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Patrícia:
Acordei destruída no domingo de manhã. Minha vontade era ficar o dia todo na cama. Keyla ainda dormia como um anjinho; provavelmente, ela também estava exausta. A gente se acabou no início da noite passada. Mesmo com todos os problemas que enfrentamos depois da nossa primeira vez, nosso amor e desejo uma pela outra não diminuíram; pelo contrário, parece que só aumentaram.
Acabei ficando na cama até as 9 horas. Keyla me fez companhia e ficamos conversando sobre Taís. Nós duas concordamos que ela parecia ser uma garota legal.
Levantamos e, quando já estávamos tomando café, Keyla resolveu matar a curiosidade de todo mundo revelando quem era a menina na foto. Havia um monte de postagens perguntando quem era, e as mensagens no nosso grupo também eram só perguntas sobre a tal garota. Keyla respondeu às meninas e aproveitou para convidá-las a virem à nossa casa depois do almoço para conhecer Taís e irmos juntas ao shopping.
Depois de almoçar, ficamos de bobeira na sala esperando as meninas chegarem, mas quem chegou primeiro foi Taís. Descobri outra coisa que temos em comum: motos, só que a dela era bem melhor que a minha. Ficamos conversando na cozinha e ela disse que a mãe queria me conhecer. Eu falei que poderíamos marcar algo para o final de semana ou, se elas quisessem, poderiam aparecer na loja durante a semana na hora do almoço.
Não demorou muito e Aline e Luciana apareceram. Dez minutos depois, Gabi e Naty chegaram também. Todas ficaram impressionadas com a semelhança entre eu e Taís e nos encheram de perguntas. Depois que Taís respondeu praticamente todas sozinha, fomos para o shopping.
Quando chegamos à livraria, estava bem cheia. Logo Ana e a esposa nos acharam e ficamos conversando. Nisso, foi chegando mais gente; logo estavam todos ali: Thomas, Rita, as duas Anas, Érica, minha sogra, Cristina e seu marido, Suzana e Alan. Infelizmente, Silvia estava de plantão e não pôde vir. Apresentei Taís a todos e, claro, o comentário de todos era sobre nossa semelhança.
Logo, Ana foi à frente e começou a contar a história de como a ideia do livro surgiu e como foi finalizado. Ela contou muita coisa, mas sem citar nomes. Depois, começou a ler pequenos trechos do livro. Não leu muita coisa, até porque o livro não era tão grande e todos estavam em pé, inclusive ela. Logo, agradeceu a todos.
Após a leitura, ela foi para a seção de autógrafos. Ficamos ali mais um tempo e notei que se formou uma grande fila de pessoas para ter o livro autografado. Uma das pessoas foi Taís, que comprou um exemplar e foi lá para receber o autógrafo de Ana. Quando ela voltou, perguntou se a gente não ia comprar o livro. Eu disse que já tínhamos os nossos. Ela perguntou se o livro era bom mesmo, como parecia ser pelas partes que Ana leu. Eu disse que tinha amado.
Keyla ficou só ouvindo a conversa, ali do lado, se esquivando do assunto. Ficamos ali por um bom tempo e depois decidimos ir embora. Nos despedimos de todos e saímos. As meninas vieram com a gente e Naty deu a ideia de comer um lanche antes de ir. Todos nós gostamos da ideia dela e fomos para a área de alimentação. Enquanto esperávamos os lanches, Taís foi ao banheiro e Keyla foi com ela. Naty me perguntou se eu não iria contar para Taís que a história do livro era baseada na nossa história.
Fiquei pensando e, sinceramente, não sabia. Então, disse isso a Naty. Ela disse que no meu lugar contaria, já que Taís parecia ser gente boa. Era minha prima e provavelmente iria fazer parte da minha vida e das vidas de todas ali. Eu disse que iria pensar. Taís voltou com Keyla, comemos nossos lanches e depois saímos para o estacionamento. Nos despedimos das meninas porque iríamos seguir por rumos diferentes.
Quando elas saíram, Taís me pareceu meio triste. Perguntei a ela o que estava acontecendo e ela disse que estava com saudades das amigas de Campinas, que sair com minhas amigas fez ela relembrar das amizades que deixou para trás quando veio morar no Rio.
Perguntei se ela não tinha feito novas amizades e ela disse que não; que até conversava com algumas pessoas na faculdade e no estágio, mas que amizade de verdade mesmo não tinha feito. Eu vi que os olhos dela estavam marejados.
Do nada, vejo Keyla ir até ela e dar um abraço bem apertado. Taís correspondeu ao abraço; foi uma cena fofa.
Keyla— Não fica assim não. Você agora tem sua prima, tem a mim e, se tiver gostado das meninas, nós te emprestamos nossas amigas. 🤭
Keyla falou aquilo e sorriu, tentando descontrair. Parece que funcionou, porque Taís deu um pequeno sorriso.
Taís— Eu vou aceitar porque eu realmente gostei delas. 🤭 E gostei muito de vocês duas também. Obrigado por me receberem tão bem na vida de vocês.
Patrícia— Imagina, eu amei te conhecer! Por falar nisso, volta com a gente para nossa casa. Quero conversar algo com você. Posso até me arrepender disso, mas algo me diz que você é confiável.
Taís— Obrigado, eu sou confiável sim, pode apostar nisso! E vamos logo então porque fiquei curiosa.
Saímos e logo chegamos em casa. Pedi para Taís colocar a moto para dentro; logo iria escurecer. Nosso bairro é até tranquilo, mas deixar uma moto ali do lado de fora era dar chance para o azar.
Fomos direto para a sala.
Patrícia— Você viu o vídeo em que eu falava aquelas coisas para meu pai? Provavelmente, quando você ler esse livro, vai ligar uma coisa à outra, já que nós conhecemos as meninas, nossa sogra e sua namorada, que é mãe da Gabi. Você vai fazer parte das nossas vidas de agora em diante, se você quiser, claro. Resumindo, você vai ter muitas provas para descobrir a verdade e vai descobrir uma hora ou outra, mesmo que demore um pouco.
Taís— Estou meio confusa no momento. Descobri o que, prima?
Patrícia— Esse livro conta a minha história com a Keyla. As duas protagonistas da história somos nós duas. Não é exatamente a nossa história real, mas é quase idêntica. Só retiramos algumas pessoas porque não poderíamos expor elas. As outras personagens que aparecem no livro você conheceu quase todas hoje. Entendeu?
Taís— Acho que sim e estou boba com isso!
Patrícia— Mas, por favor, não fale isso para ninguém, ok? Isso pode causar problemas a pessoas muito boas.
Taís— Pode ficar tranquila, não vou falar para ninguém! Prometo.
Ela, claro, me encheu de perguntas. Fui respondendo e disse que, depois que ela lesse o livro, eu contaria a história das personagens que deixamos de fora e algumas alterações que fizemos na história. O papo foi rendendo e, quando nos demos conta, já era nove da noite.
Taís queria ir embora, mas convencemos ela a ficar. Ela ligou para a mãe dela avisando e passou a noite com a gente. Antes de irmos dormir, estávamos na sala tomando sorvete quando Becky resolveu dar o ar da graça. Ela chegou em frente ao sofá e ficou um bom tempo olhando para mim e para Taís. Depois, pulou no colo da Keyla. Acho que até ela achou estranho a nossa semelhança.
Acordamos no outro dia cedo. Taís foi para casa e ainda iria para o estágio. Ela era três anos mais velha que eu, estudava à noite também e na mesma universidade que Gabi e Naty, então provavelmente iríamos nos encontrar bastante.
Nossas vidas seguiram. Nada de muito importante aconteceu; parece que começou o tempo de calmaria para mim e para Keyla também. Tudo corria bem: o trabalho, os estudos, nossas amizades, nosso relacionamento. Taís virou uma presença constante em nossas vidas. O livro começou a vender muito bem e a editora começou a receber pedidos de livrarias de todo o Brasil.
O fim do ano foi se aproximando e nossa paz continuava. Claro que houve alguns imprevistos, mas coisas simples. O mais grave foi o término de Aline e Luciana, por causa de uma amiga de classe de Luciana que resolveu dar em cima dela. Ela escondeu isso de Aline para evitar problemas, mas Aline descobriu e, aí sim, o problema foi grande, porque Aline achou que ela tinha escondido isso por outros motivos. Mas o término durou só cinco dias e as duas se acertaram.
No início de novembro, também aconteceu algo inesperado. Keyla estava no banheiro tomando banho e seu celular começou a tocar. Eu avisei e ela pediu para eu atender. Olhei e era um número diferente, mas atendi. Era Tamires. Quando eu disse que era eu e não Keyla, ela pediu para Keyla retornar a chamada. Disse que era sobre o livro, que leu e gostou muito. Se desculpou comigo e disse que estava bem onde estava, que tinha mudado muito e que as coisas estavam indo bem para ela. Até conversamos um pouco, mas logo nos despedimos.
Quando contei a Keyla, ela ficou em dúvida se retornava ou não a ligação, mas acabou retornando. Ela me contou depois que Tamires se desculpou com ela de novo, disse que amou o final da história dela no livro e até parecia uma premonição, já que era realmente o que ela estava vivendo. Tinha largado as drogas, estava trabalhando, iria voltar a estudar e estava namorando uma garota que conheceu na clínica em que ficou. A história delas era bem parecida; acabaram se apaixonando e agora uma ajudava a outra a se manter limpa.
Eu realmente fiquei feliz por ela, e Keyla também. Perguntamos a ela como achou o livro e ela disse que foi a namorada dela que comprou porque adora ler e as lésbicas da cidade só falavam sobre o livro. Foi uma grande surpresa quando viu que reconhecia uma parte da história, mas só contou para a namorada sobre isso.
Outra coisa que aconteceu foi que Taís sempre era a única sozinha, então achamos que talvez ela nunca levasse ninguém nos nossos programas nos finais de semana, por geralmente só ter mulheres. Resolvemos falar para ela que, se tivesse algum rolo ou estivesse ficando com algum rapaz, ela poderia levar, que, se fosse gente boa, não tinha problema algum. Ela começou a rir e disse que não levava ninguém porque estava focada nos estudos; era o último ano dela na faculdade. Mas disse que, provavelmente, depois iria sim dar oportunidade para um relacionamento, mas que só não sabia se seria com homem ou mulher. Ela disse que gostava de pessoas, não ligava se era homem ou mulher.
Conheci a família dela também: a mãe e o padrasto. Os dois são uns amores; eles pediram para eu chamá-los de tios e as meninas foram todas no embalo. Agora, só chamamos eles de tios. O mesmo aconteceu com o tio e a tia da Keyla, que ganharam mais seis sobrinhas. 🤭
No primeiro mês de férias, as coisas não estavam muito bem. Fez um ano da morte de Marcos e isso deixou eu, Keyla e Ângela um pouco tristes. Keyla organizou uma missa no dia do aniversário da morte dele. Levamos flores para colocar no túmulo. Foi a primeira vez que fui até onde Jéssica foi enterrada também. Ver as fotos deles ali naquele lugar me deixou muito triste por alguns dias, mas com as festas de final de ano as coisas melhoraram, principalmente a virada que passamos na casa da Érica. Estava todo mundo lá; foi incrível passar a virada com tantas pessoas que eu gostava e que gostavam de mim.
O casamento da Érica acabou não sendo marcado para janeiro, como elas queriam. Resolveram marcar para fevereiro por causa das chuvas.
Esse ano novo prometia. Eu estava feliz. Pela primeira vez na minha vida, as coisas estavam dando certo. Mas o maior motivo dessa felicidade era mesmo Keyla. Não tem nada melhor do que amar e se sentir amada, e com ela eu me sentia amada todos os dias. Eu realmente estava muito feliz!
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper