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Daynna:
Eu estava quase explodindo de felicidade quando saímos para ir à casa da Jú. Eu estava levando a Karen, que estava toda feliz por termos nos acertado. O clima estava ótimo, mas assim que paramos na porta da casa da Jú, a boa atmosfera se acabou, pelo menos da minha parte.
Fiquei nervosa por ter que conhecer meus sogros. É verdade que já conhecia o pai da Jú, mas a gente conversou rapidinho e, ainda por cima, eu saí sem me despedir.
Minha sorte é que a Jú já estava me esperando no portão. Ela tinha vindo na frente para avisar os pais que estávamos chegando. Disse que era para falarmos a verdade: que nos conhecemos na boate, nos demos bem e nos tornamos amigas. A gente só ia omitir a parte do nosso relacionamento.
A Jú já me acalmou dizendo que os pais dela não eram do tipo que ficava enchendo a gente de perguntas e que ambos eram super tranquilos. Aquilo me acalmou um pouco, mas mesmo assim eu estava nervosa. Já a Karen parecia estar de boa, como sempre.
No fim, deu tudo certo. Os pais dela foram um amor conosco. Almoçamos juntos, e a mãe dela já estava um pouco melhor e conseguiu vir sentar à mesa com a gente. O assunto girou mais em torno do bairro onde eu morava. A Karen se deu muito bem com minha sogra, e o papo rendeu depois que minha sogra disse que conhecia a mãe da Karen e que as duas eram boas amigas.
Depois do almoço, eu e a Jú lavamos as louças, enquanto a Karen foi conversar com minha sogra no quarto. Depois, nos reunimos todas lá. Meu sogro saiu para fazer alguma coisa na igreja, já que ele era pastor, e ficamos só nós mulheres. Conversamos e rimos muito, principalmente das piadas da Karen.
Quando deu umas treze horas, a Jú recebeu uma ligação. Não vi de quem era, mas percebi que ela estava combinando com a pessoa de ir à casa dela. Achei que era alguém da família, mas assim que desligou, chamou eu e a Karen para irmos à casa de sua colega de trabalho.
A gente aceitou o convite. A Jú falou para sua mãe que era perto de onde íamos e, caso ela precisasse, era só ligar. Disse que eu e a Karen ainda voltaríamos para nos despedir direito dela. Quando saímos do quarto, perguntei à Jú quem era essa amiga dela. Ela começou a me explicar durante o caminho como se conheceram e, então, me disse algo que me fez sentir um pouco de ciúmes: ela falou que a Marina era noiva de uma garota que provavelmente era uma das mulheres mais bonitas que ela já tinha visto.
Eu não falei nada, até porque a última coisa que eu queria era brigar com a Jú. Além disso, é super normal acharmos outras pessoas bonitas, mas o entusiasmo com que ela falou, de alguma forma, me incomodou.
Logo chegamos e uma garota estava nos esperando no portão. A Jú nos apresentou; era a Marina. Ela era bem bonita, mas parecia ser bem tímida, como a Jú já tinha me falado. Eu fui apresentada como amiga da Jú, conforme o nosso combinado. Entramos e, já na sala, estava outra garota. Quando a vi, entendi o entusiasmo da Jú; a garota era realmente muito linda. A Karen foi a última a entrar e, ao ver a garota, falou:
Karen— Jennifer!?! É você mesmo, piranha?
Na hora que a Karen falou aquilo, acho que o susto foi geral, mas não durou muito.
Jennifer— Sou eu mesmo, vadia! Que saudades de você, Karen!
As duas estavam sorrindo e logo se abraçaram; acho que o alívio foi geral.
Jú— Vocês se conhecem?
Karen— Sim! Quando minha melhor amiga parou de sair comigo, eu ia muito a uma boate no centro, e a Jennifer também. Tínhamos amigos em comum e acabamos fazendo amizade, mas ela sumiu do nada. Depois, recuperei minha melhor amiga e nunca mais tinha encontrado com ela.
Jennifer— Você não ficou sabendo da minha história, não? Foi assunto na faculdade durante um bom tempo.
