(Pepe)
O corpo de minha mamãe estava sendo encaminhado ao IML, enquanto me pediram para voltar pra casa, mas qual casa? Não tinha sequer força ou vontade para voltar lá, tudo iria me fazer lembrar da minha mãe. Disseram que em algumas horas iriam me ligar com a declaração de óbito, para procurar realizar o velório e enterro dela. Estava sem cabeça para isso naquele momento, tudo que queria era acreditar que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Mas era mais real do que eu imaginava. Tinha muitas coisas ainda a pensar, a fazer.
Pego meu celular, e vejo uma notícia que eu não estava esperando: a polícia invadiu algumas horas atrás o escritório de advocacia do doutor Fontes e apreendeu computadores, tablets, documentos e anunciou o mandado de prisão para 10 pessoas incluindo o próprio doutor Fontes. Ali, vi que meu emprego também já tinha ido para o ralo, mas isso era o que menos me incomodava no momento. Resolvi descansar em algum quarto que acabei alugando só por aquela noite, não queria de forma alguma ir pra minha casa. Acabei então recebendo uma ligação do IML. O corpo da minha mãe foi liberado, com isso poderei dar a ela um enterro digno e uma despedida honrosa. Eu só espero que aquele filho da puta do Alberto e de seus capangas, estejam ardendo no inferno depois da granada e dos tiros que dei. E se algum deles sobreviveu, eu prometo pela sua alma mamãe. Eu vou fazer cada um deles pagar com a própria vida. Tivemos um velório e enterro simples, onde aparece apenas a mim, Diego, o senhor Oswaldo, minha mais nova amiga, Rute, e uma vizinha, a dona Belmira.
Rute é uma amiga que fiz no hospital, ela é enfermeira e cuidava de Beatriz. É uma mulher muito linda, mas bem reservada. Todos ali me deram conforto no momento mais doloroso de minha vida, mas por um lado fiquei feliz. Minha mamãe conseguiu um enterro digno, apesar de um fim assustador.
Fui pra casa depois do enterro, e olhar para seu retrato, só me causava dor. Lembrar de seu sorriso, nos poucos momentos em que vivemos juntos, me traziam um sentimento de apenas dor e choro. Mas ao mesmo tempo, eu sentia raiva, raiva dos cachorros desgraçados que fizeram isso com ela. Mas não podia pensar nisso. Resolvi ir para o único lugar que sentia que precisavam de mim. Fui ao encontro de minha Beatriz, queria saber ao menos como ela estava. Cheguei ao hospital onde ela estava internada, e fui direto ao seu quarto. Finalmente uma boa notícia: Ela estava em estado estável, e poderia acordar a qualquer momento.
Fiquei ao seu lado o tempo que pude, enquanto não conseguia notícias sobre a liberação de minha mamãe. Deveria ter ficado lá, mas Beatriz é uma das poucas coisas que me restavam, e queria ao menos ficar do lado dela nesse momento. Quando toquei seus dedos, ela começou a abrir os olhos, me olhou. Ela dizia, ainda com a voz baixa e cansada:
— José Pedro... Onde estou? Por que estou com dor de cabeça...?
— Você está no hospital, se recuperando. Você deu um susto em todos nós, mas graças a Deus você está se recuperando.
— No hospital? Por que?
— Porque você usou heroína junto com outras substâncias e acabou sofrendo uma overdose. Por pouco você deixou todos nós, não faça isso de novo pelo amor de Deus.
— Agora eu me lembro... Ai. Minha cabeça. — Ela então, levou sua mão à cabeça, enquanto continuava a falar. — Eu você qualquer coisa que eu vi no meu quarto, eu só queria esquecer. Porque eu só existo pra fazer merda, machuquei você e Diego, e vocês são irmãos.
— Não se preocupe. Eu fiquei realmente com raiva de você, mas eu te amo. Eu fiquei com você quase todo o tempo que eu consegui, eu só não consegui ficar. — Naquele momento, não consegui mais falar, lembrei de minha mamãe. Me coloquei em choro, Beatriz percebeu e segurou minha mão, preocupada.
— O que aconteceu, meu amor? Por que está chorando?
— Mataram minha mamãe, Beatriz. Ela morreu em meus braços e eu sinto que a culpa é minha. Eu não consigo não pensar nisso, eu deveria estar no meu, mas o único lugar que eu consigo sentir paz agora com você.
— Meu Deus, José Pedro, eu sinto muito. — Beatriz me chamou naquele momento para me abraçar, ela abriu seus braços, com alguma dificuldade por conta do acesso, e eu a abracei.
— José Pedro, obrigado por estar comigo esse tempo que eu acordei. Não sei nada sobre meu papai, mas te ver aqui é uma grande alegria pra mim. E sabe do que mais? — Ela então separou de mim depois do abraço, e levou uma das mãos em meu rosto, o acariciando. — Eu te amo. Eu não sabia quem escolher de vocês dois, mas a realidade é que você está aqui comigo agora, não Diego. Me perdoa, José Pedro.
—É sério? Você me ama? — Olhei no fundo de seus olhos, e ela disse sim para mim. Logo, nos beijamos, mas com cuidado, pois ela ainda estava fraca. Após o beijo, eu tinha que dar uma péssima notícia a ela.
— Preciso te contar uma coisa. A polícia hoje interditou o escritório do seu pai e emitiu um mandado de prisão para 10 pessoas e provavelmente ele era uma delas.
— Por que? O que o meu pai fez, não entendo... Ele é um homem da lei?
— Parece que ele era associado a traficantes, Beatriz. E da pesada, foram os mesmos que tentaram matar ele. Procurei saber sobre, ele vai sobreviver aos tiros, mas ficará com sequelas. E provavelmente não escapará da prisão.
— isso é horrível... Quero ver meu pai, José Pedro, mas não sei como.
— Também não sei como ajudar. Você recebe alta amanhã, irei vir te buscar, ok? Eu quero que me prometa uma coisa, que você vai parar de usar drogas e procurar ajuda. Eu não quero perder você.
— Eu prometo que irei. Por você.
(Diego)
Passou exatos 3 dias digitou do aquele ocorrido, e minha tia Joana já havia sido sepultada como Deus manda. Estava muito preocupado com o Pepe mas também com Beatriz. Já haviam se passado 4 dias em que sequer fui visitar ela, afinal resolvi dar prioridade à minha família, mas claro que não esqueci daquela mulher. A mulher mais linda que já vi. O fato dela ser drogada me incomodava? Sim, mas eu amava ela, isso que importa. Aproveitei para passar na floricultura e comprei o melhor buquê de rosas que eu poderia encontrar. Fiquei sabendo que ela havia acordado, então eu fui direto visitá-la pois estava com saudades.
Cheguei no quarto de Beatriz e ela estava ali ainda deitada na cama com o seu acesso. Quando ela me viu ela esboçou um sorriso e me chamou para entrar. Tínhamos muita coisa para falar naquele dia. Estava na hora de ser gentil com ela, pela situação em que ela vivia ali. Acabei entregando as flores para Beatriz que as pegou com carinho, enquanto pedia desculpas por não ficar tanto tempo com ela.
— Me desculpe por não ficar tanto tempo assim com você, eu tive muitos problemas com relação ao meu trabalho ultimamente. Aconteceram muitas coisas.
— Eu soube. A mãe do Pepe morreu e o meu pai assim que se recuperar vai para a prisão. O Pepe me contou tudo.
— Então ele esteve aqui?
— Sim, ele veio aqui quase todos os dias.
Por alguns segundos um silêncio se formou entre nós dois. Eu não sei porque mas eu já sabia o que aquilo significava, mas o que me deixava mais intrigado era o fato do Pepe ter vindo ver ela mesmo com os problemas da mãe. Eu sei que Pepe estava apaixonado por Beatriz, mas eu também estou. E não posso deixar ela assim, afinal de contas eu também pedi ela em namoro. Por mim eu poderia conviver até um triângulo amoroso. Eu só não queria perder Beatriz e ao mesmo tempo meu amigo. Eu estava pronto para propor isso a ela, mas ela veio com uma notícia que praticamente jogou o chopp na minha água.
— Diego, nosso lance foi muito legal, você é intenso, gostoso, tem boa pegada. Mas querendo ou não foi só isso que você me ofereceu, Pepe me ofereceu amor. Pepe ofereceu sua mão para ficar comigo enquanto eu estava aqui, José Pedro é o homem que eu quero ficar. Me desculpa Diego, eu não quero que a amizade de vocês mude, mas eu percebi que amor mesmo eu sinto pelo seu amigo.
Aquilo foi um verdadeiro punhal cravado em meu peito. Eu não podia acreditar nisso, essa mulher me seduziu por meses e agora achava que poderia descartar daquele jeito. Ainda mais para o Pepe?
— Como assim? Você vai mesmo me deixar? E tudo que eu fiz por você e por nós? Será que você não pode nem um pouco decidir pensando em mim? Quanto eu não te dar alguma coisa, você sempre disse que não queria! Como você me cobra essas coisas agora?
— Eu também não queria do Pepe, mas ele me deu mesmo assim. Algumas coisas têm de vir do próprio homem, e você se conformava somente com sexo. Me desculpe Diego, mas eu já errei com vocês uma vez e eu não vou errar de novo.
Confesso que naquele momento eu disse algumas coisas muito desagradáveis e que depois iria me arrepender. Mas eu fiquei cheio de raiva na hora e não deixei de segurar minhas palavras.
— Você acha que tem moral para dizer que você é santa ou coisa parecida? Você estava namorando com o meu amigo e frequentava a boates para fazer sexo. Você nunca amou ninguém a não ser a si mesma. Agora você vem dar uma de que de repente passou a amar meu irmão? Você está interessada em quê sua drogada?
— Que caralho é esse que está acontecendo aqui? Irmão, por que está chamando minha namorada de drogada? Eu não admito isso.
O clima havia esquentado ali e eu estava de cabeça muito quente assim como o Pepe. Naquele momento eu havia perdido completamente a razão e a cabeça, estava me sentindo usado e descartado por Beatriz, e cada vez que eu abria a boca era para falar mais alguma besteira.
— Sua namorada? Até quando? Quando arrumar um outro "Diego" para fazer apaixonar e meter mais chifres em você? — Fui interrompido por Pepe, que me deu um soco na cara. De alguns passos para trás e quase me choco com um pequeno armário onde se guarda os lençóis do leito assim eu me virei até ele e já havia perdido de vez a cabeça. Peguei Pepe pelo colarinho da camisa e assim acabei avançando nele e lhe dei um soco, ele acabou revidando, dizendo que ninguém ofenderia a mulher dele.
A briga só parou porque dois seguranças chegaram no quarto e acabaram por nos conter, assim fomos expulsos do leito e conduzidos até a saída do hospital. Percebi ali que havia exagerado e me aproximei de Pepe para pedir desculpas, mas ele se esquivou de mim. Havia me dito que não queria papo e foi embora com a sua moto e temi que ali fossemos rachar. Mas felizmente nos desculpamos no dia seguinte e pedi desculpas a Beatriz, fui bem infantil. Isso não mudava o fato de que eu estava bem decepcionado com tudo aquilo, e magoado pela rejeição. Porém acabei tendo uma segunda surpresa ruim no dia seguinte quando fui trabalhar.
Fui chamado pela corregedoria. Estava sendo acusado por insubordinação, no caso do sequestro da tia Joana. Por ter levantado homens e ido salvá-la sem aguardar a ordem de algum superior. Estavam querendo me afastar das funções ou pelo menos me rebaixar para funções administrativas. Eu já esperava uma represália com relação à corregedoria, mas não que fosse tão rápida. Eu estava com a consciência tranquila, pois no fim das contas Pepe tinha razão. Se tivéssemos ido um pouco mais cedo talvez até a tia Joana estivesse viva. Me defendi usando exatamente esse argumento, porém ocultei o máximo possível a informação de que Pepe estava junto e assumi todas as responsabilidades pelo ocorrido assim como todos os atos dele acabei assumindo por mim mesmo.
Em algum lugar longe de tudo aquilo - Narração em terceira pessoa aqui.
Um homem que deveria estar morto, ou que pelo menos acreditou que seria. Seu olhar era de ódio e pura sede de vingança. O que ele mais conseguia sentir era dor, a dor física que tomava conta de seu corpo mas principalmente seu rosto que estava irreconhecível. Estava com várias ataduras no rosto se recuperando de uma primeira cirurgia que fez em um hospital particular longe do Brasil. Uma figura misteriosa estava diante desse homem, quando apontou o dedo para ele e assim disse:
— Se ve terrible con esa cara, pero al menos logró sobrevivir. Me debes una, Alberto.
— Eu não consigo nem olhar pro meu rosto, eu estou sentindo muita dor. Eu não me esquecerei disso.
— Qué piensas hacer?
— Procurar aquele Policial e o marica do Pepe. Eles vão pagar por isso.
— Sólo quiero recordarles que gasté mucha plata para mantenerlo vivo y tenemos que seguir pasando la merca para los Estados Unidos. La DEA está en mi caso porque usted y sus hombres secuestraron a esa mujer y provocaron un alboroto. Incluso apareció en los medios.
— Tem filho, Argentino? Família, irmão? Esses desgraçados me tiraram meu filho mais velho, o mais novo, e meu irmão. Acha que vou deixar impune?
— Para mí tu familia no importa, quiero resultados. Estoy arriesgando mucho al invertir en ustedes, porque sé que estoy perdiendo 1 tonelada, pero puedo llegar a 10. No permitiré más errores. Estamos?
— Estamos.
Os dois ali selaram um acordo, porém os planos de Alberto não eram só com a mercadoria. Queria vingança, e ele iria aguardar o que fosse preciso para conseguir. A partir dali, passaram seis meses.