Acasos #2

Da série Acasos
Um conto erótico de Patrícia
Categoria: Lésbicas
Contém 1566 palavras
Data: 06/11/2023 14:13:00
Última revisão: 28/12/2024 23:51:45

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Meus dias ali naquele hospital seguiam, e não estava nada fácil para mim. Não tinha muito o que fazer a não ser dormir, comer e olhar para o teto. Algumas vezes, aparecia uma enfermeira ou outra para me dar meus remédios e trocar os curativos da minha cirurgia. Minha costela já não doía mais e eu já conseguia me movimentar e tomar banho sozinha.

Eu tinha dificuldades para dormir. Ficava lembrando da Jéssica e dos momentos que passei ao lado dela. Era difícil acreditar que eu nunca mais iria vê-la. Perguntei a uma enfermeira se havia como ela conseguir informações sobre ela para mim. Talvez, por milagre, ela estivesse viva. Davi disse que ela estava morta, e eu vi de longe o corpo dela imóvel no chão, mas não tinha certeza absoluta de que ela realmente tinha morrido.

A enfermeira me contou no outro dia que Jéssica foi trazida para o mesmo hospital em que estávamos, mas que, infelizmente, ela já chegou aqui morta. Ela levou um tiro na cabeça e não iria me dar detalhes porque era algo muito triste. Era melhor eu rezar pela alma dela e não procurar mais saber como foi que ela morreu.

Agradeci e comecei a chorar. Provavelmente foi um tiro de fuzil, porque eu senti a mão dela se soltando da minha. Se foi na cabeça, provavelmente ela ficou irreconhecível. Por isso Davi não quis deixar eu ver. A vida realmente era cruel comigo; não sei o que fiz de errado para merecer tanta desgraça de uma vez.

Depois de sete dias, tiraram os pontos da minha cirurgia. Eu já estava praticamente bem; acho que só queriam que eu recuperasse mais um pouco minhas forças. Estava bem magra quando acordei e não tinha forças para quase nada. Na primeira vez que levantei da cama, quase caí, mas agora já andava sem dificuldades.

Eu já tinha até me esquecido do policial, mas no décimo dia ele apareceu. Tinha um rosto, vamos dizer, amigável; não era daqueles policiais com a cara fechada e, como usava uma roupa normal, achei menos intimidador. Assim que se aproximou, perguntou como eu estava me sentindo. Eu respondi e ele disse que torceu muito pela minha recuperação.

Me contou que eu dei muita sorte porque meu amigo achou os policiais e pediu ajuda. Perguntei exatamente o que tinha acontecido. Ele disse que foi uma guerra pelo comando da favela e que a polícia subiu para tentar conter os traficantes. Mas, infelizmente, quando a polícia chegou, foi recebida a bala e demorou para as coisas se acalmarem. Muita gente morreu e houve vários feridos, e eu só não morri porque estava perto de um local que a polícia já tinha contido o conflito, e meu amigo conseguiu me trazer nos braços até onde eles estavam.

Ele disse que ajudou nos primeiros socorros e me trouxeram na viatura mesmo para o hospital. Achou que eu não ia sobreviver, mas que, graças a Deus, ele estava enganado. Não sei por que, mas vi sinceridade nos olhos dele; aquele policial realmente parecia ter se preocupado comigo.

Ele disse que precisava do meu depoimento, que eu podia dar ali no hospital ou ser encaminhada até uma delegacia. Eu disse que preferia ali no hospital mesmo. Ele me explicou que meu depoimento seria gravado e já ligou um pequeno gravador. Perguntou meu nome completo e eu falei; não ia mentir, já que estava com minha carteira no bolso quando levei o tiro e, provavelmente, ela foi encontrada pela polícia ou no hospital. Ele pediu para eu contar o que aconteceu naquela noite.

Eu contei tudo a ele com detalhes, mas não mencionei que Davi e Rogério, meu cunhado, estavam armados. Também me referi a Jéssica como minha amiga e não como minha namorada; geralmente, as pessoas não reagem bem ao saber que duas mulheres namoram, então preferi ocultar esse detalhe.

Quando terminei, ele perguntou se eu queria acrescentar algo e eu disse que não. Ele foi me mostrando algumas fotos e perguntando se eu conhecia as pessoas. Eram todos meus conhecidos; um era o chefe do tráfico e os outros trabalhavam com ele. Eu disse que conhecia de vista, que já tinha visto eles na favela, mas não tinha amizade com eles e nem sabia o que faziam da vida, mas sempre os via ali no morro.

Ele guardou as fotos e desligou o gravador, dizendo que tinha terminado. O que a gente fosse conversar dali para frente seria extraoficial, então ia ficar só entre nós. Ele me mostrou algumas fotos minhas junto com Jéssica na porta de uma boate onde a gente vendia drogas, outras na porta de uma universidade e várias fotos minhas vendendo drogas e com o chefe do tráfico na casa dele no morro durante alguns churrascos que a gente ia. Eu gelei na hora.

Ele me olhou e perguntou se eu tinha algo a dizer sobre aquilo. Eu só balancei a cabeça negativamente. Ele disse que sabia quem eu era, que eu era bem famosa naquele morro e na área que meu chefe comandava. Disse que sabia que Jéssica não era minha amiga, e sim minha namorada, e que estava investigando a gente há alguns meses.

Me contou que ligou para meu pai e ele simplesmente falou que não tinha nada a ver com a minha vida depois que eu fugi de casa. Nessa hora, me deu muita raiva, mas procurei não demonstrar. Ele disse que não entendia como uma garota jovem, bonita e de uma boa família tinha ido parar na favela e se tornado traficante de drogas.

Disse que eu tinha tudo para ser alguém na vida, porque minha família era muito rica. Meu pai, além de rico, era muito influente na cidade, e eu poderia ter escolhido outra opção para minha vida, já que vinha de uma boa família.

Ele perguntou de novo se eu tinha algo a dizer, e eu novamente afirmei com a cabeça que não. Aí ele falou que ficou muito intrigado comigo, que queria saber da minha história, mas a verdade. Ele falou que queria um motivo para não entregar aquelas fotos para o chefe dele, porque não queria acabar com a minha vida, mas que precisava de um motivo para fazer isso.

Eu gelei de novo; se ele entregasse aquelas fotos para o chefe dele, com certeza as chances de eu ser presa por tráfico eram enormes. Aquelas fotos eram provas suficientes para me condenar. Eu não sabia o que fazer, me bateu o desespero e eu comecei a chorar.

Ele disse que era para eu me acalmar, que ele iria embora e deixaria eu pensar com calma, que só estava tentando me ajudar. Falou também que nem adiantava eu pensar em fugir, porque havia mais criminosos nos quartos daquela ala do hospital e o corredor estava cheio de policiais. Ninguém entrava ou saía dali sem autorização dele.

Ele se foi e eu fiquei ali sem saber o que fazer. Não queria ser presa, mas não queria falar da minha vida para um estranho. Eu tinha dificuldades em falar da minha vida até com pessoas que eu tinha intimidade; imagina para alguém em quem eu não confiava! Qual era a desse policial querendo saber da minha vida?!

Era estranho. Qualquer outro policial teria me entregado há muito tempo, mas, por algum motivo, ele não tinha feito isso. Mas iria fazer se eu não desse um motivo para ele mudar de ideia, como ele disse. Mas que motivo eu iria dar? Dizer que estava arrependida? Isso era até verdade, mas é o que todo criminoso fala quando é pego.

Bom, ele provavelmente iria voltar só no outro dia, então eu tinha que pensar no que fazer. Achei melhor esfriar a cabeça para pensar melhor: contar minha história para ele ou correr o risco enorme de passar meus próximos anos atrás das grades?!

Pensei e pensei, mas não cheguei a uma conclusão do que fazer. Dormi mal a noite por causa disso e ainda não tinha uma decisão tomada até que ele entrou no meu quarto e abriu um pequeno sorriso. Veio até mim e perguntou como eu estava. Depois, perguntou se eu tinha resolvido se ia contar a verdade ou não. Eu disse que ainda não sabia. Ele disse que tudo bem, que ia embora e não iria mais me chatear, mas que só queria me ajudar. Mas, como eu não queria fazer isso, ele não iria insistir. Ele se levantou e eu pedi para ele esperar.

Perguntei a ele por que estava fazendo aquilo. Qual o motivo dele querer me ajudar ou saber a minha história? Ele me disse que me viu quase morta nos braços dele e que ver uma garota como eu naquela situação mexeu com ele, além dos outros jovens que ele viu mortos ou feridos ali no morro.

Mais uma vez, vi sinceridade nos olhos dele e resolvi contar tudo a ele. Disse que só diria se fosse extraoficial e se ele me desse a palavra dele de que o que eu contasse nunca iria sair de dentro daquele quarto. Ele concordou comigo e prometeu que não iria jamais contar nada a ninguém.

Respirei fundo e resolvi contar minha história a ele. Eu sabia que ia ser complicado relembrar o que passei, porque era algo que me machucava muito, até porque era muito recente. Mas eu não via outra saída.

Continua...

Criação: Forrest_gump

Revisão: Whisper

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 391Seguidores: 87Seguindo: 62Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

Foto de perfil de Jubs Oliver

Tô confiando no policial, acho q ele vai ser um bom amg, já poderia ter acabado c a vida dela

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Foto de perfil de Paulo Taxista MG

Oba mais um capítulo, será que ele tá ajudando mesmo ela, lu isso é só uma forma de fazer ela contar toda a verdade.

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