Sabe quando você entra em um lugar ressabiado e desconfiado. Esse era eu naquele momento. Quando entrei na sala, logo identifiquei cinco pessoas. Minha esposa, com uma aparência péssima, minha filha ao lado dela em um sofá com cara de “Que porra está acontecendo”, meu sogro e minha sogra no sofá em frente e a “amiga” em uma poltrona. Ainda sobrava uma última poltrona que eu imaginava que estivesse sendo reservada para mim.
Abracei fraternamente meu sogro e sogra, dei um beijo tranquilizador na testa dos dois, seguido de um forte abraço em minha filha. Dei um sorriso amarelo e um aceno com a cabeça para minha esposa e para a Monique nem olhei. Era visível meu descontentamento com sua presença.
Logo percebi que aquela noite não seria fácil. A presença de meus sogros ali sentados, me fez lembrar do dia que os conheci. Um jovem tímido, com pouca vida social, mas com muita vontade de fazer bonito para as pessoas mais importante na vida da Patrícia. A mulher que eu queria ter para sempre ao meu lado. Os pais de Patrícia me receberam de uma forma que eu já me sentia em casa logo nos primeiros minutos. Depois do jantar, de algumas conversa fiadas e de perguntas feitas ao acaso, que eu sabia que eram para me conhecer melhor, saber das minhas reais intensões com a filha e o que eu pretendia para meu futuro em termos profissionais, eu emocionado, pedi permissão para iniciar um namoro com a filha deles, que até então era uma algo como uma amizade com beijos molhados. Fui prontamente autorizado. A química com os pais dela foi impressionante. Me virei em direção a Patrícia, tirei do bolso um anel de compromisso, me ajoelhei em sua frente e falei:
-- Hoje eu te peço em namoro, mas que fique bem claro que meu objetivo é, em muito pouco tempo, torna-la minha esposa, minha companheira de vida eterna. Caso você compartilhe este mesmo sentimento e só sorrir. (Adorava o sorriso dela).
Ela não só sorriu como estendeu sua mão para que eu colocasse o anel. Me abraçou quase me sufocando, e chorando me respondeu:
-- Serei sua para sempre.
Meus sogros tiveram que intervir falando:
--Calma rapariga, vais matar o gajo.
Ela se acalmou e enxugou as lagrimas. Depois de recompostos, me despedi deles e saí com Patrícia para comemorar. A nossa química estava no ar e depois de muitos beijos a levei para casa, já que morava sozinho. Meus pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha 19 anos. Desde então, como era filho único, morava sozinho na casa que herdei e que moro até hoje. Isso me fez me tornar totalmente independente ainda jovem. Nossa primeira vez não chegou a ser desastrosa, mas também não foi como a erupção do Etna. Foi recheada de amor, descobertas, novas sensações e preocupações em agradar sempre o parceiro.
Bom...após essa breve lembrança que durou poucos segundos, voltei a minha triste realidade e sabia que ainda não estava preparado. Sabia das dificuldades que enfrentaria e que meu maior inimigo naquela sala era a Monique. E logo parti par o ataque:
-- O que você está fazendo aqui????
Antes que ela tivesse tempo de se manifestar, minha esposa interviu:
-- Ela veio ver como eu estava, já que pedi dispensa do trabalho para o dia de hoje, pois não me sentia bem. E também veio me dar a notícia de que ela foi promovida e será transferida para nossa filial de Belo Horizonte. E por isso ela vai ter que se mudar no final da semana. Elais deve iniciar os trabalhos no novo local, na próxima segunda. Além, é claro, de me dar todo o apoio que eu preciso neste momento difícil de minha vida.
Na mesma hora, na minha cabeça, minhas engrenagens começaram a funcionar e meu sentido de aranha (coisa de Nerd mesmo) me despertou para algo que eu não tinha pensado ainda. Amiga incentiva e manipula esposa. Esposa dorme com Diretor. Amiga é promovida. Algumas peças soltas começaram a se encaixar e......Bummmmmm!! Uma explosão nuclear de lucidez invadiu meus pensamentos. Mas preferi disfarçar e guardar essa possível descoberta para analisar com mais calma em outra ocasião.
Resolvi dar um passo atrás para futuramente dar dez para frente e de forma quase irônica falei com um sorrido bem falso.
-- Que boa notícia, parabéns, que seja feliz. O maridão também vai?
-- No primeiro momento não, talvez ano que vem. Ela respondeu.
Soltei um som feito com a boca fechada que parecia um mugido.
-- Uhmmmmm, Entendi. Boa sorte. Completei.
Ela entendeu a referência, fechou a cara mas não disse nada.
Minha esposa tomou a palavra novamente:
-- Ela também veio me ajudar a conversar com você.
-- Ok..., mas... seus pais e Rebeca já sabem de tudo? Perguntei retoricamente, já sabendo pelas reações de dúvidas no olhar do três, que eles ainda não sabiam de nada.
-- Não, por isso chamei todos, para que existisse apenas uma versão da história e não houvesse necessidade de repetir a história dezenas de vezes. Patrícia completou.
--Em fim uma boa ideia. Alfinetei.
Patrícia então começou a relatar tudo, desde o início da doença, da amizade com Monique, das suas conversas sobre liberdade, e autoconhecimento:
-- A minha doença me deixou de muitas formas com medo de não poder desfrutar tudo o que eu tinha planejado com você e Rebeca. Neste período eu estava também preocupada com vocês, e não queria passar esse medo para que não ficassem mais agoniados do que já estavam. Foi aí que a Monique foi enviada pela empresa, para saber como eu estava e me dar todo tipo e suporte que eu precisasse. As visitas dela se tornaram constantes e uma amizade começou. Ela me confidenciava sua vida de forma que eu me desligava da minha um poco. Nessas confidencias, ela me relatou como era sua vida com seu marido. Que ele era uma pessoa formidável, mas que de alguma forma não satisfazia totalmente seus desejos sexuais e que por isso e também por medo de magoa-lo, ela se permitia ter outros homens em sua vida. Eram encontros únicos, sem laços afetivos. Só sexo. E depois ela voltava para o marido e compensava ele com orgasmos incríveis.
-- Eu sempre falava para ela que eu não tinha este problema, já que eu estava completamente satisfeita com você e que e era o melhor parceiro do mundo, tanto na vida quanto na cama. Ela então me fez uma pergunta que não soube responder. “Como você pode saber que ele é o melhor se não conheceu mais ninguém? O sexo nunca é igual, nenhum homem é igual.” Eu disse que não tinha coragem de enganar você. Mas ela soltou a bomba: “Então pede para ele.!”
-- Esse assunto se tornou constante entre nós. Ela sempre me falando sobre suas aventuras, sobre sua liberdade e que seu casamento melhorou muito. Eu sempre rejeitando essa ideia para minha vida. Em um belo dia ela me falou sobre o Marcelo. Ele era um Diretor divorciado que eu pouco tinha contato e que estaria se mudando para a filial do Japão em pouco tempo. Ela me falou que ele era fissurado por mim e que só não me abordou até hoje devido as regras da empresa e em respeito ao meu casamento. Eu falei para ela que ele não tinha nada na sua aparência que me atraísse. Ela me criticou, me falando que era só sexo e não casamento. Que seria uma única vez. Apenas para aplacar a curiosidade e ele era a pessoa perfeita para isso.
-- Quando eu recebi alta, e começamos a fazer planos de viagem, eu me perguntei. O que me garante que minha doença não vai voltar? Então tomei minha decisão. Ia me permitir sanar essa curiosidade. Mas precisaria antes combinar com o Marcelo e explicar como seria. Para que não houvessem cobranças futuras. Eu não tinha a menor ideia de como fazer isso. Também precisava informar e pedir autorização a você. Nunca tomamos decisões sozinhos e não seria desta vez que eu tomaria. Monique me orientou como proceder com você e disse que com o Marcelo ela resolveria. A minha parte com você não preciso detalhar, apenas segui o roteiro que ela me passou. A parte com o Marcelo, ela resolveu. Dia, local, hora, regras, etc. Ela me falou que Marcelo queria algo mais que apenas uma noite, mas Monique o informou que era daquela forma ou nada. Ele apenas impôs uma condição. Que naquele dia eu deveria me portar como a namoradinha dele. Eu concordei, mas somente após todos os presentes tivessem saído do evento, pois não queria ouvir piadinhas sobre mim e nem sujeitar você a humilhações descabidas.
-- Tudo acertado com ele, faltava você. No dia que te fiz a proposta, percebi que seria difícil de te convencer. No dia seguinte pela manhã, liguei para Monique e ela me orientou a mudar de estratégia. Eu deveria tomar as rédeas de tudo e tirar a responsabilidade dos seus ombros. Era dessa forma ou não funcionaria e eu viveria não dúvida para o resto da vida.
-- Não quero que culpe Monique, ela pode ter plantado a semente e adunado, mas quem regou a ideia foi eu.
Minha filha e meus sogros ouviam tudo assustados e incrédulos. Meus sogros pareciam que tinha comido pastel de Belém estragado, tamanho eram as caretas que faziam.
Ela continuou:
--Durante a semana procurei manter o máximo de silencio, para não estragar nada e para dar a você, tempo para digerir tudo. No dia do evento, acordei um pouco mais cedo para me arrumar e sair sem que fosse vista e assim evitar mais sofrimentos. Mas quando sai do banho e te vi olhando calado para a roupa que eu iria vestir fiquei sem saber o que falar e acabei não escolhendo bem as palavras. Aproveitei que foi para o banho, me arrumei rapidamente e sai.
-- Durante o dia pensei em desistir e até comentei isso com Monique. Mas ela me tranquilizou e disse que se o amor entre nós fosse verdadeiro, tudo ia acabar bem. Não encontrei e nem procurei o Marcelo. Nem saberia o que falar com ele. Me sentia uma noiva Hindu, com casamento arranjado, que iria conhecer o prometido naquela noite. Quanto mais isso me assustava, mas aguçava minha curiosidade. Tinha horas que eu nem me reconhecia.
- Quando estava indo para o restaurante, recusei suas ligações e respondi como pude sua mensagem, pois estava bem nervosa. Dentro do restaurante, me sentei em frente a janela que dava para a rua. Bem distante do Marcelo. Não troquei uma palavra com ele e nem olhares durante todo o jantar. Pouco tempo depois eu percebo um carro estacionando em frente ao restaurante e desligando os faróis. Iria passar desapercebido se o farol de outro carro que passava naquele momento, não tivesse iluminado o carro que acabara de estacionar. Na hora reconheci o carro como sendo o seu devido a alguns detalhes inconfundíveis. Quase enlouqueci na hora. Imaginei que a qualquer momento você entraria no estabelecimento e aprontaria um escândalo. Me preparei para o pior.
Interrompi na hora:
-- Quer dizer que me viu, soube do esforço que eu deveria ter tido para estar ali e mesmo assim não desistiu? Não pensou em ira lá fora falar com seu marido?
-- Não foi bem esta interpretação que eu fiz. Depois que percebi que você não iria entra no restaurante, me permiti pensar no único motivo que faria com que estivesse ali. Você queria sabem quem era, como era e se de alguma forma ele ameaçava nosso relacionamento. Relaxei e continuei o jantar. Quando o evento acabou, fiz questão de ser a última a sair. Quando sai, só tinha ele na calçada. Sabia que tinha dado tempo para você analisar bem o Marcelo e sabia que sua impressão dele seria de completa tranquilidade e que entenderia de uma vez por todas, que não havia sentimentos envolvidos, apenas sexo. Que ele não representaria risco ao nosso casamento. Sabia que minha razão para fazer aquilo, que era por mera curiosidade, seria aceita. Sai do restaurante, fui em direção a ele e da forma com que foi combinado, o abracei pela cintura, fui correspondida da mesma forma e saímos caminhando como namorados. Quando entrei no hotel, ainda deu tempo para dar dois passos para trás e ver o carro saindo de onde estava e seguindo o caminho para nossa casa.
-- Tanto tempo de vida e intimidade juntos e vejo que não foram o bastante para entender o que se passava dentro de mim naquele estacionamento escuro. Vejo que sua mente estava totalmente obscurecida pela sua sandice. Imaginei que tinha perdido você para o lado negro. Falei decepcionado.
Depois de ouvir tudo calada, nossa filha, ainda sentada, soltou a voz.
-- PORRA MÃE!!!VOCÊ FICOU MALUCA???PERDEU O JUIZO???TRAIU MEU PAI???QUE MERDA!!!!QUE MERDA!!!!
Ela se levantou, apontou o dedo para a mãe e continuou.
-- Se nossa família for destruída por essa merda toda que você inventou, eu nunca mais olho na sua cara.
Antes que pudéssemos falar ou fazer algo ela saiu correndo para o quarto e se trancou. Minha esposa fez menção de ir atrás dela, mas eu a impedi, dizendo que não era hora para isso. Que depois eu conversaria com ela com calma.
Meus sogros até então em silencio, resolverão falar.
-- Filhinha de Deus, o que fizeste. Falou seu Joaquim com seu sotaque Português carregado.
-- O que estavas a pensar para fazer isto. Não foste educada desta forma. Completou dona Maria.
Percebendo o silencio de Patrícia, disse o que já tinha planejado antes:
-- Meus queridos sogros. Vocês sabem do amor que sinto pelos dois. E por isso eu faço um pedido. No momento tudo isso está muito recente e não deu tempo para assimilar nada. Ainda não tomei nenhuma decisão, mas a presença de Patrícia aqui, não nos ajudará em nada. Eu olho para ela e só imagino ela nos braços de outro, isso me enoja, me irrita e me decepciona. Eu preciso de paz para absorver toda essa informação e tomar uma decisão madura e justa para todos.
--Faremos de tudo o que estiver ao nosso alcance para ajudar meus dois filhos a se entenderem. Disse Seu Joaquim.
