Coisas da vida de um casal. Os anos passam levando tudo mais, até só restar uma cumplicidade mais forte que qualquer outra coisa. Pelo menos até outras pessoas começarem a aparecer, com propostas de outros amores e outras cumplicidades, ao ponto de corroer os alicerces de uma união construída com esmero pelo tempo.
Era nesse exato momento onde se encontravam Roberto e Carminha, nossos protagonistas, casados havia anos e até com uma filha na flor da juventude, mas que agora tinham a força de seu relacionamento testada pelo implacável destino.
No íntimo de seu lar, no sagrado leito conjugal, Carminha olhava para Fabrizio, sócio de seu marido na pizzaria, um italiano alto, de mãos fortes e cabelos negros e eternamente desalinhados, aproximar-se completamente nú para ultimar a pior das traições: sexo anal.
Já do outro lado do país, num resort de luxo em alguma praia isolada do nordeste, Roberto justo terminara de apreciar a Donatela, uma loira estonteante e vinte anos mais jovem, a mais nova namoradinha de Fabrizio, cavalgá-lo com desejo e ânsia por gozar, até o homem baixinho, gordinho e meio calvo lembrá-la de que a amante perdera uma aposta e que era chegado o momento de dar a ele o seu prêmio: sexo anal.
Eu sei, parece muita coincidência um casal estar a milhas um do outro vivendo experiências tão semelhantes, mas o diabo mora nos detalhes e estes diferiam em tudo nos dois casos - tal como narrado por este que vos escreve na primeira parte dessa história um tanto trágica.
E por falar na primeira parte, ocorre-me que comecei a contar pelo meio, iniciando já num fatídico jantar onde os acontecimentos nos levaram ao momento presente. Perdoem-me, sou apenas um amador e às vezes cometo tropeços, tal qual nossos protagonistas. Por isso, aos que se interessarem, volto uma semana antes na história, no intuito de oferecer-lhes um panorama mais completo. Creio que todos merecemos isso.
A pizzaria fora aberta há pouco tempo, mas devido ao cuidado com todos os detalhes não faltavam clientes a Roberto e Fabrizio. Num acerto entre os dois, Roberto ia do almoço até às sete, quando Fabrizio assumia a gerência e permanecia até fechar. Dessa maneira, Roberto podia chegar cedo em casa e jantar com Carminha, enquanto Fabrizio, um recém-divorciado de hábitos noturnos, se ocupava e preenchia a solidão.
Não que Fabrizio andasse sozinho, nada disso, um homem galante daqueles tinha lá seus atrativos, ainda mais realçados pelo carrão esporte e o rolex de ouro que ostentava no pulso, frivolidades adquiridas após seu divórcio. Assim, sempre havia alguma garota pendurada no seu braço, em geral muito mais nova que ele. Mas eram coisas passageiras e sem perspectiva de algo mais sério, eram mulheres “descartaveis”, como ele dizia.
Por isso, em seu íntimo, apesar de contar vantagem junto à Roberto, este sim um sujeito tímido e fiel há mais de vinte anos à sua esposa, Fabrizio invejava ao sócio: ele tinha um lar, um porto seguro - e tinha também à Carminha, uma esposa que lhe cuidava tão bem, sempre tão atenta aos detalhes, que compensava até a falta de charme do marido.
Mais ainda, se lhe faltavam atrativos a Roberto, a Carminha lhe sobravam, era uma mulher de classe, bonita e muito bem cuidada, de forma que os anos lhe haviam sido gentis e que, depois de uma lipoaspiração na cintura e uma discreta turbinada nos seios, parecia haver remoçado uns dez anos.
Dessa maneira, era natural que um mulherengo incorrigível como Fabrizio lhe dedicasse atenção também à Carminha entre tantas - e tampouco parecia estranho que a ela lhe agradasse ter ocasionalmente o afeto de um homem daqueles.
Roberto, a sua vez, ria discretamente quando os três se encontravam, pois sabia que a cumplicidade entre ele e a esposa era maior que o mundo e lhe soava torpe o desespero de Fabrizio para sobressair-se ante os olhos de sua Carminha.
Contudo, eis que um dia apareceu outra mulher para subverter a ordem natural das coisas e virar de ponta-cabeça aqueles relacionamentos tão estáveis. Não que ela o fizesse de propósito, nada disso, mas sua personalidade autoconfiante, seu empoderamento feminino e sua beleza fora do comum se encarregavam de fazê-lo por ela.
Num final de tarde como os demais, enquanto Roberto orquestrava os preparativos para o turno da noite, aquela mulher radiante apareceu na pizzaria, sentou-se numa mesa discreta ao fundo, pediu uma taça de vinho branco gelado e ficou absorta navegando no telefone.
Por mais que Roberto tentasse se concentrar nas tarefas do restaurante, a visão da jovem era como um imã atraindo seus olhos e ele não conseguia deixar de admirar aquela loira bem mais jovem num vestido negro com uma abertura que deixava á mostra suas coxas musculosas e um decote que realçava seus seios, pontudos como duas pêras tenras.
Nesse fim de tarde, Roberto nem se incomodou quando Fabrizio mais uma vez tardou em chegar para assumir seu turno. A ideia de poder ficar um minuto a mais que fosse admirando aquela visão bebericando seu vinho branco e expondo suas pernas bronzeadas era infinitamente melhor do que ter que voltar à rotina de suas noites em casa.
Após quase uma hora de atraso, quando Fabrizio finalmente chegou falando alto e fazendo o estardalhaço de sempre, Roberto já havia se imaginado fazendo todas as loucuras possíveis com aquela mulher espetacular.
Já no carro em direção à casa e ao aconchego de Carminha, Roberto pensava: “Que idiota, até parece que uma mulher como aquela um dia vai olhar para mim. A Carminha tem razão, eu devia fazer uma dieta, entrar numa academia. E se eu fizesse implante capilar? Será que ficava bem? Droga, um mulherão espetacular e eu mem falei com ela, que idiota!”
Para piorar o humor e a baixa auto estima de Roberto, houve um pequeno detalhe naquela noite. Sim um pequeno detalhezinho que fez toda a diferença em seu mundo ordenado.
Já na cama, vestindo seu habitual pijama listrado, enquanto terminava de ler a edição do mês passado do The Economist e esperava que Carminha terminasse seus rituais de beleza para vir se deitar, sobre o criado-mudo ao lado da cama da suíte principal, lá estava ele: um relógio rolex de ouro.
Roberto demorou a entender. “Que estranho, eu não lembro de ter um rolex desses, só uso Bulova. E que engraçado, esse relógio brega é igual ao do Fabrizio… Êpa… Peraí… Como é que o relógio do Fabrizio veio parar aqui?”
A realidade se abateu sobre Roberto. Mesmo após Carminha vir se deitar, ele permaneceu no escuro do quarto, imóvel, paralizado, preso em seus pensamentos: “Maldição, o Fabrizio comeu a Carminha! Essa vagabunda deu pra ele! Ela deu justo para ele!”
Depois de um dia inteiro sem saber o que fazer e evitando entrar nesse assunto delicado, Roberto estava massacrado. Carminha era sua cúmplice e Fabrizio era seu sócio, mas agora os dois o haviam enganado e as coisas jamais seriam as mesmas.
Em meio aos preparativos para o turno da noite na pizzaria, sua cabeça dava voltas. Não eram exatamente ciúmes o que ele sentia, mas aquela sensação de que fora enganado pelas duas pessoas em quem mais ele confiava - e isso era pior ainda!
Então, durante a confusão mental de Roberto, aquela mulher chegou novamente. Dessa vez a jovem veio à pizzaria usando um vestido diáfano extremamente curto na cor branca que a fazia parecer uma deusa grega flutuando em meio a uma luz dourada enquanto caminhava decidida sobre um par de saltos muito altos.
Roberto nem pensou, deixou o que estava fazendo, se adiantou ao garçom e foi ele mesmo atender à nova cliente que se sentara na mesma mesinha discreta do dia anterior. Ela nem sequer o olhou nos olhos, continuou imersa no telefone e apenas balbuciou: “Uma taça de vinho branco bem gelado, por favor.”
Ansioso, Roberto queria chamar sua atenção, mas não sabia como. Passou então a oferecer alguma entradinha para acompanhar o vinho, uma focaccia, uma bruschetta ou mesmo um carpaccio. “Não, muito obrigado. Eu só estou esperando alguém. Sou Donatela, namorada do Fabrizio, o dono daqui.”
