Eu não sabia exatamente quanto tempo teria que esperar, mas tinha certeza de que as próximas horas seriam as mais demoradas da minha vida.
Retornei para Marcela e disse que ela poderia voltar assim que quisesse, para me procurar no escritório ou me passar o valor do trabalho dela para que eu fizesse a transferência. Ela comentou que iria aproveitar o resto do dia na praia e voltaria à noite, mas que eu não precisava me preocupar com o pagamento, que a gente resolveria depois. Agradeci e nos despedimos.
Sentada ali, perdida em pensamentos e esperando a hora passar, lembrei de uma pessoa em especial e resolvi ligar. Conversei com ela por mais de uma hora. Foi a pior ligação que fiz na minha vida; quando desliguei, meu coração estava destroçado.
Minha espera durou quase duas horas e, então, Hugo me ligou. Ele disse que tudo tinha dado certo: os três já estavam presos. Alexandre foi detido antes de descer do avião e parecia esperar por aquilo, pois não esboçou qualquer reação. Daniel e Carina foram presos no Rio antes mesmo do avião de Alexandre pousar; já estavam nas mãos da PF.
Eu devia ter sentido alívio naquele momento, mas não senti. Na verdade, não senti nada. Não sabia o motivo, mas parecia alguém sem emoção.
Agradeci a Hugo e perguntei quando poderia falar com Alexandre. Ele disse que quando eu quisesse, era só eu ir à sede da PF que ele daria um jeito. Informei que estava saindo para lá, agradeci novamente e desliguei.
Peguei meu carro e segui para meu destino. Assim que cheguei, liguei para Hugo e disse que estava em frente à sede. Ele pediu para eu entrar, que já estava indo me encontrar na recepção. Entrei e logo o Hugo apareceu.
Ele me levou até uma pequena sala e pediu para eu esperar ali, sentada em frente a uma mesa de metal. Depois de uns dez minutos, a porta se abriu e vi Hugo entrar com outro policial, trazendo Alexandre. Ele não parecia surpreso com minha presença ali.
Foi colocado sentado em uma cadeira do outro lado da mesa e ficou de frente para mim. O policial soltou uma das algemas e prendeu-a em uma argola de metal em cima da mesa. Hugo perguntou se eu queria ficar sozinha com ele, e eu disse que sim. Hugo disse que, qualquer coisa, era só chamar que ele estaria do outro lado da porta.
Alexandre não me olhava nos olhos. Eu o chamei, ele levantou a cabeça e me olhou. Então fiz a pergunta que estava entalada na minha garganta.
Fernanda — Por que? É a única coisa que quero saber de você, Alexandre, por que?
Alexandre — Porque eu sou um idiota! Porque conheci um mundo novo e me esqueci de tudo que era importante para mim. Porque me envolvi com as pessoas erradas e ouvi os conselhos errados. Foi um conjunto de fatores que foram acontecendo e me levaram a cometer erros atrás de erros. Só percebi a merda que estava fazendo hoje dentro do avião, vindo para casa. Pensei que ainda dava tempo de consertar tudo, mas quando vi os agentes da PF entrando no avião, percebi que já era tarde demais.
Fernanda — Me explica isso. Quero saber de tudo, seja sincero, por favor. Pelo menos dessa vez, fale a verdade. Como começou? O que houve com você para mudar desse jeito?
Alexandre — Eu vou falar, vou contar tudo. Não tenho mais intenção de mentir para você nem para ninguém. Mas eu não mudei; só acho que você e eu não conhecíamos esse meu lado. O que aconteceu apenas despertou algo que até então permanecia escondido dentro de mim.
Tudo começou há uns seis meses, em um restaurante no Rio. Era um dia de semana e eu fui jantar antes de ir para o hotel. Durante o jantar, vi um casal sentado em outra mesa; a mulher era muito bonita e começou a me dar umas encaradas. Eu devia ter abaixado o olhar, mas, por algum motivo, encarei-a várias vezes de volta. Aquilo acabou despertando em mim um certo interesse.
Mas o mais estranho foi que o homem que estava com ela olhou para trás e sorriu para mim. Achei aquilo estranho, mas sorri de volta por pura educação. Eles se levantaram e vieram até minha mesa, pediram para se sentar comigo e, por educação, deixei.
O casal era Daniel e Carina.
Daniel começou a puxar assunto. Perguntou de onde eu era, e que, pelo meu sotaque, dava para ver que eu não era carioca. Expliquei de onde era e o que estava fazendo ali. A conversa rendeu e ele pediu três doses de whisky para nós.
Carina, a todo momento, ficava me encarando, e aquilo me deixou um pouco desconfortável. Daniel percebeu e disse que estava tudo bem, que sua esposa tinha gostado de mim, que eles eram liberais e que eu poderia ficar tranquilo. Eu disse que o problema era que eu era casado e não era liberal. Muito pelo contrário, eu era fiel e amava minha esposa. Ele disse que estava tudo bem, que a gente só estava conversando.
Bom, a conversa rendeu e as doses de whisky também. Eu já estava mais solto, falando mais, e Carina notou. Começou a pegar na minha coxa por baixo da mesa. No início, retirei a mão dela, mas ela insistiu e acabei deixando a mão dela ali. Quando percebi, ela estava pegando no meu pau por cima da calça. Claro que aquilo me excitou e acabei deixando acontecer.
O resultado disso foi que saí daquele restaurante já meio alto por causa da bebida e muito excitado por causa dos carinhos de Carina. Daniel disse que era perigoso eu dirigir, que era melhor eu deixar o carro ali; ele me levaria para dormir na casa dele e me traria no outro dia para pegar meu carro. Acabei aceitando. Não sei se foi a bebida ou o tesão que estava sentindo, mas fui com eles.
Entrei no banco de trás do carro achando que Carina iria na frente, mas não; ela entrou atrás comigo. Assim que o carro saiu, ela já veio com as mãos no meu pau. Eu nem tentei tirar. Não demorou muito e ela estava fazendo um oral em mim. Daniel ia dirigindo e incentivando-a a me chupar. Eu nunca tinha vivido algo assim e acabei transando ali dentro do carro em movimento, com Daniel assistindo pelo retrovisor.
Quando chegamos à casa deles, Daniel disse que iria chamar mais umas amigas para a gente fazer uma festinha. Carina não me deu tempo para nada; já me levou para o quarto e transamos de novo. Logo chegaram três garotas bem bonitas; uma delas se juntou a nós e duas saíram com Daniel. Eu transei até não aguentar mais. Quando estava quase morto, a garota que estava conosco me deu um pequeno vidrinho e falou para tirar a tampa e cheirar. Ela me disse que era para me dar um gás a mais e que não era droga. Eu nem pensei direito, só cheirei e aquilo realmente me deu mais ânimo; voltamos a transar.
Essa farra durou dois dias. Depois, fui para o hotel, descansei e voltei para casa.
Eu sabia que tinha feito besteira. Juro que pensei em te contar, mas sabia que seria o fim do nosso casamento, então achei melhor deixar isso para lá. Era algo que eu iria guardar para mim.
Fernanda — Deveria ter me contado. Seria sim o fim do nosso casamento, mas você não teria perdido tudo que perdeu. Ainda seria presidente da empresa e com certeza eu iria perdoar você com o tempo. Hoje você ainda teria meu respeito e o respeito da sua filha. Teria um ótimo trabalho e poderia estar aproveitando sua vida de solteiro. Mas prossiga.
Alexandre — Bom, agora já é tarde.
Depois de quinze dias, voltei para o Rio. Era uma segunda-feira. Fiz tudo que tinha que fazer no escritório. Eu poderia voltar naquele mesmo dia, mas não. Achei que poderia aproveitar mais um pouco do que vivi ali. Agora sei que foi uma decisão idiota, mas liguei para Daniel. O resultado foi uma semana de farra na casa dele, e só voltei na sexta para São Paulo.
Depois disso, virou rotina. Toda vez que ia para o Rio, já ia direto para a casa do Daniel. Acabou que fui contando minha vida para ele e nós nos tornamos bons amigos. Mas, com o passar do tempo, ele começou a me pedir mais e mais dinheiro porque as farras ficavam caras. Eu comecei a ajudar, gastando de três a cinco mil em dois ou três dias de farra.
Eu nem percebi, mas sempre usava o produto que a garota me deu e, às vezes, uns comprimidos. Nossa, era muito bom! O sexo era incrível, eu aguentava transas intensas, era outro nível de prazer. Mas chegou uma hora em que o dinheiro acabou. Eu não podia tirar muito da nossa conta sem você perceber.
Nessa época, Daniel já tinha me levado a algumas boates e casas de swing no Rio. Eu já estava totalmente viciado naquela vida.
Fernanda — Você estava usando drogas, seu idiota! Você é muito sem noção! Mas me conta como você veio parar aqui em São Paulo, em uma casa de swing?
Alexandre — Eu não sabia que os comprimidos eram êxtase. Mas, quando descobri, eu parei. Não sou viciado, nunca fui. Eu juro! E vim parar aqui porque Daniel tinha um amigo dono de uma rede de casas de swing. Ele às vezes se juntava a nós nas farras no Rio, e por três vezes viemos para a casa de swing dele aqui. Queríamos variar um pouco. Eu estava tão viciado naquela vida que nem calculei o risco de ser visto aqui por alguém. E já que você sabe, alguém me viu. Mas isso foi depois do que estava contando. Quando viemos a primeira vez, eu já tinha me afundado de vez naquela vida.
Fernanda — Devia ter calculado melhor, porque você foi visto sim, não na casa, mas foi. Mas depois explico. Pode continuar na sua ordem cronológica de merdas feitas.
Alexandre — Tudo bem. Bom, mas como eu estava contando, o dinheiro acabou. Eu disse a Daniel que tinha que parar porque estava sem recursos. A nossa conta era conjunta e você iria perceber se eu retirasse mais dinheiro. Daniel falou que eu estava vacilando, que era só eu trazer você para as farras junto comigo. Eu disse que você nunca aceitaria e ele me pediu para ver uma foto sua.
Eu mostrei.
Ele disse que você era linda, que se eu conseguisse deixá-lo perto de você por um tempo, ele com certeza conseguiria te seduzir e trazer você para nossa diversão. Eu acabei acreditando, já que via Daniel sempre com mulheres bonitas quando não estava com Carina, que também era muito bonita. Eu disse que deixaria ele tentar, mas avisei que não seria fácil.
Fernanda — Então foi assim que ele veio parar na nossa casa. Eu tinha razão; você deixou ele tentar algo comigo e mentiu para mim olhando nos meus olhos. Você não tem noção do nojo que senti de você agora.
Alexandre — Foi sim, só que você nem deixou ele tentar nada e colocou ele para correr.
Quando ele me contou, eu disse a ele que já tinha avisado que não seria fácil. Ele então deu a ideia de eu dar uma provocada durante o sexo, que tinha certeza de que você só o rejeitou por respeito a mim, mas se eu deixasse transparecer que estava de acordo, seria fácil. Grande erro; você agiu totalmente ao contrário do que ele falou.
Fernanda — Claro que agi, eu não sou como ele e você sabia bem disso. Como você pode ser tão idiota assim?
Alexandre — Eu não sei explicar. Eu acabava sempre acreditando no que ele falava. Bom, mas aí desisti de vez e avisei a ele que nem adiantava tentar mais para não piorar a situação.
Mas, para piorar as coisas, nessa época eu fui perdendo o tesão de fazer sexo com você. Não que eu não te desejasse ou amasse, mas sentia falta de mais pessoas, da putaria, para ser bem sincero. E, principalmente, do produto que sempre usava durante as transas. Nessa época, eu já sabia que se chamava poppers. Mas eu nem procurei saber direito o que era; só sei que era bom e um pouco caro. Com certeza já estava desenvolvendo uma dependência psicológica por causa daquele produto, mas eu nem enxergava isso.
Eu estava sem dinheiro, só tinha meu salário, mas não estava dando porque tinha meus gastos. Aí, em uma noite, Daniel me deu a ideia de roubar dinheiro da empresa. No início, não aceitei, mesmo ele falando que não tinha como dar errado porque eu que tomava conta de praticamente tudo. Com o passar dos dias, acabei pedindo para ele me explicar com detalhes e ele me explicou. Achei que seria tranquilo, já que eu praticamente tomava conta da empresa. Seu pai confiava em mim, eu sabia que seria o presidente em um futuro próximo, já que seu pai tinha falado que iria se afastar e eu sabia que você jamais assumiria.
Então, resolvi seguir a ideia do Daniel e deu tudo certo. Bom, depois disso, foi só farra atrás de farra; eu só fui me afundando cada vez mais naquele mundo. Só acordei para a realidade hoje, quando percebi a conta da empresa bloqueada. Liguei no banco, mas eles não quiseram me adiantar nada. Eu sabia que, com a conta bloqueada, não tinha acesso a mais nada. Liguei na empresa e minha secretária não me atendeu, mesmo eu insistindo.
Resolvi vir para ver o que tinha acontecido, mas já imaginava que algo tinha dado errado. Pensei que talvez ainda desse para consertar minha burrada, mas já era tarde; bom, o resto você sabe. Não sei como você descobriu, mas sei que me ferrei; nem vou te pedir perdão porque sei que você não vai me perdoar pelo que fiz. Também sei que, falando assim, é difícil de entender, mas eu nunca tinha vivido aquilo na vida e acabei me perdendo.
Bom, é isso.
Fernanda — Você esqueceu de uma coisa: Andressa e Fernanda. Por que você agiu como um idiota com elas? Principalmente com Andressa, que é de dentro da nossa casa. Me responde isso que vou te contar como descobri tudo.
Alexandre — Eu queria ser como Daniel. Achava ele o máximo; via ele ficar com várias mulheres nas boates e nas farras que a gente fazia. Até pedi umas dicas a ele e ele me ensinou algumas coisas. Resolvi testar, deu certo com umas mulheres em uma boate e com as meninas que a gente fazia farra juntos. Mas elas estavam ali para isso; só que eu nem me toquei e achei que realmente era bom.
Aí resolvi testar com mulheres fora do nosso ciclo de putaria.
Sempre achei a Andressa muito linda e resolvi tentar com ela. Como ela era mais sacrificada, achei que com umas boas cantadas e talvez um pouco de dinheiro conseguiria. Fernanda é uma das mulheres mais lindas que já vi; eu era doido para levar ela para a cama, mas nunca tentei nada até achar que era bom em pegar mulher. Resolvi tentar com ela também. Eu sabia que elas não iriam me entregar porque precisavam dos seus empregos e tinha certeza de que, se entregassem, você não acreditaria.
Mas pode ficar tranquila que as duas me rejeitaram, mas provavelmente você sabe disso.
Fernanda — Sim, eu sei, mas acho que você não sabe de uma informação crucial que deveria ter procurado saber antes de tentar algo com elas: as duas são lésbicas, seu idiota! Mas, sinceramente, pelo que vi das cantadas do Daniel e pelo que elas me falaram das suas, nem se fossem héteros você teria conseguido algo com duas mulheres como elas.
Pelo amor de Deus, o Daniel é um homem bonito, mas é um imbecil. Quer aprender a seduzir uma mulher? Fala com o Hugo; acho que vocês vão conversar bastante nos próximos dias.
Alexandre — Eu sei que foi algo muito idiota. Eu nem fazia ideia de que alguma delas era lésbica. Na verdade, não tenho muito mais o que dizer. Agora consigo enxergar minhas burradas, mas isso não importa mais.
Fernanda — Verdade, não importa mesmo, pelo menos não para mim. Só mais uma coisa: você usava camisinha com essas mulheres? Eu corro o risco de ter pegado alguma doença?
Alexandre — Não corre não. Eu só transava de camisinha porque as garotas não aceitavam transar sem e eu nem queria também.
Fernanda — Só não vou duvidar porque você disse a verdade até agora, pelo que eu sei. E também, geralmente, mulheres que vivem na noite, como GP, geralmente tomam muito cuidado com isso.
Bom, acho que era tudo que eu precisava saber.
Agora, apesar de você não merecer, vou te contar como descobri tudo. Como você foi idiota em tentar algo com duas mulheres, com Andressa e Fernanda. Você subestimou três mulheres que não deveria subestimar e esse foi seu maior erro. Se você tivesse se contentado só com as putas no Rio, talvez conseguisse ficar nessa vida maravilhosa por um bom tempo.
Contei tudo para Alexandre, pelo menos tudo que eu poderia contar.
Quando falei do que Daniel já tinha aprontado, ele realmente teve uma reação mais forte. Desde o momento em que chegou e começou a contar tudo, eu não o vi sair do seu normal. Mas, quando ouviu o que o amigo dele tinha feito, ficou nervoso, chegou até a proferir alguns xingamentos. Acho que ele via Daniel como um grande amigo, uma pessoa que ele se espelhava. Para ele, Daniel era o máximo, mesmo sabendo que ele era um dos culpados por estar naquela situação. Provavelmente, a ficha ainda não tinha caído. Mas, ali naquele momento, acho que a ficha caiu. Ele percebeu que só foi usado e que Daniel nunca foi seu amigo.
Para mim, ficou claro que Daniel é do tipo de pessoa que faz surgir o pior das pessoas que o cercam. Pelo que sua irmã me falou, Carina era uma boa pessoa, era de confiança, tinha um ótimo emprego. Alexandre, a mesma coisa; ele era uma boa pessoa, mas, depois que se envolveram com Daniel, jogaram tudo fora e se tornaram dois criminosos.
Eu saí dos meus pensamentos e prossegui meu relato.
No final, contei para Alexandre que tinha ligado para o pai dele antes de vir vê-lo. Que falei a verdade, mas, por pena do pai dele, ainda tentei deixar as coisas mais brandas. Eu disse que falei para o pai dele que ele tinha sido manipulado, mas que, mesmo assim, ele tinha a maior parcela de culpa.
Quando terminei de falar o que disse ao pai dele, ele mal teve uma reação. Eu só conseguia ver seus olhos vermelhos e o semblante de uma pessoa totalmente derrotada.
Mas eu ainda não tinha acabado.
Eu disse a ele que iria mandar os papéis do divórcio para ele assinar. Que eu iria descontar todo o dinheiro que ele roubou da empresa e que o resto que ele tinha direito na divisão dos nossos bens eu iria pagar o advogado que ele escolhesse para defendê-lo. O que sobrasse eu iria entregar na mão do pai dele. Que a parte que ele tinha direito no escritório não existia mais porque o escritório estava no nome da Gabi. A casa e os carros eram nossos únicos bens que entrariam na partilha.
Disse que eu não sabia se as meninas iam denunciá-lo por assédio, mas, se fosse isso, iria complicar muito a situação dele.
Que, quanto a Dani, eu não iria me meter. Ela que iria decidir se queria manter contato com ele ou não, mas que, depois dele esquecer até do aniversário dela por causa das putas, eu achava que ela não iria querer vê-lo por um bom tempo.
Ele só balançava a cabeça concordando com tudo que eu falava.
Levantei e fui saindo, e ele me chamou com uma voz fraca. Olhei para trás e ele me pediu perdão. Eu disse que era para ele tentar ser um homem de verdade dali para frente e, quem sabe, um dia eu até o perdoaria. Mas que, esquecer, eu nunca iria e não queria ter nenhum tipo de contato com ele daquele dia em diante.
Mais uma vez, ele só balançou a cabeça e eu saí dali.
Quando saí, Hugo veio até mim e perguntou se eu estava bem. Eu disse que não sabia direito, que só estava sentindo um vazio no meu peito, mas que consegui ter uma conversa decente com Alexandre e nem eu sabia como consegui fazer isso. Disse que precisava ir para casa e que, da minha parte, eles poderiam fazer com Alexandre o que tivessem que fazer; ele não era mais problema meu, e sim da justiça.
Agradeci a Hugo e fui para casa.
Achei que tinha deixado Alexandre e tudo que ele fez para trás, mas não foi bem assim.
Depois de um tempo, ele assinou os papéis do divórcio. Eu fiz o que prometi e paguei o advogado que ele escolheu, que não era barato. Seu julgamento não demorou porque ele era réu confesso. Sim, ele contou toda a verdade para a justiça, não escondeu nada e isso, no fim, ajudou ele. Por ser primário e ter colaborado com a justiça, ele pegou uma pena branda.
Mas o problema para ele foi Andressa.
Ela conversou comigo e com Dani antes, mas, depois de saber que a gente não iria se chatear e que a gente apoiaria sua decisão, ela o denunciou por assédio. Ela tinha o vídeo como prova. Dani fez questão de testemunhar a seu favor e contou que ouviu eles discutindo, só não sabia o que era até ver o vídeo, mas que ouviu que era por causa de dinheiro. Bom, Alexandre foi condenado por mais um crime.
Mas, para Daniel e Carina, foi pior.
O juiz que deu a sentença para eles não teve pena e, como o recurso deles do outro processo foi negado, eles não vão ver a cara da rua por alguns anos. Para piorar a situação, no último processo ainda coube mais um crime. Como eram três, coube o art. 288 do código penal, formação de quadrilha. Foram mais dois anos de prisão por causa desse crime.
Bom, enquanto corriam todos esses trâmites, audiências, julgamentos e meu divórcio, a vida não parou.
Depois do meu divórcio, eu era uma mulher solteira, rica e, modéstia à parte, bem bonita. Tinha tudo para cair na farra, mas não foi bem assim.
O primeiro mês foi muito complicado. Depois que cheguei em casa, após falar pela última vez com Alexandre, a ficha começou a cair. Parece que meu cérebro tinha bloqueado todos meus sentimentos e emoções no momento em que fiquei sabendo da prisão do Alexandre. Mas, quando cheguei em casa, meu cérebro resolveu tirar esse bloqueio.
Passei uma semana praticamente no meu quarto. Chorei muito; o coração é muito burro. Eu amava aquele idiota. Foi um dos piores meses da minha vida. No fim, resolvi ir a uma psicóloga para não pirar de vez; isso me ajudou muito. Depois de uns dois meses, voltei ao trabalho. Consegui ir retomando minha vida e, com isso, as pessoas ao meu redor também voltaram à sua rotina normal.
Devo muito a Gabi, Fernanda, Andressa, Hugo, Igor, Dona Ana e meu pai. Todos me deram muito apoio e força durante esses dias difíceis. Mas Dani foi meu porto seguro. Minha filha não deixou eu me afundar naquela tristeza que me consumia. Ela cuidou de mim, ficou ao meu lado nos piores momentos, nas noites em que eu não conseguia dormir, me consolou nos momentos em que eu só conseguia chorar. Eu realmente tinha a melhor filha do mundo!
Depois de três meses, minha vida estava praticamente de volta ao normal. Ainda doía, mas era menos. Nessa época, ainda não tinha saído a pena do Alexandre, mas eu já estava seguindo minha vida.
Nesse meio tempo, Hugo tinha me dito que Ricardo pediu meu número de telefone. Eu disse que ele podia passar, sem problemas. Ricardo me ligou algumas vezes, conversamos bastante, ele me convidou para jantar, mas, de início, não aceitei. Até que um dia resolvi aceitar. Saí com ele para jantarmos juntos algumas vezes.
Era sempre bom ter sua companhia. Ele, além de um homem muito bonito, era charmoso, inteligente, cavalheiro, gentil e muito divertido. Era bom estar ao seu lado. Tínhamos boas conversas. Eu sabia que ele tinha interesse por mim, mas estava indo devagar. O coração ainda estava ferido; eu não estava pronta para curtir uma noite de sexo por diversão e, principalmente, para compromisso sério.
A empresa voltou ao seu estado normal.
Em três meses, Fernanda estava totalmente adaptada à sua função. Demorei, mas comecei a ir todo sábado passar a parte da manhã com ela. No início, foi meio complicado, mas ela tinha paciência e sabia explicar as coisas de uma maneira fácil de entender. Com calma, fui aprendendo como funcionava a empresa.
Os diretores eram só elogios a Fernanda. Pelo jeito, eu fiz a escolha certa. A ruiva nasceu para fazer aquilo e fazia com prazer; dava para ver que ali era o mundo dela.
Dani não quis visitar Alexandre. Talvez, com o tempo, ela mude de ideia, mas, no momento, não quer nem ver a cara dele. Mas tem dado a maior força para o pai do Alexandre. Meu ex-sogro vem todo mês ver o filho. Desde a primeira vez, fiz questão de trazer ele para minha casa. É um homem bom, trabalhador, que se sacrificou para dar uma vida melhor ao filho e deve ter uma decepção terrível. Mas, mesmo assim, não o abandonou. Ele não toca no nome do Alexandre aqui na minha casa, mas, no mais, conversa muito comigo, com Dona Ana e com Dani, que só chama ele de avô. Tenho certeza de que ele tem um carinho muito grande pela minha filha e, provavelmente, por mim também. Até porque, apesar de tudo, eu não fiz nada de errado; a culpa é totalmente do Alexandre e acho que ele sabe disso.
Andressa saiu mais duas vezes com Gabi. Nas duas, Hugo deu um vale night para Gabi sair com ela.
Mas não foi só com Gabi que ela saiu. Tenho visto ela chegar em casa aos domingos com uma morena. Ainda não a vi de perto, mas de longe ela parece ser bem bonita. Ela e Fernanda se tornaram melhores amigas; escuto isso direto da boca das duas. E só amigas mesmo; depois daquela noite, nunca mais rolou nada, pelo menos até agora, rsrs.
Igor criou coragem e se declarou a Dani. Os dois estão no início de um namoro, mas, pelo que vi, vai acabar virando casamento. São dois fofos.
Eu ainda não sei o que vai ser da minha vida sentimental daqui para frente, mas acho que ainda vou amar de novo! Enquanto isso, vou vivendo. Não é porque estou sozinha que vou sair fazendo besteira. Tudo na vida tem a hora e o momento certo, ou não, né? Rsrs.
Por enquanto, vou me divertir do meu jeito e aguardar o que a vida me reserva.
FIM? 🤔