Pego um carro de aplicativo destinado à minha casa, chegamos rapidamente. Subo com um certo nervosismo pois imagino que meu marido vai querer saber cada detalhe.
Seguro as chaves com firmeza e abro a porta. Meu marido está sentado no sofá assistindo um programa de futebol, falo oi pra ele que não tira os olhos da televisão, chego perto para beijá-lo e ele vira o rosto.
Percebo que temos um problema, decido tomar um banho para eliminar qualquer cheiro dela que ele possa estar sentindo. Entro no chuveiro, lavo bem a cabeça, esfrego com minha esponjinha toda a pele, saio de lá esterilizada. Visto um short e uma camiseta de ficar em casa, vou para a sala como se nada tivesse acontecido e fico no celular.
- Não sabia que você iria dormir lá.
- Eu não sabia que eu precisava pedir permissão.
- Não é nada disso, era só me comunicar.
- Você não está parecendo o marido que me incentivou a ir e realizar meus desejos com quem eu falei esses últimos dias. Está diferente. Não parece o homem que no jantar em que eu contei tudo aceitou numa boa.
- Eu aceitei por você, porque te amo e te quero bem, mas não significa que eu vou amar o fato de você sair por aí transando com outras mulheres, só isso.
- Eu pensei que eu era uma mulher independente e livre, mas acho que nossos conceitos de liberdades são diferentes. Então vou te dizer o meu e você diz onde discorda. Eu pensei que eu era livre para encontrar pessoas, conhecê-las sem pedir permissão ou autorização e me envolver como bem me aprouvesse.
- Concordo com você, só gostaria de ser comunicado antes.
- Serei mais clara sobre minhas futuras saídas, aliás vou sair amanhã e não sei se vou dormir fora de casa, provavelmente irei.
Levantei e fui para o quarto, estava morrendo de sono, estou acostumada a bem mais horas de sono do que ela me concedeu, adormeci pensando no quanto havíamos nos divertido juntas.
Acordei com meu celular vibrando, era ela, queria saber se eu tinha chegado bem, como havia sido a conversa com meu marido. Lhe expliquei que tinha chegado bem e esquecido de lhe avisar, mas que a conversa foi um balde de água fria, me perguntou sobre minha saída de amanhã, falei e assegurei que estava garantida, não ia deixar o mau humor dele me parar. Ela me perguntou se eu tinha ficado cansada e que apostaria que eu dormi e afirmei que sim, ela conhecia bem meus hábitos e riu com entusiasmo.
O restante do dia foi correndo roboticamente, ele não falou mais sobre nada e ficamos cada um chateado para o seu lado. Eu não poderia imaginar essa reação dele perante o que havíamos conversado, isso me endureceu um pouco. Fiquei pensativa, tomei um chá de camomila, canela e maçã e fiquei tentando decifrar se eu havia deixado de falar algo para ele e cheguei à conclusão de que eu havia sido bem franca chegando a até correr o risco de que ele se chateasse, não aceitasse e quisesse terminar comigo.
Já mais certa do que eu tinha feito, fui dormir cedo esperando ter um dia mais suave no dia seguinte e secretamente adoraria que nosso primeiro dia se repetisse, eu estava absolutamente encantada, mal podia esperar para encontrá-la e poder relaxar um pouco.
Despertei antes de Otto, levantei sorrateira e ele veio me encontrar no corredor, abracei e disse que já estávamos saindo. Coloquei uma legging e um casaco por estava frio naquele início de manhã.
Peguei a coleira e o cachorrinho ficou maluco, balançava tanto o rabo que ele poderia se desplugar e cair. Fomos por nosso caminho de costume, chegamos ao gramado, deixei ele correr livremente pois naquele o horário não havia outros cachorros para o Otto brigar com eles. Depois de uma hora voltamos para casa e limpei com cuidado suas patinhas e lhe dei o petisco de recompensa.
Tomei um café da manhã rápido, sentei com uma xícara de café no sofá e comecei a ponderar o que estava acontecendo na minha casa, primeiro que ficar brigando tirava toda a energia que o rolê teve, eu não queria repetir isso de forma nenhuma, não iria deixar de explorar minha sexualidade recentemente descoberta, então eu tinha duas opções: me resolver com o marido ou me separar. Optei pela primeira.
Preparei um café bem farto para ele, fui tomar banho para me arrumar antes que ele acordasse. Como estava muito frio resolvi ir de calça jeans e um moletom leve para me proteger daquela mudança climática.
Estava finalizando uma maquiagem simples quando ouvi a porta do banheiro fechando, ele havia despertado, fiquei pronta e o aguardei na sala com seu café na mesa, ele chegou e perguntou:
- Vai sair por agora?
- Sim, estava esperando você acordar para conversarmos antes de sair. Quero falar sobre ontem e queria que você me ouvisse primeiro, o que acha?
- Pode falar.
- Quando eu te contei sobre estar apaixonada e ter interesse em mulheres eu não pretendia iniciar uma briga com você, eu já sabia que daquela conversa poderia surgir o fim do nosso casamento. Mas você foi muito calmo, ponderado e me disse que eu poderia viver essa experiência o que foi muito bom para mim e depois de um tempo resolvi explorar essa possibilidade. Mas ontem não tivemos um dia bom e eu queria saber a sua opinião sobre isso.
- Não gostei de que você dormiu fora sem me avisar, foi isso que me deixou irritado. Não estou com ciúmes, mas fiquei chateado e meio puto.
- Entendo, serei mais assertiva daqui pra frente, falando nisso, hoje eu vou sair para ficar o dia fora, mas venho dormir em casa.
- Tudo bem. Boa saída.
Chamei o carro de aplicativo e fui para o hotel onde ela estava hospedada, pensando firmemente em repetir o dia anterior. Mas se não desse certo somente ficar com ela já me animava. Pode me chamar de emocionada.
No saguão, fiquei esperando ela vir me buscar, era um hotel luxuoso, a decoração era minimalista, muito bonita e acurada, me distraio observando as plantas e principalmente as flores que estão no balcão da recepção, eram lírios e não poderia ter me divertido mais ao apreciar as flores do amor naquele hotel.
Ela surge e estou tão envolta em meus próprios pensamentos que levo um pequeno susto. Ela pergunta:
- Distraída, meu bem? Ou fazendo algo de errado?
- Posso dizer que um pouco dos dois, porque eu estava apreciando a beleza daqueles lírios e também estou desafiando algumas instituições, se é que você me entende. Abri um sorriso sem vergonha.
- Eu imaginava que não estivéssemos desafiando instituições, mas isso fez com que as coisas ficassem bem mais interessantes, se é possível.
Fomos caminhando até o elevador de mãos dadas, ela acariciou o dedo da minha aliança e disse: eu não me importo com seu matrimônio, posso até dizer que não faz diferença para mim, contudo dá um certo tesão saber que estamos vivendo perigosamente e deu uma risada enquanto olhava minha mão.
- Perigosamente!? Meu amor, estamos no mais sincero e honesto encontro, tudo está mais do que claro e previamente acordado. Mas se você quiser eu posso te falar de quanto ele ficou bravo ontem por eu não ter avisado que iria dormir com você.
- Agora você está falando a minha língua, me conta o que irritou o boy, eu pensei que estava tudo ok.
- E estava, agora não sei se ele ficou com ciúmes ou só se chateou pela minha falta de comunicação, ele pode ter ficado me esperando para dormir.
- Bem, se eu fosse ele poderia me chatear com a minha mulher querendo dormir fora de casa, mas honestamente entendo o lado dele.
- Eu também entendo, ele cedeu muito para que estivéssemos aqui, eu sempre pensei que ele fosse ser contra por isso esperei para ter a coragem de falar abertamente com ele.
Entramos no quarto, tirei meus sapatos e fui direto para o frigobar pegar uma Coca-Cola, sentei no sofá me sentindo em casa, tomei o primeiro gole:
- Quando eu estava chegando em casa ontem eu pensei que ele iria estar super curioso sobre nós, mas ele estava monossilábico. Isso me deixou insegura, e eu resolvi que era melhor não conversarmos, hoje de manhã depois de passear com Otto que consegui falar com ele. O ponto principal que ele trouxe foi a minha falta de comunicação que eu entendo de verdade. Apesar disso fiquei triste com a forma que ele me tratou.
