LIVROS E PAIXÕES [20] ~ Uma nova fase

Um conto erótico de Renato
Categoria: Gay
Contém 2115 palavras
Data: 25/01/2024 14:14:04

Talvez eu e ela tenhamos nos amado perdidamente em uma existência passada... Ou talvez venhamos a nos amar em uma futura... Mas nessa existência nós dois somos só grandes companheiros.

Amigos de verdade que nesse dia trocaram carinho de um jeito mais especial...

Espero que vocês tenham entendido esse momento que nós dois tivemos.

Um único beijo, um dos mais doces que já recebi, mas mesmo assim só um beijo de carinho.

Ela foi a única mulher que eu já beijei em toda minha vida.

Quando o momento passou, nos olhamos um para o outro, vermelhos como só nós somos capazes de ficar e sorrimos, nem um pouco constrangidos pelo que acabamos de fazer.

Pegamos nossos instrumentos e descemos do palco totalmente indiferentes à balburdia da plateia e dos nossos amigos.

Foi só quando guardei minha palheta no bolso (a mesma palheta que o Alex me deu quando começou a me ensinar a tocar), que eu lembrei que ele estava na plateia e provavelmente tinha visto o meu beijo com a Marília.

Sabe quando bate a sensação de “ih... Fiz cagada”?

Mas isso logo passou, afinal ele não tinha mais nada a ver com a minha vida e eu ainda não sabia da volta dele oficialmente.

E, principalmente, eu ainda teria oportunidade de conversar com ele. Se nessa conversa ele não entendesse o que tinha acontecido entre mim e a Marília era porque ele não tinha mudado e como eu não estava nem um pouco afim de me meter em uma montanha russa de imaturidade de novo, esse seria o sinal de que era melhor esclarecer tudo e depois o esquecer para sempre.

Mas uma coisa ainda me preocupava: nos dois instantes que eu olhei pra ele, meu coração bateu muito forte, do mesmo jeito que bateu quando eu o vi na loja do Japa.

Talvez eu tivesse que ter mais do que uma conversa com ele no final das contas.

Eu enrolei o quanto pude nos bastidores e por fim tive que sair para guardar minha guitarra no carro.

E isso implicava pegar a chave com a minha mãe.

A Marília se ofereceu para ir comigo e eu aceitei a companhia, mas não contei nada sobre o Alex, pois não queria que ela pensasse que eu a beijei por causa dele.

Quando nos misturamos com a plateia, andamos com dificuldade até onde a minha mãe e o tio João estavam e senti um grande alívio ao ver que só estavam os dois ali.

- Mãe!

- Renato, Marília! Vocês estavam ótimos hoje... O melhor show de vocês!

- Obrigado, tia! - a Marília respondeu.

- Acho que eu nunca me empolguei tanto com uma apresentação como hoje; acho que essa foi a nossa grande chance. - eu comentei.

- E vocês aproveitaram muito bem essa chance. Todo mundo vibrou muito com o show. Vocês emocionaram e divertiram todo mundo hoje. - o tio João, como sempre me pondo pra cima.

- Mãe, me dá a chave pra eu guardar a minha guitarra e o violão da Marília.

- Espera um minuto. - ela disse enquanto metia a mão na bolsa e procurava.

Nesse momento uma moça que estava nos observando com uma câmera na mão pediu para tirar uma foto comigo e com a Marília. Foi muito estranho... - kkk

- Toma aqui. - ela me disse pondo a chave na minha mão. E com um gesto me puxou para mais perto. - Quando chegar em casa quero conversar com você, mocinho!

- Acho que eu sei sobre o que é.

- Então você viu?

- Acho que sim. Mas mãe... Agora preciso guardar essa guitarra.

Eu e a Marília seguimos até o estacionamento especial onde ficavam os carros das pessoas que iam tocar.

A entrada do lugar era pelos camarins. Me praguejei pela própria burrice. Não precisávamos ter saído com a guitarra e o violão na mão. Poderíamos ter deixado lá para pegar a chave e na passagem para o estacionamento, pegar tudo.

É por isso que a gente não vê os músicos com guitarras no meio da plateia. Erro de iniciante. - kkk.

No estacionamento, depois de ter guardado a guitarra no carro, eu me virei para a Marília.

- Ele voltou.

- Ele quem?

- O Alexander... E acredite, ele estava aqui hoje.

A Marília ficou de boca aberta e veio se sentar ao meu lado sobre o capô do carro.

