com Hugo beijando a noiva, que não se fez de rogada e quase engoliu o skatista.

— Pronto! — exclamou Hugo, pegando o skate do chão e puxando César pela mão.

— Espera, Hugo. Espera. — pediu César, mas não adiantou. Eles pararam algum tempo depois em um bebedouro público. — Você tá bem?

— Eu não quero falar sobre isso. — soltou Hugo, bebendo água e fazendo gargarejo.

— Mulheres loucas. — foi a única coisa que César conseguiu falar.

— Você tá bem? — perguntou Hugo, limpando o suor na testa de César.

— Sim. — respondeu César, fechando os olhos ao sentir o toque de Hugo. — Obrigado, eu sei que você fez isso por mim.

— Tudo bem. Eu fiquei com...

— Ciúmes? — questionou César, dando um sorriso convencido.

— Cala boca. — Hugo colocou o skate no chão e saiu andando.

— Espera, Hugo! — gritou um desesperado César correndo atrás do amigo.

Toda noite, os dois também aproveitam para pedalar pelas ruas de Búzios. Em menos de um mês, César já era especialista na cidade e não se perdia mais quando saia de carro para algum compromisso. Eles estacionaram uma quadra antes do Hotel em uma barraca de churrasquinho e aproveitaram para saciar a fome.

Enquanto esperava por Hugo que fazia os pedidos com o churrasqueiro, César acabou perdido nos próprios pensamentos. Ele que cresceu cheio de privilégios experimentava pela primeira vez o lado simples da vida. Sua mãe não aprovaria uma refeição em um lugar tão pitoresco, mas lá estava ele, sentado em uma cadeira de plástico, no meio da rua e via o seu churrasco ser feito por um simpático senhor.

— Você não combina nada com esse lugar. — Hugo falou ao chegar. — Sério, César. — rindo.

— Ei, eu combino com qualquer lugar. — César tentou se defender, mas era impossível.

O senhor chegou e entregou dois pratinhos de farofas com os churrascos. Em seguida, trouxe dois copinhos de vinagrete. César olhou para Hugo, que não fez cerimônia e abocanhou o primeiro pedaço de carne. Então, o empresário seguiu o fluxo e também comeu.

Depois de mais uma noite de conversas e risadas, os amigos se despediram e voltaram para os seus universos solitários. Ao chegar no quarto do hotel, César tirou a roupa e tomou um banho demorado. Ele deitou na cama e ficou pensando em Hugo.

Durante o passeio, César fez uma foto do crush e adorou o resultado. Como alguém podia irradiar tanta luz? Era essa a pergunta que não saia dos pensamentos de César. Porém, uma tristeza o abateu. A solidão o abateu.

Do outro lado, Hugo também tinha um sentimento parecido. Nas paredes de sua casa, ele montou uma espécie de altar para os pais e desejou ter alguém para lhe fazer companhia. Ele olhou para uma foto que fez de César no churrasquinho e sorriu.

Uma mensagem apitou no celular de Hugo. Era de um grupo de skatistas locais que estavam ansiosos para as seletivas do Circuito de Skate. A premiação valia a pena e poderia colocar Hugo de volta no mapa das grandes empresas do ramo.

— Puta que pariu. Amanhã eu trabalho. — pensou Hugo, que mais uma vez veria uma oportunidade ir embora.

Todos os esforços e treinamentos em horários malucos foram em vão. No dia seguinte, um derrotado Hugo chegou ao Hotel Trajano. Durante a parte da manhã, o camareiro buscou uma maneira de conversar a sós com Adelaide, a supervisora da limpeza. Nos últimos dias, ela estava uma pilha de nervos, pois temia que sua equipe não fosse tão boa e impressionar César se tornou uma prioridade.

Em vários momentos, Hugo tentou pedir de sua chefe uma dispensa para participar da seletiva. O teste dele começaria às 15h15, ou seja, o tempo estava correndo. Após arrumar o quarto dos arquitetos que trabalham no acabamento do Hotel, Hugo puxou a sua supervisora de lado e implorou para ser liberado mais cedo.

— Hugo, infelizmente, estamos com poucos funcionários. Porque você não disse antes? — perguntou Adelaide, olhando em seu tablet e verificando a possibilidade do funcionário ser liberado, no caso, nenhuma.

— Eu entendo. Tudo bem...

— Adelaide, me empresta o Hugo por duas horas? — questionou César, que pegou o funcionário pela mão e o levou para o elevador.

— Tudo bem. — soltou Adelaide se assustando com a cena.

— O que tá acontecendo? — quis saber Hugo nervoso.

— Você tem uma oportunidade e um talento único, Hugo. Vamos para o local da prova. — explicou César, tirando o paletó e o repousando em seu braço. — Conseguimos chegar antes da 15h?

— Eu acho que sim, mas César, eu não quero me arriscar com a Adelaide...

— Confia em mim, Hugo. Tenho certeza que nenhum cliente vai reclamar. Ah, espera, o hotel só abre daqui duas semanas. — César saiu quando o elevador chegou no térreo. — Vai buscar as tuas coisas e me encontra na garagem.

Nervoso e admirado pela consideração de César, Hugo seguiu para o seu armário e pegou a única coisa que importava naquele dia: o seu skate. Ele correu para o estacionamento e encontrou César falando ao telefone, mas o empresário logo desligou. Eles foram para o local da competição.

No caminho, Hugo explicou para o chefe que a competição consistia em cinco manobras e duas corridas de 45 segundos. A partir disso, os juízes dariam notas que classificariam, ou não, os participantes. A seletiva era um grande passo para os jovens skatistas, principalmente, aqueles que procuravam por uma segunda chance.

Por puro preconceito, César imaginou a pista de skate uma bagunça e cheio de pessoas falando, mas o cenário da competição o impressionou. Silêncio absoluto e concentração por parte dos skatistas. Assim como no bar, Hugo meio que virou o centro das atenções e cumprimentou todo mundo.

Ali, naquele espaço, a energia do skatista mudava. Até mesmo na questão da fala. Para César havia um interruptor dentro de Hugo, que mudava quando encontrava seus amigos e colegas de skate.

Ao abrir a mochila para pegar o capacete, ele se assustou, pois não encontrou suas roupas. Na ocasião, Hugo usava a farda do Hotel Trajano. De repente, alguém o chama pelo microfone e avisa que sua vez está chegando.

— Toma! — exclamou Hugo, jogando a mochila na direção de César e andando na direção do circuito.

— Ei, Martins! — gritou César chamando a atenção de Hugo. — Quebra a perna!

— É uma expressão estranha para dizer a um skatista, chefe. Obrigado. — respondeu Hugo, que ficou mais confiante ao ver o sorriso de César.

— E quem vai impressionar os jurados agora é Hugo Martins. Ele está voltando à pista depois de um hiato. — um homem anunciou a participação de Hugo. — O cara é fera e já desbancou diversos competidores nacionais e internacionais. Só erra roupinha que não está combinando, né? — brincou o apresentador do evento.

— Tô atrasada? — perguntou René ao encontrar César encostado em um corrimão.

— Sim. — César virou para a funcionária e quase teve um acesso de riso. René usava uma faixa no cabelo com o nome de Hugo, além de uma camiseta com uma foto linda do skatista. — Pode rir, seu César, mas eu não vou pagar esse mico sozinha. — tirando uma camiseta da bolsa e entregando para César.

Sem ter muitas opções e querendo causar uma boa impressão no crush, César tirou a camisa social e vestiu a camiseta #TeamHugo. Na companhia de René, ele se dirigiu para uma espécie de arquibancada.

Já na pista, Hugo ouvia os direcionamentos do responsável pelo percurso. Para começar, o skatista precisou fazer cinco manobras: Ollie, Flip, Pop shove-it, kickflip e o boardslide. Por serem básicas, Hugo tirou de letra e arrasou. Mesmo sem entender nada, César e René aplaudiam o atleta.

Em seguida, Hugo foi para a rampa. Preocupado com a altura, César engoliu seco e torceu para o funcionário não sofrer nenhum acidente. Porém, o skatista arrasou em todas as etapas e conseguiu arrancar aplausos do público presente.

— Ele tá arrasando, né? — César perguntou para René. A ruivinha estava filmando a participação de Hugo.

— Sempre arrasa, seu César. O Hugo é um foguete.

— Ele é um foguete! — gritou César, aplaudindo e se divertindo.

Os vencedores do Circuito de Skate seriam anunciados apenas em quatro semanas, ou seja, Hugo precisaria domar a ansiedade e os medos. Por fim, os três seguiram para o estacionamento. Como René estava de folga naquela tarde, César a levou para casa. Em todo caminho, Hugo ficou introspectivo. Ele repassava todos os passos da competição em sua cabeça.

— Hugo, chegamos. — a voz de César ecoava de longe. — Hugo. — pegando no ombro do rapaz. — Chegamos ao hotel. Vamos?

— Cadê a René? — Hugo olhou em volta confuso.

— A deixamos faz uns minutos. — informou César, pegando os pertences e saindo do carro. — Viu, a gente não demorou nem duas horas e pude te ver voando pelos cantos.

— Você gostou?

— Cê é louco, truta, só faltou voar! — as escolhas de palavras do César fizeram Hugo rir. — Ei, não se preocupe. Você fez o seu melhor, Hugo.

— César, — Hugo o chamou. — obrigado. — abraçando César, que retribuiu o abraço.

Sim. O sentimento crescia de ambas as partes. Ao entrar no hotel, César se deu conta de ainda estar usando a camiseta #TeamHugo. Quem percebeu foi Adelaide, que precisou respirar fundo para não dar uma bronca no camareiro, mas ela não gostou nada da atitude do rapaz. E conversaria com Hugo para pedir que a situação não se repetisse.

Enquanto isso, as pessoas caminhavam tranquilamente pelas orlas e ruas de Búzios. De longe, uma nuvem carregada se aproximava da cidade e anunciava que algo ruim aconteceria. Na televisão, a jornalista já dava a previsão do tempo com preocupação.

— Além da forte chuva, os meteorologistas afirmam que um vendaval pode atingir a cidade. A última vez que isso aconteceu, em 2012, deixou centenas de desabrigados. Vamos ficar de olho e daremos todas as informações. — anunciou a jornalista, que se despediu de uma maneira tensa.

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