Após dormir no jardim em uma rede, naquele sábado Rodrigo acordou e pela primeira vez apreciou a quietude e silêncio matinal da sua casa grande. Estava no jardim sentado com os pés na grama pensando no que aconteceu. No quanto foi irresponsável e idiota com Davi.
"Eu não sou a porra de um adolescente inconsequente." ele pensava. Davi tinha toda razão. Davi merece alguém livre que possa fazer ele feliz e esse alguém não era eu. "Não é como se eu fosse terminar meu casamento para ficar com ele, certo? CERTO?" Ele se questionava mentalmente mas não respondia a si mesmo. As coisas estavam tão calmas em casa nos últimos tempos. Ele nem lembra quando brigou com Paula mas também nem lembra quando fez sexo com ela nos últimos... Meu Deus. Quase 9 meses. Uma coisa Rodrigo se lembrava. De todas as gozadas no box pensando em Davi.
Como ele iria encarar Davi depois daquilo. Logo ele que se sentia o cara maduro, mais velho, acima dos 30... Foi justamente quem queria viver um romance escondido como um moleque e, o pior, arrastando pra isso um cara solteiro, livre e desempedido com um futuro foda pela frente. Isso o deixava com vergonha. "Você é uma piada, Rodrigo. Uma piada!"
Preferiu não trocar mensagens com Davi aquele fim de semana. Talvez Davi se sentisse igual. Se sentisse mal. Ou não. Talvez Davi estivesse de consciência tranquila. Ele era solteiro, ora.
Segunda feira Rodrigo foi a clínica trabalhar e notou como estava desatento a alguns procedimentos. 11h, horário do seu almoço o nervosismo o abateu. Davi enviou mensagem perguntando se iriam almoçar juntos. Rodrigo não sabia o que dizer. Sentia vergonha de encarar Davi. Sentia vergonha do que tinha feito.
"Sinto muito. Estou ocupado hoje."
Ele enviou sem coragem de admitir a verdade.
"Ok."
Terça foi um plantão dos infernos. Ele passou quase 11h direto no hospital. Caso atrás de caso.
Quarta pela primeira vez em anos de trabalho Rodrigo usou a entrada privativa dos médicos no estacionamento evitando cumprimentar qualquer pessoa. Davi não havia mandado mensagem. Nem sobre almoço tampouco sobre futevôlei.
Quinta ocorreram dois acidentes de moto e Rodrigo operou dois dos condutores em duas ocorrências em horários diferentes.
Sexta Rodrigo estava um caco. Ele aproveitou o conforto da clínica para descansar e só autorizava um paciente entrar após um certo tempo que o anterior havia saído. Todos na clínica comentavam sobre como seu atendimento naquele dia estava demorado, algo que não era comum. Rose veio algumas vezes no seu consultório perguntar se estava precisando de algo. Ele pediu um chá.
Sexta enquanto saia da clínica Rodrigo não se aguentou. Enviou mensagem a Davi.
"Esse silêncio tá acabando comigo. Preciso te ver. Por favor." - foi o mais sincero que conseguiu ser. Sentia seu rosto ruborizar.
"Não fala isso man... 😢 Tamo de boa. De verdade."
"Não. Não estamos. Eu sei que não estamos."
"Desculpa. A obra tá uma loucura. Todo dia uma surpresa. Nem fui a loja desde terça. Não pude jogar também."
"Vamo sair hoje. Por favor. A gente pode jogar ou jantar. Ou os dois! A gente precisa conversar, Davi."
"Rodrigo, não tá rolando nada. A gente tá de boa. Já disse. Somos amigos. Só tô ocupado esses dias. Não dá pra sair hoje. Foi mal."
Rodrigo pela segunda vez naquela semana se permitiu chorar. Talvez o choro mais sincero que já teve há um tempo. As lágrimas borravam toda a sua visão da tela do celular trancafiado em seu carro. Rodrigo se sentia um rato. Alguém insignificante. Que não tinha bolas o suficiente para enfrentar um BO como um divórcio e esperava ter um caso com um cara solteiro.
Rodrigo se deixou soluçar, até porque não tinha outra opção. Dentro daquele carro grande ele podia chorar a vontade e nunca seria ouvido.
"Davi, quando tiver um tempo, pode ser a qualquer momento. Me chama cara. Eu preciso falar com você. Pessoalmente. Vou esperar você me chamar."
"Vou chamar, irmão. Mas fica tranquilo. Tamo de boa!"
Irmão? Que porra de irmão! "Não quero ser seu brother, seu idiota." Ele pensava. Rodrigo jogou o celular no banco ao lado e soluçou entre as mãos. Meu Deus, como ele podia se sentir assim? Os últimos 6 meses foram os melhores da sua vida nesse "pseudo" caso com Davi. Não queria perder isso. Não podia perder isso!
Rodrigo chegou em casa com a cara amarrada e seguiu direto para o banheiro.
- Que bicho te mordeu? - Paula perguntou da sala assistindo TV e abrindo uma caixa de alguma compra online que havia recebido. Ela colocou o produto de volta na caixa.
- Nada...
Rodrigo tomou um comprimido para dor de cabeça, tomou seu longo banho e se deitou para dormir mais cedo.
Nada de Davi mandar mensagem no dia seguinte. Rodrigo se corroía de uma forma horrível. Domingo, saiu para passear com Matheus no parque da cidade. Segurando o pequeno no colo, usando uma camiseta, bermuda da loja de Davi e um óculos escuros, Rodrigo sentiu o celular vibrar no bolso.
"Você tá ocupado hoje?" Era Davi.
Ele tremeu e se arrepiou com a criança no colo. Por muito pouco seu peito não explodiu alí mesmo.
"Não!" Mentira. Ele estava com o filho num parque mas, poxa vida, ele não podia perder aquela chance.
"Pode me encontrar no café de sempre?"
"Estou aqui pertinho. Chego em alguns minutos." Mais uma mentira. O shopping ficava muito distante.
"Ok."
Rodrigo voltou correndo para o carro com Matheus no colo. Colocou o cinto de segurança no garoto e rumou para casa.
Explicou para Paula que tinha um compromisso e que precisou voltar do parque mais cedo. Entregou o garoto a ela e subiu para o quarto para passar perfume. Um hábito que Rodrigo havia voltado a ter por conta de Davi. Ao chegar de volta no carro às pressas notou que Paula estava dentro do seu carro.
- O que você tá fazendo aí?
- Nada... Tava procurando um papel aqui no porta luvas.
- Um papel seu? No meu carro? - Rodrigo perguntou sem entender já que Paula tinha o seu Nissan Kicks alí do lado.
- Pois é. Era só pra ter certeza que procurei em todos os lugares... Não achei. Tudo bem. Pode ir.
Ela saiu do carro e Rodrigo praticamente pulou no banco fechando a porta e arrancando pela garagem. O portão automático quase não deu tempo de abrir por completo para o carro sair. Rodrigo rumou com pressa até o shopping. Já haviam se passado 25 minutos desde a mensagem.
"Davi eu tô a caminho. Tô preso no trânsito um quarteirão ao lado do shopping. Não vai embora." - Rodrigo falava gravando um áudio ao volante.
"Tô na loja. Eu tô aqui até 22h."
Ufa. Menos mal. Mais 20 minutos e Rodrigo chegou ao shopping. Ele subiu as escadas dos andares correndo porque não tinha paciência para elevadores. Ao chegar na praça de alimentação Davi estava na habitual mesa mexendo no celular.
Ao ver Rodrigo ele levantou para cumprimentá-lo mas Rodrigo simplesmente o agarrou num abraço forte e demorado. Rodrigo arfava fundo como se naquele momento em diante não fosse nunca mais largar Davi dos seus braços. Nunca mais!
- Calma lá fortão. Tá me esmagando. - Davi pediu.
- Desculpa... - ele disse se afastando.
- Senta.
- Como você tá? - Rodrigo perguntou se sentando observando Davi. Ele estava lindo como sempre.
- Tô bem. Só problemas na obra como falei... Tá me deixando estressado.
Eles fizeram os pedidos de chocolate quente e alguma sobremesa. Fizeram um pouco de silêncio e Rodrigo não sabia como iniciar aquela conversa.
- Você disse que queria conversar. - Davi disse com uma expressão desconfortável.
Sim. Rodrigo queria conversar. Depois da última semana havia muita coisa que Rodrigo queria dizer. "Eu não sou um rato!" era uma delas. Estava na hora de provar isso.
- Sinto sua falta. - Rodrigo praticamente cuspiu as palavras de tão rápido que falou. Ficou até na dúvida se Davi havia entendido. - Eu sinto sua falta! - repetiu para confirmar.
Davi fez o mesmo semblante triste do banheiro de uma semana atrás.
- Foi mal cara... A semana foi... Puxada.
- Davi... Eu sei que sou um merda covarde.