- Você viu o Alex?

- Sim. Quando estava cantando “Shining Ligth”.

- A música do amor de vocês! - ela me interrompeu.

- Essa não era a única música, mas sem dúvida é uma das que me lembra ele...

- Mas ele não ia voltar só daqui há uma semana ou coisa assim?

- Ia, mas eu não sei porque ele voltou antes, e o pior... Se ele veio a esse show provavelmente chegou há uns dois dias... No máximo ontem.

- Mal chegou e veio correndo te ver.

- Ele não veio correndo, Marília. Se esse fosse o caso ele teria me avisado que ia voltar antes e se quisesse me ver teria falado comigo.

- Talvez ele tivesse falado se não fosse aquele beijo no palco.

- Você não está...

- Claro que não! Você nunca faria algo assim comigo... E eu sei que o cara que tinha esse tipo de comportamento infantil não é mais você - ela disse com um sorriso no rosto que me encheu de alegria por ver como ela confiava cem por cento em mim.

- Você é demais sabia!

- É, eu sei... Eu também te amo. Kkk.

- kkk.

- Sabe, você beija bem!

- Obrigado! - eu disse rindo e passei o braço no ombro dela e nós voltamos para os camarins.

Mais tarde naquela noite, na verdade de madrugada porque já eram umas duas horas, eu, mamãe, tio João e Marília estávamos comento sanduíches de formo na sala de casa.

O tio João, depois de algum tempo, apagou na poltrona da mamãe.

Eu me deitei no colo da Marília e fechei os olhos. Após alguns minutos eu ouvi a voz da minha mãe perguntar:

- Ele já dormiu?

- Acho que sim. - respondeu a Marília.

- Marília, você sabe que eu gosto muito de você, né?

- Sei sim, tia.

- E é por isso que eu me sinto no direito, aliás, no dever de te dar um conselho. Eu espero que você me entenda.

Eu fiquei interessado e continuei fingindo que estava dormindo.

- Eu sei que você gosta muito do meu filho e não é só como amiga!

- Se a senhora está se referindo ao beij...

- Não; nada disso; não foi por causa de hoje que eu penso isso. Eu observo vocês dois, eu vejo como você olha pra ele. - a Marília não respondeu e ela continuou. - Quando o Alex foi embora, você se encheu de esperanças, mas aí ele e o Carlos se envolveram e você começou a namorar com aquele menino. E agora eu acho que depois da tragédia com o Carlos você se encheu de esperanças de novo.

- Não... Isso não é verdade. Eu gosto muito dele sim, mas eu sei que... - ela disse com a voz chorosa, mas foi interrompida por minha mãe.

- Sabe que não vai dar certo. - após uma pausa ela continuou. - O meu filho é homossexual Marília; sempre vai haver um outro rapaz entre vocês, minha filha. Se liberte desse sentimento por ele.

- Eu sei de tudo isso, mas... - minha mãe a interrompeu de novo.

- Eu já passei por essa situação uma vez. - ela baixou mais a voz.

- Você está vendo o João? Eu me apaixonei por ele desde a primeira vez que o vi, quando nós tínhamos dez. Você consegue imaginar por quanto tempo eu amei esse homem sem ser correspondida?

- Eu nunca soube disso. - ela verbalizou o meu pensamento.

Minha mãe falou de novo e agora sua voz além de baixa parecia embargada de lágrimas.

- Eu amei muito o João; e ainda amo... E olhe que ele nunca me deu metade da esperança que o Renato te dá. Esse beijo de hoje...

- Foi um beijo de carinho, de amigos. A gente só estava muito feliz por tudo.

- Mas você queria que fosse mais, não é? - a Marília mais uma vez ficou em silêncio e minha mãe continuou.

- Foi o João que me apresentou o pai do Renato. É claro que eu o amei também, mas o João sempre foi o grande amor da minha vida. Por favor Marília, não deixe isso acontecer com você! Esqueça o meu filho!

- Muito obrigado por me contar essas coisas pessoais. Eu agradeço a confiança e os conselhos. E eu prometo que vou fazer o possível e lutar contra esse sentimento como eu venho lutando desde a primeira vez que conversei com ele! Sabe o que é pior? É que eu sempre soube que ele estava totalmente fora de alcance para mim. Mesmo assim eu mantive esse sentimento. Eu nunca tive ele... Nem vou ter. Nem mesmo esperanças eu tive. Eu sempre soube que depois do Alex, ele ia acabar com o Carlos e depois do Carlos, provavelmente voltaria para o Alex. Agora que o Alex voltou é questão de tempo...

