Após algum tempo, me acordei no hospital, não havia nada ao redor.
Continuando...
Era um hospital diferente, eu não conhecia aquele local.
Várias macas ao redor, alguns enfermos, praticamente todos dormindo. Somente uma senhora que permanecia deitada e com os olhos abertos. Imediatamente pedi a ela:
- Olá! A senhora poderia saber onde eu estou?
Ela riu e disse:
- Meu jovem, nem eu sei onde estou! Acho que nem sei mais quem eu sou!
Nessa hora achei que estava em um hospital para louco. Aos poucos fui identificando que ela não parecia ser louca, até pela naturalidade e forma como me falou aquela barbaridade.
A dor lancinante que eu senti antes de apagar havia sumido por quase completo, até que senti uma nova pontada no peito, sendo que imediatamente apareceu um rapaz jovem, de cabelo encaracolado, surgindo do nada ao meu lado.
Aquele rosto me trazia uma certa paz, não sei identificar por qual razão. Notei que ele tinha uma semelhança com meu falecido pai, que como morreu cedo eu também não me lembrava detalhes.
Com as mãos dele em meu peito, senti a dor sumir imediatamente. Ele ciente disso perguntou:
- Como está Pedro?
Eu olhei para ele e disse:
- Olha, a princípio bem. Senti aquela dor só naquele momento.
Notando a ausência de soro, eletrodos e tudo mais, questionei imediatamente ele:
- Que hospital esquisito esse! Onde estou doutor?
Ele riu e disse:
- Você? Ah Pedro, você está num local qualquer.
Eu na hora disse:
- Não me parece ser um local qualquer!
Ele riu e disse:
- De fato não! Aqui é uma colônia espiritual. Você sentia muita dor e nós lhe trouxemos para cá para aliviar essa dor.
Eu ri e falei:
- Coisa da Mayara né doutor? Ela deve ter me enviado para um hospital espírita ou algo assim. Eu notei que ela tá bem empolgada com a doutrina.
Ele riu e disse:
- De fato ela está mesmo! Mas você não está nesse hospital não. Aqui você é livre, para tomar suas próprias decisões. Você pode até levantar e ir embora se quiser, contudo vejo que você aceitou o tratamento, tanto que está aqui.
Achei estranha aquela fala toda e ligando aos fatos já na hora entendi tudo, ou achei ter entendido:
- Doutor eu morri?
Ele riu e disse:
- Quase 20 anos no espiritismo e até hoje você não entendeu que a morte é uma passagem e que ela se chama desencarne?
Eu ri também e falei:
- É que o termo morte é tão comum que a gente as vezes... fui imediatamente interrompido por ele que disse:
- Antes de tu me perguntar novamente eu lhe digo. Não Pedro, você não morreu, pelo menos não ainda.
Não entendi a colocação dele e pedi para me explicar mais, sendo que imediatamente ele respondeu:
- Eu preferia que você tomasse essa água agora, descansasse e depois eu lhe explico mais.
Fiz o que ele disse e novamente peguei no sono, acordando tempo depois. Qual tempo? Não sei... Sinceramente falando ali as horas não eram como na terra.
Logo que acordei entendi que o que estava ali era o meu espírito. Naquele exato momento fiquei procurando entender se realmente havia morrido ou não. Pelas circunstancias parecia que sim, contudo o jovem que em tese me atendeu, que agora entendo não ser efetivamente um doutor e sim um irmão, disse que eu ainda não havia feito a minha passagem.
Aquele sentimento, somado ainda a uma certa angustia fez com que eu derramasse uma espécie de lágrima, entretanto a gota dela efetivamente não desceu dos meus olhos. Nesse momento notei que realmente o que estava ali era meu espírito.
Me lembrei das palavras do irmão que disse que ali eu era livre e poderia fazer o que eu queria. Bom, se eu estava ali havia algum motivo. Então optei em levantar e dar uns passos. Não pretendia fugir dali, apenas tentar explorar o local. Ao levantar novamente veio aquela dor e no ato um novo espírito apareceu.
