Bernardo [53] ~ Futuro

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2277 palavras
Data: 05/12/2023 16:10:11
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

O ano de 2007 chegou ao fim numa segunda-feira fria. Tinha só começado a nevar, o que deixava as ruas com uma leve camada de neve, dando um ar pitoresco àquele período de festas de final de ano.

Os pais de Ricardo ainda estavam em Paris e iam embora no dia seguinte. Assim, decidimos passar a virada do ano aos pés da Torre Eiffel. Todo ano milhares pessoas se reuniam ali pra assistir o show de fogos e celebrar a entrada de um novo ano, sem se importar com o frio.

_Feliz ano novo!_ falou Ricardo quando deu a hora.

_Feliz ano novo!_ respondi.

Trocamos um longo e carinhoso beijo. Cumprimentei meus sogros e mais alguns desconhecidos à nossa volta. Ricardo me abraçou por trás e ficamos assim assistindo a queima de fogos. Era um lindo espetáculo, sem dúvida, mas minha cabeça estava longe. Sozinho comigo mesmo, eu fazia uma retrospectiva do meu ano.

Foi, sem sombra de dúvida, o pior ano da minha vida, ainda que coisas boas tivessem acontecido também. Primeiramente, me lembrei de Eric. Apesar dele ter morrido oficialmente no Natal, fora a exatamente um ano que eu estava na varanda da minha casa com Rafael e Alice remoendo o fato. Eu pensei menos em Eric nos últimos meses, mas ele nunca realmente saiu da minha cabeça. Ainda era uma dor que ficava me remoendo. Eu podia superar todas as coisas que aconteceram de ruim comigo naquele ano, mas não a sua morte. A dor do arrependimento era forte demais.

Me lembrei de toda a sequência de porradas que levei nos primeiros meses do ano. Pedro me renegando, Alice se afastando, Rafael namorando. Tinha o pai de Tom. Tinha o meu pai. Lembrando assim, parecia como se fosse outra pessoa que tivesse vivido aquela história e eu fosse apenas um espectador. Mas não, eu lembrava de cada dor física e psicológica daquela surra. Eu me lembrava de cada palavra de tudo o que meu pai me disse.

E eu me lembrava da minha maior marca: o dia em que eu quase me matei. Até hoje eu não consigo entender bem como cheguei àquele ponto. Claro, eu podia reconstituir os fatos e encarar aquele momento como um segundo de fraqueza, mas ainda sim era difícil de compreender. Felizmente, aquele também foi o momento que eu acordei. Era preciso ir atrás de tudo o que perdi. E era por isso que eu estava em Paris, para me encontrar.

_Um doce pelos seus pensamentos._ falou Ricardo no meu ouvido, ainda me abraçando.

Eu sorri do seu carinho.

_Estou pensando emEle sabia tudo o que tinha acontecido comigo, então sabia muito bem sobre o que eu estava falando.

_Isso é perda de tempo._ falou apertando o abraço _2007 já passou. Pense em 2008.

_Tem razão._ respondi rindo.

E o que 2008 me reservava?

Primeiramente, ele me reservava mais seis meses em Paris, o que era a única coisa certa na minha vida no momento. E assim que aquele período de sonhos acabasse, assim que pisasse no Brasil, eu teria que confrontar todos os meus conhecidos com a minha sexualidade. Minha mãe em especial. Se essa ideia me aterrorizava antes, hoje ela não me amedrontava tanto. Claro que ainda era uma coisa enorme e que podia acabar muito mal, mas agora eu tinha certeza que não havia como pular aquela etapa. Eu nunca poderia ser quem eu queria ser se continuasse a fingir ser outra pessoa. Eu não podia continuar naquele personagem, porque o que o aguardava não era um final feliz.

Pela primeira vez, eu pensei no fim do meu namoro com Ricardo. Como seria? Não havia como manter nosso relacionamento quando voltássemos. Se não porque vivíamos a quase seiscentos quilômetros de distância um do outro, era por eu ainda amar Rafael. Analisando friamente, Ricardo ainda amava seu ex-namorado também, o que nos deixava quites. Mas era diferente, porque Ricardo tentava superá-lo, enquanto eu pretendia lutar por Rafael.

Quando já tarde da madrugada decidimos em ir embora, foi a hora das despedidas. Os pais de Ricardo iam embora assim que acordassem no dia seguinte e insistiram que não havia necessidade de nós levarmos eles no aeroporto. Assim, nos despedimos na porta do seu hotel. Houve muito choro por parte dos três e eu os observei com carinho.

_Cuida bem do meu menino, viu Bernardo?_ falou o pai de Ricardo ao se despedir de mim.

_Pode deixar, seu Inácio.

Depois foi a vez da minha sogra. Ela esperou que Ricardo e o pai estivessem entretidos na sua despedida pra me falar:

_Você é bom garoto, Bernardo.

_Obrigado._ falei sem jeito e sem saber como responder.

_Eu vejo nos seus olhos que você é um bom menino e tem um bom coração, só a cabeça meio confusa às vezes._ ela sorriu carinhosamente _Mas está tudo bem, porque todos nós temos a cabeça bagunçada quando temos vinte anos de idade.

_Obrigado, dona Linda.

_Meu filho me preocupa um pouco...

Ela falou aquilo pensativa e eu desconfiei dos caminhos daquele papo.

_Ele se apaixona fácil..._ falou me olhando.

_Eu estou apaixonado pelo seu filho._ falei meio na defensiva.

_Eu sei, me desculpe pelo tom._ ela falou parecendo sincera _O problema é que ele te ama. E você não o ama.

Eu não tive como responder. Era a verdade inevitável. Para Ricardo, aquilo já era maior do que uma paixão de intercâmbio. Eu era seu namorado de fato. Mas Rafael ainda estava fincado muito forte no meu coração. E eu não conseguia amar os dois igualmente.

_Não é a sua culpa._ ela completou _Há outra pessoa, Ricardo me contou.

_Linda, eu...

_Aonde eu quero chegar é um conselho. Eu realmente gostei de você, então me sinto na obrigação de te dar esse conselho.

Eu ouvia atentamente suas palavras.

_Vocês não têm nem vinte anos ainda, o amor é lindo! Mas no mundo dos adultos, o amor é um sentimento complicado. Eu não me casei com Inácio amando ele. Eu amava outro. Mas esse outro só sabia me magoar e eu o magoava também quando ele notava o que tinha feito, o que foi se transformando numa relação doentia. Então, casei com Inácio. Ele me amava e eu estava apaixonado por ele. Eu aprendi a amá-lo com os anos.

Eu ouvi tudo com os olhos arregalados. Aquela era uma baita revelação. Mas ela pareceu ignorar meu susto e continuou falando.

_O que eu quero dizer, o meu conselho pra você é: na dúvida, fique com aquele que te ama. São suas maiores chances de felicidade. Eu nunca me arrependi da minha escolha. Tchau, Bernardo. Eu espero lhe rever um dia no Brasil.

E assim ela foi embora me deixando com aquilo na cabeça. Eu e Ricardo voltamos pro apartamento andando de mãos dadas. Ele julgou o meu silêncio como cansaço, mas não, eu estava apenas pensativo.

Valia a pena lutar por Rafael? Eu o amava e ele me amava, mas isso seria o bastante para sermos felizes juntos? A questão de eu recusar a me assumir e assumi-lo sempre foi um problema no nosso namoro, mas não era a única coisa que nos distanciava. Eu já disse aqui e vou dizer de novo que Rafael e eu tínhamos visões diferentes do mundo. Nossas personalidades também eram um tanto quanto conflitantes.

Ricardo combinava mais comigo. Nós tínhamos um encaixe melhor, digamos assim. Logo, nossa relação era mais calma e constante. Mas faltava alguma coisa. Tínhamos a paixão, tínhamos o tesão, tínhamos o fogo, tínhamos Paris! Mas faltava alguma coisa: faltava eu lhe amar de volta.

Então, pela primeira vez me veio à cabeça a dúvida que viria a me afligir muitas vezes ainda: Rafael ou Ricardo?

_Meu namorado está tão avoado hoje..._ falou Ricardo.

Ele me abraçou quando entramos no nosso quarto e começou a me dar beijinhos na nuca. Ele foi descendo com pequenas mordidas pela minha clavícula enquanto tirava meu casaco. Em poucos segundos ele tinha me deixado nu no meio do quarto. Eu o olhava atentamente enquanto deixava ele fazer o que quisesse comigo. Ele beijava cada parte do meu corpo com muito cuidado e sem parar de me olhar nos olhos. Ele colocou o meu pau na boca e começou um boquete bem lento, como se aproveitasse cada segundo daquilo. Era muito bom. Tinha amor em cada gesto seu. Cada beijo era uma declaração.

_Senta aqui._ ele falou me colocando sentado na beirada da cama.

Ele começou um lento striptease que me excitou. Não tinha música, nem era uma coisa apelativa. Ele tirava cada peça de roupa enquanto me sorria safado. Aquilo era muito sexy, como um convite ao prazer em cada peça de roupa que ele se livrava. Ele enfim ficou nu. Com muito cuidado, ele se sentou no meu colo e começou a roçar sua bunda no meu pau. Aquilo me deixou louco de prazer. Eu agarrei sua cintura e o beijei com desejo. Ele guiou meu pau com a mão para dentro de si. Assim que ele se acostumou, começou a pular em cima de mim com vontade. Nós gozamos enquanto olhávamos no fundo dos olhos um do outro.

Depois de tomar banho, nós nos deitamos na minha cama. Ele se deitou atrás de mim e me abraçou. Estávamos ambos só de cueca e embaixo de cobertas. A neve se depositava preguiçosamente na janela. Não consegui pensar em nada que pudesse melhorar aquele momento.

Eu sei que você passou por muita coisa esse ano._ ele falou no meu ouvido _Deixa pra lá. O que interessa é o que vem. Olhe pra frente. Eu estou aqui com você agora.

Ele terminou com um beijo demorado na minha nuca. Respondi apertando sua mão no meu peito e me ajeitando pra ficar ainda mais próximo a ele. Tudo o que eu consegui pensar foi:

“Eu posso amar esse cara!”

[...]

Quando acordei, o dia já tinha amanhecido, mas ainda era muito cedo. Tinha dormido poucas horas e não consegui pegar no sono novamente. Rafael e Ricardo assombravam a minha cabeça. O que fazer? Me prender a um velho amor ou me jogar de cabeça em um novo? Sim, eu amava mais Rafael, mas isso era o bastante? Conseguiríamos superar nossas diferenças? Não era melhor dar uma chance de Ricardo me conquistar? Que amor poderia ser o mais forte, aquele une os opostos ou o que nasce das semelhanças entre duas pessoas?

Não era tempo de responder aquelas perguntas ainda. Um dia eu teria que responder, mas ainda não. Eu estava em Paris com Ricardo. Rafael estava em Belo Horizonte com Carolina. Eu não sabia o que o futuro me guardava, então eu tinha que me concentrar no presente. E meu presente era Ricardo. Pelo menos até a hora de voltar, era tempo de deixar Rafael ir. Eu tinha que dar uma chance de Ricardo me conquistar.

Me levantei da cama com dificuldade de escapar dos braços de Ricardo, mas consegui não acordá-lo. Liguei meu notebook e acessei meu Orkut. Primeiro, entrei no perfil dos meus amigos. Tudo parecia na mesma. Alice continuava com Marcos, embora Pedro continuasse em cima fazendo pressão. Rafael continuava com Carolina.

Eu tinha que mostrar que eu estava seguindo em frente. Não era fazer ciúme em Rafael, mas provar pra mim mesmo que eu estava seguindo em frente. Era uma prova de confiança que eu estava me dando. Eu peguei a nossa câmera, passei as fotos para o computador e escolhi com cuidado. No álbum que eu tinha reservado para a França no meu Orkut, postei uma foto que tirei na noite anterior. Eu e Ricardo abraçados e seus pais nos cercando. Nós quatro sorríamos com a Torre Eiffel atrás e uma multidão que esperava pela virada do ano. Nessa foto, coloquei a seguinte legenda:

“Linda família. Obrigado por me receberem tão bem!”

Não dizia muita coisa, mas para bom entendedouro, meia palavra bastava. Mas era pouco. Eu tinha que dar um passo além. Se eu ia realmente me assumir assim que voltasse, não faria mal dar um passo perigoso agora. Não havia nenhum foto minha sozinho com Ricardo no álbum, apenas com mais amigos. Assim, escolhi uma muito bonita. Nós dois estávamos com nossas roupas de frio e, à beira do Sena, tiramos um foto nossa, uma selfie. Não estávamos abraçados, só aparecia do nosso peito pra cima. Aquela foto não dizia muito sobre nada. Apenas uma pessoa muito desconfiada poderia tirar alguma conclusão sobre aquela foto. Isso é se que não tivesse colocado ela como a foto do meu perfil. Que hétero coloca uma foto sua sorrindo junto com outro cara no seu perfil? Mas não liguei, esses tempos ficaram pra trás. E Ricardo representava um novo tempo.

Eu me fiz uma pergunta sobre como seria o ano de 2008 pra mim. Se 2007 foi o ano da mudança, o que seria de 2008? E eu respondo: seria o ano do recomeço. Tudo novo dali pra frente. Parece uma daquelas promessas de ano novo onde prometemos um “novo eu”. Mas não foi uma promessa vazia. Não mudei de uma hora pra outra. Eu vinha mudando há meses, mas eu sentia que era hora de começar a mostrar ao mundo essa mudança. Eu já tinha encontrado a pessoa que eu queria ser quando parti pra França, agora eu deveria decidir por quais caminhos ela iria seguir. Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas eu estava disposto a pagar pra ver.

Uma pequena amostra do que eu poderia esperar veio na forma de uma simples mensagem de Alice mais tarde naquele mesmo dia:

“Rafael está puto com você.”

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Bernardo está crescendo. Ricardo é um companheirão. A sogra é uma mulher sensata. Bons ventos podem soprar!

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