Desde minha separação com Junior, haviam se passado pelo menos quatro meses. Iniciei um namoro com Rodrigo a três, sim, foi rápido, mas eu estava apaixonada, não me importo com isso. E ele também, e com aquele homem, eu iria iniciar um novo capítulo na minha vida. Até aquele dia, eu nunca mais tinha ouvido falar do meu ex marido, não fazia sequer ideia do que tinha acontecido com ele. Talvez tenha voltado para sua cidade natal. Não desejava mais nada a ele do que simplesmente fosse feliz.
Eu estava feliz. Estava ali em um novo momento da minha vida, um que eu estava completamente radiante, desejando compartilhar esse momento com o mundo todo, se eu pudesse. Estava grávida, e cada vez mais certa de que dessa vez eu teria aquele relacionamento ideal que eu tinha na minha cabeça. Até mesmo a minha mãe me dava forças para que eu ficasse com o Rodrigo, onde ela dizia sempre que ele não era um traste igual ao meu ex-marido. Porém, quando acabei chegando na casa de Rodrigo, fui recepcionada pelo segurança que informou que ele estava em casa, mas não queria ser importunado naquele momento. Achei um absurdo e assim eu disse:
— Você sabe quem eu sou? Eu sou a namorada do Rodrigo, ele nunca estará ocupado para mim.
— Você e quantas mais? — Disse o segurança, e tal fala me deixou extremamente irritada, afinal como ele ousava falar desse jeito com a namorada de seu patrão?
Foi então que eu entendi perfeitamente porque ele havia dito aquilo. Olhei mais a fundo e vi uma cena que me tirou completamente do sério. Vi Rodrigo praticamente usando apenas uma sunga, aos beijos com uma loira que estava apenas com a parte de baixo do biquíni, com os seus seios à mostra sendo tocados pelas mãos dele. Aquela situação me tirou completamente do sério e claro, acabei indo tirar satisfações, completamente irritada com aquela situação.
— Mas que merda é essa? — Disse, pegando praticamente meu então namorado Rodrigo e uma biscate naquela piscina, a mesma que transamos semana passada.
— Ana? O que você está fazendo aqui?
— Como assim? Eu vim ver o meu namorado, no caso você! Aconteceu uma coisa maravilhosa e eu queria te contar, eu só não sabia que você estaria fazendo uma coisa tão nojenta.
— Namorado? Haha, que merda você está falando, Ana?
— O que? — Disse ali, enquanto a outra que estava com ele ali, colocou suas roupas e se foi. Eu não estava nem aí, naquele momento a minha única atenção era com Rodrigo e com tudo o que estava acontecendo ali.
— Do que você está falando? Seu canalha, estamos sim namorando. Você foi semana passada na casa da minha mãe e conheceu ela, na cara dela que estávamos namorando e agora você vem falar que não estávamos? Para de palhaçada!
— Aquilo não foi sério, querida! Será que você não entendeu ainda que eu apenas menti, menti para a gente transar porque você ficou se fazendo de difícil e ao mesmo tempo me dando mole e disse que só ia transar se eu te assumisse, então eu menti que te assumi.
— Não... não pode ser.
Naquele momento o meu mundo praticamente estava se desmoronando. Eu queria que um buraco abrisse sobre mim e me tragasse o mais fundo possível tamanho era a vergonha que eu estava sentindo nesse momento. Eu não podia acreditar que o homem que eu havia depositado a minha confiança e o meu amor, estava praticamente me apunhalando pelas costas. Eu havia terminado o meu casamento, por mais frustrante que estava, tudo para viver com esse homem que dizia me amar. Mas tudo que ele queria era se aproveitar de mim. Eu não consegui fazer mais nada naquele momento a não ser me ajoelhar e começar a chorar, te completo desespero pois a maior bomba eu ainda não havia revelado.
— Foi mal, Ana. Mas eu não quero compromisso. Meu lance é só sexo, você é gostosa mas eu só queria isto. Porém agora acabou, espero que você supere isso e continue sendo a grande colaboradora em nossa empresa, se precisar eu até lhe dou uma grande promoção.