- Não...
- Eu sei que... Eu sou casado e que não devíamos fazer aquilo. - Rodrigo falava nervoso olhando para dentro do chocolate. - Mas cara os últimos meses com você foram de longe os melhores que já vivi em muito tempo. Eu tô aqui de peito aberto... Me declarando de verdade pra você.
Davi escutava perplexo.
- Você me devolveu alegria pra viver. Você tá no meu dia. Na minha semana. Foi um martírio passar esses últimos dias sem nossa programação. - Porque sim, Rodrigo já considerava a rotina como uma programação deles. Juntos.
- Cara, eu sinto falta de jogar também... Senti sua falta todos os dias. Você também tá no meu dia a dia. É que foi aquele lance que falei... Fiquei com medo de pintar um clima estranho entre a gente depois daqueles beijos... Eu não sabia como lidar com aquilo. Isso nunca me aconteceu. Um cara casado...
- Olha pra mim. Olha como você me fez bem. - Rodrigo falava de um jeito desesperado e Davi tinha medo dele chorar e causar uma cena alí - Minha auto estima, a forma como me vejo, meu trabalho... Tudo melhorou com você. Por favor cara... Eu talvez seja... Não, com certeza eu sou a pior pessoa do mundo por te pedir isso mas... - Rodrigo respirou fundo e olhou nos olhos de Davi - Me dá um tempo. Por favor.
- Um tempo?
- Se você me der um tempo eu juro que resolvo tudo. Juro que... Vou me divorciar! - Rodrigo disse se rendendo ao seu maior medo.
- Rodrigo...
- Escuta! É só o tempo de eu conseguir informação. Verificar com o advogado.
- Meu Deus! Não! Tá doido? Rodrigo, é sua família. - Davi disse sério. - Nao quero ser responsável por dissolver um lar assim.
- Mas já acabou faz tempo! Muito antes de você. Muito antes... da gente! Não tem lar nenhum. Eu resolvo tudo daqui um tempo! Por favor.
- Rodrigo... Cara não é tão simples.
- Mas você tem alguém?
- Não! Não é isso. Já disse. Você se divorcia e aí? A gente vai poder se beijar no banheiro do clube sem culpa todo dia? Você não entendeu o meu ponto. Não é o que eu quero pra mim Rodrigo. Eu curto você mas eu quero um algo que talvez você não vai poder me dar. Eu sou bissexual e eu quero uma pessoa pra dividir tudo da vida junto comigo. Você entende como é outro nível? Não tô falando de... brotheragem com um cara.
Rodrigo engoliu um seco. Terminar um casamento era um nível que ele já estava disposto a ir. Mas agora um relacionamento de fato e com outro homem? Rodrigo tentava processar tudo.
- Mas você gosta de mim? - Rodrigo quis saber.
Davi ficou em silêncio. Rodrigo abaixou a cabeça respirando fundo.
- Mais que tudo ultimamente. - Davi admitiu.
Rodrigo abriu os olhos arregalados.
- Se você me der esse tempo eu prometo que resolvo tudo.
- Nao tenho tempo pra te dar Rodrigo. Isso é um BO seu. Não quero ser metido nisso. Assume as rédeas da sua vida e se resolve você. Eu não tenho ninguém em vista mas não tô sozinho porque tô te esperando. Você veio aqui pra me fazer tomar uma decisão por você mas quem tem que tomar é você mesmo. Se você vai ou não se divorciar não faça isso por mim. Tem que ser por você.
Que facada. Davi sabia ser muito racional quando precisava.
- Ainda é difícil pra mim... - Rodrigo disse. - Mas eu vou cuidar de tudo.
- Não faça nada por mim. Faça por você. Lembra disso.
- Sim.
- Promete?
- Prometo. - Rodrigo respondeu mais aliviado.
- A gente joga amanhã? - Davi quis saber?
- Com certeza! - Rodrigo se iluminou.
- Fechado.
Rodrigo voltou pra casa aquela noite um pouco triste mas também aliviado. A boa notícia é que não ia deixar de ver Davi. A má notícia é que ele teria que enfrentar algo que ele tinha muito medo. Um divórcio. Precisava refletir.
Segunda pela manhã, ainda na clínica separou um horário e marcou uma reunião com seu Advogado. Falou sobre o divórcio e pediu que ele levantasse tudo que seria dividido. Tirou todas as dúvidas e o advogado começou a trabalhar.
Durante o almoço com Davi, Rodrigo combinou de pegá-lo em casa durante alguna dias na semana para ir ao jogo. Acontece que o carro de Davi deu problema. Rodrigo não se importava buscar e deixar Davi em casa. A parte chata é que ele nunca o deixava entrar. Não haviam carícias, Davi evitava qualquer contato físico exagerado. Beijos, nem pensar.
As semanas foram se passando com Rodrigo sendo paciente enquanto discutia com o advogado sobre o divórcio. Buscava Davi algumas vezes na semana e adorava fazer isso. Era mais tempo juntos. Aquelas foram semanas bem calmas no plantão do hospital público também. Poucos acidentes e ocorrências. Paula não gerava nenhuma briga em casa. Estranhamente quieta.
Numa sexta a noite após Rodrigo chegar em casa ele correu para o quarto. Havia deixado Davi em casa minutos antes, eram quase meia noite. Viu Paula na cama de lado, virada para a parede mexendo no celular. Matheus já dormia há um tempo provavelmente.
Rodrigo entrou no banheiro e seu ritual era sempre o mesmo. Precisava descarregar toda sua carga de esperma para não enlouquecer. Apoiado na parede do box uma mão o masturbava e a outra segurava suas bolas pesadas. Rodrigo batia uma punheta leve e ritmada. A água abafava seus gemidos. Estava há uma hora atrás junto de Davi de sunga na quadra de futevôlei. Era uma imagem dos sonhos. Como ele podia ser tão gostoso?
A vontade de Rodrigo aquela noite era pegar Davi pela cintura, jogá-lo em seus ombro e levá-lo para o banheiro. Foder alí mesmo. Nos chuveiros. Sexo primitivo e desesperado. Ele precisava sentir Davi. Sentia falta do contato físico de antes. Do gosto da boca de Davi. Do cheiro do seu suor misturado a desodorante após o jogo. De vê-lo seminu no banheiro do clube.
A carga de esperma pesado foi descarregada alí como sempre. Descendo pelo ralo enquanto Rodrigo recuperava o fôlego e continuava a alisar as bolas.
- Voce ainda vai ser meu... Todo meu. Tá tão perto... - ele sorria confiante.
Terminou seu banho, procurou por seu roupão mas não estava no banheiro. Paula deve ter colocado para lavar... Voltou para o quarto pingando um pouco de água mas só precisava se vestir e ficaria pronto para dormir. Na penumbra ele abriu o closet e de forma automática levou a mão onde seu pijama ficava. Não havia nada alí. Ele tateou mas não encontrou nada. Na verdade não havia nada alí.
Não queria incomodar Paula mas não resistiu. Apertou o interruptor e ligou a luz. Paula já estava se levantando da cama. O closet estava completamente branco e vazio.
- Que porra... - ele olhava perplexo pro armário vazio.
- Então é isso? Você quer se separar e abandonar sua família? Então nessa casa você não fica mais. - disse Paula sentada na cama de olhos fechados. - A porra da sua mala tá no quintal. Vai embora e vá agora.
- Paula que loucura é essa agora? - Rodrigo perguntou abismado ainda nu.
- Se poupe e me poupe dessa discussão, Rodrigo. - ela levou as mãos as têmporas.
- Do que você tá falando?
- O Farias já deixou os documentos que você pediu no seu email. - ela disse se levantando e acendendo as demais luzes.
A expressão de Rodrigo o denunciou. Abriu o armário de toalhas e se enrolou em uma.
- Você não tinha esse direito. - Rodrigo disse.
- Tinha sim. Sou sua esposa. Aliás. Era.
- Paula a gente não precisa discutir isso agora.
- Rodrigo. Eu mandei você ir embora! - ela alterou a voz.
- Olha o Matheus! - ele disse pedindo silêncio.
- Como se você se importasse!
- Você não pode fazer isso!
- Não me diz o que fazer! - Paula gritou.
Rodrigo fez silêncio.
- Olha, eu pedi sim pro Farias me fazer um levantamento de tudo que temos e verificar os trâmites de um divórcio. Ok? Nós não somos mais um casal há tempos, Paula. Olha aí nosso redor. Nossa vida, nossa casa... Tudo ao nosso redor. A gente não pertence mais a isso. Eu realmente sinto muito. Eu tentei muito há meses atrás mas eu... Eu desisti. Não queria magoar você assim e nem te deixar sabendo disso dessa forma. Mas sim, eu pedi sim a ele tudo isso.
Paula ouvia no centro do quarto num semblante indecifrável. Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Rodrigo sentado na cama analisando como essa bomba havia explodido.
- Eu não ligo. Só me deixa só. Vai... - ela abriu a porta do quarto.
- Paula são mais de meia noite. Eu vou dormir na sala. Tudo bem? Amanhã a gente conversa.
- Some da minha casa! Não tem um amanhã Rodrigo.
- Sua casa?
- Vai embora Rodrigo! - Paula berrou!
Rodrigo abriu o closet e catou alguns itens que sobraram em gavetas. Ele saiu do quarto de toalha e realmente havia uma mala grande no jardim. Ele abriu ao lado da piscina e havia uma série de itens jogados, roupas amassadas. Algumas manchados por itens que derramaram. Mais que droga... Foda-se! Se ia ser assim então que fosse.
Ele catou uma camiseta, cueca e shorts. Levou a mala para o carro. Ela vinha descendo as escadas.
- A partir de agora você me pede permissão pra ver o Matheus.
Matheus! Rodrigo subiu as escadas correndo até o quarto do filho e percebeu que ele não estava lá. Paula já tinha programado tudo. Desceu as escadas de volta ao carro.
Rodrigo se debruçou sobre a tampa do porta malas da Range Rover bufando. Voltou mais uma vez para dentro de casa e catou alguns eletrônicos e principalmente seu computador.
- Paula a gente vai discutir isso depois... Por favor. - Agora era Rodrigo quem se esforçava para não gritar enquanto voltava para o quarto.
- Não. Isso é um comunicado! Me peça permissão para ver ele. Você vai se arrepender amargamente por isso Rodrigo! Você tá acabando com nossa família.
- Eu o que? Paula nós não somos mais um casal!
- E é por isso que eu sei que você me trai! - ela finalmente chorou.
Rodrigo se calou.
- Você nem nega... - ela riu irônica.
- Paula, eu não sei o que você acha que sabe. Mas agora não é o momento. Não com você assim. - Rodrigo falava num tom mais baixo.
- Fazem meses... Sei que você frequenta a casa de um homem. Vai com bastante frequência. Vi seus gastos no cartão... Sua mudança. Eu não queria acreditar. Nunca pensei que você fosse capaz... - ela dizia em prantos.
Rodrigo se sentia a pior pessoa do mundo ao ver Paula daquele jeito.
- Mas eu não vou deixar barato, Rodrigo. Aqui você não mora mais. - ela disse se acalmando.
Rodrigo calado apenas entrou no carro e saiu pela garagem em silêncio. Dentre os itens que ele catou estava uma chave que ele sempre soube que seria usada nesse momento.
Rodrigo dirigiu até um bairro distante, praticamente do outro lado da cidade próximo da sua antiga universade. Era uma região bem universitária. Onde haviam muitos prédios com pequenos apartamentos para aluguel. Foi alí que ele morou por anos enquanto cursava medicina. Um dos prédios era do seu avô, que mais tarde ficou para seu pai e tios.
Rodrigo pediu entrada na portaria, estacionou e subiu até o terceiro andar. 302. Ao entrar no apartamento um cheiro de mofo e poeira subiu. Estava fechado há muito tempo. A porta da entrada empenada de leve. Ele pôs a mala em cima do balcão e a abriu conferindo o que estava alí.
Não era para as coisas saírem daquela forma. Ele esqueceu totalmente o quão controladora Paula era. Ela provavelmente acessou seu computador. Não era a primeira vez que ela fez isso. O que Rodrigo deveria fazer? A situação poderia ser pior, não é mesmo? Rodrigo poderia estar na rua. Poderia ter havido um escândalo. Seu filho poderia ter acordado. Porra, como ele vai explicar isso pro filho?
Olhou ao redor e naquele cubículo branco não havia nenhum móvel. Por um momento ocorreu um pensamento bem obscuro. Rodrigo se formou, trabalhou, ganhou muito dinheiro, casou, teve seu filho... Agora ele estava de volta ao apê minúsculo e pobre que morou na época da faculdade, no meio de um divórcio que provavelmente lhe custaria muito dinheiro. Será se aquele era o caminho certo mesmo?
Eram tantas dúvidas. Rodrigo tirou da mala algumas roupas e a toalha que usava mais cedo quando tudo aconteceu. Colocou no chão formando um leito e adormeceu mais rápido do que imaginava se questionando se estava vivendo um desvaneio causado por uma paixão ou sua vida estava mesmo evoluindo pra algo melhor.
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Feliz ano novo a todos! ✨
Abraço.
Igor.