- Não sei...
- Eu espero você conversar com o Caio.
- Tá certo.
- Eu ligo já-já.
Desliguei.
- Caio, ele quer ir com a gente!
- Sério mesmo?
- Parece que sim. Ele disse que basta a gente dizer onde fica e ele vai depois.
- Você quer que ele vá?
- Não sei. Tipo, ele vai arrumar confusão. Aposto!
- Talvez não.
- Você quer que ele vá?
- Para mim tanto faz. O irmão é seu.
- Eu não sei não, Caio.
- Então diga para ele não ir, oras.
- A voz dele não parecia... enfim, era uma voz amistosa.
- Você quem sabe, Marlon.
O telefone tocou de novo.
- Ewerton?
- E aí, decidiu?
- Olha, o endereço. Anota aí: XXXX.
- Tá, quando eu chegar na cidade, te dou um toque.
- Leve roupas, colchonete e escova de dentes.
- Tá!
Desliguei, enfim.
- Talvez seja bom!
- Está ficando louco? Ele vai estragar tudo. - surtei.
- Ué, então por que convidou?
- Não sei. Não consegui dizer não.
- Ele quer ir de bom grado...
- Será?
- Vamos ter esperanças.
- Sei não...
- Vem cá, meu Marlonzinho-zinho-zinho. Deixa eu te dar um beijinho. Quem sabe não foi uma coisa acertada? Quem sabe não foi melhor assim?
- O que você tem a ver com isso?
- Eu?
- É, você!
- Eu? Nada!
- Acho bom!
Descemos. O carro era do namorado da Claudinha, mas eu é quem dirigia.
- Gente, tenho uma novidade para contar - eu comecei.
- É uma novidade super supimpaaaaa. - brincou o Caio.
- Diz. - disse a Claudinha.
- Meu irmão vai junto!
- Que irmão? O Ewerton? - perguntou o Tom.
- Eu só tenho ele de irmão.
- Por quê?
- Porque ele me pediu hoje.
- E por que você não disse um “Não” bem grandão?
- Não consegui.
- Isso vai dar merda. Já estou vendo. Não era você que queria paz?
- Gente, vamos com calma. Quem sabe não vai ser bom? - tentou acalmar, o Caio.
- Vai ser ótimo, Caio. Ótimo mesmo! Uhul! - ironizou o Tom.
Eu só não queria que desse algum problema, pois o convite já estava feito. O resto da viagem foi tenso. O Tom parecia chateado, fiquei meio encucado.
Nós chegamos e fomos desembarcando as coisas. Abri o porta malas e fui retirando as “trouxas”. O Tom se aproximou.
- Marlon, desculpa meu surto no carro. É que seu irmão é um mala.
- Tudo bem, já estou arrependido de ter deixado ele vir.
- Mas é como o Caio disse: quem sabe não vai ser diferente do que estamos pensando?
- Tomara.
Começamos a arrumar a casa. Ela tinha três quartos. Eu, como aniversariante, pedi para ficar com um só para mim. Tive que brigar por isso. Mas no fim, com muita chantagem emocional, consegui.
Começou a escurecer e o Ewerton não aparecia. No início da noite, ele liga:
- Acho que me perdi!
- Onde você está?
- Num posto de gasolina.
- É um amarelinho, XXX?
- É.
- Pega a transversal, depois pega uma ruazinha estreita do lado, é uma estrada de terra e segue. Vou estar na porta, esperando.
- Beleza. Ah, Marlon, estou levando a minha namorada. Tudo bem?
- Se ela não se importar em dormir com um monte de estranhos num colchonete...
- Ok.
Fiquei mais tranquilo quando ele disse que estava com a namorada. Nem sabia que ele estava namorando.
- Caio, meu irmão está chegando. Vou esperá-lo na porta, tá?
- Tá bom.
Fui para o portão e não demorou muito avistei o carro. Era o meu antigo carro, que ganhei de aniversário de dezoito anos. Ele estacionou em frente e quem desceu primeiro foi a namorada. Era bonita, aparentemente simpática, morena clara e de uns 1,Você que é o Marlon? - ela perguntou apontando para mim.
- Sou.
- Prazer! - e me abraçou - sou a Gabriela, sua cunhada. Feliz aniversário.
- Prazer. Só não sei se você é mesmo minha cunhada.
- Como assim?
- Esqueça.
Meu irmão deu a volta no carro e veio timidamente. Com uma das mãos abraçou a Gabriela por trás e com a outra ele estendeu para me cumprimentar:
- Oi.
- Oi. - apertando sua mão.
- Feliz aniversário.
- Obrigado.
Falávamos sério, sem entusiasmo.
- Não te trouxe nada, desculpa.
- Não pedi nada.
- Mas trouxe umas coisinhas.
- Que coisinhas? - perguntei com medo.
- Ah, comida, bebida. Essas coisas... me ajuda a descarregar?
Fomos para o portamalas dele, que estava cheio de coisas: uma caixa de cerveja, garrafas de vodka e muitos salgadinhos. Colocamos as coisas no jardim e depois desembarcamos os colchonetes e as mochilas.
- E o Caio? - perguntou a Gabriela.
- Está lá dentro.
- Vou entrando, então. - disse a minha cunhada.
Foi a “deixa” para nos deixar sozinhos.
- O que você pretende com tudo isso?
- Não sei. Isso tudo foi ideia da Gabriela. Estou gostando muito dela, sabe? Você me conhece... - eu interrompo.
- Costumava conhecer.
- Enfim, sabe que não sou de me prender a ninguém, mas a Gabi... gosto dela.
- Ela parece ser legal.
- Ela é. Ela é diferente. Estou pensando, finalmente, em me casar.
- Nossa!
- É.
Fiquei surpreso. Parecia mudado, parecia mais maduro.
- Essa coisa de eu vir, foi ideia dela.
- É, tinha que ser alguma coisa desse tipo para você se prestar a vir para cá.
- Mas isso não significa que não quisesse estar aqui. Só estou dizendo que ela conversou comigo. Quando nos conhecemos, disse a ela que tinha um irmão gay, que não o aceitava. Ela riu de mim. Mas só no início. Quando ela viu que era sério, ela me deixou.
- Ou seja, você não veio porque já está me aceitando.
- Não. Não é assim. Tive que correr atrás dela, tive que provar que a merecia. Eu poderia ter todas as qualidades, mas faltava uma coisa. Depois descobri que ela também tem um irmão gay, que doou um dos rins para ela.
- Nossa! Será que ela vai virar lésbica agora? Quando foi isso? - ironizei.
- Nem vem, Marlon!
- Ué, mas é verdade.
- Quer parar? Na verdade, na verdade mesmo, ainda não consigo suportar a ideia de que você beija um cara, transa com ele, dá o cu.
- Você já deve ter comido muitos cus.
- É diferente. Não sei explicar... só sei que... olha, não posso negar, eu te amo. Me sinto culpado por não conseguir te aceitar. Ainda quero matar você, mas... você é meu irmão. Acho que posso passar um final de semana com você, mas não sei se consigo vir você e o Caio juntinhos. Até posso conversar com ele... eu acho, mas não gostaria de ver vocês se beijando. É nojento.
- Admita: você veio para agradar a Gabriela.
- Também. Mas... queria te dar os parabéns.
- Você já tinha dado por telefone.
- É diferente. Marlon, será que você não entende?
Ficamos um tempo calados.
- E os seus pais?
- Nossos pais! - ele me corrigiu.
- O que os seus pais acham disso?
- Não disse nada para eles.
- Por quê?
- Você sabe porque.
- Sei...
- Mas disse para o papai que liguei para você, te desejando felicidades. - ele deu uma pausa - Sabe, papai é menos resistente a você que a mamãe. Ela é mais cascagrossa. Quando disse para ele que tinha te ligado, ele perguntou, tentando disfarçar a emoção, como você estava. Poxa, faz mais de dois meses mais ou menos que nos vimos. O velho sente a sua falta.
Eu não disse nada, não iria dizer nada. Não iria entregar os pontos, não iria desabar em lágrimas. Tentei me segurar.
Passamos mais um tempo calados.
- Você não me aceita ainda, mas está disposto a me aceitar? Está disposto a aceitar a ideia de que sinto tesão pelo Caio sim, de que transo com ele, de que faço sexo oral nele?
- Para, Marlon! - fez uma expressão de nojo.
- Está disposto a me aceitar? Faria um esforço?
- Até faria...
- Mas... ?
- Sem “mas”. Estou aqui para ver se consigo mesmo ser seu irmão.
- Então você vai ter que aceitar o Caio. Vai ter que aceitar os nosso beijos. E ai de você se desrespeitar o meu namorado ou qualquer outra pessoa aqui dentro.
- Não vou fazer nada. - disse ele de forma rude.
- Acho bom!
Não havia mais muito o que dizer para ele. Só queria que ele ficasse ciente de que ele era o estranho ali e que, se por acaso ele não se comportasse com educação, ele é que estaria errado.
Parecia claro, até porque somente o fato de ele ter se deslocado de uma cidade para outra para passar o final de semana com o seu irmão gay já era um atenuante de que ele estava consciente do que estava acontecendo.
Sim, uma mulher, uma outra pessoa era responsável por isso. Não foi de forma natural. Mas eu estava feliz mesmo assim. Já gostava da Gabriela antes mesmo de conhecê-la.
- Bom, então vamos entrar? - eu perguntei.
- Quantas pessoas têm aí dentro?
- Umas dez, eu acho.
- Quantas... - eu o interrompi.
- São gays?
- É.
- Caio, Tom, Luciano e eu.
Ele pareceu arrependido, fez uma cara estranha. Muito tempo depois desse ocorrido, pensei se não foi o fato de eu dizer, naquele momento, que me incluía aos gays que o incomodou.
- Vamos ou não?
Ele fez um sinal positivo com a cabeça e fomos entrando. A sala era o primeiro cômodo da casa. Nela estavam Gabriela, Claudinha, o namorado, Tom, Luciano, Caio, Luiza e mais um casal de amigos, ou seja, eram oito pessoas. A Gabriela parecia bem instalada. Ela estava ao lado do Caio e os dois estavam super entrosados.
Quando entramos, todos se calaram. Fiquei constrangido com isso, fiquei constrangido por ele. Queria que ele se sentisse o mais confortável possível, dentro dos limites dele, é claro, mas que com todo o resto não tivesse problemas. A Gabriela quebrou o silêncio:
- Oi, Mô!
Ele só sorriu. Todos olhavam para ele surpresos e apreensivos.
Mas eu entrei em pânico nos instantes que se seguiram: o Caio se levantou do sofá e achei que ele só tinha saído para dar lugar ao Ewerton se sentar ao lado da namorada, mas não. Ele se levantou, veio em nossa direção e:
- Oi Ewerton. - cumprimentou com a mão estendida.
Foi questão de segundos, mas me pareceu um pouco mais que a eternidade.
- Oi. - apertando a mão do Caio.
- Seja bem vindo, viu? Fique à vontade. Eu só vou à cozinha, ver se o jantar está pronto.
E saiu. Respirei fundo, me recuperei do susto e continuei:
- Você já conhece a Luiza, já namorou com o Vinícius; ali é a Claudinha e o namorado; ali é mais um casal de amigos; e ali são Tom e Luciano. Pessoal, esse é o meu irmão, Ewerton!
Todos disseram “oi”. O Ewerton deu um sorrisinho de canto de boca e sentou-se ao lado da Gabriela. Ele parecia arrependido. Quando ele se sentou, ficou evidente que ele não se sentia à vontade.
Mas eu não poderia fazer mais nada e o Ewerton não era a minha prioridade.
Desencanei de fazer a corte para o Ewerton no momento em que ele se sentou. Sentei numa cadeira à frente. Ficamos todos calados. Não havia muito o que dizer. Não havia muito o que fazer. Mas a Gabriela parecia determinada a salvar o fim de semana.
- Vocês vieram para cá só por vir ou vai rolar festinha?
- Ah, não sei, pergunta para o Marlon. Ele está que nem “véio”: veio para descansar! - disse o Tom.
- Não, vai ter uma “biritinha” sim. Aliás, festa nossa não pode faltar álcool. Mas quanto a ter música alta e um monte de gente dançando... bem, eu não sei. Apesar de ser o “dono da festa inexistente”, não decido essas coisas. Se der a louca no Caio e no Tom, eles tomam todas, dançam até de manhã e nem se importam comigo.
- Hahaha, eu gosto assim. Também adoro dançar. Adoro eletrônico. Só não bebo. Mas é tão bom ver as outras pessoas bebendo e fazendo “merda” nas festas... - confessou a Gabriela.
- Esse é o esporte preferido do Caio - disse o Tom.
- O QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO DE MIM AÍ? - gritou o Caio da cozinha.
- HAHAHAHAHAHA, NADA NÃO, MOZÃO!
Gritei com o rosto virado para a cozinha. Quando virei, voltei para o campo de visão onde se encontrava meu irmão. Ele me olhava com uma cara estranha, que não saberia descrever se era ódio, nojo, indiferença... só sei que não era uma cara agradável. Ignorei.
- Enfim, só sei que hoje acho que não rola festa nenhuma. Mas vai rolar uns baralhos, um jogo de tabuleiro, Uno... essas coisas - continuei.
- Ou seja: programa de gente velha! - disse o Tom.
- Hahahaha, tudo bem. - disse a Gabriela.
- Mas vai rolar bebidinhas espertinhas também. Não vou aguentar passar a madrugada sóbria jogando. - disse a Claudinha.
- Óbvio. Você disse o óbvio, querida! - disse o Tom.
Ficamos conversando um bom tempo e nada do Ewerton se manifestar. Ninguém o pressionou a falar nada. Até porque fazer isso seria pior e uma das coisas que aprendi com o Caio é ignorar.
Às vezes ignorar é o melhor remédio. Quem se sente ignorado, sente também um mal estar que incomoda.
Para parar de se sentir mal, essa pessoa precisa ser notada e bem quista, e, para tanto, precisa se manifestar.
Se manifestar é a cura mais eficiente para qualquer doença: desde as biológicas, até as psicológicas, passando também pelas doenças que são um pouco das duas. “Deixe que ele se vire!”, foi o que eu pensei.
- Minha gente, o Caio está cozinhando sozinho? Vamos lá ajudá-lo? - disse a Gabriela já se levantando do sofá.
- NÃO! - gritaram todos.
- Por quê?
- Porque ele não gosta de ninguém ajudando.
- Mas deve ser muita comida, minha gente... vocês são maus! - brincou ela.
- O Caio é nosso serviçal. - brincou o Tom.
Em pouco tempo, o Caio servia a mesa. (costumo lembrar as comidas que o Caio faz em ocasiões especiais, mas desse dia não lembro). A única coisa em que ajudamos o Caio foi para trazer os pratos, talheres e copos para a mesa.
O Ewerton ficou no canto da sala com a namorada. Eles conversavam, cochichavam...
Arrependi-me de deixá-lo vir, não por medo dele fazer um barraco, mas pelo clima tenso que ele gerava em todos.
Ninguém se sentiu à vontade de interrompê-los para jantarmos juntos.
Estava ficando muito chato aquilo tudo. Zanguei-me por dentro. Olhei para o Caio, fiz uma cara de poucos amigos. O Caio fez uma cara apaziguadora. Começamos a comer sem eles. Depois eles foram para a mesa. O Ewerton continuou calado e continuei ignorando. Puxei o Tom num canto e disse:
- Não deixe de fazer nada, nem muito menos deixe de ser quem você é por causa do meu irmão, ouviu?
- Não estou fazendo isso.
- Sei, mas só quero adverti-lo.
- Por que você está dizendo isso para mim?
- Porque além do Caio, só tem o Luciano e você de gays aqui.
- Tudo bem.
E continuamos o que tínhamos programado: abrimos um espaço no meio da sala, sentamos todos no chão, pegamos as garrafas de vinho e as batidas, caipiroscas... começamos a beber e jogar baralho.
O Ewerton não quis participar. Sentou-se no sofá e fez cara de emburrado.
A Gabriela sentou-se conosco e começou a jogar. Vez ou outra ela olhava para o Ewerton com cara de reprovação. Começamos a ficar bêbados. Uma gritaria só.
- BATI, BATI, BATI. - gritou o Caio.
- VAI TOMAR NO CU, CAIO. VOCÊ ESTÁ ROUBANDO, ESSA PORRA! - berrou o Tom, brincando.
- Hahahahahahahaha, inveja faz cair o cabelo, viu?
- Se cair cabelo do meu cu já ganho também. Pelo menos não pago a depiladora.
- Nojo de você, seu tratante. Mas enfim, vocês todos vão beber uma dose. Todo mundo, vamoS!
O Caio levantou e começou a dançar no meio da roda, espalhando todos os baralhos.
- É A DANÇA DA VITÓRIA, É DANÇA DA VITÓRIA! - gritava.
- Caio, vai estragar os baralhos! - eu disse.
- Vai não. - ele desceu e me deu um selinho - vai não Marlonzinho-zinho-zinho!
A Gabriela levantou da roda e disse:
- Marlon, vem comigo lá fora?
Não disse nada, só me levantei. Não tinha percebido, mas ela já tinha chamado o Ewerton também. Fomos para o jardim.
- Posso saber o que está acontecendo? Vocês não se falam...
- Nem sei por que vim. Parece que não faço a mínima diferença - disse o Ewerton.
- Não entendi. - eu disse.
- Ué, você não é o “dono da festa”? Você está me ignorando aí...
- Não estou te ignorando, você é quem está se excluindo. Não fala com ninguém. Não fala nem mesmo com a sua namorada. Não quis jogar com a gente. Você não está fazendo o mínimo esforço.
- Amor, a gente tinha conversado antes... - disse a Gabriela.
O Ewerton me lançou um olhar de ódio, como se a culpa da repreensão que a Gabriela tinha dado fosse minha. Perto dela, parecia que ele não tinha coragem de se rebelar.
- Eu sei, eu sei. Mas está difícil. - disse irônico.
- Não sei por que está difícil: ninguém te tratou mal, você foi bem recebido. As oportunidades para você se entrosar estão abertas e se abrem a todo momento. Para o Caio você só disse “oi” quando ele te cumprimentou e ele foi super legal com você...
- Tá, tá, tá - disse ele impaciente.
- Mô, a gente já tinha falado sobre isso! - repetiu a Gabriela.
- Sinceramente, Gabriela? Se for para ficar desse jeito, se for para estar aqui avulso, só para te agradar, não está valendo a pena não... - ele me interrompe.
- Ah é? ... - eu o interrompo.
- Não seja mal educado e deixe-me terminar! - disse eu firme - Se for para estar aqui desse jeito, era melhor não ter vindo, porque isso não ajuda em nada na nossa reaproximação. Está claro que você não quer reaproximação, mesmo que você tenha dito que me amava horas atrás. Mas que amor é esse que você não faz sacrifícios? Pela Gabriela você se sacrificou e veio para cá. E por mim? Não pense que não te quero aqui, que estou te ignorando, que tudo isso que estou dizendo é para você ir embora logo. Não é isso, mas acredito que se a sua vontade de estar aqui é só para agradar sua namorada, então não está valendo a pena, porque você não está fazendo o mínimo de esforço para nós nos reaproximarmos. Sei que é difícil para você, mas vai continuar difícil se você continuar agindo desse jeito. O mundo está mudando, Ewerton. Sua namorada mudou junto com o mundo. Se você não mudar também, você vai só ficando para trás como todas as pessoas que pensam assim como você. Daqui há vinte, trinta anos, o número de gays assumidos será maior do que você imagina e o que você vai fazer em relação a isso? Olhe para mim, sou seu irmão e sou gay, sou sangue do seu sangue. Se você não parar agora de fazer birra, vá embora!
.
Não sei de onde surgiram essas palavras. Na verdade nem sabia que estava concebendo aqueles pensamentos. Na certa eram acumulados. Palavras acumuladas. Fiquei surpreso comigo mesmo. Pensei que o fato do Ewerton se comportar daquela maneira não me incomodaria mais, afinal eu tinha dito para mim mesmo que não me importava mais com ele. Talvez a presença dele me fez perceber que somos irmãos. E como irmãos, precisamos ficar unidos. Parecia que eu tentava ser da família de volta.
- Pois é, Ewerton, seu irmão está certíssimo! - defendeu-me a Gabriela.
- Tá, tudo bem... - disse ele grosseiramente - só que... puta merda, não dá para ficar quieto com você chamando o Caio de “mozão” e ele te dando beijinhos.
- É a coisa mais normal do mundo isso. Trate isso com normalidade. - eu disse.
- É difícil! - ele retrucou.
- Tente!
- Não é só assim.
- Insista. Tente. Não tem outro jeito: ou você aceita logo isso, ou teremos problemas.
Se por um lado me surpreendia com o meu fervor em tentar me reaproximar do Ewerton, também me surpreendia com a força de vontade dele.
- Marlon, você pode entrar agora. Vou conversar um pouquinho com ele. - disse a Gabriela.
- Ok.
Entrei e sentei-me no chão junto com os outros.
- Tudo bem lá? - perguntou baixinho o Caio.
- Parece que sim. É que ele está se sentindo incomodado de eu te chamar de “amor” e te beijar... é demais para ele.
- É. Temos que entender o lado dele. Ele já foi muito forte só vindo para cá, agora é ter paciência.
Continuamos jogando. Eu perdia todas, pois já não estava mais no clima.
Parece que o Caio tinha sido contaminado por mim, pois também não conseguiu ganhar mais nenhuma partida. Fizemos mais algumas rodadas de batidas e vinhos, beliscamos uns tira-gostos que o Caio fez.
- Vamos dormir? - perguntei no ouvido do Caio.
- Vamos, vamos.
Nesse momento, o Ewerton e a Gabriela entraram. A gente já se levantava.
- Já vão para cama? - perguntou a Gabriela.
- Já, estamos cansados. - respondi.
- Boa noite, Caio. - disse o Ewerton.
- Boa noite, cunhado!
E fomos dormir.
O Caio sempre tem uns cacoetes desse tipo. Chamar o Ewerton de “cunhado”!
Ai, ai...
Fomos todos dormir.
O dia seguinte começou cedo para o Caio. Ele fez o café e todas as outras comidas.
O dia foi tranquilo. O Ewerton não causou mais problemas, ele até interagia um pouco com o Caio e os demais. Mas ainda de forma contida.
Durante a tarde, armamos a churrasqueira e a rede de vôlei. De início, o Caio ficou assando as carnes, mas depois não resistiu ao vôlei. Ele joga super bem.
- Estão pensando o quê? Já ganhei três campeonatos interescolares seguidos, tá? - repetia várias vezes.
Mas ele jogou poucas partidas. Vez ou outra voltava para as carnes e para a cozinha, para fazer o almoço. A Gabriela insistiu em ajudá-lo. Ambos cozinharam a tarde toda.
- Amor, vamos revezar, não é justo que você passe a tarde na cozinha!
- Sai, Marlon. Não enche o saco!
- Ô, amor...
- Sai, você está todo suado e está fedendo. Vaza, vaza!
Não tinha jeito. Um dia ele abriria um restaurante e comandaria seus auxiliares com mãos de ferro. Eu mesmo não gostaria de ser um de seus funcionários.
Como a tarde foi agitada, não tivemos maiores constrangimentos em relação ao meu irmão.
Mas à noite, quando todos estavam afim de uma festinha, eu me preocupava.
Álcool e música alta fariam com que as pessoas fossem quem eram. Eu mesmo gostaria de dançar e de me agarrar ao Caio como costumo fazer sempre. Como já disse antes, a casa era pequena e só tinha um banheiro. Meu irmão foi tomar banho, mas aí pediram para ele ir com o carro comprar mais gelo.
- Marlon, você toma banho no meu lugar. Quando eu chegar, eu tomo, beleza?
- Beleza!
Quando fui pegar a toalha, o Caio me viu.
- Vai tomar banho, Marlonzinho?
- Vou.
- Deixa eu tomar com você? - disse com voz infantil.
- Deixa eu pensar... - brinquei.
- Ah, Marlonzinho-zinho-zinho, o senhor porta treco está tão sujinho, precisa de um banhinho.
- Hahahahahahahahaha.
- Vai, Marlon!
- Só se você deixar o escrotinho maroto ir também!
O Caio pegou o meu pau por cima da bermuda e balançou como se fosse um aperto de mão.
- Combinado!
- Hahahahaha.
Ele foi correndo pegar a toalha e entrou no banheiro.
- Bacanal, bacanal! - gritou a Claudinha.
- Onde? Onde? - perguntou o Luciano.
- No banheiro!
- Me joga lá dentro, por favor, me joga lá dentro! - disse o Tom.
- Hahahahahaha, vocês são demais! - disse a Gabriela.
Ouvimos tudo de dentro do banheiro, rimos muito.
- Oops! - disse o Caio.
- Que foi?
- Deixei cair... - e apontou para o chão.
- Perder tempo, jamais né? - eu disse.
- Hã? - disfarçou.
Era o potinho de creme que ele tinha embrulhado na toalha. Depois que tiramos as roupas, abrimos o chuveiro e começamos a nos beijar. Ficamos um tempo assim. Os nossos cacetes ficaram rijos e se tocavam. Mesmo debaixo d’água, eu sentia o pau do Caio quente e o meu também estava assim. Ficamos nos esfregando um no corpo do outro.
- Era para tomar banho, lembra? - disse o Caio.
- Um rum!
Ele me ofereceu o sabonete e virou de costas.
- É para esfregar as suas costas?
- Claro. Você acha que eu me virei por quê?
- Hahahaha, ah, a gente nunca sabe, né?
Comecei a esfregar as costas dele e desci pelas coxas até a bunda.
- Agora é a vez do porta treco!
Comecei a massagear o cu do Caio, que apoiava as mãos no box. Depois me aproximei mais com meu corpo e comecei a beijá-lo no pescoço. Ele se contorcia de leve. Eu já estava quase dentro dele, mas estava sem creme. Quando o Caio sentiu:
- Pronto, já chega. Estou bem limpinho agora.
- Droga!
- Agora é sua vez.
Ele tomou o sabonete das minhas mãos e começou a esfregar o meu peito. Eu segurava o Caio pela cintura e roubava alguns selinhos. Os nossos paus voltaram a se tocar, mas eles já estavam com a mesma temperatura da água. O Caio foi descendo para as minhas coxas e eu me encostei na parede do banheiro, jurando que o Caio me faria um oral. Mas quando ele terminou de lavar as minhas coxas, ele se levantou.
- Você está com pelos.
- Você não gosta de um homem das cavernas?
- Adoro. Agora vira.
Me virei e ele começou a lavar as minhas costas. Depois desceu para a minha bunda:
- Ainda bem que prefiro ser passivo. Meu pintinho nunca iria entrar em você com esses pelos em volta.
- Não exagera, Caio.
De repente eu sinto uma dor aguda no meu cu:
- Ai!
- Olha isso: é ou não é uma selva?
O Caio tinha arrancado um tufo de pelos. Mas eu nem tinha tantos pelos assim. Mas ao contrário dele que era completamente liso, ele considerava aqueles poucos uma verdadeira floresta:
- Nossa! - fiquei surpreso - mas nem sou peludo assim...
- É verdade. Seus pelos são espertos, se concentram nos melhores lugares do seu corpo.
- Pensei que o melhor lugar do meu corpo fosse meu cérebro.
- Dããã!
- E não é?
- Marlon, cala a boca. Não fala besteira. Você não precisa pensar, basta ser esse troglodita cheio de músculos e pelos. Está ótimo assim! - falou dando ênfase à palavra “ótimo”.
- Hahaha.
Depois que ele me lavou direitinho, me virei.
- Não lavei você de frente.
- Toma. - me deu o sabonete.
Esfreguei o tórax dele e fui descendo para as pernas.
- Marlon, me conta uma piada!
- Agora?
- É.
- Por quê?
- Não quero pensar em besteira.
- Hahaha, você não precisa pensar, meu amor, só precisa ter essa “bundinha” de caramujinho. Está ótimo assim!
- Ai, me deu o troco!
- Hum, lindinho.
- Gostoso!
- Masoquista!
- Meu entregador de pizza!
- Hã?
- Oops, falei besteira.
- Hahahahahahahahahahaha.
E é por essas e outras que eu amo o Caio. Ele me empurrou debaixo do chuveiro, para sair o sabão do meu corpo. Depois ele se ajoelhou e começou a me fazer carinho. Não queria que ele demorasse muito lá, mas estava tão bom... depois foi subindo e me dando mordiscadas por todo o tórax: primeiro no abdomem, depois no peito.
Peguei seu rosto com as duas mãos e beijei. Ficamos um tempo assim, eu ainda estava encostado na parede e o Caio me abraçou. Foi muito aconchegante. Nossos corpos, principalmente nossas pernas, se confundiam e o tronco do Caio se moldou ao meu. Ficamos muito grudados. Ele passou a mão por cima do meu ombro e pegou o potinho na janela. Passou em mim e me beijou mais uma vez.
- Seja carinhoso - disse ele meio rouco ao meu ouvido.
- Para, Caio, por que você faz isso?
Ele sorriu maliciosamente e me deixou mais alerta que antes. Depois ele virou de costas e eu o peguei pela cintura. Puxei o seu corpo contra o meu, a fim de nos encaixar. Ele soltou um gemido abafado e baixinho quando eu me introduzi. Não fizemos movimentos bruscos, na verdade ficamos “rebolando”. Ele se encostou completamente em mim e gemia no meu ouvido. Eu o agarrava pela cintura, passando a mão pelo abdômem dele.
O prendi ao meu corpo e não larguei mais, mesmo quando ele se contorcia. Não deixava que ele se movimentasse muito, queria ter o controle de tudo e proporcionar o melhor. Ele fica enlouquecido quando o prendo, ele tenta se soltar, mas não consegue, ainda mais quando está ensaboado. Fica louco com isso, como se quisesse ter o controle também, mas ele é ineficiente. Para ele só resta o papel de passivo, mas, além disso, o papel de submisso.
Comecei a socar fundo com pressão e foi quando começamos a ter mais prazer. A pressão aumentava, mas não o largava. Pelo contrário, eu o prendi com mais força, para que ele não escapasse.
- Me solta, Marlon - dizia quase sem força.
- Não!
- Marlon...
- Não!
Ele pôs as mãos nos meus antebraços, como se quisesse se livrar de mim, mas não tinha forças. Então aumentei mais ainda a pressão, ele gemia com mais intensidade e fui agachando. Ele estava praticamente sentado no meu colo, tirou as mãos do meu braço e, em poucos segundos, teve um orgasmo. Foram segundos mesmo. Bastou se masturbar para gozar. Eu também não tinha mais resistência e gozei. Foi como um suspiro de alívio. Eu estava fraco, sentei no chão do banheiro, levei o Caio junto que encostou-se a mim, deitando a cabeça no meu ombro.
- Cachorro!
Depois de nos enxugarmos, fomos saindo do banheiro.
- Posso abrir a porta? - me perguntou o Caio.
- Pode.
O Ewerton estava do lado de fora, esperando eu terminar de tomar banho.
Eu estava em êxtase. Tinha sido tudo perfeito: os beijos, as carícias, a água molhando os nossos corpos, os gemidos, os abraços, a boquinha do Caio me lambendo...
Como se fosse um flash, tudo havia sido esquecido. Bastou ver o Ewerton na minha frente.
Quando o Caio abriu a porta, se assustou. O Ewerton arregalou os olhos e deu um passo para trás. Ninguém sabia o que dizer. O Ewerton ora olhava para o Caio, ora para mim com uma expressão de medo (ou nojo). Ele começou a esboçar falas, mas da boca dele não saía nada. De repente, parece que ele se conforma, respira fundo, baixa a cabeça e sai.
Caio e eu ficamos com cara de bobos. O Caio se virou para mim e fez uma cara de “foi sem querer”. Mas a culpa não era nossa. Aliás, não havia culpa de nada, nem de ninguém.
Se fôssemos um casal hétero, a única coisa que aconteceria é que os três ficariam constrangidos e vermelhos.
Fiquei triste.
Saímos do banheiro e fomos para o quarto. O Caio começou a se vestir. Sentei na cama e fiquei olhando para o Caio:
- Ficou encucado?
- Só não queria que ele nos visse saindo do banheiro.
- Mas é bobagem pensar nisso. Óbvio que ele sabe que transamos. Eu sei que saber e ver é diferente, mas ele tem que crescer.
- Não tiro a sua razão, só não queria que ele nos visse.
Ficamos conversando um pouco sobre isso enquanto nos trocávamos. Poucos segundos depois ouvimos o barulho do chuveiro. Terminei de me trocar e fui procurar o Ewerton, para saber se era ele no banheiro. Achei a Gabriela jogando vôlei com as meninas.
- Gabi, é o Ewerton que está no banho?
- É, acho que sim.
Procurei pela casa e não o encontrei e não faltava ninguém. Ninguém o tinha visto sair, então, era ele mesmo no banheiro. Fiquei mais aliviado.
Quando ele saiu, foi para o outro quarto. Eu o segui. Passei pelo Tom e perguntei:
- Você viu o meu irmão?
- Vi e, cá entre nós que malão o seu irmão tem hein? E que corpo! E quantos pelos! Nossa!
- Tom, só me diz onde ele está - disse impaciente
- Que grosso!
- Fala!
- Ele passou molhadinho e de toalha para o quarto.
Bati na porta.
- Ewerton, é o Marlon.
- Estou me trocando. - gritou ele.
- Deixa eu entrar.
- Já disse que estou me trocando.
- Tudo bem, abre a porta.
- “Mermão”, estou pelado.
- E daí? Já te vi mil vezes pelado. Abre a porta.
Ele abriu e estava de cueca. Tranquei a porta e sentei na cama.
- Vai ficar olhando eu me trocar? - perguntou rudemente.
- Ewerton, por acaso você acha que vou te atacar?
- O que você quer?
- Quero saber... é porque... cara, você sabe que eu e o Caio, a gente... - ele me interrompe.
- Não quero saber das suas intimidades.
- Eu sei, mas... tudo bem?
- Por que a pergunta?
- Sei lá, você saiu todo desconcertado naquela hora.
Ele se virou, finalmente, e disse baixinho:
- Você queria o quê? Que eu achasse normal?
- Sei que você não acha normal, mas quero saber se... ah, Ewerton, sei lá. Você está se sentindo mal em relação a isso?
- Cara, faz da sua vida o que você quiser.
- Está chateado?
- Marlon, não me peça para achar tudo bem de um dia para o outro.
- Não estou pedindo isso, só quero saber se tudo bem, se você vai agir diferente daqui pra frente. Estamos começando a nos dar bem de novo.
Ele terminou de se vestir, se encostou na cômoda, respirou fundo e perguntou:
- Tu tem prazer mesmo nisso, né?
- “Nisso” você fala em homens?
Ele balançou a cabeça em sinal afirmativo e começou a passear pelo quarto, como se estivesse refletindo:
- Ewerton, isso é natural. O que sinto é natural, é biológico, sabia? Durante a gestação tem uma coisa com hormônios... não sei bem. E o nojo que você sente é cultural, mas veja que muita coisa ruim é cultural e muitas dessas coisas ruins foram contra ao que era natural. Tipo os negros... - ele me interrompe.
- Você já me disse isso.
- Então?
- Já disse: não espere que eu aceite isso assim tão fácil. Saber que você e o Caio... vocês... enfim.
- Se ajudar você aceitar, sou o ativo tá?
Ele riu, mas não como se achasse graça de verdade, foi mais para extravasar a tensão instalada naquele quarto. Foi uma risada curta.
- Estou te aceitando porque é o jeito, mas, sinceramente, não gostaria de ter um filho gay não. E nem vem com esse papo de “melhor gay que ladrão!”. É foda isso.
- Sei, nem eu gostaria de ter. Mas não gostaria porque foda é ser gay em um mundo onde as pessoas são ignorantes o bastante para entender que também somos humanos e não temos culpa se nascemos assim.
- Só que... - ele se senta na cama - você bem que poderia tentar voltar a ser hétero.
- Não acredito que você disse isso! - eu disse rindo, mas “rindo para não chorar”.
- Estou falando sério!
- Tá, então vamos fazer um teste: se eu for hétero por uma semana, você vira gay por uma semana?
- Estou falando sério, Marlon!
- Também estou.
Ele levanta da cama indignado:
- Mas você já namorou mulheres, tinha prazer com elas.
- Isso só demonstra o quanto nós somos influenciados pela cultura, mas a ciência. Freud já dizia que todos os seres humanos nascem bissexuais.
- Conversa fiada!
- Bem, prefiro acreditar em Freud do que em você.
- Não estou mais afim de discutir.
- Nem eu. Só quero saber se você está bem, se por acaso aquilo que rolou há pouco tempo te impressionou tanto a ponto de você desistir de voltarmos a ser irmãos.
- Não. - disse ele grosseiramente.
Ficamos um tempo calados:
- Posso te fazer uma pergunta? Você conhece o irmão da Gabi?
- Conheço.
- Ele é legal?
- Não sou muito amigo dele. - ainda rude.
- Vocês poderiam ter trazido ele também, seria legal.
- Seria um remake de “A Gaiola das Loucas” bonito!
- Se não soubesse que você é tão preconceituoso, até que essa piada seria engraçada. - disse chateado.
- Ele é legal sim.
- E ainda salvou a vida da Gabi.
- Era a obrigação dele como irmão.
- É. A gente faz cada coisa por amor...
Ele desconversou e saiu. Parecia que estava “rolando” entre a gente de novo. Comecei a ficar contente. Lá para o fim da noite, cantamos o “parabéns”. Mas antes disso, o Caio me pede:
- Dê o primeiro pedaço para Gabriela.
- Ué, para Gabi?
- É.
- Não seria melhor dar para o Ewerton?
- Não. Agrade a Gabi.
- Por que?
- Ai, ai, ai, Marlon, até parece que não confia em mim. E, ah, faça um discurso curto, mas bonitinho para ela.
- Ok.
E depois de tantas coisas, como não confiar nele?
- E o meu primeiro pedaço vai para Gabi...
- Hã? Para mim?
- É! - eu oferecendo a fatia.
- Ai, fiquei boba. Estou emocionada. Vem cá, cunhado, me dá um abraço.
- Você merece, é super gente fina. Foi um prazer te conhecer. Além do mais, está cuidando super bem do meu irmão.
- Ah, ok. Obrigada! Obrigada mesmo, Marlon! Você também é um cunhado lindo, boníssimo. Você e o Caio são dez!
O Ewerton ficou todo por fora. Com certeza ele não esperava por essa. Aliás, ninguém esperava. Ele a Gabriela foram dormir cedo nessa noite, porque ela trabalharia logo na manhã do dia seguinte.
Eu e o Caio madrugamos juntos para namorar um pouco, conversar e nos despedir dos dois quando eles fossem embora. Foi um pouco constrangedor. O Ewerton e o Caio tiveram que se cumprimentar, apertar as mãos e dizer um para o outro que “tinha sido um prazer conhecer!”. Mas eu estava satisfeito. Parecia que tudo ia bem.
Quando chegamos à cidade, no período da tarde, o telefone de casa toca. Não fomos à aula naquele dia, obviamente.
Era o meu pai.
- Alô?
- Marlon?
- Quem é?
- É o seu pai. - disse ele com uma voz de “não está me reconhecendo?”.
- Oi.
- Parabéns atrasado.
- Obrigado.
- Tudo bem com você?
- Tudo e com o senhor?
- Tudo bem. Sua mãe está bem também.
- Que bom. - respondi mecanicamente.
- O Ewerton me contou onde passou o fim de semana. Que legal que você o convidou.
- Ele se convidou.
- Ah, tanto faz. Mas e aí, foi legal?
- Foi.
- Que bom. Era só isso mesmo que eu queria saber.
- Ah, ok.
- Ok? Então... ah, você está precisando de alguma coisa, de dinheiro?
- Não, já estou trabalhando.
- Ah, que bom. Mas qualquer coisa...
- Obrigado.
- Tchau.
- Tchau.
E foi assim, da forma mais fria, que meu pai e eu tivemos uma conversa civilizada depois de tanto tempo. Se ela fosse mais “carinhosa” que isso eu acharia ruim. Foi bom que tenha sido dessa forma, não parecia forçada.
“Coincidentemente”, em um dia em que minha mãe teve que viajar para ver meu avô que estava doente, meu pai me convida para almoçar com ele e com meu irmão em casa.
Era tão estranho saber que a algum tempo atrás eu tinha ido até lá e brigado feio com eles. Mas agora eles mesmos me convidavam para voltar. Almoço em família. Será que ainda éramos uma família?
Quando cheguei lá, fui recebido pelo Ewerton.
- E aí cara?
- E aí. - respondi.
Meu pai parecia feliz por eu estar lá. O almoço era encomendado, afinal, macho que é macho não cozinha.
O papo entre a gente era piegas. Não falamos nada sobre minha sexualidade. Nem mesmo falamos do Caio e como não queria estragar tudo, aceitei.
Conversávamos sobre a faculdade, trabalho, recordações, infância... tudo, menos sobre eu ser gay e ter um namorado.
Também não conversamos sobre minha mãe. Só perguntei por que ela não estava.
O almoço estava acabando, afinal, eu ainda iria para a faculdade, meu pai e meu irmão para o trabalho.
Ajudei meu pai a levar os pratos para a pia.
A campainha tocou e meu irmão foi atender. Eu ajudaria meu pai a lavar, mas ele não deixou, quis me agradar. Então fui para a sala. Vi meu antigo quarto. Tive medo de entrar... não sei bem porque isso.
Só sei que tive medo. Então fui ver com quem o meu irmão conversava.
O portão estava fechado e ele estava do lado de fora. Dava para ouvir a voz dele e a de outro cara. Eles pareciam conversar sobre programas de computador.
- E você está com o CD aí? - perguntou o rapaz.
- Estou.
- Caralho, que massa! Me mostra como é que instala?
- Agora não, pô. Meu irmão está aí.
- Quem? O viado?
- É.
- Putz, por quê?
- Meu pai inventou de convidar ele para almoçar.
- Éca.
- Pois é.
- Não sei como você aguenta isso.
- Você sabe muito bem o porquê.
- Hahahaha.
- Sabe o que é pior? É ver ele se agarrando com o namorado, velho.
- Quem será que é a mulherzinha do casal?
- Olha, vamos parar de falar disso, senão eu vou por o almoço para fora.
A conversa parecia acabar, então voltei para a sala. Ele voltou, me sorriu como se nada tivesse acontecido e eu sorri de volta. Me despedi dele e do meu pai e fui para minha aula.
Fingi que nada tinha acontecido.
Fui direto para a faculdade. Quando cheguei, a aula já tinha começado. Pus a cabeça na porta da sala e chamei o Caio. Afastei-me um pouco da sala e o Caio veio atrás.
- Que foi, amor?
Respirei fundo e disse:
- O Ewerton...
- O que foi dessa vez?
Contei tudo. Ele não disse nada enquanto eu relatava o caso.
- É, seu irmão é mais insensível do que pensei.
- Fui um idiota, um burro, burro, burro que eu sou.
- Calma, você não tem culpa de nada. - disse sério.
- Não aguento mais isso, Caio. Juro, não aguento!
- E nem precisa. A partir de agora você vai ignorá-lo por completo.
- Ah, para, Caio. Cansei desses joguinhos de ignorar.
- Você não entendeu. Não é nenhum joguinho de “se fazer de difícil”. Você vai ignorá-lo.
- Chega, é sério. Quero que ele se dane.
- Você vai fazer isso, mas não vai mais falar com ele. E ponto!
Exatamente no dia seguinte, o Ewerton liga lá para casa, mas eu estava proibido pelo Caio de atender até mesmo o meu próprio celular. Ele atende:
- Aló? ... Ele não está não ... tá ok, peço para ele retornar ... tchau.
- O que ele queria?
- Não disse. Só disse que queria falar com você.
Não retornei, claro. À noite ele liga mais uma vez e o Caio diz que estou no banho. No dia seguinte o Caio atende e diz que estou no estágio. O meu celular ficou recheado de ligações perdidas. Ele desistiu de falar comigo e decidiu falar com o Caio.
- O que o meu irmão disse?
- Que a Gabi quer que a gente saia juntos, pra gente conhecer o irmão dela. Por isso que ele estava ligando, para combinar com a gente.
- Dane-se.
- Disse que você ligava depois... o de sempre.
- Ele disse quando queria que fosse?
- Um fim de semana qualquer.
Os dias foram passando. Ele ligou mais uma vez, mas eu não estava realmente. O Caio me disse que ele perguntou se estava acontecendo alguma coisa, pois eu nunca atendia. Respondeu que “não”.
Como ele e o Caio não conversam, então ele não ficou questionando nem puxando papo. Um dia quem ligou foi a Gabriela, o Caio atendeu. Eu estava presente. O Caio disse para ela que gostaria muito que saíssemos juntos, mas que ele falaria comigo. Ela perguntou também se estava acontecendo alguma coisa e ele disse que não.
O Caio parecia estranho. Parecia que não era só um jogo de ignorar. Mas ele me escondia alguma coisa. Quando eu estava no estágio, o Caio parece que fez alguma coisa. Só sei que o Ewerton não ligou mais.
- Que estranho, o Ewerton nunca mais ligou.
- Vai ver que ele desistiu.
- Não. Ele desistiria se não tivesse a Gabi no pé dele pedindo por esse encontro.
- Ah, eu não sei.
- Nem no meu celular ele ligou mais.
- Por que você não aproveita e relaxa?
- O que foi que você fez, Caio?
- Eu? Não fiz nada.
- Te conheço.
- Não fiz nada.
Deixei para lá. Mas alguns dias se passaram e encontrei a Gabriela na rua. Ela trabalha a cerca de duas quadras do meu estágio. Nos encontramos no ponto de ônibus.
- Oi cunhadinho!
- Oi! - disse surpreso.
- Menino o que é que está acontecendo? Você sumiu, não deu mais as caras...
- É, ando ocupado. Trabalho e faculdade.
- Sei como é, mas agora que a gente se encontrou, vamos marcar né?
- Vou falar com o Caio.
- Então, a gente marca esse fim de semana e pronto!
- Mas tenho que falar com ele antes.
- O que vocês vão fazer nesse fim de semana?
- Ah, não sei.
- Oh, Marlon, está evitando a gente é? - perguntou brincando.
- Não, claro que não.
- Então está combinado.
Ela marcou hora e local. Não tive como dizer não. O Caio também concordou que não tinha como eu negar para ela. Então fomos.
- Vou convidar o Tom e o Lu - disse o Caio.
- Mas será que é legal?
- Vai ser ótimo.
- Então chama a Claudinha também.
- Não. Só o Tom e o Lu.
- Por quê?
- Por que você acha?
- Porque eles são gays...
- Isso mesmo. Vai ser ótimo seu irmão numa mesa com cinco gays e só ele de hétero. Ele não é o machão quando está longe da gente? Quero só ver.
Chegamos atrasados de propósito, tudo combinado pelo Caio. O Ewerton arregalou os olhos quando viu os quatro.
Cumprimentamos a Gabriela.
- Oi Gabi!
- Eita, chegaram cedo hein?
- Desculpa, gata. - disse o Tom.
- Ah que bom que vocês vieram também.
Meu irmão veio me cumprimentar, me ofereceu a mão para apertar. Apertei, mas não respondi o “oi” dele. Fui cumprimentar o irmão da Gabriela.
- Oi, cara, beleza?
- Oi.
- Eu sou o Marlon, prazer.
- Augusto.
- Esse é o Caio, meu namorado e aqueles são o Luciano e o Tom.
Sentamos, pedimos as bebidas e o Caio e o Tom começaram a dominar a roda de conversas. Não consegui disfarçar o que estava sentindo. Aliás, ainda não disse o que senti sobre aquele episódio: senti raiva, ódio, no inicio; depois me veio tristeza e desmotivação; por mais que gritasse, por mais que reivindicasse, por mais que me impusesse, o Ewerton não mudava; e eu me odiava por ainda amá-lo.
Quando cheguei em casa naquele dia chorei bastante. Era decepcionante e era tão ruim ficar ao lado dele sabendo que ele estava sendo falso e interesseiro. Eu só não queria melar o relacionamento dele com a Gabriela. Ela não merecia. Mas não poderia não melar e ficar ausente, pois a Gabriela queria a mim e ao Caio por perto sempre.
Permaneci calado quase todo o tempo. Investi nas bebidas. Meu irmão também permanecia calado, mas era porque ele não se encaixava ali. O único com quem ele poderia interagir era eu.
- Aí, Augusto, você faz o quê? - perguntou o Caio.
- Arquitetura.
- Nossa, que legal. Era uma das minhas opções.
- Publicidade também era uma das minhas opções. Na verdade queria Moda, mas não vejo futuro.
O Augusto era bonito, peso e altura medianos, cabelos castanhos e não era afeminado, mas usava as gírias gays que o Tom usava.
Como eles estavam monopolizando a conversa e, para quem não estava sintonizado, tudo estava se tornando chato (como eu, por exemplo) levantei e fui jogar fliperama. Até iria avisar ao Caio, mas correria o risco do Ewerton ouvir e querer ir junto.
Paguei a ficha no bar e comecei a jogar. Fazia anos que não jogava, então perdi a prática. Mas era melhor do que estar naquela mesa. Joguei umas duas partidas de Mortal Kombat e, de repente, uma mão pousa sobre os comandos do fliperama.
- Caramba, faz tempo que não vejo um desses! - disse o Ewerton puxando assunto.
Continuei jogando.
- Quando você morrer, coloca dois players. - continuei calado - você está chateado comigo né? Cara, foi sem querer, não queria que você ouvisse aquilo.
- Como é que você sabe que eu sei?
- Porque fui falar com você e o Caio me disse que você estava puto comigo, que não queria falar comigo mais, que dessa vez era muito sério, que você queria se afastar, mas não queria que a Gabi terminasse comigo, que se eu insistisse não teria jeito, vocês iriam melar a parada.
- Então por que veio?
- Como é que vou dizer isso para a Gabriela? Ela já se afeiçoou a você e ao Caio.
- Dê um jeito, não quero mais sair com vocês.
- Marlon, como?
- Se vira!
- Marlon, não faz isso comigo. Gosto muito dela!
- Tenho certeza que ela nem vai se importar em terminar com você quando descobrir o que você acha do irmão dela.
- O Augusto não tem nada a ver com isso.
- Ele é centro de tudo isso.
- Marlon, olha cara, sei que tenho que respeitar vocês gays... - interrompo.
- Não quero ouvir nada, não venha me falar o que já sei. Só quero que você dê um jeito da gente não se encontrar mais. Ou você faz isso, ou não tenho outra escolha a não ser te entregar para Gabriela.
- Isso é muito injusto.
- Nem vou responder. Olha, acabou. Não tem mais volta. Nunca mais seremos irmãos de novo. Falo sério.
- Sempre seremos irmãos!
- Não. Nunca mais. Sério. Para mim você morreu. Nem posso dizer que vou te esquecer porque não vou. Não vou conseguir. Você era o meu irmãozão, me ensinou a jogar bola e tudo mais. Até fliperama você me ensinou...
Olha, dá mais não. Não suporto olhar para a sua cara. Você me dá nojo, você é muito falso, cara. Não me importa que você nunca me aceite, nem aceite os gays. Só quero mesmo que você morra. - dizia tudo enquanto jogava, enquanto olhava para tela.
O jogo acabou e coloquei mais uma ficha. Comecei uma nova partida. Ele ficou um tempão de pé ao meu lado. Ele não tinha coragem de dizer mais nada, nem tinha forças para voltar para a mesa e ficar lá.
Mas ele teve que voltar.
Minhas fichas acabaram e fui comprar mais. Fiquei um tempão jogando. Depois também tive que voltar para mesa.
- Eita, esse jogo devia estar bom, hein? - brincou a Gabriela.
- Adoro fliperama!
- Percebi.
- O Ewerton ensinou tudo o que sei do jogo, todos os truques e tal. Não é mesmo?
- É. - disse ele timidamente.
- Daqui a duas semanas é meu aniversário. Vocês vão, né? - disse o Augusto.
- Depende, vai ter pole-dance? - perguntou o Caio.
- Hahaha, vai. Vai ser na XXXX. Adorei essa boate, conheci esses dias.
- Como assim? - perguntou o Caio abismado.
- Ué, por quê?
- Todo gay que se preze já foi lá. Adoro os DJs.
- É, cara. São muito bons.
- Ah, então vai ser uma grande farra né bee? - perguntou a Gabriela.
- Eu mereço, né?
- Mas tem que ser duas festinhas: uma mais familiar e outra só para vocês. Porque tem papai e mamãe, tem eu, tem o Ewerton... - disse a Gabriela.
- Ué, mas vai rolar papai-e-mamãe, Gabi? O que não vai faltar é posição!
- Caio, seu pervertido!
- Sinceramente? Não estou afim disso não. De escutar música chata e nem ver primo feio na minha festa. O resto que se dane, vou curtir! - disse o Augusto animado.
- Apoiado! - disse o Caio.
- Ué, se você quiser ir... tenho certeza que o Ewerton não vai se importar. Afinal, lá só vai ter gay... - eu disse.
- Vou pensar, vou pensar.
Amanheceu e fomos expulsos do bar pelos garçons. Quando estávamos no estacionamento:
- Vocês querem carona? - perguntou o Ewerton.
- Não, ainda vamos dar uma esticada nos bares da praia - disse o Caio.
- Isso é que é vigor, hein? Estão falando sério? - perguntou o Augusto.
- Sim, claro. Sempre fazemos isso.
- Ah, posso ir junto? - perguntou o Augusto.
- Claro, né?
- Mas vocês não querem carona para a praia, então? - insistiu o Ewerton me olhando.
- Não. Já andei nesse carro. Agora é a sua vez de aproveitá-lo. - respondi.
- Não entendi. - disse a Gabriela.
- É que esse carro já foi meu, enjoei dele.
O Ewerton baixou a cabeça, eles se despediram e foram embora.
- Adorei conhecer vocês! - disse o Augusto animado.
- Adoramos você também, Augusto. Tem dinheiro aí? - perguntou o Tom.
- Hahaha, é porque já faz quatro meses que a gente mora aqui e eu não tinha feito amigos.
- Ué, vocês não são daqui?
- Não.
- Ah, está explicado o sotaque. - disse o Tom.
Fomos para um bar da praia, compramos umas garrafas e fomos para a areia. O Caio, o Tom e o Luciano ficaram brincando, bêbados, de plantar bananeiras na areia. Augusto e eu ficamos sentados.
- Posso ser bem sincero com você? - perguntou o Augusto.
- Claro!
- Não gosto do seu irmão.
- Bem vindo ao clube.
- Ele pode ser um namorado legal para minha irmã e tudo mais, mas não gosto dele. Não vou com a cara dele. Ainda mais porque sei que ele é homofóbico.
- Sabe? - perguntei surpreso.
- Sei, claro, isso se nota de longe. Mas a Gabi não sabe e nem sabe que eu sei.
- Entendo.
- Por bem ou por mal, a verdade é que ele é bom para ela. Ele só não é bom para mim, mas não é a mim que ele tem que agradar e nem quero que agrade. Fazendo ela feliz já está bom.
- Então me faz um favor?
- O quê?
- Me ajuda a me manter longe dele?
Ele me olhou com estranheza quando eu o propus. Naquele momento eu estava farto do Ewerton, por mais que eu entendesse que era difícil para ele e por mais que eu soubesse que eu não poderia exigir que ele me aceitasse do nada.
Mas o que eu queria era que ele sumisse e que, se por acaso ele um dia aceitasse, aí sim nós voltaríamos a conversar sobre o assunto. Eu sei que aceitar demora, mas que ele ficasse longe de mim enquanto exercitasse a sua homofobia.
Eu não queria que ele saísse prejudicado com a Gabriela. Acho que ela o faria bem, ou pelo menos já estava fazendo. Era notável o quanto ele estava maduro depois que ela apareceu.
O Augusto fez biquinho e perguntou:
- Como assim?
- Não quero, assim como você, que ele e a Gabi terminem, mas eu não aguento mais ficar perto dele. Eu já sofri muito. Ele está tentando me aceitar, ou pelo menos diz que quer isso. Mas enquanto ele não aceita, ele me faz sofrer. Então, enquanto ele não aceita, que fique longe e se ele nunca chegar a aceitar, já que está longe, que permaneça longe.
- Mas como eu posso te ajudar?
- A Gabi se apegou a mim e ao Caio. Com certeza a noite de hoje, se depender dela, se repetirá. Ela promoverá mais encontros entre o Ewerton, o Caio e eu. Não sei se a intenção dela é de realmente fazer o Ewerton me aceitar, ou se ela somente quer que a gente volte a ficar bem de novo. Eu só sei que eu não quero mais isso. Mas eu não posso negar se ela convidar, ela pode desconfiar e chegar a terminar com ele.
- Acho que estou entendendo.
- Quero que você evite que ela promova mais encontros como esse.
- É, entendi. Eu não sei como fazer isso, mas eu acho que vai dar para fazer.
- Quando você nos convidou para a sua festa, eu já estava esperando mais outro encontro.
- Hahaha, relaxe, eu quero um festa bem gay-power!
- É, eu percebi. Ainda mais agora que você conheceu o Tom e Caio.
- É verdade! E o Luciano?
- Ah, o Lu é tipo a gente. Tipo machinho.
- Entendi.
- Olha só aqueles bêbados na areia. - eu gritei - CAIO, PÁRA DE SE SUJÁR DE AREIA!
Ele caiu da bananeira, ficou todo sujo e me olhou.
- ESTÁ VENDO O QUE VOCÊ ME FEZ FAZER? EU PERDI! - ele gritou para mim.
- EU GANHEI, EU GANHEI, EU GANHEI! - gritou o Tom - cadê o meu boquete? Eu quero agora!
- Ta, ta, ta. Depois a gente vê isso. Não vou chupar areia de praia de jeito nenhum. Nojo! - disse o Caio.
Tomamos a nossa saideira, pegamos o ônibus e fomos para casa. Tomamos banho juntos, namoramos um pouco e fomos descansar, pois o dia tinha sido fatídico. O dia seguinte era um domigo. O telefone toca e quem era? Sim, era o Ewerton.
- Alô? - quem atendeu foi o Caio - Rapaz, eu achei que vocês já tivessem conversado sobre isso, não? - perguntou impaciente - Olha, eu vou ver se ele quer falar com você.
Eu estava na cozinha e de lá dava para ouvir tudo na sala. Quando eu me aproximei, o Caio perguntou:
- É o seu irmão, quer falar com ele?
Pensei em dizer “não”, mas peguei o telefone:
- O que você quer?
- Vamos conversar. Vamos marcar de a gente se encontrar em algum lugar e a gente conversa.
- Ok, quando?
- Pode ser hoje?
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