5. Parece, mas não é.
Laine:
Silvana trouxe uma garrafa de vinho e se sentou ao meu lado. Após o alerta, ela me olhava com carinho, como uma mãe educando uma filha:
– Nesse meio, as pessoas às vezes se perdem. Já vi amizades de longa data sendo arruinadas, famílias desfeitas, eu mesmo já perdi amigos que achava serem valiosos.
Ela encheu nossas taças e continuou:
– Mas também, por outro lado, ganhei ótimos amigos, conheci pessoas incríveis, me diverti com homens e mulheres fascinantes …
Ela chegou a suspirar, parecendo saudosa de alguma coisa. Eu ainda estava chateada com Carina, sem entender seu ataque sem sentido. Silvana voltou a falar:
– Seu marido é realmente um homem que chama a atenção, mas você também é uma mulher linda, inteligente, que mexeu com todas nós aqui. Esse mundo tem suas maravilhas e também suas ciladas, não é para todos, mas aqueles que conseguem entender e apreciar esse estilo de vida verdadeiramente, ciente de suas responsabilidades, tem mais a ganhar do que a perder.
Silvana piscou para mim, me abraçando de forma um pouco mais ousada:
– Eu não deveria, sei que serei criticada se descobrirem, mas vou dividir um ensinamento com você, uma forma de dobrar um homem: se optar mesmo por seguir o caminho liberal, mas se ainda assim, encontrar resistência no seu casamento, comece com ménages femininos, você, seu marido e outra mulher.
Silvana encheu novamente as nossas taças e com um sorriso maroto, concluiu:
– Essa fórmula é garantia de sucesso em noventa por cento dos casos. Você é linda, e só pelo fato de estarem com um casal tão bonito igual a vocês, qualquer mulher se candidataria e você, dando liberdade, teria como cobrar o mesmo depois.
Nervosa, mas ao mesmo tempo, me sentindo um pouco envaidecida com suas palavras, eu virava uma taça de vinho atrás da outra. Silvana, com sua experiência, conseguiu me fazer voltar ao clima de antes e retornamos para a mesa.
Carina me deu uma trégua e a conversa voltou a ser divertida e agradável. Todas bebíamos bastante e eu já estava um pouco alta, disposta a não aturar mais as indiretas de Carina e Patrícia.
{…}
Beto:
A carne estava no ponto, a cerveja gelada e como era normal, o que acontece sempre quando homens estão reunidos, o assunto rapidamente migrou para futebol e política. Júlio aproveitou a chance e me convidou para caminhar com ele, para que pudesse me mostrar a chácara.
Fiquei surpreso quando ele disse seu sobrenome, pois Júlio era um dos maiores empresários do nosso estado. Um homem que empregava centenas de milhares de pessoas e era muito querido por todos. Como não o reconheci imediatamente?
Conhecer a chácara era uma desculpa para ficar a sós comigo e ele não fez rodeios:
– Por ser o mais velho e o mais experiente, e por que não, o mais bem sucedido, todos vêm a mim em busca de conselhos. Com Alex não foi diferente. Ele me contou das suas preocupações e esse encontro acabou sendo ideia da minha esposa.
Ele colocou a mão no meu ombro, uma tática comum em negócios, feita para relaxar e criar intimidade, e foi direto:
– Sei que isso começa com sua esposa, mas e você? Quais são suas verdadeiras intenções? Está aqui em busca do quê?
Eu realmente não sabia o que dizer. Júlio foi mais fundo:
– Sua intenção é deixar que sua esposa conheça e se convença que a própria curiosidade não se justifica? Ou talvez, você também esteja curioso, mas não quer se expor, tendo sempre uma rota de saída pronta e alguém para culpar se as coisas derem errado?
Suas palavras eram fortes, mas ele dizia de forma honesta, para me fazer refletir, me ajudando a ter clareza. Júlio ainda tinha mais a dizer:
– Aqui temos apenas uma pequena parte do nosso grupo. Você e sua esposa são um casal muito bonito, vão fazer sucesso no meio, e assim como ela, a chance de você se deixar levar não é pequena. Seja verdadeiro consigo mesmo e eu tenho certeza de que você verá que não está imune a nada disso.
Júlio tinha razão. Desde que descobrimos sobre Alex e Carina, o sexo com minha esposa ganhou muito em qualidade. Eu tinha certeza de que ela fantasiava com Alex, assim como eu também fantasiava com Carina. A conversa com os dois, a sós, na sexta-feira à noite, me deixou bastante confuso. Eu queria testar a Laine, pedi para Carina levá-la ao limite, mas quando Alex me provocou, brincando de oferecer a noiva, internamente eu tremi na base. Será que Júlio estava, de forma discreta e respeitosa, me mostrando a minha própria hipocrisia?
Vendo que eu pensava seriamente sobre suas palavras, Júlio me orientou:
– Falando especificamente de você e sua esposa, eu vejo dois caminhos a seguir. Se você também tem curiosidade, quer ir com calma, conhecer para decidir, eu acho que deveria limitar a sua experiência a um casal conhecido, Carina e Alex talvez, já que se tornaram amigos. Ou até mesmo, Paulo e Patrícia também são boas opções.
Vendo que eu estava atento, ouvindo sem desviar os olhos, ele continuou:
– Ou se está mesmo aqui por causa da sua esposa, para testá-la e decidir se continua ou não o seu casamento, achando que esse negócio de vida liberal não é a sua praia, eu o aconselho a dar liberdade total e ver como ela reage. Pode ser doloroso esse método, mas ele lhe dará uma resposta total, sem enrolação ou joguinhos.
Enquanto caminhávamos de volta, Júlio ainda disse:
– Antes de qualquer coisa, você precisa decidir: você está se enganando? Dizendo para si mesmo que esse é apenas um desejo da sua mulher, sem se dar conta que já está envolvido e curioso sobre o nosso mundo? Só você tem a resposta.
Voltamos para perto do pessoal e Júlio mandou uma mensagem a sua esposa. Era hora de todos se juntarem. Eu ainda não tinha decidido o que fazer. Era melhor esperar por Laine.
Era pouco mais de três da tarde e as mulheres chegaram poucos minutos depois. Fui devidamente apresentado a cada uma das esposas. O dia estava agradável, apesar do sol. Alguns homens já aproveitavam a piscina. Laine veio direto até mim:
– E aí, conseguiu conversar e achar as respostas que procurava?
Senti o cheiro de álcool em sua boca quando ela me beijou. Fui honesto:
– Consegui entender muita coisa, mas preciso pensar em tudo o que ouvi.
Laine estava muito carinhosa:
– Não vai nadar? Está quente, né?
Lembrei da conversa com Júlio e sugeri:
– Se estiver a fim, vá se divertir. A água parece boa. Me junto a você depois.
Laine tirou o shortinho e a bata e todos os homens pareciam decepcionados com seu maiô comportado. Patrícia, num biquíni minúsculo, veio até nós, me deu um abraço carinhoso e disse:
– Há quanto tempo, Beto! Cada dia mais bonito.
Seu abraço foi um pouco mais demorado e apertado do que o normal, colando seu corpo ao meu. Ela se virou para Laine, emburrada ao ouvir o elogio feito a mim:
– Vou pra piscina. Vem comigo?
Laine me encarou, esperando minha reação. Paulo chegou por trás de mim, abraçando a Laine com uma intimidade que ele nunca teve e dando os tradicionais beijinhos no rosto:
– Olha você aí. Como sempre, um espetáculo.
Laine corou, aceitando seu cumprimento e o convite de Patrícia:
– Vamos sim, o Beto disse que logo vem também.
Enquanto as duas saíam, Paulo soltou sua primeira piadinha:
– Minha mulher é gostosa, mas a sua não fica atrás. Quando se decidir, lembre dos amigos.
Paulo nem me deixou responder, indo atrás das duas em direção à piscina. Achei melhor não estressar, manter a calma e observar.
Fui até a área da churrasqueira e enchi meu copo novamente, sentindo que o clima começava a mudar, pois a loira cavala, a musculosa, já se engraçava com o Lúcio, o novato franzino:
– Sua esposa me autorizou a brincar com vocês. Ela me disse também que o que Deus tirou em físico, ele compensou em outro lugar. – Sem cerimônia, ela levou a mão ao pau dele e o apertou. – Nossa! Ela falou sério.
A esposa de Lúcio, a ninfetinha, se juntou aos dois e enquanto conversavam, ela sempre me olhava com cara de safada. Me medindo de cima a baixo. Ela é uma garota bonita, não posso negar, mas eu não sinto atração por mulheres bem mais novas do que eu.
Eu comecei a observar mais atentamente a piscina e Laine, sentada na beirada, apenas com os pés na água, conversava com Paulo, Patrícia e Silvana. Ela estava um pouco acelerada na bebida. Paulo estava sempre buscando contato, acariciando os pés da Laine, ou se encostando na beirada, colado em sua coxa. Patrícia e Silvana também não perdiam a oportunidade de tirar uma casquinha da minha mulher.
Os grupinhos começavam a se formar e Alex e Carina vieram conversar comigo. Cada um sentado de um lado. Por alguns minutos a conversa foi tranquila, nada demais, mas assim que Alex se levantou para ir ao banheiro, Carina aproveitou a oportunidade e, falando ao meu ouvido, mais encostada do que o necessário, com os seios roçando meu braço e aquele biquíni mínimo, indecente, me deixando de pau duro, disse:
– Fiz o que combinamos e acho que ela entendeu o recado. Para piorar, a Patrícia, mesmo sem saber, acabou falando algumas coisas também. Posso te dizer que a curiosidade dela é genuína, mas a realidade a pegou em cheio.
Para quem via de fora, sem saber sobre o que combinei com a Carina, e na posição em que estávamos, parecia que ela estava se insinuando para mim ou até mesmo, me beijando. Ao ver a Laine me fuzilando com o olhar e todos nos encarando, percebi o que dava a entender. Tentei me afastar, mas já era tarde.
{…}
Laine:
Com a mudança de chácara, todos no mesmo ambiente, pude realmente constatar o prejuízo que eu estaria levando. Meu Beto era bonito demais, gostoso demais e nenhum daqueles homens era páreo pra ele no quesito beleza.
Falando assim, pode parecer que todos eram feios, o que não é o caso. É que Beto é realmente um em um milhão. Paulo é um homem bonito, mas sua personalidade não é grande coisa. Ele é abusado e se acha demais. Júlio, marido da Silvana, apesar de calvo, não é um homem feio. Talvez, se estivesse um pouco mais em forma … Alex é sim, muito bonito, mas é mais novo. Apesar de estar em forma impecável e termos uma grande proximidade e amizade, incluindo nisso, meu encanto e curiosidade, ele não tem o porte de Beto, o jeito másculo e que nos derrete inteira.
Pensando na sugestão de Silvana, Carina seria a escolha mais óbvia. Apesar de me deixar irritada às vezes, senti como Beto se soltou mais ao fantasiarmos com ela, o quanto ele ficou excitado e nosso sexo melhorou. Se eu me decidisse pelo caminho liberal, em estar com outro homem, Alex era a única opção para mim naquele grupo.
Antes de ir até meu marido, fui apresentada pelas meninas aos seus respectivos maridos. Quando cheguei até o Beto, trocamos um beijo e conversamos um pouco. Patrícia estava assanhada e não perdeu a oportunidade de se esfregar nele. Ela depois me chamou para a piscina. Silvana se juntou a nós e Paulo logo depois.
Eu não me sentia bem com o assédio do Paulo, sempre me tocando e se insinuando, tentando me convencer das maravilhas do mundo liberal. Achei que Patrícia colocaria um freio no marido, mas tanto ela quanto a Silvana, o encorajavam. Pensei em voltar para junto do Beto, mas quando me preparava para sair da piscina Carina estava grudada nele, só faltando esfregar a xoxota em sua cara, cheia de intimidades, conversando ao pé do ouvido, toda risonha. Que porra estava acontecendo lá? Será que Beto, ao ver a atitude de Paulo comigo, não percebeu meu desconforto e, achando que eu estava aceitando sua aproximação, resolveu tocar o foda-se?
Fiquei muito chateada, me levantando apressadamente e quase caindo, sentindo o efeito da bebida. Me senti uma idiota, pois Carina deixou bem claro o seu interesse no meu marido e estava indo com tudo para cima. Burra eu, por ter me aberto e dado a ela a oportunidade.
Perguntei à Silvana onde era o banheiro e assim que ela apontou a direção, nem olhei para o lado, andando apressada, esperando que o Beto se ligasse e viesse atrás de mim. Lavei o rosto, tentando recuperar a calma, mas me sentindo traída, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
Para a minha surpresa, não foi o Beto que veio atrás de mim, mas a sonsa da Carina:
– Tudo bem? Você quase caiu ao sair da piscina.
Explodi:
– Tudo bem, uma ova. Você não vale nada, se aproveitando da situação, das nossas dúvidas, para se jogar pra cima do meu marido.
Carina me olhava incrédula:
– Tá maluca? De onde você tirou isso? Estávamos apenas conversando …
Enxuguei o rosto e sai do banheiro, deixando Carina falando sozinha. Peguei outra taça de vinho e virei de uma vez. E depois outra. Beto, enfim, veio falar comigo:
– Acho melhor você parar de beber. Quase caiu lá na piscina, vai acabar passando mal.
Olhei para ele com raiva, decepcionada, não acreditando em sua atitude. Saí de perto dele também e só então me dei conta do que acontecia ao redor: alguns casais trocados se pegavam. O novinho, Daniela e a ninfeta. O marido de Daniela estava ao lado, apenas assistindo. Silvana e Gabriela também se beijavam, com os maridos ao lado, conversando. Patrícia e Carina conversavam próximas ao banheiro, me olhando. Tenho certeza de que elas estavam falando sobre mim, combinando de quem iria pegar o Beto primeiro.
