- E no dia seguinte eu quase te perco.
- Por quê? por causa da carona, que a gente discutiu no carro?
- É.
- Bobão, eu já estava na sua há muito tempo, não largaria jamais.
Dormimos, finalmente.
Na manhã seguinte eu fui pra aula e levei o Henrique a tiracolo. Ele sentou no fundão para não atrapalhar, mas quem disse que eu prestava atenção no professor? Vez ou outra eu olhava pra trás e dava língua ou chateava o Henrique de alguma forma.
Fomos tomar um sorvetinho, mais uma maratona de aulas e depois um jantar oficial na casa dos pais dele.
- Quem diria! Esses dois juntos de novo nessa harmonia, depois de tudo o que se passou... - Dona Edna.
- Eu diria. Com toda certeza. - o Henrique.
Depois do almoço:
- Vamos sair?
- Amanhã tem aula cedo e tenho que entrar em contato com uma fonte pra escrever uma nota para o jornal.
- Essa nota é pra amanhã?
- Não, mas... - interrompe.
- Então nada de aula amanhã e nada de jornal.
- Mas... - interrompe de novo.
- Já liguei para o Vagner e pra Aninha. A gente vai sair hoje.
- Oh, Rique...
- Para! Eu estou sabendo que você só está trabalhando e estudando. Ana me contou, não gostei nada nada, digo logo.
- Ela não tinha nada que ter falado.
- Tinha sim... e chega de lenga, vamos sair.
O carro do casal-maravilha chegou e fui logo dando uma bronca.
- Quem mandou você dizer ao Rique que eu estou atolado de ocupação?
- Ele tinha que saber.
- Hum... gostei nada disso. Você sabe que eu não queria que ele soubesse.
- E você sabe que é um lunático? Tá se isolando do mundo, parece que não vive mais.
- Ui, mamãe tá dando bronca! - o Vagner.
- Vamos? - o Henrique chegando junto.
Tem um barzinho que na época em que o Henrique morava aqui, a gente ia quase todo fim de semana. É um ambiente agradável e toca música alternativa.
Adoro! Ana e eu tratamos de deixar os chatos na mesa falando besteiras sobre futebol - odeio futebol - e fomos dançar. Parecia que íamos dar uma ali mesmo.
- Você me comendo aqui, mas olha aquela menina dando em cima do Henrique.
- Aff, nem ligo. Conhecendo o Rique do jeito que eu conheço, se eu ligar ele vai ficar tirando onda; prefiro ignorar.
E eu nem ligava. Eram umas amigas do Vagner. Fáceis até a morte.
- Se eu fosse você, ficava de olho no Vagner, ele gosta da fruta.
- É né? Vem, vamos no bar.
Fomos no bar, compramos umas bebidas e fomos até eles. Só que eu achei que a gente ia aprontar alguma coisa. Nada. Ana me obrigou a sentar numa mesa ao lado da deles e agíamos como se não os conhecessem. O Henrique logo ficou agoniado porque ele reage mal à indiferença. - kk - O Vagner ficou naquela de sorrir para as meninas, para não ficar sem graça. Aí elas:
- OI ANINHAAAAAA!
- Olá, quanto tempo, cadê o namorado?
Adooro a Ana; vai logo na ferida.
Conversa vai, conversa vem:
- Então, Henrique... Henrique o seu nome, né? - uma das meninas.
- É sim.
- Então, solteiro?
- Bem... eu... - vermelho igual a um pimentão.
- Henrique tá morando em Londres, não tem tempo pra namorar.
- Sei... você Benjamim, não gosta da fruta que eu sei.
Nem se eu gostasse, prefiro as frutas doces que as azedas.
- Mas me diz, Henrique, tá solteiro? Como pode?
- Não, eu namoro.
Nesse momento o Henrique me olha como se estivesse dizendo "Me salva!", mas eu adoro deixá-lo nessas enrascadas.
- Mas cadê ela? Que perigo deixar você sozinho na balada...
- Também acho. - eu.
- Ela é daqui?
- É sim.
- Pior ainda, deve levar tantos chifres...
- Não, eu sou fiel, mas às vezes eu penso se vale a pena ser. - irônico.
- Hum, já vi que ela não satisfaz.
- Coitadinha! - eu.
- Mas eu gosto muito do meu namoro; estou satisfeito.
- Ah, mas ela nem tá aqui, cuidando de você.
- Haha... - sem graça - Eu vou no banheiro, volto logo.
Ele se levanta da cadeira, passa por mim e me belisca como sinal para segui-lo.
- Me salva! Aquela menina fica dando em cima; mulher dada da poxa!
- Dê um fora nela.
- Você nem pra ajudar também, né?
- O que você quer que eu faça? - já rindo.
- Para de rir; você sabe que eu não gosto disso.
- Tá.
Voltamos e não achamos uma solução.
- Henrique, vamos dançar? - a tal.
- Não sei dançar.
- Eu ensino.
- Mas eu não sei justamente porque não gosto de dançar.
- Ai, chato, vem dançar. - puxando.
Foram pro meio do salão e ela ficava agarrando ele. Era divertido vê-lo fugindo dos ataques. Eu ficava na mesa rindo.
A música finalmente acabou e eles voltam pra mesa. A bebida escorria na minha boca porque eu não conseguia parar de rir. A Ana também não.
- Sabe o que é, Fulana... - esqueci o nome da menina - eu sou gay.
- Ai, que mentira feia; se você não gostou de mim pelo menos seja sincero.
Aí o Henrique se levanta da cadeira, senta do meu lado e pega na minha mão.
Aí não teve jeito... eu começo a cair na gargalhada e a menina ficou toda sem graça porque ela estava fazendo papel de ridícula. - foi maldade, eu admito, mas foi divertido. Pra Ana foi uma lição. Ana é super feminista; pra ela foi bem empregado, pra ela aprender a ser menos oferecida.
Aí a menina pede licença e sai da mesa.
- Tinha que ser desse jeito? - ele.
- Haha...
- Maldade isso. Gostei não. E você nem pra me ajudar.
- Uai, o que você queria que eu fizesse?
- Nada. - soltando a minha mão.
- Não precisa ficar desse jeito. - eu.
- Precisa sim. Você acha que é fácil pra mim? - sério.
- Rique... - interrompe.
- Rique um caralho! Eu só não disse que era seu namorado porque eu sei que você não gosta de ficar de amassos em público; foi só por sua causa que eu tive que ficar nessa situação. Não foi justo.
- Espera, Rique; também não é assim.
Aí ele sai da mesa puto da vida e vai pra a garagem do bar.
Eu, claro, fui atrás.
- Rique, me desculpa!
- De nada valeu ontem aquelas palavras e a manhã de hoje.
- Não, Rique, eu te amo, poxa!
- Então pare de ficar fazendo isso. Se você não quer ficar de amasso comigo, ao menos não me faça passar por situações como essas, não gosto, você sabe.
- Desculpa, foi infantilidade minha.
- Foi mesmo.
- Vem cá. - puxando ele pelo braço.
- Não; não estou afim de ficar de manha.
- Vem cá, Riqueeee...
- Não.
- Para.
- Vamos voltar pra mesa.
Ele foi na frente e eu atrás. Ele sentou e eu sentei. Aí eu saí um pouco, demorei uns minutos e voltei.
De repente, a banda que tocava naquela noite fala:
- "Henrique, seu idiota, o seu namorado te ama e quer um beijo agora!"
Ele fica desnorteado.
Olha para os lados, como se não entendesse nada e depois me olha. Eu fiz uma cara de arrependido e ele ficou sério me olhando. Depois, ele sorriu, deu uma risadinha e disse:
- Você quer mesmo um beijo?
- Quero?
- Aqui e agora?
- É.
Aí ele vem de leve, quando de repente...
O Henrique ficou todo empolgado com a minha coragem em beijá-lo ali mesmo. Para quem não queria nem mesmo andar de mãos dadas pelo calçadão da praia, isso realmente era um avanço.
Claro que eu só estava fazendo isso para agradá-lo, para fazermos as pazes.
O melhor da briga é fazer as pazes!
Mas ele estava com os olhos iluminados com a minha disposição.
No momento do beijo...
- Ei, pode não! - o garçom.
- Como é? - a Ana.
- Esse tipo de coisa não pode aqui.
- Como é o seu nome, querido? - a Ana olhou no crachá - Ah, Fulano, eu sou jornalista, meu marido aqui é jornalista e ele - apontando pra mim - também é, portanto, se você não deixá-los se beijarem vou escrever sobre esse boteco e falar que vocês são homofóbicos e ainda cito o seu nome. E
então?
A Ana intimida qualquer um.
Na época da faculdade, ai de você se não concordasse com ela. O Bom é que sempre fomos amigos e ela sempre me considerou.
Agora imaginem o coitado do garçom. Ele ficou olhando pra Ana e saiu.
- Pronto, frutinhas, podem se beijar, barra limpa!
- Haha... tenho medo de você.
- É pra ter mesmo. Tu acha que eu me casei com ela, por quê?
- Beijo, beijo, beijo! - ela.
Nos olhamos um pouco, rimos e nos beijamos.
Estava um barulho intenso, não dava pra escutar nada "nitidamente".
Beijo bom é aquele em que a gente não raciocina e nem escuta. Foi tão carinhoso! Mas durou pouco, não quisemos chocar ninguém.
- Vamos pra outro lugar? - eu.
- Vamos! Tô louca pra escutar um bate-estaca.
- Vamos para o apê? - o Vagner.
- Não, vamos pra night. - a Ana.
Pegamos o carro e fomos para a uma boate próxima do bar. Boate é mais legal pra namorar; é escura e ninguém - ou quase ninguém - liga para beijos e amassos gays.
Foi divertido, adoro dançar e o Dj era ótimo.
Amanheceu, fomos pra praia e ficamos comemorando o reencontro na areia. Vimos o sol nascer ali, só nós quatro. Lindo!
Depois fomos pra casa. Claro, o casal maravilha para a deles e nós para a casa dos pais do Henrique.
Tomamos um banho rápido, porque ninguém se aguentava mais em pé e fomos pra cama dormir de conchinha.
- Mais pertinho, B!
- Espera.
- Mais.
- Já estou grudado.
- Não, mas as minhas pernas ainda estão soltas, óh!
- Aff!
- Haha.
- Haha.
- Pronto. Hum... Cheirosinho, fresquinho, bonitinho, peladinho e lisinho. Dá um beijinho?
E assim foi o resto da semana!
No último dia:
- Hoje é especial.
- Por quê?
- Amanhã vou embora.
- Ah tá. Chato isso... - choramingando.
- Hum... seu lindo! Vai sentir minha falta?
- Um tantão assim, óh... - abrindo os braços.
- Haha... meu garoto que eu amo tanto!
[...]
- Pra onde vamos, Rique?
- Surpresa!
- Eita, começou.
- Hehe... claro! Esteja pronto às vinte e duas, hein?
- Por quê? Você vai sair?
- Como assim?
- Uai, você disse pra eu estar pronto às vinte e duas. Você não vai passar o dia comigo?
- O dia todo não, hoje eu tenho que ir ver a questão da galeria, conversar com um cara que quer fazer sociedade e tals.
- Ok, meu lindo, traga o pão pra casa.
- Haha... ok, querido, quer que eu traga o leite também?
Eu estava super ansioso.
O Henrique não é nem um pouco criativo, mas quando inventa de me surpreender, ele sempre consegue se superar.
Deixei o meu maridinho ir fazer negócios enquanto eu fazia o almoço. - sentido figurado, é claro.
A noite chegou e eu já estava pronto para a surpresa.
Henrique chegou em casa era mais ou menos vinte e duas e dez.
- Desculpa o atraso, B. Tomo banho, me visto e desço em cinco minutos.
Vinte minutos depois, ele descia. Me perguntem se valeu a pena esperar por ele?
Ele estava lindo, perfumado, penteado, formalmente arrumado: calça preta, uma camisa de botão rosa com listras pretas na vertical e sapatos.
- Demorei?
- Imagina!
- Que bom; vamos?
Entramos no carro e saímos.
- Nem vou perguntar pra onde vamos; eu sei que você não vai dizer.
- Aham.
- Deve ser um lugar bem legal, mas eu não vou perguntar.
- Ok.
- Deve ser bem aconchegante lá.
- É.
- Argh! Fala, Rique, pra onde vamos?
- Haha... sabia que você não resistiria.
- Vaai!
- Não.
- Vi, Riquezinho!
- Hã? Não.
- Vaiêê...
- Deixe o faro jornalístico pra outra hora.
- Odeio você como nunca!
- Aham.
Minutos depois.
- Chegamos.
- AAAA!
Era o restaurante onde ele tinha me pedido pela primeira vez em casamento.
Meus olhos se encheram de lágrimas, minha boca ficou seca...
- Vem - já descendo do carro.
Ele foi na frente, pensando que eu o acompanhava, mas eu fiquei estático no carro. Ele nota a solidão e volta.
- B, você não vem?
- Ai, que lindo, Rique!
- Hum, meu gatinho, você merece, vem, pega a minha mão.
Ele me pegou pela mão e fomos até uma mesa. Pedimos. Ficamos um olhando para o outro... admirando.
- Tá do mesmo jeitinho isso aqui.
- É verdade.
- Ai que bom que você me trouxe!
Não conversamos muito. O que sentíamos era só a vontade de sentir aquele lugar. O lugar falava por si só...
- Quando morarmos juntos, nossos jantares serão assim, unidos na mesa.
Nesse momento eu sinto o pé do Henrique tocando a minha canela. Ele estava de meia. Sentei ao lado dele - estava de frente antes - e coloquei as minhas coxas em cima das dele. Ficamos ali tomando vinho e conversando.
O garçom apareceu e perguntou:
- Posso trazer a sobremesa?
- Pode sim.
Daqui a pouco me aparece o garçom com uma taça imensa de sorvete. E quando eu falo imensa, eu digo imensa. Tinha uns dois litros ou mais de sorvete naquela taça.
- O que é isso?
- Eu encomendei essa sobremesa ontem pra eles.
- Que máximo!
- Atacar?
- Agora...
Começamos a tomar o sorvete. Foi tão divertido!
De repente o Henrique tira com a colher um cordão dourado dentro do sorvete.
- O que é isso Rique?
Ele pega a minha mão, tira a minha aliança e a coloca no cordão.
- Toma, põe no pescoço.
- Por quê?
- Porque enquanto eu estiver fora, é assim que você vai usar a aliança.
- Por quê?
- Quando eu voltar, eu vou colocá-la no seu dedo, mas isso é quando eu voltar.
- Mas... - interrompe.
- Procura o meu aí dentroIsso, agora pega a minha aliança, põe no cordão e coloca no meu pescoço.
- Mas, Rique, por que isso?
- Porque a gente precisa de uma cerimônia bem bonita para pôr essas alianças. Quando eu voltar, a gente realiza, mas por enquanto a gente usa assim.
- Oh, Rique... - quase chorando.
- Eu acho que a gente já se casou e se separou umas três ou quatro vezes. Quando a gente se casar de novo, a gente tem que prometer um para o outro que não deixaremos mais que bobagens atrapalhem a gente, ok?
- Ok.
Depois do sorvete fomos para o carro.
- Vem cá, me abraçaEu tenho pena das outras pessoas que não sabem o que amar de verdade... Não têm alguém como eu tenho e não pensam da forma como eu penso sobre isso. B, me promete que a gente vai morrer velhinhos e juntos?
- Prometo!
Nos beijamos loucamente naquele carro, mas não durou muito.
- Vamos pra outra parte da surpresa.
- Tem mais?
- Claro.
Fomos em direção à orla. Chegamos no porto. É muito esquisito lá, principalmente à noite.
- Rique, por que a gente tá aqui?
Juro, vocês vão rir, mas sempre quando estou com alguém no carro, não importa quem seja, não importa mesmo, e estamos em um lugar considerado perigoso, esquisito, distante de tudo, eu acho que a pessoa que me levou até lá vai me matar e me deixar ali mesmo.
Eu sei, é loucura, mas eu tenho isso desde pequeno. Eu saía com o meu pai e eu achava que ele ia me matar e me deixar em um matagal. Uma vez, com a minha mãe, eu achava que ela ia me deixar em um banheiro público... enfim, eu nem deveria ter contado isso porque perdeu todo o clima romântico que eu criei...
- Relaxa, estamos seguros.
Ele tira uma lanterna do porta-luvas, sai do carro e me pede pra sair. Eu saio, ele me pega pela mão e me leva até a ponta do cais.
Chegando lá, ele dá dois "clicks" na lanterna em direção a um barco e recebemos dois de volta.
- Rique, o que é isso? Estou com medo.
- Você não confia em mim?
- Não... quer dizer, sim, eu confio. - tremendo.
- Você tá tremendo! Vem, me abraça!
O barco foi se aproximando do cais e um cara desce do barco, prende a corda em um dos tocos do cais, o Henrique aperta a mão do cara e esse vai embora.
- Vem, sobe.
- O que é isso, Rique?
- Um barco, oras.
- Para, Rique, estou com medo!
- Deixa de drama e sobe, vem, pega a minha mão.
Eu peguei na mão dele, subi e ele deu partida.
- O que você acha de passar a noite em um barco, no meio do oceano comigo? Só nós dois e ninguém pra atrapalhar?
- Adorei a ideia. - mais calmo agora.
- Que sorriso lindo!
- Rique, você sabe pilotar essa coisa?
- Essa coisa eu ganhei quando tinha quatorze.
- Tudo isso?
- Aham, um dia eu disse que ia fugir de casa, aí o meu pai pediu pra patrulha marítima ou alguma coisa do tipo me procurar. Ele sabia que eu estava no barco com uma mochila com duas mudas de roupa e um bocado de biscoito.
- Haha... meu pequeno grande homem!
- Pronto, deixa eu só ancorar aqui... Vê, a lua está linda, já, já, ela toca o mar e você vai sentir as ondas que ela vai provocar.
- Eu sabia que você era romântico, mas não imaginei que fosse tanto...
- A saudade inspira.
O barco era relativamente pequeno, mas cabia seis pessoas tranquilamente.
Tinha uma cama que deixava os nossos pés de fora e uma pequena mesa com dois bancos de madeira.
Acendemos velas, mas ficamos do lado de fora, deitados na proa (proa é a parte da frente do barco, né?)
O Henrique se deitou, colocou as duas mãos atrás da cabeça e ficou olhando as estrelas. Eu me deitei do lado, me agarrei ao peito dele e fiquei olhando junto com ele.
- Eu queria tanto conhecer as constelações, eu só conheço o Cruzeiro do Sul.
- Ali, né? - eu apontando.
- É.
B- Eu conheço também as Três Marias, ali óh...
- É verdade.
O Henrique tira as mãos de trás da cabeça e me abraça.
Ficamos assim...
- Tá um friozinho...
- Frio de maresia.
- Nem dá vontade de falar, só de ver.
- Aham.
Ficamos grudados, de meias e de olhos bem abertos para o céu iluminado de pequenos brilhantes. Depois de um tempo calados, ele disse:
- Eu te amo!
- Eu também te amo!
- Vamos consumar isso lá dentro.
Entramos.
Eu fui na frente e desci os pequenos degraus da cabine. Ele veio em seguida e, assim que descemos, ele me abraçou por trás e todos os nossos músculos se encaixaram em perfeita harmonia. Eu sentia a virilha, os joelhos, os bíceps, o queixo, o peito, o cabelo... tudo em perfeito encaixe.
Por trás, ele me beijava. Me virou e foi me deitando na cama, ficou de pé e tirou a camisa. Pôs um dos joelhos entre as minhas pernas e foi se deitando sobre mim. Pegou as minhas mãos e as prendeu acima da minha cabeça, me deixando imóvel. Começou a me beijar e a acomodar a sua virilha nos meus quadris.
Me beijava lento, mas com força. A cada passada de língua, ele suspirava profundamente.
Desabotoou minha calça e foi se esfregando.
Eu estava em êxtase antes mesmo de começarmos a fazer amor. Ele tirou minha calça e voltou a me beijar. Tirou a própria calça e ficamos de cueca. Estávamos muito excitados. Senti a glande ficando molhada de tanto ser friccionada contra o tecido da cueca. Ele não parava de beijar e de me imobilizar.
Ele já estava encaixado entre as minhas pernas, mas continuava se mexendo como se não estivesse satisfeito, fazendo com que a cueca friccionasse mais e mais na minha glande. Os suspiros se transformaram em sussurros e ele começou a passar a língua no meu pescoço e a morder a minha orelha. Pegou na calça uma camisinha, colocou só o membro pra fora e, sem tirar a cueca por inteiro, desenrolou a camisinha. Eu ainda estava de cueca. Ele foi tirando de leve enquanto levantava a minha blusa e beijava e mordia o meu tórax. Ia para o umbigo e depois pra virilha.
Eu me contorcia, puxava um pouco os meus cabelos e soltava gemidos frouxos.
Finalmente ele tirou toda a minha cueca. Ele ficou de joelhos em cima da cama, pôs os meus pés sobre os ombros dele.
Acho que foi a primeira vez que ficamos nessa posição.
- Quero te olhar gemendo - com uma voz baixa e grave.
E à luz de velas, ao cheiro de maresia e no balanço das ondas, Henrique se introduziu em mim, se aproximou do meu rosto e repetiu:
- Quero te olhar gemendo.
Eu virei o rosto e não aguentei sentir tanto prazer. Ainda era um prazer mais psicológico que físico, mas era prazer.
Ele fazia devagar, mas entrava todo. Ele fazia com certo molejo, certa habilidade em se mexer. Segurava os meus pés, olhava no fundo dos meus olhos e enfiava o pau todinho em mim. Eu suspirava, ofegava, me agarrava aos lençóis, colocava a mão na testa como se estivesse impaciente e tudo o que ele fazia era me olhar gemer.
Muito tempo depois, muito mesmo, ele começou a ficar mais rápido. Mas não era tão possível assim continuar naquela posição. Só que transição de posição entre nós não é mecânica, tem que haver carinho.
Ele parou de se movimentar, se deitou sobre mim e me beijou intensamente. Invadiu a minha boca com toda a língua e me mordeu os lábios. Eu estava dominado!
Depois ele me fez deitar de bruços e voltou a me amar por trás. Ele mordia a minha orelha e lambia o pescoço, segurava as minhas duas mãos com apenas uma mão e com a outra ganhava impulso para continuar se movimentando.
- Quem é o seu macho? - sussurrava - Quem é? - voz baixinha e ofegante.
Ele não esperava respostas, óbvio. Era uma pequena tensão que ele causava nos meus neurônios inundados de pensamentos libidinosos.
Eu sentia toda a virilha dele sendo esfregada na minha bunda, os pelos e o abdômen pressionando sobre as minhas costas. E a vara inteira entrando em mim com força e dura... muito dura mesmo...
Começamos a suar e ele começou a exalar aquele cheio de homem de verdade. Esfregava no meu ombro o queixo com a barba, arranhando.
Quando ele faz isso é porque está impaciente. Ficamos sempre impacientes quando fazemos amor, porque a graça de se fazer amor é demorar no ato, mas os nossos instintos nos pedem pra ejacular imediatamente. Por isso, depois que ele começa a esfregar o queixo em mim, eu sei que ele cessa um pouco os movimentos.
Não deu outra: ele começou a ficar mais lento e a chupar mais forte o meu pescoço.
- Hein? Me diz, B; quem você ama? Quem é o seu macho? Me responde, anda: você gosta disso? Gosta do seu macho?
Eu só respondia com suor. Eu sentia as veias do pênis dele pulsando quando ele parava dentro de mim. Ficou lento, mas depois que a vontade de gozar passou, ele voltou mais ágil, mais viril.
A vontade de chegar lá era tão grande que ele não conseguiu mais adiar esse momento, mas antes dele ejacular, eu já gozava nos lençóis. O meu pau estava preso e com os movimentos do Henrique ele também era estimulado. Durante uma masturbação, por exemplo, quando você está prestes a ejacular, você acelera os movimentos porque é muito angustiante sentir o esperma saindo e você com as mãos leves e vagarosas.
Eu não tinha o controle sobre esses movimentos e o Henrique estava lento quando comecei a gozar. Eu simplesmente me perco nos movimentos lentos e gozo com muito mais prazer.
- Rique, estou gozando, ahhh!
- Me espera, B!
Ele acelerou o movimento e gozou logo em seguida. Deitou-se ao meu lado e ficou ali, olhando para o teto, tentando recuperar o fôlego.
- Eu não aguento outra, Rique - ofegante.
- Nem eu.
- Então só me beija e a gente dorme de conchinha.
- Vem.
Fui em direção àquele homem tenso de tanto desejo, que me acariciava os cabelos e me beijava como se fosse a última vez que nos veríamos.
Fomos deitando de leve um sobre o outro e sentido a pele quente dos movimentos de minutos atrás. Eu sentia a sua virilha suada que envolvia a minha e os pelos da coxa dele arrepiando a minha coxa.
Ficamos molhados juntos. Eu chupava o pescoço dele e ele jogava a cabeça pra trás, gemia e passava a mão na cabeça, impaciente.
No fim, quando não restava mais nenhuma força, ficamos abraçados, mas não de conchinha, um de frente para o outro, entrelaçando as pernas.
Pela manhã, acordamos com um sol escaldante e gaivotas gritando. Nos vestimos na maior alegria.
- A melhor surpresa de todas!
- Gostou?
- Nem ouso responder essa pergunta.
Ele estacionou o barco no cais, pegamos o carro e fomos pra casa dele.
Decidimos, assim como da última vez, que eu não iria para o aeroporto.
A despedida seria dolorosa.
- Eu ligo quando desembarcar.
- Ok, meu amor!
- Te amo!
- Eu também te amo!
- Lembra da minha promessa: vou te fazer feliz?
- Já está cumprindo.
- Não, você ainda não viu nada .
- Como assim, Rique?
Ele não respondeu, só sorriu. Mas aquele tom de voz era sério demais para um simples mimo...
- Rique, o que você quis dizer?
- Vem cá, mãe; me dá um abraço.
Desconversou.
Até hoje ele nunca me respondeu!
Ele se foi. Nos correspondemos via MSN quase todos os dias, mas as ligações ele sempre me faz... duas vezes por dia.
Às vezes ele passa um dia inteiro sem ligar e só liga antes de ir dormir, me pede para enviar um beijo de boa noite para que ele possa dormir em paz.
O apartamento está pronto. Escrevo daqui. A galeria funciona hoje sem ele, mas o consultório o aguarda. Os móveis estão até hoje plastificados. É uma lembrança de futuro (estranho) olhar para aquele consultório. É como se eu sempre soubesse que acabaria desse jeito, desde quando o vi passar no hall do hospital pela primeira vez, ou quando o vi atendendo o Vagner, ou quando ele me disse para beber o café. É como se aquele primeiro contato previsse tudo isso. Eu o vi pela primeira vez de jaleco e daqui a dois meses; sim, ele volta daqui a dois meses; eu o verei sempre vestido desse jeito, me dando boa noite quando chegar do trabalho, cansado e implorando com um olhar infantil por um beijo, o copo de leite e uma massagem nas costas.
Eu, o marido, o farei com todo o prazer do mundo.
Engraçado, ele me ligou hoje, disse que estava empolgado com o desempenho dele, mas em um rápido descuido começou a chorar e eu perguntei o que foi e ele só disse "saudades".
Como prometido Henrique voltou, e tivemos nosso final feliz, depois de tantas idas e vindas, tantas brigas, tantos desencontros, finalmente temos o nosso final feliz, ou melhor, agora vamos começar uma nova historia juntos, porque o Henrique eu eu conheci enquanto era o medico do meu amigo, hoje é um Henrique totalmente diferente, um Henrique maduro, meu Rique! O cara que me fala eu te amo em diversas maneiras e atitudes. O cara que me completa no sexo, e que sexo como vocês bem sabe. A quem leu até aqui meu muito obrigado!
Sentirei saudades de todos vocês, leitores!
Nossa, já estou chorando...
Esse conto me ajudou a superar o passado e a esperar o futuro com mais paciência.
Vocês mudaram através de minhas palavras?
Bem, eu mudei mais. Mesmo sendo eu quem escrevia, parecia que era outra pessoa que descrevia essa vida equilibrista que eu levei e levo até hoje.
Me surpreendi comigo mesmo quando relia alguns trechos. Me amaldiçoava, amaldiçoava ele... Chorava e ria... Nostalgia plena.
Falei de sexo, né... O nome dessa comunidade é "Contos Eróticos".
Senti mais do que simples tensões prazerosas e acredito que vocês também.
Acho que ninguém nunca me ouviu falar da minha vida desse jeito. Vocês nunca me ouviram falar da minha vida desse jeito.
Fizeram melhor: vocês leram. Não há nada mais transparente que isso.
Pessoas têm talentos: umas cantam, outras interpretam, outras sabem fazer cálculos. Existem até pessoas que salvam vidas, como os médicos...
Eu não tenho o talento de escrever.
Eu sou metido a escrever.
É diferente.
O que mais eu lia de queixas eram os desânimos (ah, os desanimados desse tópico!).
Ânimo, garotos! A vida não é fácil pra ninguém. Não foi pra mim. Por sorte alguém me curou, como um médico atencioso. Mas para tal eu tive que me permitir viver. Se a gente se priva da vida, não há nada que possam fazer por nós. Só alguém vivo pode nos salvar, mas esse ser só pode fazer isso se vocês também estiverem vivos.
Nos escondemos atrás de computadores para expressar um pouco de dor e angústia, mas esquecemos que há pulsos que prendem nossas mãos.
Gente!
Esse pulso, pulsa. Mais acima do pulso tem um coração que, adivinhem, também pulsa!
Enquanto vocês olharem para as mãos e verem cordas atando-as, esqueçam esse conto.
Enquanto vocês disserem pra si mesmos que não são capazes de viver nesse mundo, esqueçam que eu existo.
Enquanto vocês pensarem que nada os salvará, esqueça "O Médico".
Porém, se vocês abrirem essa janela agora e virem que existe mais vida lá fora que nesse computador... Parabéns, vocês acabam de começar a viver!
A quem possa interessar, os meus mais sinceros agradecimentos!
*Se Cuidem*
Quando uma porta se fechar
Quando você achar que esse é o final
Quando você olhar o chão e vir um teto
Respire fundo
Quando começar a temer o amanhã
Quando se prender em cordas opressoras
Quando o travesseiro esquecer que você existe
Respire fundo
Quando não mais viver
Quando não mais chorar
Quando não mais amar
Respire fundo
Respirar é o primeiro ato de vida
E lembre-se sempre:
Tenha sempre juízo!
_Benjamim_
<<< FIM>>>
Uma história real