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Jucélia:
Fazia tempo que eu não começava uma semana tão feliz e animada como comecei esta. Eu estava amando, estava namorando, passei um final de semana incrível com uma pessoa maravilhosa. Quando cheguei, Marina veio puxar papo comigo, deu bom dia e perguntou como foi meu final de semana. A gente conversou uns 20 minutos antes de começar a trabalhar; ela estava se soltando, e acho que, aos poucos, a timidez dela foi diminuindo.
O dia foi corrido, como toda segunda-feira. Troquei algumas mensagens com Day durante o dia, mas foi coisa rápida. À noite, fui à aula; não aconteceu nada de muito interessante. Quando cheguei em casa, liguei para Day rapidamente porque nós duas tínhamos que dormir, nossos horários eram bem puxados. Assim, a semana se seguiu. Na quarta-feira, consegui ir almoçar com ela. Como eu estava no centro quase no horário de almoço, aproveitei e liguei avisando que iria buscar ela no trabalho.
Estava meio com vergonha quando cheguei na porta, mas ela já veio me abraçar com aquele sorriso lindo. Me apresentou a algumas das garotas que trabalhavam ali com ela, e eu fui apresentada como a nova amiga dela. Não achei ruim, porque era nosso combinado; eu, no lugar dela, faria o mesmo.
Saímos para um restaurante ali perto. Ela ficou o tempo todo agarrada no meu braço, e fiquei feliz com aquilo. Ela não tinha vergonha de mim. Acho que, para ela, não ia ser um problema assumir nosso namoro. Na verdade, para mim também não; nunca liguei para a opinião dos outros. O problema seria com meus pais, não porque eles não me aceitassem, mas pelo impacto que isso iria causar na vida deles, principalmente no meu pai.
Eu não me importava com a opinião dos outros sobre mim, mas sobre os meus pais, sim. Sei como o povo fala, e um pastor com uma filha lésbica seria assunto para o bairro todo, principalmente o pessoal da igreja dele. Sei que teria pessoas julgando e até colocando a culpa nele. Isso era meu maior problema. Durante o almoço, falei sobre isso com Day. Ela foi um amor comigo, disse que não tinha pressa de assumir nosso namoro, que para ela o importante era a gente ficar juntas e que, se eu quisesse, a gente namorava escondidas ou falaria só com nossa família. Ela não iria me pressionar a nada e que me entendia.
Fiquei muito feliz com o apoio dela, mas não queria passar o resto da vida escondida; só queria um tempo para achar a solução para aquela situação.
A gente ficou quase uma hora juntas, deu para matar um pouco a saudade, até porque trocamos alguns beijos no banheiro. Foi rápido, porque o restaurante estava movimentado, mas mesmo assim foi ótimo sentir a boca dela na minha novamente.
Nos despedimos e voltei ao meu trabalho. À tarde, quando cheguei em casa para me arrumar para ir à faculdade, tive uma notícia ruim: minha mãe estava saindo para ir ao hospital, ela estava com muita dor na coluna. Meu pai disse que eu podia ir para a faculdade, que iria com ela e passaria a noite, caso ela ficasse internada, e me daria notícias. Apesar de estar com muitas dores e andando com dificuldade, minha mãe conversou comigo e me deixou mais tranquila.
Fui para a faculdade, mas com a cabeça o tempo todo pensando na minha mãe. Graças a Deus, meu pai mandou uma mensagem dizendo que tudo estava bem com ela. Ela foi sedada e estava dormindo. O médico disse que ela provavelmente estava com uma inflamação na coluna, mas iria fazer uns exames para confirmar. Ela iria passar a noite no hospital, mas provavelmente seria liberada no outro dia.
Consegui me concentrar mais na aula depois disso. Não era uma ótima notícia, mas pelo menos não era horrível, e se ela provavelmente iria ser liberada no outro dia, não era nada tão grave.
Quando voltei para casa, liguei para Day e contei o que estava acontecendo. Ela disse que qualquer coisa que eu precisasse, podia falar com ela, porque o pai poderia ajudar. Eu disse que estava tudo bem, que meu pai tinha convênio e provavelmente no outro dia minha mãe estaria em casa. Aí, ela disse algo que eu ainda não tinha pensado: minha mãe iria ficar um bom tempo sem poder fazer praticamente nada e eu teria que cuidar dela.
Ali, me toquei que, se eu já não tinha tempo para quase nada, com isso eu iria ficar sem nenhum. Comentei isso com ela, e ela disse que o importante agora era eu cuidar da minha mãe e que o resto a gente dava um jeito. Falamos mais um pouco e fui dormir.
Fui trabalhar no outro dia. Na hora do almoço, meu pai mandou mensagem avisando que ele e minha mãe já estavam em casa. Ela foi liberada, mas iria ficar de cama por um tempo. No dia seguinte, o médico já teria os resultados dos exames dela.
O final de semana chegou e, infelizmente, eu tinha um monte de coisas para fazer: casa para limpar, roupa para lavar. A casa passou a ser responsabilidade minha, minha mãe mal conseguia andar. O resultado dos exames confirmou que era mesmo uma inflamação na coluna e ela iria ficar, no mínimo, 20 dias na cama. O médico disse que era uma inflamação aguda e não crônica, que com os remédios que ele passou e repouso, provavelmente ela ficaria bem em 20 ou 30 dias.
O resultado disso foi que eu não pude ir ver Day no final de semana e talvez não iria poder no próximo. Minha mãe precisava de ajuda para quase tudo, principalmente para tomar banho, e meu pai não podia ajudar sempre. Conversei com Day e ela me pareceu entender, mas senti que sua voz ficou diferente; parecia triste. Eu a entendia, eu também ficaria no lugar dela.
Meu pai me ajudou um pouco no domingo, mas ele tinha as obrigações da igreja também, então a ajuda dele não foi muita. Mas deixei a casa toda limpa, lavei as roupas, deixei tudo perfeito, porque eu sabia que no meio da semana não teria tempo.
Meu pai não cozinhava muito bem, então sobrava para mim também. Passei a acordar às 5:30 da manhã para fazer comida que desse para o almoço e a janta, porque eu não teria tempo durante o dia. Eu ia trabalhar e, quando chegava, lavava umas louças, olhava como minha mãe estava, jantava e ia para a faculdade. Quando chegava, estava morta de cansaço e sono. Naquela semana, só liguei para Day duas vezes; nas outras, só mandava uma mensagem de boa noite e ia dormir.
O pior disso tudo foi que, durante a semana, no único dia que deu para eu ir almoçar com ela, deu errado, porque ela tinha uma cliente importante justo na hora do almoço e não pôde almoçar comigo. Eu estava com muita saudade dela, chegava a doer o coração.
A semana se foi e as coisas não melhoraram muito. Não pude ir ver Day de novo, mas pelo menos a gente se falou bastante pelo telefone. Porém, eu sentia que ela estava triste, assim como eu; a saudade estava machucando as duas, mas mesmo assim ela procurou me dar a maior força.
Mais uma semana começou. Consegui dormir um pouco no final de semana e descansei um pouco também, mas na terça eu já fui trabalhar com sono de novo. Marina notou que eu não estava bem e veio falar comigo. Eu contei para ela o que estava acontecendo com minha mãe. Ela disse que, se soubesse andar de moto, me cobriria, nem que fosse um dia na parte da manhã, para eu dormir um pouco. Eu agradeci a boa vontade dela.
Acabei não ligando nenhum dia para Day, mas mandava mensagem todo dia antes de dormir e de manhã. Durante o dia, a gente trocava mensagens também. Eu estava usando a hora do almoço para dormir um pouco; almoçava e ia para uma sala onde ficavam uns arquivos. Ali, eu dormia até o horário de voltar ao trabalho. Pedi para Marina me procurar lá, caso o despertador do celular não me acordasse e eu perdesse a hora.
Na quinta-feira, conversei um pouco com minha mãe; ela disse que já estava um pouco melhor, que provavelmente os remédios estavam fazendo o efeito esperado. Fiquei muito feliz por ela. Me arrumei e fui para a faculdade. No intervalo da segunda aula, vi que tinha uma mensagem da Day. Quando li, achei bem estranho: ela me perguntava se eu tinha certeza de que queria mesmo continuar com nosso namoro, que, se eu tivesse mudado de ideia, era só eu falar.
