Ao raiar de um novo dia, estou preparado para a luta do cotidiano. Em busca de combater as injustiças, trazer a tona a verdade, sempre a verdade, nada além da verdade.
Ao escutar o vídeo do meu discurso de inauguração do escritório de advocacia, fico feliz de saber que ando pelo caminho certo. São 10h de uma segunda-feira, quando escuto batidas na minha sala.
- Com licença. Telefone para o Sr.
- Quem é?
- Estabelecimento prisional de Lisboa.
- Marcos - pensei
- Posso passar a ligação?
- Sim, por favor.
Passaram-se 2 anos desde o episódio mais tenso da nossa história. Ele estava na prisão aguardando o julgamento, marcado para Outubro.
- Marcos, é você?
- Sim, Gabriel.
- Como vai meu amor?
- Como você acha?! Estou enlouquecendo neste inferno. Quero a minha liberdade, porra. Sou inocente, será que ninguém enxerga a realidade? O que você está fazendo para me ajudar a sair daqui?
- Marcos, já fiz inúmeros pedidos à justiça, pressionei a polícia na investigação. Você mesmo disse que eles estão comprados, lembra?
- Mas aquela droga não era minha, muito menos aquele dinheiro. Foi plantada na minha casa.
- Eu acredito, amor
- E daí? Caralho quero que encontre meios para me arrancar daqui, você entendeu?
- Calma, estou pedindo essa semana, liberdade provisória.
- Caralho, provisória?! Estou a ponto de ser condenado por algo que não fiz. AAAAAAAAAAAA.
De repente, ouço batidas fortes, choro e o desespero de Marcos.
- Calma, amor. Estou aqui pra você. Sempre.
- Por tudo o que é mais sagrado, faz o que for necessário pra me tirar daqui. Tenta conversar com alguém para me ajudar a fugir.
- Aí vai ser pior. Vamos seguir os trâmites da justiça. É mel…
Marcos desliga o telefone.
Entendi a extrema necessidade de voltar a Portugal, acompanhar o processo mais de perto. O estado mental dele piorou nos últimos tempos.
Reservei a passagem e me programei para ir no final do mês. Quando o dia chegou, a caminho do aeroporto, exatamente no meio do saguão lotado, uma senhora misteriosa vem na minha direção, toma-me pela mão e diz:
- A resposta está no Desejo!
- O que isso significa? Explica.
- A resposta está no Desejo!
Saiu andando até desaparecer.
Aquela mensagem ficou a viagem inteira martelando. Que raio de Desejo era aquele? Será que ela não me confundiu com outra pessoa?!
Ao chegar em Lisboa, me dirigi à delegacia. O ambiente era burocrático. Funcionários andando de lá pra cá, cheios de papéis e celulares.
- Bom dia. O delegado Francisco Xavier está?
- Sim, e você é quem?
- Gabriel Campos Costa, advogado de Marcos Almeida da Silva.
- Ah, o delegado te aguarda na sala.
Obrigado
Ao adentrar, vejo um homem másculo, similar ao Henry Cavill. Ele olhava fixamente pra mim, como se quisesse me comer naquela mesa.
- Gabriel, muito prazer. Me chamo Sérgio Carvalho.
- Vou entrar com o pedido de liberdade provisória para Marcos Almeida.
- Interessante!
- Por quê?
- Tinha um monte de drogas e dinheiro escondido na casa dele. É óbvio que….
- O sr só vai fazer o SEU trabalho direitinho.
- Sempre fiz e sempre vou fazer.
- Desculpe, estou preocupado com a falta de informações, provas para nos ajudar.
- Ajudar no que? Como inocentar alguém que tinha 15 kg de cocaína e 50 mil euros em casa?
- Ele trabalhava como entregador; não ganhava nem 4000 euros por mês. Como teria essa grana e ainda uma quantidade de droga dessa sem vestígios de fabricação na casa? Esse caso não parece óbvio demais?
A cara de sonso dele me irritava pra caralho. Tava claro que era mais um do esquema de corrupção. Tempo perdido.
Resolvi ir à prisão, visitar meu amor. Ao sair do hotel, sou seguido por uma sombra familiar.
- Podemos conversar? Acho que fui rude com você.
- Olá! Pode falar rapidamente, pois estou com pressa.
- Só quero tirar essa má impressão de mim, mostrar a real face. Gostei do seu senso de justiça, são poucos os que possuem a sua paixão pela verdade. Topa jantar hoje, às 20h?
- Tudo bem, onde?
- No restaurante Destino.
- Acho que conheço esse. É na esquina da casa do Marcos, certo?
- Sim, exatamente.
- Combinado. Te vejo lá.
- Até mais.
Me dirijo a prisão, na rua Marquês da fronteira, número 54. Passo pela revista e ao me vestir, ouço sirenes. Guardas correndo em direção ao pátio e as celas.
- Peguem eles, incompetentes! - gritava o diretor do presídio!
- Eles escalaram os muros e se esconderam na mata fechada.
- Eles quem?
- Afonso Braga e Marcos Almeida da Silva.
<(Continua no próximo capítulo)>