Agora me dirigindo a Patrícia:
-- Eu acho que mereço agora um pouco de sua confiança e compreensão, e te prometo que vou colocar todas as informações que tenho na balança. Junto com elas vou pesar tudo o que passamos junto. Mas, para isso preciso ocorra da melhor forma, peço que vá com seus pais, pelo menos por alguns dias. Isso fará bem para nós dois.
Eu precisava mesmo desse tempo, não só para pensar em como minha vida iria seguir daqui para frente, mas para aproveitar e investigar melhor aquela “promoção” de Monique. Com certeza tinha caroço debaixo daquele angu.
Falando no diabo, ela, que até o momento, estava calada, se pronunciou:
-- Eu vim aqui hoje com o único propósito e dar apoio a minha amiga. Eu posso afirmar que ela sempre fez tudo o que fez, se preocupando com você. Falo mais. Ninguém aqui, passou o que ela passou. Tens que dar esse desconto a ela e na hora da balança, levar isso tudo em consideração.
Minha esposa agradeceu a ajuda da amiga se levantou dizendo:
--Eu vou, mas tenho certeza que eu volto, acredito que tudo o que passamos até hoje vai pesar muito forte nessa sua balança. Monique me ajuda a arrumar uma mala por favor.
Quando Patrícia passou por mim, ela falou bem baixinho no meu ouvido.
-- Não tenho coragem de falar pessoalmente, por isso escrevi uma carta e coloquei debaixo do seu travesseiro, narrando tudo o que aconteceu dentro do quarto do hotel. Você tem a opção de ler ou de descartar a carta, mas te garanto que caso leia, a balança jogara a meu favor. Te amo mais do que tudo na vida, não se esqueça disso.
Falou e seguiu em direção ao quarto para arrumar sua mala acompanhada de Monique. “Que bom que esse encosto vai se mudar para longe”. Pensei.
Enquanto isso, fiquei na sala tentando tranquilizar seu Joaquim e Dona Maria e prometendo para eles que independentemente do que fosse acontecer, nunca deixaria de amá-los, que nunca desampararia sua filha e seria o melhor pai do mundo. Falei que não sou homem de guardar mágoas, mas tenho meus princípios e se não os respeitar tenho certeza que serei uma pessoa amargurada para o resto da vida. Falei do amor que sentia por ela, mas que tudo o que vivi e presenciei, até em sonho, nestes últimos dias, poderiam tornar nossa vida um inferno e eu não queria isso para meu pior inimigo. Eles relaxaram.
Pouco tempo depois voltam para sala Patrícia com uma pequena mala, indicando que o que ela falou era verdade, que em breve ela voltaria e Monique ao seu lado. Senti que Monique me encarava direto, como se quisesse falar algo comigo. Poderia ser impressão, mas ela falou calmamente:
--Patrícia, vai descendo com seus pais que eu preciso ir ao banheiro. Falou e saiu caminhando em direção ao banheiro.
Me despedi de todos, observei eles saindo em direção ao carro e voltei para dentro de casa, nesse momento, Monique já estava de volta a sala, parou em frente a mim e disse que precisava falar comigo. Pensei. O que está mulher quer falar comigo que não pode falar na presença de todos? Pedi só um segundo para ela, fui no meu quarto e rapidamente liguei o gravador do celular, colocando o de volta no bolso da calça. Voltei e perguntei o que ela queria falar. Ela com uma voz bem safada disse.
-- Sei que não é fácil perdoar uma traição, sei do dilema que está passando. Mas te falo uma coisa, nada melhor para se resolver isso do que um belo troco. Posso te ajudar isso. Eu posso te dar uma noite inesquecível. Tenho certeza que sairás na vantagem.
Sem eu esperar me deu um selinho de surpresa, ao mesmo tempo que passava a mão pelo meu pau e saiu se requebrando toda. Por último, olhou para trás, piscou um olho para mim e fez um sinal com o dedo mindinho próximo da boca e o polegar próximo ao ouvido, sussurrando:
--Me liga....
Que vadia... pensei perplexo.
A coisa estava complexa. Agora eu tinha uma traição, uma carta, uma promoção e uma gravação para analisar e saber o que fazer com tudo isso. Além disso um emprego, uma filha revoltada e uma casa para administrar sozinho, pelo menos por enquanto. A semana prometia e eu sabia que ela seria bem complexa.
Após todos saírem fui para o meu quarto, levantei o travesseiro e vi a carta dobrada. Em um lado da dobra uma frase com a letra de Patrícia que mais parecia um lamento. “Por favor, por nós, leia.” Algo me dizia para rasgar a carta, mas pense que quanto mais evidencias mais fácil seria minha decisão.
A carta começava assim:
“Meu amor....
Continua....