— Eu tô grávida! De você! — Disparei para ele. Ao mesmo tempo, levei minhas mãos até meu ventre e segurei com ambas as mãos, acariciei a sementinha que estava lá dentro. Meu filho, fruto de um amor que eu acreditei que existia, mas que foi apenas mentindo para mim. Rodrigo disse:
— Você está de sacanagem. Esse filho não é meu, você não tava se cuidando, Ana?
— Parece que não, né?
— Porra. — Dizia Rodrigo, andando de um lado para o outro. Logo disse. - Tudo bem. Não deve ter mais de dois meses, só a gente viajar para um país aonde o aborto é legalizado e você tira. Não quero ter filhos agora.
— O que? Você quer que eu mate meu filho?
— Escuta! — Rodrigo então veio até mim, segurando meus braços com alguma força enquanto olhava diretamente em meu olho. Senti em sua voz um tom totalmente ameaçador, não era o mesmo Rodrigo que enchia minha bola e me jurava amor um tempo atrás.
— Você vai tirar essa criança. Eu não quero ser pai, pelo menos não pai de um filho com você. Você foi só uma puta que eu comi, não alguém que eu vou casar que vai me dar uma família. Está fora de cogitação você ter esse filho. A não ser que procuremos na justiça órgãos que retirem completamente a minha paternidade deste bebê que vai nascer. Aí você pode ter ele.
A frieza de Rodrigo conseguiu surpreender até mesmo a mim. Aquela situação passou a me dar náuseas, comecei a ver tudo embaçado. Logo, senti que perdi meus sentidos e foi então que acabei desmaiando.
Não sei quanto tempo passou, mas quando recuperei a consciência eu estava deitada em uma cama de casal, em um quarto super decorado com um grande quadro de Rodrigo na parede. Uma de suas empregadas acabou dizendo que eu passei mal e Rodrigo ordenou que eu fosse levada ao quarto dele. Perguntei sobre Rodrigo e a empregada disse que ele não estava, mas que voltaria posteriormente. Eu estava em frangalhos naquele momento. Eu não podia acreditar que o homem que eu havia conhecido e que se mostrou tão maravilhoso, estava se rebaixando tanto em apenas um dia. Até mesmo filho estava querendo que eu me retirasse. Eu vi uma face daquele sujeito em que nem mesmo eu imaginava que poderia existir. Mas eu não iria tirar esse filho, eu iria ter esse bebê e ele iria assumir pois foi homem de me engravidar!
As lágrimas naquele momento começaram a cair sobre o meu rosto, eu não sei por que eu passei a pensar fortemente no meu ex-marido. Júnior teria agido totalmente diferente nessa situação, pois ele teria no mínimo me abraçado e me enchendo de beijos, e depois iria preparar aquele jantar delicioso que eu gostava. Iria beijar minha barriga quantas vezes fosse preciso, assim como iria dizer a todos os seus amigos o quanto ele me amava. Quando pensava no meu ex-namorado as lágrimas praticamente se derrubavam de meu olho, na verdade eu me derrubava e me sentia completamente derrotada. Como eu pude largar aquele homem e tudo o que ele me proporciona para viver uma coisa duvidosa como essa?
Mas mesmo naquela época, eu ainda estava esperançosa de que Rodrigo iria me assumir agora que eu estava grávida, mesmo tendo mandado retirar o bebê. Afinal de contas, ele me colocou em seu quarto e pediu para que cuidasse de mim. Assim que ele chegou, ele acabou subindo até seu quarto, e me viu ali de repouso. Ele tinha uma cara talvez de arrependido, talvez durante sua saída o remorso tivesse tomado conta dele, então eu vi ele se aproximar, e tudo o que ele parecia querer era de alguma forma compensar o que havia acabado de acontecer.
— Escute, eu peço perdão pelo meu comportamento. Eu não deveria ter falado com você daquela maneira e também não deveria ter pedido para que você retirasse esse bebê.
— Mas você disse! E eu não vou tirar, você vai ter que assumir essa criança. — Disse, sendo firme, pois ele teria que fazer isso e ser homem.
— Não se preocupe. Eu vou assumir essa criança, e o tempo que estiver aqui, eu irei cuidar de você. Não quero que nada de ruim lhe aconteça. Está bem? — Rodrigo naquele momento me deu um beijo nos lábios e eu amoleci. Não sei ao certo o que ele queria com aquilo, ou se tinha apenas tomado juízo, mas eu gostei.
Nos próximos dias, ele realmente começou a cuidar mais de mim. Observei um Rodrigo mais carinhoso e mais prestativo comigo. Passei alguns dias na casa dele e ali foi bem cuidada pelas suas empregadas e à noite por ele mesmo. Voltamos a fazer amor depois de alguns dias, e admito que era um sexo de qualidade, mas eu não sei por que não era e nunca foi algo que realmente me completava. Será que eu ainda amava meu ex-marido muito mais do que eu amo ele?
Depois de mais de dois meses morando com Rodrigo, já tinha ali uma certa barriga aparecendo. Pensei, preciso resolver voltar para minha casa, pelo menos para pegar algumas coisas, e para ver como estava aquela minha velha casa. Afinal de contas, já fazia bastante tempo que eu sequer tinha alguma notícia do que estava acontecendo por lá. Fui em casa e estava tudo em ordem, apesar dela estar um pouco empoeirada. Naquele momento me lembrei que todas as vezes em que chegava em casa, ela sempre estava em ordem mesmo que eu achasse algum resquício de poeira em algum lugar que Junior não havia limpado. Eu não sabia porque, mas eu todas as vezes ainda ficava me lembrando de detalhes que ele fazia para mim mesmo já estando com outro.
Voltei pra casa de Rodrigo depois de pegar algumas coisas em minha casa, assim que cheguei, observei que o mesmo segurança desagradável me olhava com uma cara de riso, como se estivesse debochando da minha cara. Iria pedir para Rodrigo imediatamente para demitir esse sujeito depois ele me dava náuseas. Assim que cheguei em casa viu o silêncio imperar o local, e conforme fui explorando os cômodos, no quarto de Rodrigo, o mesmo quarto onde eu estava me repousando e onde voltei a ter um amor com ele, acabei vendo aquele Rodrigo que havia me pedido perdão, que havia dito que as coisas iriam mudar entre nós, com outra mulher mais uma vez. Ele estava de costas para a porta, transando com aquela mulher de quatro. Ele segurava suas mãos na bunda dela enquanto ela movia o corpo para frente para trás, sendo completamente penetrada por ele. Ele me olhou quando virou para trás e deu aquele sorrisinho. Era completamente cínico.
Ali eu imaginei que ele estava planejando tudo aquilo. Ele sequer tentou se explicar, apenas deu um sorrisinho como se estivesse satisfeito por eu flagrar ele com outra. Ele poderia simplesmente dizer que não me queria, mas ele me manteve 2 meses na casa só para me fazer flagrar ele com outra mulher.
— Você fez isso de sacanagem, né? Cara eu te odeio, Rodrigo. Eu te odeio!
— Eu não fiz nada. Nunca te prometi fidelidade. Apenas disse que iria cuidar de você e dessa gravidez. — Depois disso, ele se virou para mim, e mandou eu sair de lá do quarto e ir pra qualquer outro lugar, pois queria "foder em paz". Eu não sabia que o preço que eu teria que pagar para estar do lado de um homem que querendo ou não conseguir trazer mais conforto seria aguentar traições e humilhações. Agora consegui entender perfeitamente como o Júnior se sentia todas as vezes em que eu chegava em casa e o desprezava de graça apenas para forçar o término comigo. Como eu daria tudo para mudar as coisas agora, mas já era tarde demais.
Aos prantos, eu saí correndo para a rua. Não queria mais ficar naquela casa. Tudo parecia rodar diante de mim, eu não sentia sequer mais as minhas pernas ou o chão ao qual eu pisava. Comecei a sentir uma dor que estava vindo da minha cabeça, e logo se espalhou para todo o restante do meu corpo. Eu não sei o que aconteceu, mas quando eu dei por mim eu estava no andar de baixo da casa dele, estirada no chão. Será que eu tropecei e caí daquela escada? O que vai acontecer com o meu filho? A dor foi ficando cada vez mais forte e eu senti perder minha consciência cada vez mais. De repente, tudo ficou escuro e a luz foi se apagando. Eu caí.