Aquilo, sinceramente, doeu. Poxa, eu em nenhum momento pensei nisso. Eu só estava totalmente sem tempo; ela sabia o motivo. Sinceramente, aquela mensagem me deixou bem chateada, mas pensei bem: ela provavelmente estava com muita saudade. Eu nem estava ligando para a gente conversar direito; provavelmente a insegurança bateu.
Resolvi fazer algo que eu nunca tinha feito na vida: eu iria matar o restante das aulas. Olhei no celular e era 20:10; provavelmente ela estaria indo para o apartamento naquele horário. Peguei minhas coisas e saí, queria vê-la frente a frente para poder falar o que tinha para falar olhando nos olhos dela. Talvez assim ela entendesse que eu realmente a queria, que eu só estava sem tempo para nós duas naquele momento.
Quando cheguei no seu bairro, passei em uma praça e roubei uma rosa. Queria fazer uma surpresa para ela. Estacionei e subi. O porteiro já me conhecia e tinha me visto com ela ali, disse que ela tinha acabado de chegar do trabalho e liberou minha entrada. Quando saí do elevador e virei no corredor do seu apartamento, vi uma pequena claridade na porta; provavelmente a porta estava aberta.
Quando estava me aproximando, ouvi umas vozes, mas depois fez-se silêncio. Cheguei e a porta estava realmente aberta. Quando olhei, tinha várias pétalas de rosas no chão da sala, vi alguns balões em forma de coração e um buquê de flores lindo em cima do sofá. Quando olhei mais ao lado, entendi o que estava acontecendo: Day estava segurando os pulsos de um rapaz que tinha as duas mãos no seu rosto enquanto a beijava.
Naquele momento, uma dor tão forte tomou conta do meu peito que minhas lágrimas brotaram nos meus olhos na hora. Eu fiquei olhando a cena por uns segundos; parecia não acreditar no que via, mas infelizmente era a verdade. A garota que eu amava estava ali, aos beijos com outro cara. Minha única reação foi virar as costas e sair dali.
Senti as lágrimas correrem pelo meu rosto enquanto tentava chegar o mais rápido possível ao elevador para sair dali. Quando cheguei, o elevador começou a demorar. Perdi a paciência de esperar e fui em direção às escadas. Desci e, quando cheguei na saída, notei que ainda estava com aquela rosa na mão. Eu mesmo me chamei de idiota naquele momento. Vi uma lixeira e joguei a rosa ali. Quando levantei a cabeça para sair, vi Karen vindo.
Eu não queria e nem iria conseguir conversar naquele momento. Fui em direção à saída, que era a mesma onde Karen estava. Nem tentei esconder meu choro, porque não iria conseguir, e claro que ela viu meu estado assim que me aproximei.
Karen— Jú, o que houve? Por que está assim?
Jú— Me desculpe, Karen, mas não posso conversar agora.
Não sei de onde tirei forças para falar aquilo, mas falei e saí sem olhar para trás. Liguei minha moto e saí dali, fui para a mesma praça onde roubei a rosa. Eu não estava em condições de ir de moto para casa naquele momento. Estacionei e fui para um banco vazio em um local mais escuro no meio da praça. Ali, eu chorei, mas chorei muito. Graças a Deus, acho que ninguém me viu, ou se viu, nem ligou, porque ninguém me incomodou.
Não sei quanto tempo fiquei ali chorando, mas quando consegui parar, tentei me acalmar, pôr as ideias no lugar e dar um jeito de ir para casa. Já era quase 22 horas; eu estava em um estado emocional de dar pena. Meu coração estava dilacerado. Doía muito o que eu tinha acabado de ver. Fui muito trouxa de confiar em alguém que eu mal conhecia. Me entreguei cegamente a ela, mas no final descobri que ela era totalmente diferente do que eu imaginei.
Respirei fundo, limpei meu rosto e saí dali. Eu precisava ir para casa. Eu sabia que dali para frente seria muito difícil para mim, mas eu sempre fui uma lutadora. Eu iria sobreviver.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper