“Meu amor, me desculpe a covardia de ter que escrever esta carta, não conseguiria olhar nos seus olhos e narrar o que pode ter sido a única e última burrada de minha vida.
Vou iniciar esta carta a partir do momento que entrei abraçada no hotel com o Marcelo. O que aconteceu antes eu planejei contar em uma reunião com nossa filha, meus pais e a Monique. Espero que tenha conseguido falar o que precisava nesta reunião.
No momento que entramos no hotel nos dirigimos a recepção e fomos encaminhados para nosso quarto. Por incrível que pareça, ainda não tínhamos trocado uma palavra. Eu extremamente nervosa e ele muito ansioso. Quando chegamos na porta, ele abriu e de forma gentil segurou para eu entrar na frente. Olhei para o frigobar e não perdi tempo. Precisava de uma bebida para relaxar. Abri e peguei a primeira bebida que achei. Uma mini garrafa de Whisky. Bebi quase tudo de uma vez. Senti aquele liquido descer pela garganta e respirei bem fundo. Foi quando ele falou que eu estava nervosa e me convidou para sentar em uma cadeira confortável próxima a uma bela mesa de vidro. Eu sentei, ele sentou em frente a mim e falou que eu era linda, que sempre me admirou e que faria de tudo para que esta noite fosse perfeita.
Ele então se levantou e veio por trás de mim e começou a massagear meus ombros. O efeito da bebida já começava a fazer efeito e junto da massagem eu comecei a relaxar. Fechei os olhos e imaginei você me massageando, mas fui despertada quando ele chegou se abaixou levemente e beijou minha nuca. Eu pude sentir um perfume diferente do que você usa. Esse beijo não surtiu nenhum efeito em mim, não me arrepiei. Achei estranho, porque com você, me arrepio antes de ser tocada. Ele então me levantou suavemente, me virou de frente para ele e me beijou. Um beijo meio afoito meio desajeitado. Durou poucos segundos e eu ainda me sentia fria. Não senti aquela humidade que sinto quando te beijo.
Achei que ainda cabia mais uma bebida. Ainda não me sentia relaxada o suficiente. Peguei mais uma mini garrafa sem ao menos olhar e fiz igual. Desceu rasgando dessa vez. Quando percebi era Vodka. Ele mais uma vez se aproximou por trás me acariciando os ombros e descendo pelos braços em movimentos aparentemente nervosos. Senti ele procurando o zíper do meu vestido e quando achou se atrapalhou todo para tentar descê-lo. Eu não conseguia olhar nos olhos dele ainda. Assim que o zíper desceu, meu tubinho preto começou a deslizar automaticamente pelo meu corpo e em segundos chegou aos meus pés. Estava eu agora de sutiã, calcinha e sapato alto e ainda de costas para ele.
Senti uma leve tontura. Deveria ser a bebida fazendo efeito. Você sabe como sou fraca para bebidas. Mesmo assim resolvi tomar a última do dia. Desta vez tive cuidado de olhar e mandei o Whisky pela garganta. Quando ele fez menção de tirar meu sutiã eu pedi calma para ele. Senti ele mais uma vez se aproximando ainda mais e colando seu corpo em mim. Senti algo me tocando por trás, mas era pequeno e não acreditei que era o membro dele. Pensei que a barriga grande dele não permitisse um contato mais eficiente. Ele me abraçou e tocou meus seios por cima do tecido que para meu espanto não ficaram duros. Por mais que ele alisasse meus seios, nada acontecia com meus mamilos. Comecei a entender que a química entre casais era algo verdadeiro e que essa química estava longe de aparecer ali. Após mais uma tentativa frustrada de tirar meu sutiã, senti ele ficar meio nervoso e mais ansioso do que já estava. Minha cabeça já estava rodando e senti ele me pegar e colocar deitada na cama de barriga para cima. Tirou toda a sua roupa e eu pode constatar que era muito pouco servido, se é que você me entende.
Neste momento, com alguma lucidez ainda, pensei: “O que eu estou fazendo aqui?” Porque não estou molhada? Porque meus seios estão relaxados? Acho que vou embora!
Não deu tempo para respostas, eu o senti em cima de mim, chegando minha calcinha para o lado e me penetrando. De tão bêbada que estava nem percebi se estava de camisinha ou não. Mas como eu estava seca e a penetração foi muito suave e curta, imaginei que tivesse. Mas ainda assim, levei a mão com dificuldade devido sua barriga que me apertava na cama e a direcionei para nossos sexos e confirmei o uso da camisinha. Tudo não durou cinco minutos. Ele se movimentava com dificuldade e quando gozou parecia que iria infartar. Saiu de cima de mim, deitou do meu lado na cama, virou e dormiu quase que instantaneamente.
Eu me vi ali, do lado de um quase desconhecido, seca igual um deserto e nada satisfeita. Minha curiosidade tinha virado frustração, meu desejo de experimentar outro homes se transformara em medo do que poderia acontecer no futuro. Mede de te perder, de estragar nosso casamento A bebida me fez praticamente desmaiar. Acordei as 5 da manhã ainda meio zonza, ele ainda dormia e roncava igual a um porco do meu lado. Uma onda de lucidez me invadiu e eu percebi a merda que tinha feito. Era como se a razão tivesse voltado depois de alguns meses obscurecida.
Ainda estava de calcinha, sutiã e sandália. Levantei rapidamente, vesti meu vestido, sai do quarto, peguei o elevador, pedi um taxi na recepção e cheguei em casa. O resto você já sabe.
Não quero culpar ninguém, assumo total responsabilidade pelos meus atos. Mas tudo isso só mostrou que eu não sou nada sem você, que nossa química é real e eu só te peço uma coisa. Me perdoe.
Sei que este perdão, não será fácil, mas te falo uma coisa com certeza. Se não for com você, não terei mais ninguém e passarei o resto de minha vida me arrependendo do que fiz, me dedicando a nossa filha e vivendo sozinha. Eu passarei o resto da minha vida tentando te compensar de todas as formas possíveis.
Da totalmente sua, Patrícia”
Realmente, se tudo isso que ela me relatou aconteceu de verdade foi o pior sexo que já ouvi na vida. Broxante e desnecessário. Li a carta com toda a atenção que ela merece, o fato de tudo que ouvi e li esta noite, não importava. O que importava era que o cristal da confiança quebrou e precisava fazer minha esposa entender de que o problema não estava somente no ato sexual consumado, e se ele foi bom ou não, ele acabava ali. Ele começava bem antes, durante a sua recuperação, quando ela começou a cogitar essa possibilidade. Passou pelo planejamento e tentativa de manipulação. Piorou quando resolveu me deixar de fora da decisão e fechou o caixão quando entrou no quarto de hotel.
Antes de qualquer ação, precisava provar para ela sobre uma possível manipulação e mostrar onde tudo começou. Eu não me sentia preparado para isso. Precisávamos de orientação profissional. Eu para saber como lidar com tudo isso, esposa, casamento, filha, etc. ela para saber onde começou o problema. Os motivos, o porque da fraqueza por ter sido influenciada e manipulada tão facilmente. Ela precisava se descobrir, para depois buscar redenção. Não se tratava de uma terapia de casal para mim e sim uma ajuda para me orientar a passar por isso da melhor forma, sempre me preocupando também com nossa filha.
Mesmo ainda com poucas possibilidades de continuar o casamento, mesmo sabendo o quanto eu amava aquela mulher e não queria o seu mal e tendo a noção de que nenhuma vingança é plena. Precisava resolver minha nossa vida e cuidar para que a mãe de minha filha pudesse seguir em frente da melhor forma possível.
Agora eu tinha uma lista de coisas a resolver e nem sabia como começar.
- Reunião com o advogado de divórcio
- Convencer a Patrícia a visitar uma terapeuta.
- Investigar a promoção de Monique.
- Contratar alguém para cuidar casa.
- Dar total apoio a minha filha
Era noite de segunda feira e comecei pela maior prioridade. Minha filha. Bati na porta do quarto dela, mas ela falou que não queria conversar. Resolvi apelar para a tecnologia. Mandei uma mensagem pelo Whatsapp e combinei um almoço para o dia seguinte em um restaurante tranquilo, onde pudéssemos conversar com calma. Como ela tinha aula pela manhã, fiquei de pegá-la as 12:30 na porta da escola. Depois de 5 minutos de espera ela confirmou com um emoji de positivo, me disse que me amava e me deu boa noite.
Uma das vantagens de se ter um bom cargo em uma grande empresa, eram os benefícios. Me aproveitei disso e liguei para a Dra. Marize, que era a psicóloga da empresa. Expliquei por alto o meu problema e ela se prontificou a me atender fora do expediente da empresa no dia seguinte as 18 horas. Na tentativa de agilizar minha vida, pedi uma indicação de uma terapeuta de sua confiança para eu indicar para minha esposa. Recebi o contato e agradeci, e desliguei.
Lembrei que em uma conversa informal com Dona Efigênia, responsável pelo refeitório onde trabalho. Ela estava tentando arranjar um emprego para sua irmã. Ela acabara de ficar viúva e estava em dificuldades. Pelo que sabia era uma senhora na casa dos seus 60 anos e muito correta. Após uma breve ligação, estava resolvido mais um problema. Ela se apresentaria em minha casa na quarta-feira pela manhã. Ufa!!
Precisava primeiro estruturar minha vida para poder me dedicar de corpo e mente na missão “Amiga”. De uma coisa eu tinha certeza. Esse assunto não ia ficar no escuro. Eu precisava desse fechamento para seguir em frente com meus propósitos.
Fui deitar e confesso que o vazio ao meu lado me deu certa amargura. Ali era local de muitas cenas calientes, de muito diálogo, de muitos projetos e de principalmente de muito amor. Não só de fazer amor, mas o simples fato de ter ela dormindo deitada no meu peito eu já ficava feliz. Isso tudo foi corrompido por uma escolha infeliz. Comecei a buscar respostas e caminhos e fui chegando a algumas conclusões.
Não existe meia traição. Não existe uma escala de 0 a 10 para parametrizar uma infidelidade. Traição é traição e ponto. Uma vida de dúvidas e incertezas, geram desconfianças, ciúmes, paranoias e medos que podem descambar até para agressões morais e físicas. Esses sentimentos transformam pessoas racionais em irracionais. Como dizia um grande mestre: “O medo leva à raiva, a raiva leva ao ódio e o ódio leva ao sofrimento.” O que cabe a você saber é o que este ato pode lhe custar emocionalmente com o tempo. Perdoar é mais fácil, mas seguir juntos é bem mais complexo. Em um matrimonio a confiança, o respeito a cumplicidade e a honestidade andam paralelamente ao amor e podem enfraquecê-lo ou fortalecê-lo. O fato de chegar a uma conclusão de que a separação seja a melhor das opções não quer dizer que precisamos ser inimigos, amigos, parceiros, amantes, etc. e sim conviver pacificamente. Uma relação saudável pode e deve ser cultivada. A mágoa e a raiva nos podem envenenar e levar a vinganças. A vingança pode trazer um sentimento de justiça, mas envenena a todos em nossa volta, inclusive quem a pratica. Temos uma filha e não podemos mostrar que a instituição do casamento está fadada ao insucesso, mas sim que erros podem ser cometidos. Mostrando essa realidade a ela, cabe a nós, prepara-la para lidar com ela da melhor forma. Ele é e deve continuar sendo sempre nossa prioridade. Caso contrário poderemos ter surpresas desagradáveis no futuro.
Para não estragar mais o dia, fechei os olhos e dormi.
Nem tinha percebido que as cortinas do quarto ficaram abertas, assim sendo os primeiros raios de sol da terça-feira, entraram pelas janelas e me despertaram bem cedo para um dia que prometia.
Liguei para minha esposa e falei com ela sobre a necessidade de ela fazer uma terapia. Isso a ajudaria a passar melhor por esse período. Ela me perguntou se faríamos juntos. Mas eu falei que não. Ela disse que faria qualquer ciosa para ajudar nosso relacionamento e me ter de volta. Passei para ela o contato e pedi que ela agendasse uma consulta o quanto antes. Ela entendeu isso como uma forma de se manter ligada a mim, mas minha intenção era para que ela pudesse entender onde começou o problema e pudesse em cima dessas constatações ser uma pessoa, melhor, mais confiante, mais independente e principalmente que pudesse distinguir uma manipulação de um conselho.
Por volta das 12 horas, eu me preparei para sair e encontrar minha filha na escola e leva-la para o almoço. Assim que sai do escritório, senti um toque no meu ombro. Me virei e me deparei com quem menos esperava. Um homem que aparentemente aflito. Ele era gordo, baixo, careca e muito bem vestido.
Antes que eu pudesse reagir ele falou:
-- Senhor Jorge, Podemos conversar?
Continua......
Como combinado estarei de volta no dia 3.
Nesse dia a parte 7
As partes 8, 9 e 10 encerram este conto até o dia 6
O próximo conto já tem nome e roteiro se chamará
Ovelha Negra
Prometo que esse vai pegar fogo.
Um Feliz Ano Novo a todos