- Ele te falou alguma coisa sobre isso?

- Não; mas eu sei que vai ser assim. É impossível esquecer um amor como o que o Renato sentia pelo Alex... A Senhora lembra como ele ficou quando ele foi embora? Não. Um sentimento assim não acaba. Provavelmente eles ainda vão brigar bastante porque são dois cabeças duras, mas vão acabar juntos de novo.

- Eu não gostaria que ele voltasse com o Alex. Ele o humilhou muito e aquela briga na rua? Não... Eu preferiria que ele ficasse longe. Hoje no show eu falei com ele, mas pedi que ele fosse embora assim que acabasse a última música. Não queria que nada atrapalhasse a noite de sucesso de vocês.

Eu não sabia o que fazer... Estava me sentindo mal por ouvir aquela conversa. E triste por ser causa de tanto sofrimento para alguém que eu gosto tanto como a Marília. Se eu pudesse, eu a pediria em namoro e me casaria com ela porque ela é a melhor mulher que eu já conheci.

Mas as coisas não são assim!

Se eu fizesse isso, seria uma mentira... E eu não iria viver uma mentira e ser infeliz!

Quanto às coisas que ela disse sobre o Alex, eu não sabia o que pensar... Será que esse realmente era meu destino?

Naquela noite eu fui pra cama com uma febre mental. Estava cheio de pensamentos e tudo que eu queria era esvaziar a minha mente.

Lembrei então de “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, onde Alvo Dumbledore possuía um instrumental mágico chamado “penseira”.

Nesse objeto em forma de bacia de pedra era possível esvaziar os pensamentos da mente e vê-los, um a um, calmamente.

Como eu gostaria de ter uma “penseira”!

Logo após esse pensamento, me ocorreu que fazia algum tempo que eu não misturava a vida real com o mundo dos meus livros.

Eu nunca perdi o hábito de ler, é claro! Eu só havia perdido uma coisa que fez parte de mim por muito tempo: a estranha mania de comparar minha vida com a ficção.

Olhei para o teto do meu quarto e vi ali as estrelas que há muito tempo atrás minha mãe tinha pintado com a ajuda do tio João.

Era estranho pensar que ela sempre o amou.

Não que eu nunca tivesse desconfiado. Quando eu era criança, depois que o papai morreu, eu sempre dizia que queria que ela casasse com o tio João.

Mas isso era coisa de criança.

Agora eu entendia o que realmente era o amor.

E por isso entendia o sentimento da minha mãe pelo tio João, bem como o da Marília por mim.

Uma vez que você constrói um amor, ele não acaba. Muda de forma, amadurece... E se for real, nunca acaba.

Paixão é uma coisa que tem um fim certo. Paixão é só um fenômeno biológico.

O amor não!

Ele é “O Sentimento por Excelência”.

Por isso as relações que envolvem esse sentimento tão nobre são complicadas.

Eu não podia fazer muita coisa quanto à mamãe e o tio João.

E em relação à Marília, ela me pareceu bastante consciente sobre a impossibilidade de uma relação entre nós dois... Mas, de agora em diante, eu iria evitar situações como a do beijo de hoje... Para não dar a ela mais esperanças.

E quanto ao Alex...

Bom, eu não podia mentir para mim mesmo.

Eu ainda sentia algo muito forte por ele. Isso ficou claro no momento em que eu o vi e me senti de novo na loja do Japa.

Mas muita coisa tinha acontecido desde a primeira vez... E nós dois precisávamos acertar as contas.

Mas não seria eu que iria procurá-lo. Se ele queria falar comigo, como disse no e-mail, então eu iria esperar ele dar o primeiro passo.

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Comentários

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Adorei essa mãe do Renato, isso é a tradução perfeita de sororidade.

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Esse Alex é meio que um Roger. Não com aquele mal-caratismo, mas alguém sem futuro. Ah! Carlos, que falta você faz.

Outra coisa: Eu amo a maturidade do Renato.

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Calma! Coitado do alex tmb n eh pra tento! Rogério foi um completo escroto egoista entre outras coisas! O alex do precisa amadurecer um pouco Rs

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Tá bom, vou concordar com você. Vou passar esse pano para o Alex.

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