Karen— Fiquei sim! Nem acreditei quando me contaram, mas agora estou vendo com meus próprios olhos e fico muito feliz por você, de verdade, piranha! kkk
Jennifer— Fico feliz por isso, vadia! kkk Eu já tinha visto você se pegar com umas meninas na boate, então imaginei que para você seria de boa. Só nunca imaginei que, depois de tanto tempo, você apareceria na minha casa.
A Marina, que estava calada, só olhando, resolveu falar. Primeiro, me apresentou à Jennifer, que me deu um belo abraço. Ela parecia ser bem parecida com o jeito da Karen: sempre sorrindo, falante e falando muito palavrão. kkk
Jennifer pediu para a gente sentar. Eu sentei ao lado da Jú, a Karen no sofá pequeno e a Marina foi arrastada para o colo da Jennifer. A Jennifer perguntou se a gente bebia. Todas nós bebíamos, mas eu não podia porque iria voltar dirigindo. Ela fez uma ligação e disse que tinha pedido algo para a gente beber.
Conversamos um pouco, e a Karen, curiosa que só, perguntou para a Jennifer como a história dela aconteceu, desde que ficou sabendo que ela tinha se assumido lésbica, arrumado uma namorada e saído de casa.
Jennifer— Eu posso contar, mas é meio grande a história.
Karen— Estou com tempo e estou curiosa, e acho que as meninas também.
Eu e a Jú concordamos com a Karen.
Jennifer— Bom, então vou contar até chegar meu pedido. Depois eu tomo um fôlego e termino, kkk.
Eu descobri que gostava de garotas e não de garotos no início da adolescência, mas eu era filha de um dos maiores empresários da cidade e um dos mais conhecidos também. Meu pai era do tipo de homem que era religioso, rígido e defensor dos bons costumes, como dizem por aí.
Então, eu nunca me assumi. Porém, no colegial, já começaram algumas conversas sobre mim: a garota rica e bonita que a maioria dos garotos considerava um bom partido, mas que nunca foi vista com ninguém. Algo estava errado. Bom, nessa época, a única pessoa que sabia que eu era lésbica era um amigo que fiz assim que entrei no colégio, e só contei para ele porque, depois de alguns meses de amizade, ele me confidenciou que era gay.
Ele era um homem lindo, de boa família, e nossa história era bem parecida. Então, resolvemos nos ajudar mutuamente. Namoramos quase dois anos de mentira, éramos o casal perfeito aos olhos dos outros.
Porém, quando saímos do colégio, ele foi estudar no Canadá e eu fiquei aqui. Mas como a maioria da galera do meu colégio foi estudar na mesma faculdade, meu disfarce de hetero estava seguro por um tempo. Até fingi uma dor de cotovelo por uns 6 meses, kkk.
Depois, comecei a sair e foi nessa época que conheci a Karen. Eu curtia bastante as farras e, mesmo com um monte de garotos querendo ficar comigo, não ficava. Algumas meninas tentaram também, mas eu não ficava com medo de ser descoberta e envergonhar meu pai. Além disso, provavelmente ele me mandaria para um colégio interno se soubesse que sua princesa não gostava de príncipe, nem de sapo, mas sim de perereca. kkkkkkk
Tudo corria bem na medida do possível até essa princesa que está aqui no meu colo entrar na minha turma. Eu me encantei com ela assim que a vi. Tentei não me aproximar dela, mas era mais forte do que eu; eu estava apaixonada por ela sem nem ao menos ter trocado uma palavra. Por fim, decidi arriscar, até porque já tinha visto o pingente dela e imaginei que ela era lésbica. Confirmei isso depois com umas pessoas que a conheciam há mais tempo; ela era lésbica e assumida.
O problema foi me aproximar dela. Essa garota aqui não falava com ninguém, não saía nos intervalos, e eu não tinha ninguém de confiança para me ajudar. Um belo dia, saiu todo mundo da sala e, como sempre, ela ficou. Eu dei a desculpa de estar com dor de cabeça e fiquei na sala. Meus colegas todos saíram e, até que enfim, eu estava sozinha com ela. Nunca fiquei tão nervosa na vida como fiquei naquela hora, mas criei coragem e fui até onde ela estava. Puxei assunto, mas ela só respondia com a cabeça. Mas eu insisti e, com muito custo, arranquei as primeiras palavras dela naquele dia. Nos dias seguintes, sempre arrumava uma desculpa para ficar na sala conversando com ela e, aos poucos, ela foi se soltando. Viramos colegas, mas eu já não aguentava mais ficar só conversando com ela. Tomei coragem e me declarei. Ela achou que eu estava zuando, que era alguma brincadeira de mau gosto ou algo assim. Ela simplesmente parou de falar comigo.
