Passei a respirar pesado e ficar vermelho.
- Calma cara, não precisa morrer não! - ele falou, rindo maldosamente.
Como eu não o suporto.
Eu acho que nunca odiei ninguém na vida, bem, acho que sempre existe a primeira vez!
Finalmente chegamos ao décimo sexto andar.
Andei apressadamente com aquele ser ao meu encalço. Logo encontrei o Sr. Martins, que parecia estar paquerando uma das estagiárias. Ele disfarçou e caminhou até mim.
- Diegão! não sei o que você fez ou disse, mas fiquei muito feliz quando meu filhão disse que queria trabalhar aqui na empresa, sob SUA supervisão! - ele disse, sorrindo.
ENTÃO FOI O FILHO DA PUTA QUE PEDIU PARA TRABALHAR COMIGO?
Ele está MESMO pedindo por guerra! Olhei para ele, depois para o chefe. Sorri forçado. Tenho certeza que ele achava que eu o dispensaria e ficaria sendo visto com maus olhos pelo pai dele. Pois ele estava muito enganado. Coloquei meu braço no ombro dele e dei um leve abraço de lado.
- Eu e o Rodrigão nos demos muito bem, Roberto! - Eu disse, e meu chefe sorriu feliz.
- Fico feliz, como já disse antes, você é uma grande influência para o Di! - Ele disse.
- Pai, você sabe que eu não gosto de ser chamado assim! - Ele disse, saindo do abraço. - e é, eu e o Di aqui nos demos muito bem! - Ele disse, sorrindo cínico.
- Di, eu não gosto de ser chamado assim! - Eu disse e ele sorriu nervoso.
Parece que inverti a situação, não é mesmo?
- Bem rapazes, vocês têm muito o que fazer, assim como eu. Deixem-me ir agora, sim? - ele falou dando tapas em nossas costas e indo em direção ao elevador. Agora éramos só nós dois indo para a sala.
- Parece que você sabe ser bem falso também. - Ele disse.
- Sei, mas espero não ter que ser muitas vezes; fingir que gosto de você é muito desagradável.
Eu disse e chegamos à minha sala. Eu abri-a com a minha chave, entramos e eu me sentei na minha cadeira. Ele ficou parado em pé, ao meu lado.
- E aí, me fala o que eu tenho que fazer! - ele disse.
- Nada; você não fará absolutamente nada! - eu falei. - Deite-se ali no sofá, tire um cochilo, talvez, vá paquerar alguma das estagiárias, faça o que você quiser, apenas não me atrapalhe! - Falei, ligando o computador.
- Mas... Ah, está bem. - ele falou e deitou-se no sofá.
Eu tinha certeza que ele dormiria. Passei a trabalhar em uns projetos, e como previ, ele estava dormindo.
Ele estava sem os sapatos, a gravata desamarrada e dormia tranquilamente no sofá, que não ficava muito longe da minha mesa.
É... Ele era mesmo bonito. Reconheço isso. Eu supervisionava a porta, porque se o Sr. Martins entrasse eu estaria ferrado! Afinal, eu tenho que ser uma ‘boa influência’ para o filhinho dele.
Eu trabalho feito louco, desenvolvo várias ideias, mas agora estava meio difícil de achar algo que eu queria. Uma ideia perfeita.
Vocês sabem quando vocês começam a pensar e focam seu olhar em algo, mas na verdade você nem está prestando atenção no que está olhando? Pois bem, vivo fazendo isso. Apoiei meu queixo em minha mão esquerda e comecei a pensar. Se eu soubesse para onde eu estava olhando com certeza não estaria olhando!
Depois de um tempo pensando cheguei onde queria.
- Perfeito! - exclamei sorridente. A ideia seria ótima!
Mas daí vi aquele ser repugnante me olhando, sorrindo cínico, como sempre.
- Olha, eu sei que sou muito bonito mesmo, mas não esperava isso vindo de você. - ele falou, se sentando, enquanto coçava os olhos.
Eu corei um pouco, afinal, não teria como falar: não estava olhando para você, estava apenas pensando. Aliás, eu não tenho que dar explicações a esse retardado! Fingi que não o ouvi e continuei trabalhando. Ele colocou os sapatos e voltou a ficar de pé ao meu lado.
Acho que ele ficaria ali até eu dar algo para ele fazer. Pelo menos o vagabundo queria fazer algo!
Ouvimos o barulho da maçaneta e logo o pai do Rodrigo, meu chefe, entrou em minha sala.
- Então filhão, indo bem? - ele perguntou.
- Bem, na verdade, até agora o... - ele começou, sorrindo.
- O Rodrigo é muito competente senhor! - falei, sorrindo. Ele riu sarcástico atrás de mim.
- Bom saber disso. E sobre aquela ideia para a o novo produto que eu dei, Diego?
- Senhor, utilizarei a minha mesmo, acho que terá uma boa reação com o público que queremos atingir.
- Diego... Eu disse que não! Você está dizendo que minha ideia não é boa o suficiente? - Ele perguntou mais sério.
-Sr. Martins, estou. Ela é comum demais, acho que precisamos de algo novo.
- Então você está dizendo que minhas ideias não são boas?
- Sr. Martins, entenda, suas ideias são boas, mas agora o bom é chato. O senhor faz coisas surpreendentes, mas não inovadoras. Com a ideia de quem aquele novo aparelho celular vendeu bastante? - perguntei, mantendo o mesmo tom de voz que uso sempre.
O Sr. Martins é uma pessoa um pouco difícil, mas eu sempre soube lidar com ele, e acho que por isso ele gosta de mim.
- Bem... Com a sua, mas...
- Mas? - eu perguntei, vitorioso.
- Se essa ideia der errado, Diegão... - ele disse, derrotado.
- Não vai! Eu garanto! - sorri a ele.
- Está bem. Vou confiar em você, aliás, eu sempre confiei e nunca me decepcionei. - ele falou. - Mas eu ainda acho que...
- Sr. Martins! - eu falei, sorrindo.
- Está bem! Agora vou deixar você trabalhar. - ele disse, saindo da sala.
Olhei para o rosto do mimadinho, ele estava boquiaberto.
- Que cara de bunda é essa? - perguntei.
- Quer dizer que você discorda dele e ele ainda sai daqui derrotado? - ele perguntou.
- Qual a surpresa?
- Bom... Eu pensei que você era um puta de um puxa saco. - ele confessou.
- Eu disse que você não me conhecia.
- Tenho que admitir que você, certinho, não é assim como eu pensei. Mas isso não muda nada entre nós, ainda não vou com a sua cara.
- Que bom, porque eu também não vou com a sua! - falei. - Ah, tome esta lista. Faça o que tem aí para mim. - eu falei.
- Me dando os serviços pequenos? - ele perguntou, em desdém.
- Se você tiver metade da capacidade do seu pai é um funcionário muito bom. São algumas das tarefas que reservei para amanhã. Realize-as com competência, se é que você tem alguma.
- Aposto que você acha que sou um burro de merda. Vou provar que você está enganado! Vou terminá-las antes mesmo do que você terminaria! - ele disse.
- Veremos! - eu falei.
Como ele tem a audácia de pensar, e falar, que pode ser melhor do que eu?
O tempo passava rápido. Uma vez eu saí da minha sala e o vi correndo que nem um louco.
Engana-se quem pensa que eu fico as 10 horas dentro da minha sala, frente ao computador!
Tenho que confessar que até que ele estava empenhado. Quem sabe ele não seja tão vagabundo assim.
Mas o que estou dizendo? Pode não ser vagabundo, mas é mimado sim!
Estava na minha sala quando ouço alguém bater.
- Pode entrar! - eu falei.
A porta se abriu e lá estava Stella, com as bochechas rosadas. Ela estava muito bonita. Usava um vestidinho meio creme, sei lá que cor era, e usava uma sandália bem feminina. Estava sem os óculos e com o cabelo escorrido sobre seus ombros. Estava realmente deslumbrante.
- Vim visitar meu irmão e... - ela começou e eu sorri. Será que ela estava nervosa por... Vocês sabem... Por gostar de mim?
- Você está muito bonita! - eu falei, sorrindo. As bochechas dela ficaram mais rosadas ainda. A porta ainda estava aberta e logo aquele ser entrou.
- Pois é, ela puxou o irmão aqui. - ele falou, abraçando-a de lado. - Vamos almoçar? - ele perguntou.
- Vamos. - ela disse.
- Eu estou com dinheiro da última apresentação da banda aqui ainda, eu pago! - ele disse, sorrindo para a garota.
Banda? Ele tinha uma banda?
- Você quer vir conosco Diego? - ela perguntou.
- Não; vou finalizar aqui. - falei.
- Mas já são duas da tarde. - ele falou.
- Normalmente almoço depois das três! - eu falei.
- Nossa. - ela disse.
- Bem, vamos comer maninha! - ele disse e puxou-a fora da sala.
Eles continuavam conversando, e eu, pela segunda vez, não sei o porquê, tentei ouvir.
- Você acha que ele gostou maninho? - ela perguntou, já fora da sala.
Eu ainda conseguia ouvir, eles pareciam estar parados, ele deveria, ou ela, pegando água.
- Você está linda, pirralha. Se ele não gostou é porque, ou é otário ou viado. Você ficou gata mesmo hein, fala a verdade, seu irmão é foda!
- Tá, tá. Valeu pelas roupas. E... Como ele é, digo, trabalhando?