Imediatamente mandou eu ter calma e paciência que tudo seria resolvido e explicado. Respirei fundo e pedi:
- Estou começando a compreender as coisas. Sabe me dizer quanto tempo estou aqui?
Diferente do outro, esse imediatamente se apresentou. Seu nome era André, chamado de irmão André. E na sequência me disse:
- Pedro o tempo aqui atua de uma forma diferente. Aqui você pode estar já há vários meses, enquanto na terra isso pode ser alguns dias.
Notando a minha calma e paciência ele disse:
- Você tinha duvidas, essas dúvidas fizeram com que o meu colega te colocasse para dormir. Eu vejo que você está ainda mais evoluído e acredito que podemos avançar nessa conversa.
Eu ri e disse:
- Sempre me considerei um espírito evoluído.
Ele riu de volta e falou:
- Sim, você sempre foi um espírito evoluído. Tanto que está aqui agora! Aqui nós retiramos a dor do seu espírito, enquanto no plano físico os medicamentos e o trabalho dos médicos fazem o mesmo com o seu corpo.
Eu pedi a ele:
- Então eu não fiz a passagem ainda?
Ele me acalmou e disse:
- Não Pedro. Mas você vai conhecer muita coisa aqui. Vai entender os caminhos que a vida percorre, as missões e privações que o ser humano passa e por fim, se essa for a sua vontade e principalmente se no plano físico o seu corpo reagir ao tratamento, você poderá voltar.
Na hora, assimilando tudo, falei a ele:
- Eu nunca tive medo da passagem. Só que claro, eu acho que essa não seria a melhor hora.
Ele riu e me pediu:
- E qual seria a melhor hora então Pedro?
Eu ri da colocação dele e entendendo onde ele queria chegar eu disse:
- É talvez eu tenha medo da passagem sim. Olha, eu descobri que era pai, descobri que vou ser pai de novo, minha vida estava indo muito bem, até que...
Ele tocou no meu peito e disse:
- Calma, eu estou aqui!
Antes mesmo de apresentar alguma dor ou crise, aquelas mãos foram bem terapêuticas. Eu continuei:
- Uma fatalidade talvez né? Na vida não entendemos muito o que acontece. As vezes achamos que tudo está bem e do nada tudo muda.
O irmão André evoluído e inteligente disse:
- Pedro, nos planos de Deus não existe hora certa ou hora errada. O nosso destino está traçado e deve seguir aquele curso.
Respirei fundo e tive que concordar com ele, que continuou:
- Primeiro, levanta dessa cama e vamos ir para outro local. Tem muita gente que quer conhecer você.
Eu na hora pedi:
- Meus pais? A minha avó? Carla?
Fomos caminhando para fora do local e acessamos um campo verde, muito bonito e durante a caminhada ele disse:
- Seu pai foi a primeira pessoa que lhe recebeu. Você mesmo notou a semelhança dele. Sua mãe reencarnou fazem alguns anos já. Sua avó está se preparando para essa passagem.
Eu na hora pedi:
- E por que ele não disse que era o meu pai?
Ele imediatamente respondeu:
- Porque não era a hora. Mas vocês se verão de novo.
Fiquei aliviado e pedi:
- E Carla?
Ele respirou fundo e disse:
- Essa deu trabalho!
Eu ri e disse:
- Sempre né? Essa aí foi só dor...
Ele tocou em meu peito e disse:
- Calma Pedro, aqui não fazemos julgamentos. Carla errou várias vezes no plano físico, se redimiu de todos os erros ainda antes de fazer a passagem dela. Mesmo assim ela tinha contas a acertar.
Eu na hora interrompi e pedi:
- Ela está no vale das sombras?
Ele fez um sinal de negativo com a cabeça e disse:
- Ela esteve por um tempo lá e foi resgatada pelos nossos irmãos incluindo o seu pai. Ela ainda tinha algumas arestas a acertar e aquele jeito dela que tu conhece bem fizeram com que a passagem dela fosse mais complexa.
Fiquei aliviado em saber que ela não estava lá, e até pela morte dela deve ter sido pouco tempo. Falei a ele na sequencia:
- O bom que ela deve ter ficado pouco tempo, já que ela morreu semana passada.
Ele riu e disse:
- Pedro já lhe falei que o tempo aqui passa diferente. Ela ficou um bom tempo no vale das sombras, até evoluir e ser resgatada. Cabe aqui também fazer uma observação, você também não veio imediatamente para cá.
Tentei deixar a preocupação de lado e pedi:
- Sim eu entendo. Muita coisa deve ter acontecido e está acontecendo nessa ausência. Quanto tempo se passou na terra irmão?
Ele imediatamente me respondeu:
- Em breve você perceberá. O que posso te dizer que embora doloroso, seus familiares estão conseguindo seguir com a vida deles.
Tornei a perguntar:
- Então de fato eu fiz a passagem doutor?
Ele de imediato tornou a negar:
- Não Pedro. Você sofreu um episódio traumático, entrou em coma e assim permanece.
Sem noção de tempo e espaço comentei:
- Nossa deve então ter passado meses, talvez meu filho até tenha nascido.
Ele riu e disse:
- Calma Pedro. Seu filho não nasceu e não se passou tanto tempo assim, mas... também não foi ontem.
Nessa caminhada chegamos em um local onde várias pessoas assistiam a uma palestra. Era o irmão Tadeu, que explicava sobre aceitação.
O rosto desse irmão não era conhecido, mas a sua sabedoria era enorme. Após várias falas ele olhou para mim e para os demais, fazendo questão de me apresentar:
- Irmãos, conheçam o Pedro. Um dos seres mais evoluídos e bondosos do espírito físico.
Eu ri, agradeci a ele e me apresentei aos demais.
Vi que uma moça fez uma pergunta ao irmão Tadeu:
- Irmão esse é o Pedro da Carla.
Ele olhou para mim, riu e disse:
- Sim, é esse o famoso Pedro da Carla.
A partir daquele momento, posso dizer que vivi bons momentos na companhia daqueles irmãos. Aprendi muito sobre aceitação, perdão, recomeço, evolução, etc.
Não sei quantos dias foram, o tempo lá era diferente e sinceramente, a atmosfera que me envolvia naquele local era tão maravilhosa que se tornava desnecessário saber quanto tempo eu estava lá.
Fiquei ajudando o irmão que foi meu pai em minha vida na recepção as almas, ajudei também o irmão André, participei de muitas palestras e, após um determinado período, tive atendido o pedido para rever a Carla.
Com relação ao meu pai, o encontro foi emocionante. O vínculo criado por nós na terra foi pouco, ele faleceu novo e eu fiquei órfão. Pedi a ele sobre minha mãe e na hora confirmou que ela havia reencarnado. Também me falou do desejo de fazer o mesmo.
Com relação a Carla, foi um momento especial. Nos abraçamos muito, ela tentou me beijar diversas vezes e eu me afastei. A vida na terra no plano físico, o respeito que eu tinha pela Mayara e o amor que eu sentia por ela me faziam recuar.
Não sei dizer se Carla era minha alma gêmea, aprendi lá inclusive que isso não é algo da doutrina. Se eu tive vontade de beijá-la? É claro que tive. Minha vontade era de agarrar ela ali. Eu me sentia bem, tanto que fiquei bastante ao lado dela nos dias que se sucederam. Só naquele momento eu pude perceber que lá atrás, no passado, eu amei a Carla sim. Do meu jeito mas amei.
Embora existisse a vontade de beijá-la, eu me mantive firme. Sabia que no plano físico eu ainda vivia, embora em coma e lá eu tinha uma esposa e respeito por ela. Acredito que essa resistência se deve ao amor que eu sentia pela Mayara.