Mas eu não desisti. Continuei tentando e, mesmo ela nem respondendo direito, eu ficava conversando com ela. Aos poucos, ela começou a confiar em mim e, um belo dia, me perguntou se aquilo que eu tinha falado era sério mesmo. Eu disse que era e que não era brincadeira nem nada disso, que jamais faria algo do tipo.
Bom, acho que ela acreditou porque disse que sentia o mesmo por mim, que gostou de mim desde a primeira vez que me viu na sala. Eu corri para a porta da sala e não tinha ninguém no corredor. Voltei correndo e a beijei pela primeira vez.
Ali começamos a namorar escondidas. Expliquei para ela minha situação e ela entendeu. Na faculdade, já tinha comentários sobre a gente porque eu vivia grudada nela, mas sinceramente, não me importava mais. Sempre íamos à minha casa, eu dizia que ela era minha amiga de faculdade. Lá tínhamos uma certa privacidade, então aproveitávamos. Tive minha primeira vez lá e foi lindo.
Mas alguém, não sei como, tirou uma foto minha e dela se beijando dentro do meu carro. Até hoje não faço ideia de quem foi e nem me importa mais saber, mas a pessoa que fez isso mandou a foto direto para o meu pai.
Um belo dia, estou no meu quarto em uma sexta de manhã e meu pai entra me xingando. Não vou repetir o que ele falou, mas tudo de ruim que uma lésbica pode ouvir, eu ouvi naquele dia. De doente a puta, eu ouvi de tudo. Ele estava totalmente descontrolado. Ele só não me bateu porque minha mãe entrou na frente, mas antes de sair, ele disse que eu nunca mais veria um centavo dele e que ia me mandar para bem longe.
Eu chorei muito trancada no meu quarto, mas sabia que aquilo não resolveria nada. Então, comecei a pensar no que poderia fazer. Liguei para a Marina e contei o que tinha acontecido. Ela pediu para eu fugir para a casa dela, que lá a mãe e o pai dela nos ajudariam. Então, resolvi fugir, mas antes pensei no que poderia levar. Arrumei uma mochila com minhas roupas e peguei todas as joias que tinha; algumas eram bem caras. Peguei meu cartão de crédito, que tinha o limite de cinco mil reais, mas estava no nome do meu pai. Ele pagava a fatura, mas eu raramente gastava mais de mil por mês. Peguei a chave do meu carro e os documentos. Eu tinha ganhado um Camaro há uns 4 meses antes de presente de aniversário; o carro estava no meu nome.
Quando escureceu um pouco, fugi pela janela. Quando liguei o carro, meu pai ouviu e tentou vir atrás de mim, mas não deu tempo. Ele ligou na portaria do condomínio para impedir minha saída, mas já era tarde. Eu já tinha saído e dali só parei na porta de um supermercado. Fiz uma compra de dois mil reais e pouco, mandei entregar no endereço da Marina. Depois, comprei quase três mil reais em roupas e calçados para mim. O restante do limite do cartão eu usei para abastecer o carro. Fui ao banco e saquei um dinheiro que tinha. Não era muito, mas dava para me virar por uns tempos. Daí, fui para a casa da Marina, joguei o cartão fora porque com certeza ele seria bloqueado.
Depois, termino de contar. Nossas bebidas chegaram. 🤭
Karen— Meu Deus, que sacanagem! Parar justo agora, piranha! kkk
Eu sinceramente queria matar ela naquele momento, mas ela se levantou e foi atender o entregador. Pediu umas cervejas e uns espetinhos para nós. As minhas cervejas ela pediu sem álcool. Achei que ela iria continuar a história assim que voltasse, mas resolveu beber uma cerveja primeiro, dizendo que a garganta estava seca.
Bom, resolvi beber uma também, mas a curiosidade de saber o fim da história estava me corroendo por dentro. 🤭
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper