Acasos #3

Da série Acasos
Um conto erótico de Patrícia
Categoria: Homossexual
Contém 1908 palavras
Data: 07/11/2023 14:32:57
Última revisão: 28/12/2024 23:55:05

Pedi para o policial sentar novamente, e ele se sentou. Disse a ele que iria contar tudo e pedi para ele não me interromper. Ele concordou.

Patrícia —Como você sabe, eu nasci em uma família rica. Sempre tive tudo que quis. Meu pai e minha mãe sempre me deram tudo, mas nunca foram muito presentes na minha vida. Eu praticamente fui criada por empregados da minha casa. Não sei se foi por isso, mas sempre fui muito calada; desde criança, eu era assim.

Por eu ser quieta e ficar no meu canto, nunca tive amigos. Conversava com algumas pessoas, mas amigos de verdade eu nunca tive, e provavelmente isso era culpa minha. Sempre fui ótima nos estudos. Por não ter com quem conversar e não gostar de sair, passava horas e horas lendo e estudando. Meus pais gostavam, já que eu não dava trabalho e sempre tirava as melhores notas.

No colegial, descobri que gostava de garotas e não de garotos. Foi muito difícil. Cresci ouvindo que aquilo era errado, mas com o tempo me aceitei, embora nunca tenha contado a ninguém. No penúltimo ano do colegial, entrou uma garota nova na minha sala. Acabamos nos aproximando por causa de um trabalho que fizemos juntas.

Ela era linda e muito gente boa comigo. Começamos a conversar direto, e um belo dia ela me disse que estava gostando de mim. Eu também gostava dela, e começamos um namoro escondido. Tomávamos muito cuidado para que ninguém descobrisse, pois a família dela também não sabia.

Nosso namoro ia bem. Sempre dava um jeito de ficar juntas: na escola, na minha casa, na casa dela. Mas um dia, na minha casa, esquecemos de trancar a porta do meu quarto. Nunca tínhamos transado, mas já rolavam algumas carícias mais íntimas. Nesse dia, ela estava deitada sobre mim na cama, me beijando, e minha mãe, que nunca ficava em casa, resolveu aparecer e abriu a porta do meu quarto.

Ela nos pegou juntas e fez o maior escândalo. Me xingou, expulsou minha namorada de casa, quase me agrediu, mas consegui escapar dos tapas que ela tentou acertar. O pior ainda estava por vir. Ela ligou para meu pai e contou o que estava acontecendo. Ele chegou em casa no fim do dia, entrou no meu quarto, me pegou pelos cabelos e me arrastou até o portão da casa, jogando-me na rua.

Disse que eu não era mais sua filha e que, a partir daquele dia, eu não era mais bem-vinda naquela casa; que era para eu sumir da vida dele. Me xingou de um monte de nomes que não vale a pena repetir e voltou para dentro de casa.

Eu não sabia o que fazer. Só tinha a roupa do corpo, minha carteira com 5 reais e meus documentos. Nem meu celular ele deixou eu pegar. Não tinha para onde ir, não tinha amigos, e não podia ir atrás da minha namorada, porque com certeza meu pai já tinha ligado para a família dela e provavelmente ela estava com problemas também.

Não tinha ninguém da família na cidade para pedir ajuda. Saí de lá sem rumo, desesperada. Andei até minhas pernas doerem. Já era noite e havia poucas pessoas na rua. Não sabia que horas eram, mas provavelmente já era bem tarde. Meus olhos estavam ardendo de tanto chorar. Não fazia ideia de onde estava e, quando fui tentar olhar ao redor, percebi que estava em uma avenida com poucas lojas. Era meio escuro e vi que estava perto de alguns morros, nas proximidades de algumas favelas. Eu precisava sair dali.

Olhei logo à frente e vi algumas pessoas: um rapaz e uma moça encostados em um muro em uma esquina. A moça era uma mulata de cabelo bem curto e o rapaz, loiro, tinha algumas tatuagens no braço. Eles falavam com dois rapazes muito bem vestidos, com certeza ricos. Logo pegaram algo com a moça e vieram na minha direção. Resolvi pedir ajuda, pois estava realmente desesperada.

Eles atravessaram a rua e fui até eles, chamando a atenção de um. Ele parou e eu perguntei se poderia me ajudar. Expliquei que meu pai me colocara para fora de casa e que eu não tinha dinheiro nem para onde ir. Ele era um rapaz bonito, muito bem vestido e parecia confiável.

Ele pediu para o outro esperar e disse que iria me ajudar, chamando-me para ir com ele. Alcançamos o outro e seguimos alguns passos até chegar à entrada de um lote vago. Eles disseram que só iam pegar algo e já voltavam, mas achei aquilo muito estranho. Falei que tudo bem, que me viraria sozinha, e tentei sair, mas o rapaz me segurou e me puxou com ele. Dei um grito, mas ele tampou minha boca e começou a me arrastar, dizendo para eu ficar quieta, que eu iria gostar de me divertir com eles. Achei que ali seria meu fim; eram dois e muito mais fortes que eu. Provavelmente, eu seria estuprada ali e ninguém veria, já que não havia casas perto.

Eles começaram a passar a mão pelo meu corpo. Um me segurava por trás e tampava minha boca, enquanto o outro começou a desabotoar minha calça. Ele desceu minha calça e minha calcinha até os joelhos, praticamente rasgou minha blusa e levantou meu sutiã. Quando ele foi levar a mão nos meus seios, vi alguém chegar atrás dele e colocar uma arma na sua nuca. Era o rapaz loiro que eu tinha visto, e a garota também estava com ele. O rapaz que me segurava me soltou e disse que só estava se divertindo, pedindo desculpas. A garota foi até ele e deu um soco no nariz dele, fazendo-o cair. Ela foi até o outro, que estava sob a mira da arma, e deu um chute bem no meio das pernas dele. Ele caiu no chão gritando de dor.

A garota veio até mim e perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim. Ela tirou uma blusa de moletom que usava e me deu para vestir, pois a minha estava destruída. O rapaz deu vários chutes nos dois que estavam no chão e falou um monte para eles, mas eu nem prestava atenção. Estava apavorada com tudo aquilo. A garota, vendo meu estado, veio e me abraçou, dizendo que ia ficar tudo bem. Senti-me protegida no abraço dela. Agarrei-me a ela e chorei muito. Ela se soltou de mim, pegou minha mão e me tirou dali, chamando o rapaz. Levou-me até onde estavam e nos sentamos no meio-fio. Ela tentou me acalmar, disse que seu nome era Jéssica e que o amigo dela se chamava Davi.

Ela perguntou o que uma patricinha estava fazendo ali naquele lugar a essa hora. Eu disse que não era patricinha, e ela sorriu. Conteitei o que tinha acontecido. Ela disse que, se eu quisesse, poderia dormir na casa dela naquela noite e que depois eu resolveria o que fazer. Eu não tinha muitas opções e resolvi aceitar.

Subimos o morro. Eu nunca tinha entrado em uma favela; tudo era novo para mim, mas evitava olhar para os lados. Havia poucas pessoas ali, mas as que estavam cumprimentavam os dois. Quando chegamos à casa dela, pude tomar um banho. Ela fez um lanche para mim, me emprestou algumas roupas e ficamos conversando o resto da noite.

Resumindo, nunca mais saí dali. Jéssica me ensinou como me comportar ali, falou sobre o que fazia da vida, me apresentou o irmão Rogério e a namorada dele, Clara. Viramos amigos, e depois era como se fôssemos uma família. O ruim é que, para ficar ali, eu precisava fazer algo para ganhar dinheiro. Não sabia trabalhar, e arrumar um emprego sem ter nem o colegial completo era quase impossível. Sobrou me prostituir, o que eu com certeza nunca faria, ou vender drogas. Eu era uma loirinha linda, alta e com um corpo muito bonito. Sabia me vestir bem, tinha uma ótima educação, e o chefe do tráfico achou o trabalho perfeito para mim: vender drogas nas faculdades e baladas da região. Todos me chamavam de Patricinha, acho que pelo meu jeito de me vestir e também por causa do meu nome.

Jéssica me ensinou a brigar; passamos horas treinando luta. Davi me ensinou a atirar, mas nunca gostei de armas. Rogério e Davi sempre nos acompanhavam nas vendas; eles eram nossos seguranças. Formávamos uma boa equipe e nos divertíamos muito, já que morávamos no mesmo lugar. Clara cuidava da casa enquanto trabalhávamos nas vendas.

Eu e Jéssica acabamos nos envolvendo. Foi com ela que fui para a cama pela primeira vez. A gente se dava bem e éramos ótimas nas vendas de drogas, mas nem eu nem ela queríamos viver o resto da vida fazendo aquilo. Então, começamos a juntar uma grana para sair dali, ter nossa casa e viver uma vida normal, quem sabe nos casar e construir uma família. O plano era sair no fim do ano. Rogério e Jéssica eram sobrinhos do patrão, e ele já tinha avisado que poderíamos ir quando quiséssemos, mas não era para contar a ninguém sobre nossa saída e sobre os negócios dele.