Quando consegui acordar, eu estava em algum lugar que mais parecia um leito de algum hospital. A enfermeira estava trocando algum soro que estava injetado em minha veia. A enfermeira me olhou e parecia sorridente ao me ver acordar, mas ao mesmo tempo preocupada com alguma coisa. Eu sentia bastante dor principalmente nas pernas e na região do ventre. Ela foi breve ao me falar da situação.
— Ainda bem que você acordou. O doutor vai passar daqui a pouco, talvez uma hora e meia. Ele quer falar com você. Irei avisar que você acordou pra visita. Ele está há quase dois dias aqui te esperando acordar.
Visita? Poderia ser Rodrigo? Eu duvido. Aquele ali só se viesse para me atormentar ou tentar me enganar de novo. Muito provavelmente era a minha mãe. Ah sim, a minha mãe. Eu poderia dizer que parte da culpa e tudo que aconteceu comigo foi por causa dela, mas querendo ou não, toda a responsabilidade é minha. Ninguém me obrigou a terminar com o Junior e assim partir para uma aventura que eu sabia que no fim não iria dar em nada. Todas as decisões que eu fiz, todas as humilhações que eu provoquei nele, tudo aquilo foi culpa minha. Culpar a minha mãe nessa altura do campeonato seria desonestidade da minha parte, no máximo Minha mãe me influenciou mas não muito. Até porque eu me deixei influenciar, eu me deixei cair na onda e começar a desprezar meu marido. Eu deveria ter sido mais compreensiva com ele, afinal de contas estavam nos em uma época de pandemia e querendo ou não muitas pessoas estavam perdendo o emprego e não estavam conseguindo algo melhor. Eu fui muito tola em ficar fazendo cobranças para ele de coisas que não dependiam apenas dele. Realmente, eu fiquei completamente egoísta e mesquinha, da mesma forma que a minha mãe. O que eu não daria para ver ele de novo e pedir desculpas?
A enfermeira estava demorando um pouco, e voltei a sentir fortes dores. Logo, o doutor entrou no meu quarto. A notícia era a pior possível.
— Olá, Ana. Tudo bem? Eu quero falar sobre o seu quadro. Você agora está bem, mas sofreu um corte na cabeça e perdeu uma boa quantidade de sangue. Você acabou sendo trazida aqui por uma mulher de meia idade, que não quis dar o nome, mas depois foi embora. Sua mãe também veio aqui, e eu já dei a notícia para ela e acredito que para seu... Marido, também. Eu sinto muito Ana, mas você perdeu seu bebê. Ele acabou não resistindo, já fizemos até mesmo a extração.
Naquele momento eu me desesperei, foi como se tivesse arrancado um pedaço de mim. Agora até mesmo uma pobre alma inocente tinha pago com meus erros. Que eu poderia ter ainda outros filhos pois meu sistema reprodutor não havia sido avariado. Também disse que iria chamar meu marido para falar comigo melhor sobre, mas eu não tinha absolutamente mais nada para falar com o Rodrigo. Eu sequer queria ele de volta na minha vida, aquele canalha foi responsável por tudo que me aconteceu agora, e eu estava completamente cheia de raiva, mas acima de tudo, cheia de arrependimento.
Estava cansada e resolvi adormecer um pouco. Eu não lembro o que eu sonhei, mas lembro de ter tido possíveis pesadelos, pois acordei um pouco mais agitada do que o normal. Porém, eu pude sentir que algo estava tocando a minha mão e tentando me trazer de volta para a luz, meus olhos voltaram a se abrir e a cena que eu vi foi algo que eu nunca mais acreditei poder olhar para sempre, mas ele estava ali.
— Junior. Mas como, anunciaram que meu marido estava aqui....
— Pensaram que eu era seu marido ainda.
— Como você soube que eu estava aqui? Quem te contou?
— Sua mãe me contou. Ela estava desesperada, vocês não tinham como pagar o hospital. Porque ela não está bem financeiramente, perdeu bastante dinheiro por causa do amante. E pelo visto o cara que você estava junto e te deixou na rua da amargura. Mas não se preocupe, já procurei meu advogado e vamos processar ele. A empregada da casa vai testemunhar a seu favor e vai mostrar na justiça todos os abusos psicológicos que ele causou em você, além disso suspeito que ele provocou o flagra que você teve para que você justamente caísse da escada e assim sofresse o aborto. Eu sinto muito pelo seu filho.
Eu não podia acreditar no que eu estava ouvindo agora. Não por conta do Rodrigo, porque eu já havia percebido que ele era um traste, mas sim por conta do Junior. Por que ele está me ajudando mesmo depois de tudo que eu fiz para ele? Por que ele está retribuindo com bondade tudo que eu fiz com ele na maldade? Se a intenção dele era me ferir com isso ele estava conseguindo. Até porque às vezes devolver bondade quando se recebe maldade de alguém, causa à pessoa uma sensação de dor muito pior do que se você devolvesse com outra maldade. Pelo menos isso era o que acontecia comigo naquela hora.
— Me perdoa. Eu sempre reclamei da forma como a minha mãe tratou você, mas no final das contas eu acabei tratando muito pior. Eu deveria ter entendido que o período da pandemia estava muito difícil, eu deveria ter tido mais paciência com você e deveria ter valorizado aquelas coisas simples que você fazia. Você deixava o jantar pronto para mim, você limpava a casa, você fazia surpresas para mim. Você queria me dizer algo no dia do meu aniversário e eu sequer ouvi você. Estou me sentindo fraca e completamente impotente. Não sei mais o que fazer.
— O que eu queria te dizer, é que eu estava conseguindo finalmente minha independência financeira. Olhe isso.
Junior me mostrou um canal no YouTube chamado KayroskDesenvolve! Eu reconhecia aquele sub, era o que ele costumava usar quando jogávamos juntos quando éramos mais novos, ainda nos tempos de amizade. O canal tinha 3 milhões de inscritos. O último vídeo dele tinha 927 mil visualizações. Ele tinha um canal? Eu peguei o celular dele e comecei a assistir o conteúdo de alguns vídeos, foi como eu me apaixonar por ele novamente. Como ele explicava bem as coisas, ele sabia exatamente como cativar no vídeo e como explicar detalhadamente o que ele gostaria de colocar como assunto no tema. Que era isso que ele fazia esse tempo todo enquanto vivia no notebook e eu achava que ele estava jogando ou coisa parecida? Na descrição do vídeo dele tinha um link para plataforma hotmart onde ele parecia vender um curso de desenvolvimento de vários sistemas diferentes. Olhei para ele.
— Mas o que significa isso?
— Minha independência financeira. Isso que significa. Eu havia desistido de procurar emprego via CLT há muito tempo, esse tipo de trabalho pode ser estável mas paga muito pouco e além disso você fica refém de determinações e de patrões e eu detesto isso. Sempre quis um emprego onde eu pudesse fazer o meu tempo e aproveitar e dedicar parte do meu tempo a você. Eu e o meu amigo começamos a montar esta empreitada, que hoje me rende lucro líquido de 100 a 150 mil reais por mês.
Para ser sincera eu não entendi metade do que ele falou, não sei o que deu em mim, me importava com os valores, a única coisa que eu prestei atenção foi na voz dele. Uma voz que eu desprezei ouvir há muito tempo, mas agora me parecia a coisa mais deliciosa de se ouvir.
— Fala de novo? — Pedi.
— O que?
— Qualquer coisa! Algo que queira que eu ouça de você. — E quem imaginava que a próxima coisa que eu iria ouvir, iria me deixar tão mal.
— Bom, era algo que já era seu mesmo, então. Eu não me importo em te dar. É seu presente de aniversário, que você impediu de lhe dar. — Em minhas mãos, ele me entregou a chave de um Fiat Toro Volcano Cabine Dupla, ano 2021. Ele sabia que eu gostava bastante desse carro, eu comentei a ele uma vez. Que queria comprar esse carro um dia e sair na estrada com ele. Porque ele fez isso?
