Eu acabei dormindo mais do que devia, o que me fez chegar bem em cima da hora da aula. Assim que me viu entrar na sala, JP abriu um sorriso, pegou suas coisas e veio sentar na carteira ao meu lado.
-Bom dia, Iuri- disse ele, sorrindo para mim.
-Bom dia, JP,-respondi timidamente. Depois disso, rimos um pouco da situação, o que fez o professor notar nossa conversa e olhar de cara feia para nós.
O dia seguiu normalmente, como o dia anterior. No intervalo, Laís apareceu para chamar JP para sair, e mais uma vez ele me convidou. Porém, pela expressão que Laís fez quando JP mencionou minha presença, percebi que ela odiaria se eu fosse junto, e eu também não tinha interesse em ir.
Quando eu menos esperava o sinal toca sinalizando o final das aulas mas, diferente do dia anterior, JP me pediu para esperá-lo. Ele iria comigo até o portão de saída, um gesto comum entre amigos, mas ele mexia comigo de uma maneira que até coisas simples ganhavam um peso surpreendente.
-E aí, Iuri, o que está achando da turma da manhã?-perguntou ele.
Fiquei um pouco confuso com a pergunta -As aulas começaram ontem, JP. Não tem como formar uma opinião em apenas um dia- respondi enquanto ria da pergunta dele. Percebi que ele ficou um pouco constrangido, então continuei. -Mas para ser sincero, mesmo que você me perguntasse daqui a 6 meses, eu ainda não teria uma resposta para te dar. Diferente de você, não sou o 'Mr. Simpatia'. Acredito que a maioria das pessoas da nossa turma não notaram a minha presença, ou talvez tenham notado, já que o 'Mr. Simpatia' está sentado ao meu lado."
-Para com isso, Iuri. As pessoas com certeza notaram você...- Por algum motivo, ele parecia um pouco envergonhado ao dizer isso, então decidi não insistir no assunto e apenas dei de ombros.
Os dias seguintes seguiram um padrão semelhante. De manhã, eu ia para a aula, estudava durante a tarde e passava as noites jogando com JP. Ambos gostávamos do mesmo jogo de computador, então passávamos a noite ou boa parte dela jogando juntos. Eu ainda estava muito confuso em relação a JP. A forma carinhosa como ele me tratava, mexendo no meu cabelo e até mesmo beijando minha bochecha às vezes, era tudo muito confuso e conflitante para meus instintos. Eu não queria me apaixonar pelo meu melhor amigo, mas simplesmente aconteceu.
Com o tempo, eu já não me sentia tão invisível. Conheci outras pessoas da minha turma, o que foi surpreendente. Claro que foi JP quem me apresentou a elas. Outra coisa que começou a acontecer com certa frequência eram as brigas entre JP e Laís. Eu nunca soube os detalhes, nunca perguntei. Eu não queria saber. Mas sabia que, por algum motivo, Laís não gostava de mim, e eu também não fazia muita questão de ser querido por ela.
Em um dia não tão comum de aula, já que JP havia faltado, o professor decidiu fazer uma dinâmica em duplas. Antes que eu pudesse procurar por Fernanda ou Sthe, as meninas da nossa tumar que JP me apresentou, ouço alguém me chamando:
-Iuri!!- Chama Oliver, enquanto arrasta sua carteira para o lado da minha.
Assim como JP, Oliver era bastante popular na minha sala, embora por motivos diferentes. JP era amigável com todo mundo, inteligente e namorava uma das garotas mais gatas da escola. Oliver, por sua vez, jogava no time de futebol da escola, o que por si só já o tornava popular. Mas não era apenas isso, ele era extremamente gostoso. O típico magro definido, com lábios carnudos, moreno, alto e com um olhar... Oliver já tinha 18 anos, e diziam que ele havia entrado no ensino médio com um ano de atraso devido a um período que passou no exterior.
Eu nunca havia interagido com ele, e nunca imaginaria que ele sequer soubesse da minha existência. Então, não consegui esconder minha surpresa quando vi Oliver arrastando sua carteira para o lado da minha.
-Posso fazer o trabalho com você, carinha? Sei que você é muito bom em matemática," disse Oliver, piscando para mim.
-C-claro, Oliver..." Mais uma vez, minha voz me traiu, entregando meu nervosismo.
-Relaxa, eu não mordo," disse ele baixinho, sorrindo sinicamente. Vendo meu desconforto, continuou falando. -Saiu da asa do JP? Pow, tem que deixar espaço para outras pessoas te conhecerem também. Há bastante tempo estou querendo conversar contigo, mas ele sempre tá junto."
Fiquei um pouco confuso e curioso. O que um dos caras mais atraentes da sala queria comigo?
-S-sério?" Estava tão nervoso que minhas palavras se embolaram um pouco.
-Uhum," respondeu ele, me olhando com um olhar tão intenso que parecia penetrar na minha alma.
-Mas o JP é tranquilo... Pode falar comigo quando eu estiver com ele." Tentei soar o mais natural possível, mas meu nervosismo era perceptível.
-Será mesmo que eu posso?" Ele riu cinicamente. "Iuri, você tá tendo algo com o JP? Ele tá te comendo? É por sua causa que ele e Laís andam se desentendendo?"
Nesse momento, devo ter ficado um pouco pálido, pois não esperava algo assim, principalmente vindo de Oliver.
-Q-q-que? Não... Você entendeu errado."
-Corta essa, Iuri. Você até que disfarça bem, mas eu sei que você é gay. Vejo a forma como você olha para o JP, e já vi a forma como você olha para mim algumas vezes."
Engoli seco. Nunca tive problemas com minha sexualidade, mas não sei se estava pronto para revelar isso ao mundo.
-Ele tá te comendo?"
-N-não..." Respondi com o restante de dignidade que me sobrava.
-Maravilha, então o caminho tá livre." Olhei surpreso para Oliver e o vi com um sorriso safado nos lábios.
Eu estava tão envergonhado que nem conseguia mais olhar para Oliver, enquanto ele parecia se divertir com toda aquela situação. Foquei em terminar a atividade o mais rápido possível. Como era algo relativamente simples e eu tinha muito domínio sobre matemática, fiz sozinho. No entanto, sentia que Oliver me encarava como um predador encara sua presa.
-Fica assim não, carinha. Eu realmente estou de olho em você há um tempo - disse ele, parecendo sincero. Olhei para ele e ele continuou -Mas viu o motivo de eu não poder ter falado com você perto do JP? Faz assim, me dá seu telefone. A gente pode ir com calma, vamos conversando... O que acha?"
Eu ainda estava muito inseguro com tudo isso, e a abordagem dele foi um tanto direta demais. Resolvi passar meu contato para Oliver. Afinal, eu já era grandinho o suficiente para ficar alimentando amores platônicos.
À noite, fui jogar com JP. Ele contou que estava resfriado e provavelmente iria faltar no dia seguinte também. Perguntou sobre a aula e notou que eu estava um pouco estranho, mas não havia como ele saber o motivo. Então, só fingi que estava tudo bem, mesmo não sendo muito bom nisso acho que fui convincente.
Oliver não tinha me mandado mensagem, o que me deixava com um misto de ansiedade e frustração. No entanto, eu não podia mudar coisas que estavam fora do meu controle. Acabei indo para a cama mais cedo naquele dia, pois havia sido um dia puxado.