Beto me conhece e sabe que vir atrás de mim seria pior. Eu não sabia o que fazer, estava arrasada, minha vontade era ir embora, me afastar de tudo aquilo ali. Pensei em chamar um carro de aplicativo, mas Alex se aproximou:
– O que aconteceu, você está bem?
Beto estava parado onde eu o deixei, apenas me observando. Pedi ao Alex para me acompanhar, dar uma caminhada comigo, para que eu pudesse respirar e tentar me acalmar.
Caminhamos por uns quinze minutos e descemos uma pequena trilha, chegando a um coreto em frente a um riacho. Nos sentamos e eu perguntei:
– Me conte a verdade. Carina está tão a fim do Beto assim? A ponto de ficar se jogando pra cima dele no meio de todo mundo?
Alex tentou defendê-la:
– Não foi isso o que aconteceu, você está …
Muito nervosa, eu o interrompi:
– Eu sei muito bem que eu vi, não tente me fazer passar por louca. Ela não respeitou o meu relacionamento, ela sabe que eu não estou pronta para isso.
Mais uma vez, Alex tentou:
– Eu sei o que pareceu, mas eles estavam apenas conversando. Você não acredita em mim?
É claro que ele iria defender a noiva, mas eu não iria ser facilmente enganada:
– Por que vocês resolveram nos ajudar? Depois de tentar tanto me demover da ideia, qual o objetivo da Carina? – Senti que minha língua já enrolava um pouco.
Sorrindo, Alex tentava ser paciente:
– Vocês pediram ajuda. Só estamos fazendo o que vocês nos pediram.
Me sentindo pra baixo, feia, tentei apelar:
– Você me acha bonita? Se eu fosse uma liberal, transaria comigo? Se Beto e Carina se querem tanto, por que nós também não podemos?
Alex sentiu a pressão:
– Claro que você é bonita. Bonita demais até. Você é linda. Mas você está confusa e eu jamais aproveitaria de alguém no seu estado.
“Meu estado? O que ele queria dizer com isso?” Pensei. Apesar de um pouco bêbada, eu estava no controle das minhas ações. Insisti, tentando seduzi-lo, sem entender por que pensava em machucar o Beto e a Carina:
– Vai falar que você nunca me quis? Desde o primeiro dia, eu percebi como você me olha, como está sempre pronto a me ajudar. Eu sei que você quer, tanto quanto eu.
O pegando de surpresa, sem dar tempo para ele reagir, o beijei.
{…}
Beto:
Laine só podia estar de brincadeira. Ela é fraca para a bebida e estava vendo coisa onde não existia. Deixei que Carina fosse atrás dela, mas logo que entrou no banheiro, um minuto depois, Laine saiu brava, pisando duro. Ela foi até a adega climatizada, uma espécie de geladeira pequena, e abriu uma garrafa de vinho, virando três taças em poucos minutos. Achei que era hora de agir, me aproximando dela e a repreendendo:
– Acho melhor você parar de beber. Quase caiu lá na piscina, vai acabar passando mal.
Laine me olhou irada, com os olhos marejados e se afastou de mim. Resolvi esperar um pouco, conheço minha esposa e sei que o confronto não serviria para nada. Solícito, Alex disse:
– Deixa que eu vou falar com ela. Quem sabe, ela me ouve?
Entretidos em seus grupinhos, a maioria das pessoas ainda não tinha percebido o que estava acontecendo. Carina e Patrícia conversavam a poucos metros de mim. Carina tentava se defender:
– Laine tá muito brava, acho que bebeu demais e está vendo coisa que não existe.
Patrícia não foi na dela:
– Desculpa amiga, mas quando eu olhei, parecia que vocês estavam se beijando. Você estava praticamente no colo do Beto.
Carina protestou:
– Tu me conhece. Tá doida? Por que eu faria isso?
Patrícia ria:
– Calma! Só estou falando o que parecia.
Carina se irritou:
– Parece, mas não é. Ou não foi. Acho que eu vou atrás dela, me desculpar e contar a verdade. Alex vai acalmá-la, tenho certeza.
Preocupada, Carina se virou para mim:
– Acho que devíamos ir juntos. Vamos contar a verdade e acabar com esse mal-entendido.
Carina tinha razão, era o melhor mesmo. Descemos juntos, seguindo a mesma trilha que Laine e Alex usaram. Andamos bastante, chegando até o coreto com uma luzinha fraca, mas suficiente para que a gente pudesse ver o que acontecia: Laine e Alex se beijando. Eu disse:
– O que diabos está acontecendo aqui?
Assustados, os dois se desgrudaram.
Continua.
Consultoria e revisão: Id@