Clara estava grávida e também iria com a gente. Ela e Rogério iriam morar juntos. Davi ficaria; ele disse que o sonho dele era comandar o morro algum dia e que gostava daquela vida. Tudo ia bem, tínhamos uma boa grana e tudo estava correndo bem até aquela noite em que tudo aconteceu. Eu levei um tiro, Jéssica morreu e não sei o que aconteceu com Davi, Rogério e Clara.

Bom, agora estou aqui nessa cama, sem meus amigos, sem dinheiro e sem nada, e provavelmente vou ser presa. Bom, é isso que tenho para te contar.

Quando terminei de contar, o policial ficou me olhando por um tempo e perguntou o que eu iria fazer da vida quando saísse do hospital, se ele não me entregasse. Eu disse que não fazia ideia, pois não tinha nem um lugar para ir. Perguntei a ele se a favela era segura de novo. Ele disse que eu nem podia sonhar em voltar para lá, pois meu patrão foi morto e agora era outra facção que comandava o morro.

Ele me perguntou se eu tivesse um lugar para morar, mesmo que simples, o que eu faria. Eu disse que provavelmente iria procurar um trabalho e tentaria voltar a estudar. Ele me perguntou se eu não iria voltar a traficar. Eu disse que só fiz aquilo para sobreviver; nunca foi algo que eu quis ou que gostasse.

Ele disse que ia embora, resolver umas coisas e depois voltaria. Talvez teria uma proposta para me fazer, que seria boa para mim devido à situação em que me encontrava. Perguntei o que era, mas ele não quis me dizer, apenas que não era nada ilegal ou ruim.

Ele se levantou e saiu, mas parou e perguntou se eu realmente queria voltar a estudar e ter uma vida normal. Eu disse que era o que eu mais queria. Ele sorriu e saiu.

Fiquei ali pensando no que ele estava armando para mim. Não queria mais problemas. Ele me pareceu ser uma boa pessoa, mas era policial, e eu aprendi no morro que não se pode confiar em polícia. Então, fiquei com o pé atrás.

Bom, agora era esperar ele voltar e dizer o que tinha em mente. Naquela altura, só de não ir presa, já era lucro para mim.

Continua...

Criação: Forrest_gump

Revisão: Whisper

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 391Seguidores: 87Seguindo: 62Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

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Ainda é difícil pra mim acreditar q coisas assim acontecem, de filhos/ filhas serem expulsos de casa por causa da sexualidade. É totalmente sem sentido

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Só pra deixa claro quando digo sem sentido me refiro aos pais que fazem essa crueldade.

A história está ótima!

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Realmente não faz sentindo nenhum, mas infelizmente acontece até nós dias atuais 🥺

As pessoa que deviam apoiar a proteger acaba sendo as que desprezam e machuca um filho/filha por algo que não deveria fazer diferente nenhuma na relação de pais e filhos 🤷🏻‍♂️

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Estou dando uma olhada também nos contos da Jéssica, Lore e Jubs. Legal que vocês são amigos q escrevem.

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Sim,a diferença é que eu, minha esposa e a Jessica escrevemos histórias de ficção, agora a história da Lore e da Juh é uma história real, muito bonita por sinal. 🤝🏻

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Espero q você goste, Ryu! 🥰

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Li o seu primeiro texto, legal que é sua história real.

Li alguns da Lore, vocês passaram por várias dificuldades, mas são resilientes.

Bom que ela consegue narrar essas partes difíceis com leveza, e por vezes até com um toque do humor.

Parabéns a vocês!

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Ela tem o dom de ser engraçadinha mesmo, adoro isso! Fico feliz que tenha gostado e muito obrigada! 😘❤️

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Q história 🥺😢

A mãe, a tentativa de estupro, dps perde a namorada e quase morre. Coitada!

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Já pode mandar o próximo, por favor kkk

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Amanhã sem falta 🤭

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Manda um capítulo seu tbm 😍😉

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bom capitulo veremso qual proposta tem o policial

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Forrest, no início a palavra "perfurar" apareceu no lugar de "perguntar". Recomendo ajustar pra dar mais sentido à história. Abraço 😁

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Estava com um monte de erros kkkkkk já dei uma arrumada mais ou menos

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Cara, se você quiser pode até apagar esse comentário. Inclusive eu deixei separado pra você fazer isso 😃

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Puta situação bosta. Pais relapsos querendo cagar regra. É punk...

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Aquela história foi parar nessa vida de tráfico, já que não tinha pra onde ir, como diz preferiram o preconceito, mais tbm nunca foram bons pais na que ficava sozinha o tempo todo com os empregados.

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