"-Bom dia, carinha. Você vai hoje, né?"
Recebi essa mensagem de um contato não salvo assim que acordei, um pouco atrasado como de costume. Quando fui ver de quem era, era o Oliver. Ele estava muito gato na foto, usando um calção de surf e óculos escuros na praia. Meu coração acelerou não só por ter recebido uma mensagem dele, mas também por lembrar da abordagem direta que ele havia feito no dia anterior. Oliver tinha me desestabilizado, isso era muito evidente.
"-Vou sim, Oliver. Na verdade eu acabei de acordar kkk
Vou me arrumar aqui para não chegar atrasado."
"-Te vejo na sala, carinha."
Eu realmente precisava correr. Já estava levemente atrasado eu ainda não tinha me habituado com essa mudança de horário. Mesmo que eu tenha ido para cama cedo, foi uma noite de sono turbulenta. Despertei em vários momentos sem nenhum motivo aparente.
Quando cheguei na sala, Oliver já estava lá com seu grupinho de amigos. Ele me deu uma secada que me deixou constrangido. Para ser sincero, eu não costumo perceber esse tipo de coisa, mas Oliver me olhou de um jeito que parecia que eu estava pelado, o que me deixou muito desconcertado. Diferente do JP, Oliver não veio sentar ao meu lado, mas assim que o sinal do intervalo tocou, Oliver.
-Vamos!?
Olhei para ele confuso. -Vamos? Pra onde?
-Deixar outras pessoas te conhecerem... lembra? Vamos lá na frente comprar um lanche e a gente conversa, você fala mais de você... - ele se aproxima de mim e fala perto do meu ouvido - Ou podemos fazer outras coisas também, se você quiser - ele se afasta de mim com um sorriso safado nos lábios.
A forma que Oliver falava comigo sempre me deixava congelado. Para ser sincero, até gostava desse jeito sem vergonha dele. Eu achava... sexy. Mas certamente não estava preparado para esse tipo de abordagem.
-Tô brincando, Iuri. Vamos lá embaixo comigo, não vai deixar seu novo amigo ir lá sozinho, né? - disse ele com um sorrisinho no rosto.
Acabei cedendo ao pedido de Oliver e, pela primeira vez desde que mudei de horário, fui dar uma volta pelo prédio da escola na hora do intervalo.
Era incrível como todos conheciam Oliver. Por onde ele passava, alguém o cumprimentava, e nesse momento, certamente eu não era invisível. Pude notar vários olhares sobre mim, olhares curiosos, olhares de dúvida, olhares de confusão... não foi uma atenção que me agradou; fiquei visivelmente desconfortável com isso.
-Oliver, eu vou voltar para a sala - minha voz saiu quase sussurrada.
Oliver parou e virou para mim. - Qual é, Iuri? Acabamos de sair. Vamos pelo menos comprar algo lá embaixo e eu subo com você - disse ele, me encarando.
Eu não conseguia dizer não enquanto ele me encarava de forma tão intensa. Acabei cedendo, e mesmo desconfortável, fui com ele. Como prometido, depois que ele comprou algo para comer, voltamos para a sala juntos. Começamos a conversar sobre os mais diversos assuntos, desde música até os planos para depois da escola, faculdade, etc. Para ser sincero, falei a maior parte do tempo. Oliver apenas me observava e fazia alguns comentários sobre o que eu falava. Mas as coisas fluíram de forma tão natural que nem notei que eu simplesmente não calava a boca.
Foi bom conhecer esse lado - Fiquei um pouco confuso com o comentário que ele fez. - Quem diria que o bonitinho e caladinho Iuri teria tanto a dizer? - Fiquei visivelmente tímido com o comentário que ele fez.-Foi muito bom conhecer esse seu lado, Iuri - disse ele sorrindo enquanto voltava para seu grupo de amigos.
Admito que ouvir esse comentário do Oliver fez meu coração acelerar um pouco. Mesmo sendo gay, eu nunca havia sequer beijado outro garoto, então todas essas sensações eram novas para mim. O que me deixava confuso era o motivo. Por que um dos caras mais populares da minha sala, e da escola, estaria conversando com um "zé ninguém" como eu? Eu reconheço meus atributos; tenho traços finos, cintura fina, bunda arrebitada, quase não tenho pelos no corpo e sou relativamente alto. Os meus traços indígenas me davam uma beleza bem singular. Ainda assim, não entendia o motivo de Oliver ter algum interesse em mim.
Depois disso, eu e Oliver começamos a trocar algumas mensagens. Conversávamos amenidades, trocávamos indicações de música, enviávamos memes e falávamos sobre coisas da escola. Era leve e natural nossa conversa, fluía sem muito esforço.
JP faltou o resto da semana devido a esse bendito resfriado, eu até cogitei em visitá-lo, mas ele disse que não queria que eu ficasse doente também. Mesmo JP faltando o resto da semana inteira, eu não me senti sozinho ou solitário. Eu não imaginava que alguém como Oliver fosse tão divertido; ele era engraçado e até meio idiota às vezes, mas eu me divertia conversando com ele.
Na sexta-feira, Sthe sentou ao meu lado durante a aula.
-O Oliver? - Disse ela com um sorriso malicioso nos lábios, como se esperasse uma grande fofoca.
-Somos amigos! - Eu disse de forma convicta.
-Amigos? - Disse ela de forma irônica enquanto dava uma risadinha. - Iuri, o Oliver é bissexual. Ele já pegou alguns meninos aqui na escola....
-S-sério? Mas o que isso tem haver comigo? - Tentei falar da forma mais seria possível
-Corta essa, Iuri. A forma como tu olha pro JP te entrega. Acho que até ele já percebeu - Disse Sthe, rindo da minha cara, que era uma mistura de choque e constrangimento. - Mas voltando ao que interessa, o Oliver? Hmm, tá bem servido, viu? - disse ela, rindo das minhas reações.
-Você pode até vê-lo como seu "amigo", mas a forma como ele te olha, ele certamente está interessado em outra coisa....
Durante o resto da aula, vez ou outra Sthe olhava para mim e mordia os lábios, tentando fazer uma cara sexy só para me provocar. Depois caía na gargalhada enquanto olhava para mim e para o Oliver. Eu não sou inocente, eu já sabia quais eram as intenções do Oliver, até porque ele já havia deixado isso bem claro. Mas eu não imaginava falar sobre isso com outras pessoas. Há alguns meses atrás, eu nem tinha amigos, então falar com alguém sobre isso me deixava muito constrangido.
No final da aula, quando eu estava me preparando para ir embora, Oliver veio falar comigo.
-Quer pegar um cinema amanhã? - disse ele enquanto me encarava com aquele seu olhar de predador.
Eu não conseguia dizer não ao Oliver, mas ele estava me chamando para um encontro, e eu ainda não me sentia seguro o suficiente para aceitar esse convite.
-Ah, não posso... eu tenho que fazer uma coisa com minha mãe...?
-E no domingo? - insistiu ele.
-Eu vou ver o JP?
-Humm, tudo bem, até segunda, carinha.
Ele parecia muito contrariado com minha recusa, e talvez tenha percebido a minha mentira. Eu não tinha nada para fazer com minha mãe, e nem ia ver o JP no domingo, mas eu não me sentia preparado para ter um encontro com o Oliver, até porque era o Oliver, e esse homem é um pedaço de mal caminho.
JP notou que eu estava um pouco "diferente" durante nossas jogatinas. Estava disperso (devido às mensagens do Oliver que eu parava de jogar para poder responder). Ele chegou a perguntar outra vez se estava tudo bem, se tinha acontecido alguma coisa, mas eu só disse que estava tudo bem, e seguimos nossa jogatina durante boa parte do fim de semana.