- Tenho que admitir que eu entendo porque o papai baba tanto no ovo dele. O cara trabalha mesmo, peguei uma das atividades dele e estou ralando demais! Fora que ele fez o papai mudar de ideia, coisa que achei que nem Deus conseguia! Enfim... Ele é bom, mas ainda não vou com a cara dele, se você quer saber. E sei que ele me odeia, por isso vai ser divertido ficar aí enchendo o saco dele! - ele falou, rindo.
- Você nunca vai mudar! Quanto mais alguém não te suporta, mas você enche essa pessoa!
- É divertido ver as pessoas irritadas. Enfim, vamos? - Ele perguntou.
- Vamos. - ele disse.
Aí sim percebi que os dois foram de vez. Voltei a sentar-me e sorri. Então ele reconheceu que eu era bom? Menos mal. E sorri porque se ele pensa que vai ganhar, que vai me ver irritado, pois bem, ele está muito enganado!
Ele não gosta de mim, certo? Pois então quem vai se irritar é ele! Ah, ele vai ver! Vou tratá-lo normalmente, mas se ele tentar me encher, eu não ficarei com raiva, digo, não demonstrarei que estou com raiva! Ele vai ficar puto com isso! Conheço esse tipo de gente que gosta de mexer com os outros. Se não conseguem, ficam putos da vida!
Passou algum tempo e nada dele chegar. Estava quase dando três horas da tarde, eu queria sair para almoçar, mas antes queria falar com ele sobre aquilo que dei para ele fazer. Três horas e nada, ele é mesmo um irresponsável.
Era quase quatro horas quando ele entrou rindo em minha sala.
- Você demorou. - limitei-me a dizer, senão, iria xingá-lo, e eu prometi que não me irritaria.
- Eu sei que você sentiu minha falta. - ele disse, sorrindo cínico.
-Ô! Você não sabe o quanto. - falei, concentrado no que estava fazendo.
- Eu estava realizando as tarefas que você deu para eu fazer. Estou quase finalizando. - ele disse, vindo para trás de mim.
- Ah. Duvido. Fez tudo mal feito! Tem que ser criativo para essas coisas e você não me parece dotado de muita inteligência! - sorri olhando para ele, que me olhava com uma puta cara de ódio.
- Pois fique sabendo que meu QI é acima da média. Meu pai levou eu e a minha irmã para fazermos quando éramos menores, saiba que o meu deu...
- Não estou interessado em saber, não perguntei. - falei rindo.
- Não quer saber porque sabe que é maior que o seu! - ele disse e foi minha vez de gargalhar.
- Você daria um excelente comediante! - falei.
- Como você é patético. Está com medo de ser pior e fica desdenhando.
- Sabe quando você será melhor que eu? Nunca! - eu falei.
- Agora você que está dando um ótimo comediante. - ele disse, sorrindo. Eu estava com a cabeça inclinada agora só para olhar para o rosto dele. Ele sorria cinicamente.
- Como você é ridículo.
- Ah, você está bravo porque eu não te beijei aquele dia, assuma! - ele falou. Eu calei minha boca.
- Ah é, eu queria muito um beijo! - falei irônico.
Voltei a fazer o que eu estava fazendo, mas ele continuou. Ele colocou as mãos em meu ombro e começou a falar em meu ouvido.
- Não minta para mim ou para você mesmo. Fala comigo: “eu sou um viadinho”. Fala. - ele disse, sussurrando.
Por mais que o que ele estivesse falando fosse repugnante, a voz dele ali fez com que todos os fios da minha nuca se arrepiassem. Eu me levantei, e fui para o outro lado.
- Que foi, medo de não resistir? - ele perguntou.
- Não, tenho que almoçar, já passou da minha hora. E até então quem fica encostando em mim é você, não o contrário. Aposto que você não vê a hora de eu falar que sou gay para falar que é também. Pena que isso não vai acontecer, porque você é o único viado daqui! - falei, sorrindo do mesmo jeito que ele sorri sempre.
- Se eu fosse gay eu me aceitaria de boa, não vejo nada de errado nisso. Não sou igual a você que É gay e fica se renegando. Você é fraco, certinho demais. Aposto que vive para trabalhar. Nem deve se divertir.
Ele começou a se aproximar. Ele estava com a chave da sala em suas mãos. Eu fui recuando até encostar-me na porta. E por que eu esqueci a chave na mesa?
- Eu já disse que você não sabe nada de mim!
- Por que está recuando? Está com medo de mim por acaso, Di?
- Não Di, é medo de você me beijar mesmo.
- É medo de gostar.
- Não, medo de você gostar e querer mais! - falei.
Ele ainda sorria esperto.
Eu já não tinha tanta autoconfiança assim. Eu não vou com a cara dele, mas se eu não ia gostar de beijá-lo... Não tinha tanta certeza assim.
MAS QUE PORRA! Eu sei que não gosto de homem, caralho! Nunca gostei, por que isso agora?
CONTINUA….