Todos estavam ainda dentro do salão de festas, a diversão ali rolava solta com bastante crianças brincando e se divertindo na gangorra, na piscina de bolinhas e vários outros brinquedos que existiam no salão, enquanto os adultos estavam aproveitando o momento para beber e descontrair. Pedro estava sentado junto com o Ricardo e não conseguia esconder a curiosidade em como os dois se encontraram e como esse relacionamento surgiu. Clara pegou na mão de Ricardo e ficou acariciando seus dedos ali enquanto Ricardo comenta com Júlia e Pedro sobre como conheceu Clara.
— Foi uma vez em que saí de casa porque estava tendo bastante pressão com o meu antigo relacionamento. Eu resolvi ir ao parque Batel, eu estava talvez esperando encontrar você Pedro, mas aí eu vi uma garotinha correndo atrás de um balão e ela tava indo para a rua, então eu salvei ela e peguei o balão. A Clara veio logo em seguida e me contou o nome da filha, ela estava com tanta pressa que acabou não dizendo o nome dela e eu só fui saber esses dias. Aquele dia mesmo que eu pedi para dormir na sua casa, ela me encontrou e acabei ficando na casa dela.
— Hummmmmm, safadinho! — Disse Júlia, ali, brincando com Ricardo que acabou ficando um pouco constrangido.
— Calma, não aconteceu nada demais não, só rolou um beijo! — Disse Ricardo, enquanto Clara estava rindo da cara em que Ricardo fazia todo tímido com a brincadeira dos amigos. Curiosa com o fato de saber que Júlia conhecia a ex de Ricardo, Clara acabou perguntando algo a ela:
— Júlia, e essa Aline hein? É mais bonita que eu?
— Você é mais gostosa amiga, essa Aline não vale nada, e me desculpe Ricardo, mas é verdade!
— Hahaha, porra mas é verdade mesmo amor. Você é mais gostosa mesmo. — Disse Ricardo, enquanto Clara aproveitou e mordeu a bochecha dele, e os quatro ali continuaram a conversar.
Os quatro estavam ali descontraídos enquanto Isabela brincava com seu irmãozinho e os outros amiguinhos. Porém dentro do salão uma pessoa já estava infiltrada observando a situação. Aline acabou observando Ricardo junto com outras três pessoas, sendo uma delas justamente a tal mulher que entrou no hotel Royal Caribe, deduzindo que ela com certeza era a nova namorada de Ricardo, porém o que mais chamou atenção foi o fato de estar praticamente colada com Júlia. Clara emputeceu.
— Desgraçada! Essa Júlia sempre no meu caminho, aposto que foi ela que colocou essa sem sal no caminho do Ricardo. Mas o que é dela tá guardado também. — Disse ali Aline, que não faria nada com Júlia, hoje ela sabia muito bem qual seria seu foco. A ideia inicial de Aline era dar um jeito de apagar Ricardo, se ela conseguisse apagar Ricardo de alguma maneira era fácil carregar ele da festa, amarrar e assim levar ele de uma vez para onde ela pretende fugir. Depois disso, era só extorquir o Tércio, simular um sequestro onde deveria se pagar um resgate do Ricardo, mas ela jamais iria devolvê-lo. Aline sabe que Tércio não iria envolver a polícia, pois isso se tornaria um escândalo. Porém sempre existe a possibilidade dele se envolver, por isso Aline já contava com uma ajuda.
Infiltrada na festa, Aline observou todos os passos dos convidados, tomando todo o cuidado possível para não ser identificada. Como ela deixou a pele um pouco mais pálida e tingiu o cabelo de loiro, seria mais difícil reconhecê-la, então aproveitou para circular por ali e algumas vezes fui levando a bandeja com salgados e doces para os convidados, aproveitando para ouvir o que Ricardo e o trio diziam. Aline conseguiu com isso obter algumas informações, soube que o nome da namorada de Ricardo era Clara e que ela tinha uma filha.
Imaginou que a filha era justamente aquela menina que era o centro das atenções naquela festa, e como o tema da festa era infantil já imaginou que a festa era exatamente dela. A menina então já serviu como plano B, pois se desse alguma coisa errado com o Ricardo era só pegar a menina. Os Montovani fariam qualquer coisa para recuperar essa menina, ainda mais por ela ser filha da nova namoradinha de Ricardo. Poderia conseguir um bom dinheiro com ela e depois estabilizada, voltaria para pegar Ricardo.
— Ok. Então a pirralha ali é filha da vadia. Vejo que até o Tércio da atenção a ela, pode ser interessante pegar ela, sim. Mas por enquanto, eu quero você, Ricardo. Tenho bem isso aqui pra você. — Aline então pegou em seu bolso, um pequeno frasco, contendo o famoso DCF, um composto químico que fazia qualquer pessoa perder qualquer resistência, e com isso, seria fácil sequestrá-lo. Como estava difícil de reconhecer, ela então esperava o momento certo, um momento em que Ricardo estivesse isolado na festa para aplicar o golpe. Porém era uma coisa difícil, visto que em momento algum ele não se separou, nem de Clara e nem dos outros dois. Aquilo estava deixando Aline sem paciência. Porém num golpe de sorte, Ricardo acabou se levantando da mesa, disse que havia esquecido algo em sua moto. Era o presente de Isabela, e que iria lá pegar. Aquilo foi a oportunidade perfeita para Aline, que foi até ele, oferecer uma bebida, já batizada pela droga.
Ricardo foi chamado a atenção pela moça que estava oferecendo refrigerante na festa, oferecendo um copo para ele. Como era educado, pegou o copo e agradeceu, porém, sentiu algo diferente ali. E foi aí o erro de Aline. Como era vaidosa, ela sempre gostava de andar arrumada, perfumada, independente da ocasião, e aquele perfume doce de canela e jasmim não era incomum, na verdade Ricardo conhecia bem. Aline então teve seu braço puxado por Ricardo, que a encarou em seguida.
— Você! O que pensa que está fazendo aqui? Eu fui claro para não se aproximar de mim!
— Moço... Do que você está falando? — Disse a garçonete da festa, mas era repreendida por Ricardo.
— Você pode ter pintado o cabelo de loiro e deixado a pele mais clara, mas eu dormi com você por 5 anos Aline. Eu conheço seu cheiro.
— Então ainda pensa em mim, não é gostoso? Estamos só nós dois aqui sozinhos, vem comigo pra aproveitar e matar a saudade vem?
— Você é louca. Eu não vou com você a lugar algum, eu acho bom você ir embora por que a polícia vai adorar saber que você está aqui. Acho que você já sabe que o meu pai já te denunciou.
— Eu gosto do perigo, sabia? — Disse Aline, encarando Ricardo ali próximo a entrada do salão, se aproximando para dar um selinho nele, mas logo era afastada por ele, sem que o mesmo deixasse algo acontecer.
— Saia daqui. Eu avisei. — De longe, Isabela foi se aproximando de Ricardo sem que ele percebesse, mas Aline percebeu. Isabela estava atrás de Ricardo, quando Aline se aproveitou, e disse:
— Você me obrigou a isso, meu amor.
Aline então dá um empurrão em Ricardo e assim pega a menina no colo e sai correndo da festa. O segurança que deveria estar na porta, não estava. A amiga de Aline já havia dado um jeito nele, estavam os dois transando no banheiro. Aline rapidamente pega a menina e coloca no carro, prendendo ela no cinto e assim entra, antes que Ricardo venha atrás. Ricardo felizmente foi atrás dela e conseguiu acompanhar o carro iniciar um movimento, Tércio veio logo atrás. Perguntou ao seu filho:
— O que aconteceu caralho? Quem te empurrou, filho?
— Foi a Aline, ela levou a Belinha! Chame a polícia, eu vou atrás dela! — Disse Ricardo, que montou em sua moto e assim seguiu busca a Aline, que acelerou seu carro enquanto estava com Isabela no carro.
— Bruxa má, telo voltar pro baby shark! — Disse Isabela, fazendo biquinho no carro.
— Cala a boca, menina. Você só vai voltar, se os Montovani molharem a minha mão, com muita grana! Agora fica quietinha, vou te levar pra um lugar especial.
Aline olhou no retrovisor e viu que Ricardo já estava na sua cola. Ricardo tinha uma moto muito potente de alta cilindrada então era fácil alcançá-la. Mas ela estava na vantagem, afinal de contas tinha uma criança no carro e Ricardo não iria se arriscar. Na verdade, para ela era perfeito ele estar ali, no momento certo era só jogar o carro em cima dele e deixar ele ferido. Depois disso seria fácil levar ele embora. Ricardo estava desesperado no controle da moto, tentando chegar o mais próximo possível π Aline para tentar convencer ela a parar. Estava disposto até a dar dinheiro se fosse preciso para que ela parasse. Por sorte de Ricardo, um homem estava à paisana também de moto, alguém que seria muito importante no resgate de Belinha.
Seu nome era Diego, ele estava na PR-418, acessando o trevo para entrar dentro da cidade, e assim acessar a 116, voltando assim para São Paulo. Diego era policial federal, e mesmo à paisana, ainda estava com seu rádio e sua arma. Ele avistou uma moto Z-1000 e um utilitário na rodovia dos minérios, acessando o trevo para pegar a 418 no outro sentido. Como era uma via de sentido único, conseguiu mudar a rota, e aproveitou para olhar as duas placas, conseguindo pegar as informações para passar às autoridades. Achou estranha aquela perseguição, e assim mudou o foco da viagem, avisando os amigos da PRF.
— COP, estou avisando uma moto Z-1000, placa RKW5E01, perseguindo um utilitário, modelo Hyundai Creta, cor cinza, placa UFO6A05. Vou seguir a perseguição, identificação A, registro 001.
— Entendido. Mobilizando viaturas em Almirante Tamandaré, vamos bloquear a via.
— Ok, vou seguir a perseguição. Me passe as informações.
O policial logo obteve a informação devido à denúncia de Tércio de que o modelo Hyundai estava com uma menina sequestrada, e a moto pertencia a Ricardo Montovani. O policial já estava alcançando os dois ali, e assim que alcançou Ricardo, ele disse em um tom mais alto, na tentativa dele ouvir.
— Não se preocupe, seja lá quem estiver naquele carro, iremos parar. — Porém era inútil, Ricardo não ouvia nada por causa da velocidade das motos e do vento. O Policial então resolveu fazer gestos, falando para ele se afastar, pois aquilo era trabalho federal agora e eles iriam recuperar a menina. Aline olha no retrovisor, e então desacelera o carro propositadamente e parte pra cima da outra moto com seu utilitário, na intenção de derrubar o policial, mandando a menina se segurar para que não se ferisse. Ricardo se desesperou com o movimento, e ainda mais com o outra moto quase derrapando na pista, enquanto o policial sacou sua arma e resolveu atirar contra o pneu do utilitário, mas lembrou de ter uma criança como refém, e desistiu. Resolveu pedir apoio e torcer para o outro motoqueiro conseguir levar o carro até o bloqueio, onde ele seria facilmente parado.
— Agente, já bloqueamos a rodovia, iremos parar o veículo. — Disse o rádio a Diego, que agradeceu, enquanto voltava a sua moto para seguir a perseguição aos dois. Naquele momento, Ricardo viu que estava sozinho, o outro que tinha parado para ajudar, acabou caindo primeiro, e então tratou de acelerar sua moto, e assim conseguiu alcançar Aline, ficando praticamente do lado dela. Colocou parte do capacete para cima para poder conversar, e assim ofereceu algo a ela:
— Larga a menina, ela não tem nada a ver com isso.
— Largo, se você vier comigo invés dela. Você, e todo dinheiro que era meu por direito!
— Eu faço qualquer coisa, mas larga a menina, eu vou com você.
— E porque se importa tanto com essa pirralha? — Disse Aline, enquanto Isabela estava ali, sentada no banco de trás e a chamou de bruxa malvada. Aline mandou-a calar a boca. Ricardo foi direto.
— Por que agora ela é minha filha. E como pai eu devo proteger ela. Pode me levar.
— Hahaha, está falando sério? — Disse Aline. — Minha nossa, você estava bem melhor quando estava pagando uma de vingador e estava me esculachando, voltou a ser o Ricardo bundão de novo. Tudo isso é aquela Clara sem sal?
— Ela é tudo que você jamais será. — Disse Ricardo, enquanto Aline o olhava, com os olhos cheios de lágrimas, e quando olhou para a frente, viu a via completamente cercada.
— Com você ela não fica!
Naquela altura ele já estava em Almirante Tamandaré, no quilômetro 292 da PR-148. Aline viu que não daria mais para escapar da iminente prisão, mas tinha algo que poderia fazer. E a primeira coisa que fez, foi jogar seu carro contra a moto de Ricardo, que acabou sendo acertado em cheio, derrapando com a moto junto na pista e caindo, ambos, na lateral da pista, que tinha ali um vão aberto, que os fizeram cair pelo menos alguns metros abaixo, em alta velocidade, em direção a uma ribanceira. Aline pensou em jogar o carro junto para morrer também, assim como a menina, mas o veículo acabou sofrendo uma pane elétrica, e assim começou a desacelerar, seguido de um aquecimento e fumaça que acabou por sair do motor, fazendo o carro parar, enquanto ela foi cercada pelos policiais, que apontavam armas para ela. Isabela, por sorte, estava sem ferimentos, apenas um pouco agitada, na verdade, pensou que aquilo era uma brincadeira, chamando Aline de bruxa má, enquanto mostrou a língua para ela.
Aline foi algemada rapidamente pelos policiais, ela estava muito encrencada pelos crimes que havia cometido só naquela noite. A polícia cercou a rodovia, e rapidamente as emissoras de televisão do Paraná já estavam ali. Alguns minutos depois chegou o Tércio, Olga, Clara, assim como Pedro e Júlia, todos desesperados pelo que aconteceu. Pedro sorriu quando viu sua filha a Isabela totalmente salva, dizendo que foi salva pelo homem de colete e o titio. Pedro e Clara, mas principalmente Clara, estavam completamente agradecidos pela coragem de Ricardo de ter seguido Aline desde o começo, porém não estavam encontrando ele em lugar nenhum, em qualquer lado que ambos procuravam algum sinal dele. O policial Diego chegou um pouco depois, um pouco ferido, com alguns arranhões. Ele observou o queimar do pneu que a moto fez indo em direção a ribanceira da pista. Diego foi até a ribanceira para saber o que aconteceu, porém infelizmente a visão era pior possível. A ribanceira tinha pelo menos 13 metros, e a moto estava bem destruída de um lado, e Ricardo, imóvel e de bruços entre matos do outro lado.
Clara não aguentou e praticamente desabou, Tércio estava abalado com tudo aquilo, assim como Olga e todos os outros. O Samu foi acionado, e fizeram o resgate de Ricardo, que ainda foi identificado vivo, mas o estado era grave. Ele foi colocado rapidamente na ambulância, e assim foi levado ao hospital de referência da cidade. Todos os parentes seguiram, porém já avisaram que no momento ele não teria visitas, pelo estado, iria direto para a UTI. Agora, a luta seria pela vida, para salvar a vida de Ricardo.