Imediatamente, o céu escureceu, o chão se abriu sob os pés de Roberto e ele sentiu que seu coração saltaria pela boca de tanta raiva que sentiu de seu sócio. Voltou para o balcão caminhando ele nem sabia como, e, apoiando-se ali para não cair, olhou perdido sem querer para a tela de seu telefone onde um alerta de mensagem soou: Era justamente Fabrizio, dizendo que teve um contratempo e que se atrasaria de novo.
Não, isso não podia ser, era demais. Fabrizio deveria estar lá, na sua casa, sobre a sua cama, comendo a sua esposa e, ao mesmo tempo, estava ali mesmo, marcando uma presença insubstancial na pizzaria, dentro da cabeça de Roberto, ao roubar-lhe a atenção da única mulher na qual ele pusera os olhos em mais de vinte anos de casamento fiel!
Fabrizio, Fabrizio, Fabrizio… Esse nome fazia o sangue estourar nas veias de Roberto, aquele italiano safado não tinha limites e estava roubando-lhe tudo! Agora, não era somente aquela sensação de que fora enganado pelo sócio que o consumia, não, havia algo mais ali: ele estava transbordando de ciúmes de Fabrizio com Donatela!
Roberto saiu apressado, largou a pizzaria na mão de um dos garçons e foi dirigindo até sua casa, decidido a esganar o casal de amantes. Contudo, ao entrar no apartamento no vigésimo quarto andar, seu coração palpitava cada vez mais, à medida que sua determinação diminuía na mesma proporção, sendo substituída por outro sentimento muito inadequado para este momento: o medo.
Medo de perder Carminha, medo de perder o sócio, a pizzaria, medo de nunca ter uma chance com a loira do restaurante, medo de terminar como Fabrizio, um divorciado de meia idade fazendo um papel ridículo, medo de perder o conforto de sua vida… Medo de tudo!
Ao perceber que esse medo desmedido lhe causava a mesma vertigem que sentiu na pizzaria, vacilante, Roberto quis dar meia volta e fugir para o restaurante, fingindo que nada daquilo estava acontecendo, mas ele não conseguia, sabia que era preciso ver a traição com seus próprios olhos para ter certeza de que sua vida, tal como transcorrida até aquele momento, terminaria ali.
Ao constatar que o andar de baixo estava vazio e em silêncio, subiu temeroso ao terraço e, desde a escada, pode começar a ouvir gemidos e sussurros abafados entre uma respiração pesada e ofegante: Eram eles!
Por uma fresta da porta entre o hall do segundo piso e o terraço com vista para o parque da cidade, Roberto podia ver a Fabrizio e Carminha nus, em pleno ato sexual. Os dois se beijavam na boca com paixão e uma entrega que ele só vivera quando estava na lua de mel, há tantos anos atrás.
Com os braços em torno do pescoço de Fabrizio, Carminha se prendia ao italiano pelas pernas em volta de seu tronco, remexendo-se, esfregando-se libidinosa ao ser penetrada, tendo as mãos grossas e peludas de Fabrizio sustentando-a no ar pelas nádegas, fazendo-a ir e vir ao longo de seu membro ereto como uma estaca de peroba do campo.
Inesperadamente, o medo e a raiva de Roberto se desvaneceram ante a beleza da cena de Fabrizio possuindo à Carminha, de suas investidas fortes e diretas na delicada intimidade de sua mulher, de Carminha se entregando com gosto e paixão à Fabrizio e de como ela gozava livremente nas mãos de seu sócio.
Mas o que era aquilo tudo afinal? O que realmente impedia Roberto de reagir e por um fim naquela traição? Raiva, medo, ciúmes, desejo, tesão… Não, não era nada disso, tais sentimentos não eram capazes de explicar sua inação. Mas havia algo, sim, uma outra coisa em seu peito, crescendo, dominando-o. Foi então quando se deu conta: na verdade, se ele não agia era somente porque queria viver aquilo, ter uma mulher daquela maneira, com aquela entrega de ambas as partes. Sim, esse sentimento tinha um nome: inveja!
Fabrizio havia descido Carminha e a colocara apoiada no pufe que a sogra de Roberto lhes dera, uma coisa horrível, peluda e azul-turquesa, da qual ele nunca havia gostado e agora começava a odiar.
Ver a expressão de êxtase e surpresa no rosto de Carminha enquanto ela estava de quatro com Fabrizio golpeando uma e outra vez suas intimidades como um animal encurralando uma fêmea para satisfazer seus instintos mais selvagens, para Roberto, foi a gota d’água. Ele queria essa experiência para si, custasse o que custasse - e já sabia com quem seria.
Antes mesmo que o casal de amantes terminasse, ele saiu de lá silenciosamente e voltou ao restaurante, onde se dedicou a aproximar-se de Donatela, explicando-lhe que, na verdade, não era um simples gerente, mas sim o sócio igualitário de Fabrizio no restaurante e tão dono daquilo quanto o namorado dela.
- Ai, me desculpe, Fabrizio nunca me contou que tinha um sócio, seu Roberto!
- Não precisa me chamar assim que eu me sinto um velho. Pode me chamar só de Roberto.
- Ah, claro, Roberto. Mas o que exatamente você faz aqui?
- Tudo, Donatela, sou eu quem administra tudo. Fabrizio não passa de um enfeite que fica fazendo barulho para entreter os clientes à noite.
- Então você é que é o dono do lugar?
- Sou dono da metade, por enquanto somos sócios. Mas assim que eu arranjar outra pessoa mais confiável, vou comprar sua parte e colocar aquele safado pra fora daqui!
- Mas por quê, Roberto? O que meu namorado fez pra merecer essa raiva toda?
- O que ele fez? Melhor você perguntar o que ele está fazendo. Nesse exato momento, enquanto conversamos aqui, o Fabrizio está na minha casa comendo a minha mulher!
- Ele está fazendo o quê? Como assim?
- É isso mesmo que você ouviu. E por favor não me questione, eu estou seguro, vim de lá agora e vi com meus próprios olhos os dois se refestelando no terraço do meu apartamento!
Donatela emudeceu neste momento, sem saber o que pensar. Ela finalmente arranjara um coroa endinheirado, e agora resultava que ele a estava traindo com uma mulher mais velha e ainda por cima casada? Mas afinal de contas, que tipo de homem era Fabrizio?
- Mas… Mas… Roberto, você descobriu tudo isso agora e está aqui, nessa calma? Você não tem vontade de ir lá e quebrar tudo, fazer um escândalo e desmascarar os dois?
- Olha Donatela, eu pensei nisso tudo, mas o que eu ganharia fazendo uma cena? Nada! Daí eu tive essa ideia, sabe, foi bem no momento em que ele estava comendo minha mulher de quatro e ela estava gozando.
- Roberto, eu não estou entendendo. O que você está pensando? Pelo amor do pai eterno, você não vai matar ninguém, não é?
- Eu? É claro que não, faça-me o favor! Eu lá tenho cara de quem mata os outros? Não, eu vou fazer algo muito pior, eu quero me vingar deles!
- Vingar? Como assim? Isto está ficando interessante… Pra falar a verdade, o Fabrizio também está me enganando e eu queria muito saber o que você vai fazer.
- Eu vou comer você, Donatela. Vou meter os cornos no Fabrizio, que nem ele fez comigo!
Donatela não pode evitar cair numa gargalhada, tendo um acesso de riso na cara de Roberto. Como esse homem feio, baixinho, gordinho e peludo podia ter essa confiança toda para dizer-lhe tal coisa, assim, na maior cara-de-pau!
- Donatela, você não acreditou no que eu disse? O que foi? Não aceita dar pra mim?
- Roberto, não me leve a mal, por favor. Mas um homem como você não tem cacife pra ir para a cama com uma mulher como eu, entende?
- Não tenho? Será mesmo? Me diz aí, conta um sonho seu, qualquer coisa. Eu farei acontecer, se você me der o que eu quero!
- Ah, é? Pois eu gostaria muito de ir num resort recém-inaugurado que tem lá no nordeste. Vai ter um encontro de influencers lá semana que vem, algo super exclusivo, custa um monte de dinheiro. Então, eu queria que me levassem nesse evento!
- Beleza, pode fazer as reservas. Semana que vem nós estaremos lá, chifrando o Roberto. Mas tem uma coisa que eu queria muito fazer e…
- Pode parar por aí, Roberto. Se você me levar lá, a gente até fica junto. Mas não me venha com nenhuma bizarrice na cama, está entendendo?
- Tranquila, não é nada demais. Tudo o que desejo é você dando pra mim por trás, só isso.
- Dar o quê? Você quer que eu dê o cú? Eu ouvi bem?
- É, Donatela, semana que vem a gente vai lá e eu vou te comer por trás. Não me leve a mal, por favor, não é nada pessoal, mas é que só assim me sentirei totalmente vingado do Fabrizio, comendo a bundinha linda da namoradinha dele.
- Roberto, você tá maluco. Eu não daria o cú pra você nem que o próprio Fabrizio me pedisse. É mais, eu não daria nem que ele me pagasse!
- Taí, gostei da ideia. O Fabrizio vai te pagar pra você dar essa sua bundinha linda pra mim, lá no tal resort no nordeste.
- Seu doido, duvido que isso aconteça!
- Duvida? Quer apostar?
- Quer saber? Se o meu namorado me pagar pra eu dar pra você lá num resort no nordeste, deixo você me comer do jeito que quiser! Mas fique sabendo que eu não vou cobrar barato! Eu quero pelo menos uns mil dólares!
- Mil dólares? Só isso, minha linda? Donatela, uma mulher como você merece muito mais!
- Ah é? E quanto é que eu vou custar ao Fabrizio para aceitar dar pra você?
- Vejamos… Uns dias com uma mulher como você… Diárias para dois, mais passagens… A bundinha incluída no pacote… Acho que deveria ser pelo menos uns cinco mil dólares!
- Cinco mil! Roberto, definitivamente, você é doido!
Sim, Donatela tinha razão, Roberto estava doido, mas era de inveja. Ele meteu na cabeça que, para superar a traição de Fabrizio e Carminha, só havia essa solução torpe de comer a namorada do sócio. Por isso, não media esforços nem palavras para convencer a jovem de que aquilo aconteceria - e agora precisava imaginar como faria para convencer aos demais!
Já de noite, na cama da suíte, vestindo seu tradicional pijama listrado, Roberto nem conseguia se concentrar na leitura diária de sua revista, esperando ansioso que Carminha voltasse de seus rituais de beleza.
O fato é que, para que seu plano funcionasse, ele deveria convencer a esposa. Só ela teria poder suficiente para fazer com que Fabrizio aceitasse aquela loucura.
Essa era a parte difícil, Carminha não era tonta e, não raro, tinha ciúmes de suas coisas, incluindo Roberto entre elas. Assim, para conseguir comer Donatela, ele deveria usar a única arma que dispunha contra sua mulher: chantagem emocional.
Quando ela finalmente saiu do banheiro vestindo uma camisolinha bem-comportada e veio aninhar-se na cama, Roberto pôs seu plano em ação.
- Carminha, hoje eu tô super necessitado. Vamos fazer amor?
- Ai Ursinho, acho que eu tô meio cansada. Podemos deixar para outro dia?
- Jura querida? Mas a gente não fica junto há tanto tempo… E hoje em especial eu estou precisando de mulher. Não dá pra fazer um esforcinho?
- Sério? Logo hoje? Eu tive um dia tão cheio…Mas o que houve pra você ficar assim?
- Hoje lá na pizzaria eu conheci a nova namoradinha do Fabrizio, uma tal de Donatela. Olha, desculpa falar assim, mas ela é demais, linda mesmo, um mulherão. Daí eu fiquei assim, cheio de vontade.
Era óbvio que Carminha não queria fazer sexo, depois de passar uma tarde se refestelando com Fabrizio. Roberto tampouco queria, estava se controlando para não esganar a esposa por aquilo, mas plantara na conversa a isca que precisava para ter a atenção de Carminha: a nova namorada de Fabrizio.
- E o Fabrizio então tem uma nova namoradinha? Me conta mais, Ursinho, como ela é?
- Ai Carminha, eu fico com vergonha de dizer essas coisas pra você… Mas ela é linda, loira e jovem, deve ter a idade da nossa filha. Tem uns peitos que devem ser uma delícia, como pêras ainda verdes, e uma bundinha que faz os homens enlouquecerem! Quer dizer, eu não, né? Eu só amo você!
- Ah, então o meu Ursinho ficou com tesão na namorada do sócio, é? Tudo bem, eu não me importo. Uma mulher dessas nunca daria pra você.
- É amor, nunquinha mesmo. Eu sou baixinho e gordinho, já estou até ficando careca, nada a ver com o Fabrizio, não é?
- É Roberto, nada a ver mesmo.
- Deve ser por isso que você prefere dar pra ele, afinal, ele sim é que é bonitão.
Neste momento, Caminha engoliu seco e perdeu a voz. Se ajeitou na cama e ficou olhando para Roberto, duvidando se havia escutado bem. Como assim? Ele sabia do caso entre ela e o sócio? Com uma voz tranquila e ainda se fingindo de humilde, o marido seguiu adiante.
- O que foi, amor? Está pensando no que eu disse? Foi isso mesmo, falei que você prefere fazer sexo com o Fabrizio, mas que eu sou perfeitamente capaz de entender o porquê.
- Ursinho, eu… Eu… Eu não sei o quê dizer!
- Ora Carminha, eu percebi o relógio dele esquecido no criado-mudo ontem. Então hoje eu vim aqui ao final da tarde e vi vocês dois lá no terraço.
- Você viu? Quer dizer, viu nós dois e não fez nada?
- Vi sim. Vi como ele a penetrava em pé segurando a sua bundinha, aquele membro grosso dele entrando e saindo de você. Depois, vi você gozando de quatro sobre aquele pufe horrivel azul-turquesa que sua mãe deu, enquanto ele urrava de prazer te comendo.
- Ai Roberto, eu estou tão envergonhada…
- Bobagem, Carminha. A gente é cúmplice, estamos casados há mais de vinte anos, você é uma mulher bonita, ele tem aquela pinta de galã e eu… Bem, eu sou feio. E gordinho. E baixinho. E agora estou ficando careca…
- Meu amor, não fala assim! Eu me sinto muito mal com tudo isso! Você não está com raiva?
- Mas Carminha, de que adianta ficar com raiva? Você meteu chifre em mim, mas ao menos foi com um cara como o Fabrizio! Fiquei impressionado como você conseguiu, entende?
- Desculpa, mas não entendo. Afinal, você acha que o Fabrizio não me desejaria? É isso?
- Querida, qualquer homem a desejaria, você está ótima para sua idade! Mas o Fabrizio, sei lá, ele gosta de mulheres mais novas, garotas “descartáveis”, como ele as chama. Me admira que você o tenha conquistado.
- Você… Você está admirado que eu tenha conseguido levar o Fabrizio pra cama?
- Isso. Talvez, se você conhecesse a Donatela, namoradinha do Fabrizio, entenderia melhor o que eu quero dizer. Ela é um espetáculo, eu jamais conseguiria comer uma mulher como aquela! Digo, nem se eu pagasse a uma das namoradinhas dele, a mulher aceitaria dar pra mim. Eu sou horrível!
No ápice de sua atuação, Roberto chegou mesmo a deixar algumas lágrimas escorrerem. Carminha achava que eram provenientes de uma profunda baixa auto estima do marido por tudo que acontecera, mas, para provocá-las, Roberto na verdade havia usado toda a inveja que sentia da cumplicidade entre os dois amantes.
- Ursinho, não fala isso, você está me matando! Também não é assim, você tem lá suas qualidades! Aposto que, se quisesse mesmo, você comeria qualquer uma das namoradinhas do italiano!
- Não sei não, amor. Você diz isso para me consolar mas, se visse a tal Donatela, aposto que mudaria de idéia na mesma hora!
- Pois então quero conhecer essa garota! Quero saber quem é essazinha que nunca daria pro meu Ursinho! Estou segura de que com o devido incentivo você é capaz de comê-la!
- Você acha mesmo, amor? Não sei, eu sou só um corno feio, um velho sem graça…
- Basta, Roberto! Na semana que vem, vou fazer um jantarzinho pra conhecer essa tal Donatela. E aí vamos ver se ela vai ou não dar pra você!
Já no escurinho do quarto, enquanto fingiam dormir, nenhum dos dois era capaz de pregar o olho. A cabeça de Carminha funcionava a mil por hora, pensando em tudo o que ela diria a Fabrizio para convencer a tal Donatela a dar para o seu Ursinho.
Já Roberto era quase capaz de ouvir os pensamentos gritando na cabeça da mulher. Ela estava se sentindo culpada, achando-se má e perversa por trair a cumplicidade entre eles.
Dessa forma, ela seria capaz de fazer qualquer coisa para forçar o amante a convencer sua namoradinha a dar para o seu pobre maridinho com baixa auto estima…
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