— Esse carro era nosso sonho. Você disse que queria um dia viajar comigo com esse carro. eu queria te dar ele de presente de aniversário, além de contar para você como eu estava fazendo sucesso na minha nova empreitada. Mas você não quis ouvir, assim como você me ignorou durante todos os meses desde que eu perdi o emprego. Você me magoou, você me fez sentir cada dia que passava mais lixo do que nunca. Você já me fez até pensar em suicídio. Eu realmente sentia como se eu fosse um fardo para você.
— Não... — Respondia, completamente chorosa ali. — O fardo na sua vida era eu! Você sempre fez tudo por mim. Você cruzava o estado para me ver duas vezes por mês ganhando um salário mínimo. Você sempre me dizia que tinha vontade de comprar algum game novo, ou qualquer eletrônico, quando você era mais novo, mas você se privou disso só para me ver. Para deixar um sorriso no meu rosto. Eu valorizava isso, mas a minha mãe vivia enchendo a minha cabeça contra você. Sem perceber eu comecei a agir igual a ela. Quando eu vi que eu ganhava mais que você eu não sei dizer mas eu me senti empoderada. Eu me senti maior que você e isso estava sendo horrível porque eu nunca quis ser maior que você. Só que eu não consegui enxergar que você, mesmo desempregado, ainda era maior do que eu. Eu peço perdão Junior, perdão por tudo que eu te causei. Se você não quiser mais me perdoar eu vou compreender, se você me perdoar eu juro que eu vou fazer todos os dias o melhor que eu puder para você. Eu vou lutar por você.
— Eu já te perdoei. Você é meu amor, o amor da minha vida. Ana, quando eu te conheci, eu levei seis meses para que me aceitasse como seu namorado. A distância era uma inimiga muito grande, mas eu fiz de tudo para vencer ela. Você era a luz que iluminava minha escuridão. Eu fiz das tripas coração para sempre te ver, eu cheguei a me endividar uma vez, mas consegui pagar, tudo comprando passagens e presentes pra você. Mas graças a Deus consegui me mudar e casar com você. Mas parece que eu não me casei com você, e sim com a sua mãe, pois as críticas e humilhações pareciam ser ela falando. Ou não. Talvez essa fosse a verdadeira você. Mas não importa mais. Eu perdoei você, eu disse isso. Mas não vai ser minha mulher novamente. Eu tenho medo de você novamente me fazer sentir aquela dor que eu senti. Eu não acredito que você nunca mais vai fazer eu sentir aquela forma. Eu sinto muito.
— Eu cometi realmente diversos erros com você. Disse que eu poderia ter sido mais compreensiva contigo, eu agi como uma mesquinha materialista. Eu mereço que você me odeie, mas eu vou me recuperar, te reconquistar e te recompensar todos os dias pelo mal que lhe causei.
Depois daquele dia recebi alta, e com a ajuda de Junior acabei entrando em um processo civil e criminal contra Rodrigo. Rodrigo foi indiciado em alguns crimes e teve que pagar indenização, mas não chegou a ser preso. Apenas pagou uma fiança, mas não foi afastado da empresa assim como eu. Agora sou eu que estou desempregada. Mudei meu padrão de vida e estou conseguindo me virar. Atualmente eu trabalho numa farmácia, ganhando um pouco mais de um salário mínimo. Junior anda bem ocupado com os projetos dele, e cresce cada vez mais com trabalho digital. Eu subestimei demais aquele homem. Hoje, eu vivo completamente amargurada, arrependida de deixar ele escapar da minha vida. Virei uma espectadora de suas lives. Eu nem entendo nada sobre, só assisto. Eu ainda espero que um dia possamos nos ter de volta um dia. Talvez eu não mereça outra chance.
Este é o meu relato. O relato de uma pessoa que amou, que não valorizou seu amor, se arrependeu e que hoje colhe os cacos, pagou um preço pelas suas escolhas e continua pagando até hoje. Será que um dia eu vou ter terminado de pagar e poderei ser feliz?
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FAREI A VERSÃO DELE DEPOIS DO ANO NOVO, DEPOIS VOLTAREI COM MÃE RUSSA, QUE TA PEGANDO FOGO.