Alguns anos depois....
Alguns anos haviam se passado e o pesadelo que passei ainda estava vivo em minha memória. Enquanto remoída distraidamente os fatos passados, sou trazido de volta para a realidade. Vejo entrar na minha sala duas lindas crianças gêmeas, Lara e Ester. Elas estavam cada dia mais parecidas com a mãe. Elas tinham acabado de acordar e vieram me abraçar:
-- Bom dia papai!!!!!
-- Bom dia meus amores! Respondia e abracei as duas de uma só vez.
Logo atrás delas uma figura encantadora surge e meu dia está completo. A chamo para um abraço de família e ficamos os quatro ali, por intermináveis segundos, curtindo aquele abraço que energizava nosso dia.
Dei um beijo na minha esposa que fez as meninas reclamarem:
-- Nossa que nojo...!!!!
Rimos e corremos atrás delas querendo beija-las. Neste momento a campainha toca e eu e minha esposa falamos juntos:
-- Elas chegaram...
Dona Filomena se antecipa e fala:
--Deixa que eu abro.
Fico logo atrás de Dona Filomena e assim que a porta se abre me deparo com duas mulheres lindas que conhecia bem. Uma pula no meu pescoço e começa a me beijar o rosto várias vezes, me falando da saudade que estava. A outra me abraça de forma mais comedida, mas ainda de forma carinhosa e pergunta:
-- Olá! Jorge. Como você está?
Voltando ao passado...
-- Seu desgraçado, o que você fez? Acabei de ser demitida e tenho certeza que tem dedo seu nisso seu corno de merda. Você vai me pagar....
Já sabendo que era, a interrompi, e fiz de conta que não tinha ouvido nada:
-- Alo! Alo!...não estou ouvindo...Quem fala?...Respondi e desliguei. Sabia que ela ia retornar. Aproveitei e liguei o app para gravação de ligações e dei uma olhada no relógio. Ainda eram 17:45h. Minha preocupação era não me atrasar para a consulta da Dra. Marize. Menos de 20 segundos depois, a ligação retornou, atendi e falei:
-- Alo!
-- Tá me ouvindo agora seu corno de merda? Falava uma voz odiosa.
-- Quem está falando? Perguntei em tom de deboche.
-- É a Monique seu bosta.
-- Monique??? O que aconteceu. Porque você está me ofendendo assim? Perguntei retoricamente.
-- Você me destruiu.
-- Eu o que??? Do que você está falando?
-- Eu acabei de saber que não irei ser mais promovida e ainda por cima me demitiram. Falaram que foi decisão da diretoria, mas tenho certeza que tem dedo seu e do escroto do Marcelo. Falou ainda gritando.
Durante a ligação, ela foi destilando seu ódio contra mim, resolvi então provoca-la e dar o máximo de corda para ver até onde ela ia. A raiva era tanta que aos poucos ela foi soltando a língua. Me contou tudo o que tinha acontecido. Que fez o que fez porque achava que Patrícia devia conhecer outros homens e não ficar presa e insatisfeita em um relacionamento monogâmico e tedioso. Me contou as manipulações que precisou fazer com Patrícia e Marcelo e justificando que foi por uma boa causa. Me ofendeu diversas vezes, chamou Patrícia de dissimulada e que no fundo ela fez porque queria, mesmo que fosse bem lá no fundo. Me acusou de ter me unido ao homem que me fez de corno para destruí-la.
Após um caminhão de ofensas ela me relatou que tinha sido mandada embora sem a menor consideração. Que iria fazer da minha vida um inferno e que Patrícia e Marcelo iriam pagar caro pelo que estava acontecendo com ela. Depois de escutar a “confissão” dela disparei:
-- Cara Monique. Primeiramente, se o meu casamento era tedioso ou não, cabia a nós resolver, não precisávamos da intervenção de uma pessoa que precisa ser desonesta e falsa com um marido que a trata como princesa, que é só amores para com você e que o desrespeita diariamente. Uma pessoa que você faz ser ridicularizada pelas costas todo os dias sem que ele saiba, já que muita gente sabia do tipo de pessoa que você é e o que faz para se divertir.
-- Segundo eu não tenho nada a ver com sua demissão e nunca me uni a ninguém. Meu único objetivo era mostrar para a Patrícia que tipo de pessoa você é. Que não será uma boa influência para ela e para o nosso relacionamento. Nunca na minha vida iria tentar prejudica-la em seu trabalho ou em seu casamento. Isso eu deixo para que você mesma faça. E posso te dizer que está fazendo um ótimo trabalho.
-- Terceiro, essa ligação foi gravada e além dela também gravei aquela proposta que você me fez em minha casa. Mesmo não querendo vingança, posso te garantir uma coisa. Caso eu perceba que minha família foi prejudicada de qualquer forma, eu posso mudar de opinião e esta gravação vai parar na polícia, na imprensa e seu marido vai poder te conhecer melhor. Essa gravação vai ser salva e compartilhada com alguém de minha confiança, com instruções de que caso aconteça algo comigo, ela vai ter o mesmo destino.
Ela imediatamente mudou o tom de voz e quase chorando me pediu:
-- Pelo amor de Deus, tudo menos isso. Me desculpe, eu precisava daquela promoção e não medi as consequências. Vou desaparecer das vidas de vocês, mas por favor, não mostre para meu marido. Ele não merece passar por essa dor. Mesmo fazendo o que faço com ele eu o amo, ele é tudo para mim. Falou desesperada.
Percebi que tinha tocado no seu calcanhar de Aquiles, se ela o amava ou se era dependência financeira, não cabia a mim jugar mas como minha intenção sempre foi apenas me livrar da influência negativa, daquela discípula de Darth Vader falei:
-- Isso depende de você. Siga sua vida, nunca mais procure minha família. Seja feliz da forma que quiser. No mais, espero que tenha aprendido uma lição. Tudo vale por uma promoção, por um lugar melhor ao sol, menos prejudicar outras pessoas. Desliguei e bloqueei seu número. Salvei a gravação e mandei para a nuvem junto da outra gravação.
Fui me encontrar com a Dra. Marize. Foi muito libertador e produtivo. Tive aulas de comportamento diante desse tipo de situação e fui parabenizado pelo comportamento que tinha tido até o momento. Mas uma coisa ela me falou com propriedade que me marcou e praticamente definiu o rumo de minha vida.:
-- Jorge, estou aqui para te ajudar a encontrar caminhos e para iluminar saídas que possam estar escurecidas. Não quero influencia-lo a tomar decisões. Elas devem partir de você em conjunto com sua esposa. Mas posso te dizer que a grande maioria das pessoas que eu ajudo com este tipo de problema nunca ficam curadas totalmente. A ferida cicatriza, mas não desaparece. Um retorno para um casamento onde houve uma traição é muito complexo e difícil, mas não impossível. Para se dar uma segunda chance, precisa-se de muita maturidade, reflexão, diálogo e principalmente honestidade. Muitos acabam voltando sem seguir estas regras e em pouco tempo, estão novamente de volta a esta sala. Algumas pessoas voltam sozinhas pois se tornaram inimigas de seus parceiros. Não quero dizer que será o seu caso. Tudo é possível. Isso cabe aos dois verificar as possibilidades e serem francos e honestos um com o outro. Se, após tudo colocado em pratos limpos, vocês chegarem a uma conclusão, independentemente de qual seja. Façam planos de boa convivência. Não se esqueçam de incluir sua filha em todas as decisões.
Ficamos nessa sessão durante umas duas horas. Agradeci sua ajuda, me despedi e fui para casa. No caminho recebi uma ligação de Patrícia. Ela falava em prantos que precisava me encontrar. Perguntei se ela estava na casa de seus pais, no que ela me confirmou. Combinei que em 30 minutos estaria lá e desliguei já imaginando qual seria o assunto. Chegando lá fui recebido pelo seu Joaquim, que tristemente me convidou a entrar. Chegando na sala vi uma Patrícia de desmanchando em lágrimas. Quando me viu, correu em minha direção e me abraçou de uma forma que não tive como evitar. Ela falava entre soluços que tinha sido estúpida e egoísta e completou após alguns minutos de um choro intenso:
-- Como fui idiota em não perceber quem era de verdade a Monique.
-- E o que te fez perceber isso só agora. Perguntei?
-- Fiz o que você me pediu. Desbloqueei o contato do Marcelo. Pouco depois recebi um texto longo dele, me explicando tudo. Como não percebi tudo. Como não liguei os pontos quando soube de promoção da Monique? Ela falava ainda chorosa.
-- Ela te influenciou sim, manipulou você e o Marcelo. Mas a resposta à sua pergunta é simples. No fundo você queria isso. Algo que estava bem profundo no seu íntimo que veio à tona com os “conselhos” de Monique. Algo que veio de uma forma intensa e que te cegou a ponto de prejudicar sua razão. Deixando em risco casamento, filha, marido, etc. Ponderei:
-- Não adianta procurar respostas sozinha de como surgiu esse desejo. Você marcou a consulta com a profissional que te indiquei? Perguntei.
Ela respondeu com um simples aceno positivo de cabeça e completou:
-- Está agendado para a próxima segunda feira.
-- Que ótimo. Tenho certeza que ela te ajudará a encontrar respostas para as suas dúvidas.
-- E nós como ficamos? Ela me questionou preocupada.
-- Primeiro você precisa se encontrar, ter suas respostas equacionadas e entender os motivos que te impulsionaram a fazer o que fez. Depois decidimos nossa vida. Respondi com a delicadeza que o momento pedia.
-- O Marcelo falou mais alguma coisa? Perguntei curioso.
-- Sim, disse que estava muito arrependido me pediu desculpas. Dizendo que o fascínio que nutria por mim, o fez concordar com a proposta. Se deixou infantilmente se manipular e se enganar, pois queria muito estar comigo pelo menos uma vez. Lamentou a noite desastrosa e que deveria ter parado tudo quando percebeu que eu não estava à vontade. Disse ainda que foi levado pelo desejo que estava no momento. Disse também que, com a influência que tinha junto ao dono da empresa, pediu a demissão de Monique sem dizer os motivos reais para preservar a mim e, claro a ele também. Disse que indo em definitivo para o Japão. Encerrou as mensagens dizendo para eu ser feliz e sempre olhar para o lado, pois a felicidade estava ao meu alcance. Após isso me desligou e me bloqueou.
-- Após isso, mandei também uma curta mensagem para Monique, dizendo para ela nunca mais me procurar e ninguém de minha família, nem esperei resposta, bloqueei ela no zap e em todas as mídias sociais que tenho.
Achei melhor não comentar sobre as gravações que tinha dela tentando me seduzir e confessando seu “crime”. O problema “Amiga” estava encerrado. Talvez no futuro eu mostrasse apenas de forma ilustrativa.
Mais um encerramento conquistado. Monique e Marcelo tinha ficado para trás, mas sempre fariam parte do momento mais negro de nossas vidas. Era simplesmente impossível apaga-los de nossa memória. Eles seriam partes de algum dos cacos do cristal que se quebrou. Reforcei a necessidade da terapia e que estaria sempre presente para o que ela precisasse. Enfatizei que ela mantivesse contato constante com a filha. Ela precisava desse contato. Ela me falou que as duas tinham conversado mais cedo e depois de muito choro de ambas, elas se entenderam e prometeram que nada ia mudar entre elas. Fiquei mais tranquilo. Meus sogros prometeram cuidar dela e eu agradeci. Me despedi e fui para casa com alguns quilos a menos nas costas.
Não podia me esquecer que no dia seguinte tinha uma nova pessoa vindo para me ajudar em casa. Era o caso da Dona Filomena, irmã da Dona Efigênia do refeitório de empresa. Outro compromisso importante seria com o advogado de divórcio. Cheguei em casa, e encontrei uma filha bem mais sorridente e pasmem, arrumando a cozinha. Já tinha colocado a roupa para lavar e pedido uma comida japonesa por delivery para nossa janta. Pense rindo: “Tinha que ser japonesa?”. Sentamos, comemos, rimos e parecia que as coisas começavam a entra nos eixos. Falei da Dona Filomena e que ela começava amanhã. Ela disse aliviada.
-- Ufa!! Já estava preocupada de como daria conta de tudo sozinha.
Após algumas horas de pai e filha fui dormir. Tive um sonho e não um pesadelo dessa vez. Acho que devido as boas notícias do dia, meu subconsciente resolveu me dar uma folga.
Nesse sonho minha esposa era só minha dessa vez. Nos beijávamos de formas pouco convencionais, nos tocávamos de maneiras inéditas, fazíamos coisas que só víamos em filmes eróticos, nos fundimos em posições verdadeiramente acrobáticas. Nossos sexos pareciam um só de tão encaixados que estavam. Nossos orgasmos se acumulavam um em cima do outro. Nossos corpos se desmanchavam em suor e lágrimas de êxtase. No fim uma explosão envolvida em um clarão que nos cegava ao mesmo tempo que nós separava e nos arremessava para destinos distantes e diferentes. Seria isso um sonho ou uma premonição. Só o tempo diria.
Continua....