Naquele momento eu pude perceber que se era possível amar duas pessoas. Só que também percebi que esse amor possui intensidade. Você pode amar duas pessoas ao mesmo tempo, mas não com a mesma força e o mesmo objetivo. Sem dúvidas isso criou a resistência que eu precisava para resistir a ela.
Irmão André ao perceber a minha recusa até chegou a comentar comigo sobre. Disse que no plano espiritual as coisas não são como na terra e que o que acontecia ali ficava ali mesmo. Eu até fiz uma piadinha com ele citando a famosa cidade americana Las Vegas, o que se faz em Vegas fica em Vegas.
Entretanto, mesmo estando em outro plano eu sentia que devia fidelidade a Mayara. Talvez se eu me agarrasse ali com a Carla não fosse relevante, seria apenas um sonho. Contudo, seria como trair a Mayara em pensamento.
Conforme já citei, estive com Carla praticamente o tempo todo após o nosso encontro. No plano espiritual era como se realmente ela fosse a minha parceira. Não precisávamos falar as coisas um para o outro, a nossa conexão era tanta que nos entendíamos quase que sem conversar. Cabe destacar que nesse processo eu vi uma evolução dela como pessoa. Essa evolução iniciou quando ela me pediu perdão novamente, dessa vez no plano espiritual.
A evolução dela fez com que ela tomasse a decisão de reencarnar. Uma parte de mim pedia para ela ficar ali, outra, essa mais racional, dava forças para ela reencarnar. Eu não sabia ainda se voltaria ao meu corpo físico e sem dúvidas se a passagem viesse eu estaria preparado, mas gostaria de dividir o meu espaço com ela. Ela percebia que quando eu a incentivava era como se houvesse duvidas em mim. Como citei antes, nos entendíamos perfeitamente ali, sem a necessidade de abrir o jogo em tudo.
Minha mãe havia reencarnado, não cheguei a rever ela. Meu tio Antônio já havia ido anteriormente.
O irmão André nesse processo me procurou e me agradeceu por resistir à tentação e principalmente por apoiar Carla nesse momento. Me relatou que ela tinha uma missão a cumprir e que ficou pendente na vida passada. Disse que essa missão seria executada em seu reencarne. Só ali pude entender as questões de missão, destino e tudo mais. Ali eu vi que todos temos um legado que em algum momento teremos que executar.
Devido a minha postura lá em cima, tive atendido o desejo de rever minha família. Era algo que eu queria muito, mas tive paciência para esperar. Em momento algum pedi isso, solicitava informações, recebia as orações e vibrações que eles me enviavam, só que não pedi para descer.
No fundo eu não sabia o que encontraria. Como estaria minha mulher? Será que ela deu a luz? Quanto tempo se passou? Será que ela já tinha outro? Ao revê-los tive todas as respostas.
Minha tia estava bem e feliz, ao lado de seu novo amor. Gostei de ver isso, ela merecia.
Ana estava bem, cada vez mais recuperada das crises renais. Antônio firme e forte ao lado dela. Notei a ausência dos pais dela nesse processo, especialmente da mãe, percebia que ela ainda morava na casa dos pais. Tentei buscar informações sobre isso mas fui bloqueado em diversas tentativas.
Mayara era uma fortaleza. Protegia a família, tomou a frente dos meus negócios nesse período e mesmo grávida dava conta do recado. Que orgulho dela! No momento em que desci a gravidez dela já estava avançada, uns 6 meses acredito eu. Iriamos ter uma filha. Inicialmente achávamos que seria um menino, mas quis o destino que uma filha viesse ao mundo.
Com relação a amor, vi que ela seguia firme.
As coisas foram progredindo ao passo que após a volta que fiz da terra, fui chamado pelos irmãos. Me pediram se aquilo era o que eu esperava encontrar e eu confirmei.
Irmão André me pediu se eu queria saber o que havia acontecido comigo e eu disse que sim. Ele imediatamente me pediu:
- Você está preparado? Como foram suas aulas sobre o perdão e aceitação?
Olhei para ele e disse:
- Hoje eu vejo que o perdão não faz somente bem ao outro, pelo contrário, ele faz melhor a mim que aos demais.
Ele assentiu com a cabeça e disse:
- Muito bem, você está no caminho certo. Em breve você obterá a resposta de todas essas perguntas.
Depois disso fiquei mais um intervalo de tempo, dessa vez menor, ajudando a recepcionar as almas, participei do resgate de um irmão no vale das sombras e por fim, ajudei nas palestras que falavam sobre o perdão.
Certo dia, Irmão Tadeu me procurou e me pediu se eu estava preparado para saber o que havia acontecido comigo. Deixou bem claro que eu havia visto a parte boa e não a ruim na minha outra aparição.
Fiz que sim com a cabeça e o semblante dele me preocupou imediatamente. Havia eu morrido?
Logo em seguinte veio a Francisca e o Genival, dois irmãos que iriam nos acompanhar nessa jornada.
Ao chegar no local pude rever os detalhes. Eu fui baleado pelo Jefe, ao projetar o meu corpo frente a Ana. O tiro era endereçado a ela.
Vi que o Jefe tentou fugir e foi preso na fuga. Soube dos fatos que se sucederam.
A megera, nome carinhoso que eu havia dado a mãe adotiva de Ana, foi procurada pelo Jefe antes do ocorrido e firmou um pacto com ele. Um dinheiro foi entregue ao mesmo com a proposta de me matar.
O que a megera não sabia, que além de mim, Ana sua filha adotiva também era alvo dele, pois ele queria se vingar não de mim e sim de Carla... E ao atentar contra Ana, ela atingiria Carla e eu simultaneamente. Acredito que após atirar em Ana ele atiraria em mim também se eu não tivesse projetado o meu corpo sobre ela.
O caso veio à tona, a imprensa teve acesso e isso explodiu em todos os noticiários. Homem gravemente ferido era o pai biológica da menina que era alvo do atentado. Mãe adotiva e esposa de deputado era a mandante do crime.
A megera foi presa e todos os envolvidos prestaram depoimentos. Mayara conduziu com maestria todo o processo e conseguiu ocultar a informação de que a megera e o deputado haviam comprado Ana quando pequena. Isso era desnecessário para o caso. A amplitude do caso já era grave e elevada suficiente, sendo desnecessária novas doses.
Novamente Mayara me surpreendia. Ela conduziu tudo, ela cuidou de mim, ia todos os dias me ver no hospital. Contudo é claro que uma mulher bonita e inteligente como ela, iria ter um certo assédio sobre a mesma. Mesmo ela tendo uma postura firme, teve que resistir aos galanteios de um médico no hospital, um camaradinha que tentou se passar sobre ela... fiquei com raiva? Eu havia aprendido muito sobre o perdão...
Vi várias passagens onde ele tentava contato com ela. Me mantive firme, não tentei impedir e nem fazer nada. Nenhum vaso caiu do nada, nem um escorregão aconteceu kkk. Muita gente acha que o espírito pode intervir nesse momento, contudo pelas regras esse contato é vetado e eu havia aprendido no plano espiritual que temos que seguir as regras, são elas que nos guiam para viver em uma sociedade/comunidade em paz, harmonia e felicidade.
Após o baque de todas as coisas que vi, retornamos ao plano espiritual, onde fui recepcionado por Carla e pelo irmão André, que ao verem a minha expressão de pânico me pediram o que eu sentia.
Sem titubear respondi na sequência:
- Tudo muito chocante. Mas confesso que diferente de outros tempos eu não tenho vontade de vingança.
Irmão André riu e mostrando que sabia de tudo me pediu:
- Nem quando aquele camarada deu em cima da Mayara?
Eu ri e disse:
- Eu fiquei pirado. Poxa nem esfriou o meu corpo ali e o cara querendo cantar de galo?
Todos riram e eu continuei:
- Mas sabe irmão, eu não vi maldade dele. Meu estado era crítico, poucas chances de sobrevivência, ela bonita, grávida... Ele não é uma pessoa ruim não.
Irmão André surpreso com a minha postura retornou a dizer:
- Você merece um prêmio Pedro, vou deixar você escolher...
Eu respirei fundo e pedi:
- Nunca pedi nada aqui, nunca exigi nada e tudo que eu fiz foi voluntário e de coração. O destino me privou de ver a minha filha nascer. Irmão, me deixe ter essa sensação, mesmo que no plano espiritual.
Ele riu e olhou para o irmão Tadeu, logo depois virou para mim e disse:
- Pedro, aqui você concluiu todos as etapas desse seu destino. Carla deve reencarnar em breve, sua família está bem e você, no seu plano físico, evoluiu muito de saúde.
Eu imediatamente pedi:
- Está na hora de voltar?
Ele assentiu com a cabeça e disse:
- Desde o início eu coloquei o destino como a seu alcance. Você evoluiu, cumpriu as etapas, resistiu a tentações e agora tu tens uma decisão a tomar.
Para muitos seria fácil dizer: ESTOU VOLTANDO. Mas não era bem assim...
Eu aprendi muito, eu me sentia bem lá no plano espiritual. Ajudar aos outros, fazer o bem, isso era gratificante.
Ao mesmo tempo minha família aguardava por mim, mas a vida deles seguia...
Algumas dúvidas me vinham na cabeça, como por exemplo será que a Mayara ainda me esperava? Notei que ela estava bem, bonita, quase ganhando a criança e mesmo assim era assediada...
A verdade que a vida no plano físico seguiu seu curso sem a minha presença e isso me trouxe uma dúvida na hora dessa decisão.
Percebendo minha indecisão, o Irmão André de forma breve novamente me levou a terra, justamente em um sonho de Mayara. Na sua noite de sono percebi que ela me amava, que se mantinha forte por mim, que ela tinha confiança na minha volta e me esperava.
Era chegada a hora da verdade. Naquele momento eu tinha que tomar uma decisão e essa seria irreversível.
Irmão André novamente interviu e disse:
- Pedro todos temos uma missão e nem sempre ela é concluída nessa vida. Se você optar em não retornar, tu terás uma nova oportunidade de reencarnar futuramente.
Eu na hora falei:
- Eu não sei sabe irmão. Uma parte de mim diz que devo ir, outra que eu devo ficar.
Ele riu e disse:
- Pedro, novamente você está entre dois amores. Um amor que ultrapassa barreiras e outro que impede de aqui em cima mesmo você ceder aos encantos de Carla.
Eu ainda com dúvidas pedi:
- Irmão e depois de tomar a decisão o que eu tenho que fazer?
Ele na hora disse:
- Lhe deixarei sozinho neste momento, você precisa pensar. Tu não tem um prazo para decidir, contudo só terá acesso a outras pessoas após essa decisão. Quando decidir, fecha os olhos e tudo vai acontecer.
Ainda com uma dúvida, antes de me despedir deles, pedi:
- Irmão, eu lembrarei disso tudo aqui?
André riu e disse:
- Isso é relativo Pedro. Talvez sim, talvez não. Talvez tu acorde nem sabendo quem tu és. Talvez você lembre mais do que aconteceu aqui do que na hora. O seu coração vai ditar os rumos dessa história.
Me despedi de todos eles e deixei para abraçar o André disse em seu ouvido:
- Obrigado por tudo, espero que possamos nos ver ainda.
Ele assentiu com a cabeça e disse:
- Quando você retornar, eu estarei aqui a sua espera meu amigo!
Eram por volta das 4:00 da madrugada quando o telefone de Mayara toca, ela sentindo uma sensação diferente imediatamente vê que a ligação vem do hospital e atende.
Do outro lado da linha uma voz feminina dizia:
- Sra. Mayara?
Após a concordância dela a voz prosseguiu e disse:
- Comunicamos que o Sr. Pedro...
Minha decisão estava tomada!
Continua...