Atenção: aviso de conteúdo sensível.
Sei que o site é de contos eróticos, mas certas histórias precisam do momento certo para que ele seja mostrado. Tenham paciência, pois ele virá no momento adequado, e não de forma forçada, tirando a coerência da história.
Continuando:
E como nada é tão ruim que não possa piorar, no meu caso, multiplique esse azar por dez. Carlos me ligou:
— Seu pai entrou em contato. Ele quer conversar. Na verdade, ele quer propor um acordo.
Era só o que faltava. Curiosa, me vendo bastante chateado, dona Celeste perguntou:
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Respondi ao Carlos primeiro, colocando a ligação no viva voz:
— E você está considerando isso? Já falou com a Dra. Ester? O que ela acha?
Ele já estava adiantado em tudo:
— Ela quer que a gente vá até ela. E, se for o caso de aceitarmos encontrar com ele, que tudo ocorra lá no escritório dela. Estaremos protegidos e amparados.
Eu só tinha uma última pergunta:
— Quando?
Ele respondeu de imediato:
— Amanhã, é óbvio. Temos que resolver logo.
Minha mãe me encarava impaciente. Pedi licença ao Carlos e expliquei a situação para ela. É claro que ela não gostou, mas disse:
— Essa decisão é sua. Você não pediu para ser meu representante? Então, faça o que achar melhor. Eu não vou quebrar minha promessa ao Cirilo. Não chegarei perto daquele homem. E eu preciso cuidar da Maitê também. Não posso deixá-la sozinha.
Eu concordei e voltei à chamada com o Carlos:
— Só temos um pequeno probleminha … eu começo a trabalhar amanhã. Eu preciso ganhar dinheiro, minha conta está quase no vermelho.
Carlos não gostou muito:
— Eu entendo, e se for o caso, vou sozinho e falo em seu nome. – Ele não conseguiu se segurar. – Que péssimo momento você escolheu para voltar a trabalhar. Não tem como adiar? Começar em alguns dias? De preferência, na próxima semana?
Minha mãe, ouvindo calada até então, disse:
— Se o problema é dinheiro, eu tenho minhas economias, filhote. É o Cirilo que sustenta a casa, ele não me deixa pagar por nada.
Nos surpreendendo, entrando na sala, meu avô também resolveu participar da nossa pequena conferência:
— Não precisa, Celeste. Eu posso conversar com o Gomes e explicar a situação do Rafael. Ele vai entender e esperar mais um pouco para que ele comece. E sobre o dinheiro para se manter, eu posso adiantar a herança, assim como fiz para o Carlos para que ele pudesse montar o escritório. O dinheiro vai ser dele algum dia mesmo. Não é muito, mas dá pra ele se virar por algum tempo, se preocupando apenas com o que é importante.
Carlos comemorou:
— Perfeito, meu velho. – E me pressionou – Posso marcar a reunião para amanhã no escritório da Dra. Ester, Rafael?
Com todos me olhando, demonstrando encorajamento, aceitei:
— Pode sim. Vamos ver o que aquele canalha vai tentar.
Combinamos de sair no início da noite e dormir em um hotel na capital, chegando cedo ao escritório da doutora. Carlos se despediu e desligou.
Questionei o meu avô:
— Que raios de dinheiro é esse? Eu sei que o senhor não é rico.
O velho coçou a cabeça. Ele não esperava a minha pergunta:
— Existe uma grande diferença entre viver de forma simples, sem ostentação, ou ser uma pessoa sem recursos. Desde pequenos, eu criei poupanças para você e para o Carlos. Todo mês eu deposito um trocado para os dois. Não é uma herança, pois meus herdeiros são seus pais, é apenas um seguro, para que vocês tenham um suporte no momento de necessidade.
Agradeci ao velho, grato pela ajuda. Minha mãe ainda queria falar comigo. Eu tinha certeza de que era sobre a Maitê. Ela disse:
— Voltando ao nosso assunto inicial, você deve estar se perguntando por que a Maitê nunca confiou em você, não contou sobre o passado? Até nisso ela foi honesta comigo. A verdade é que ela ficou com medo de lhe perder. Medo de que você a rejeitasse, de que a achasse suja.
Minha mãe veio se sentar ao meu lado, voltando a ficar tensa:
— Isso é comum em pessoas que sofreram traumas muito grandes como ela. Elas internalizam tudo, tentando esquecer que aquilo um dia aconteceu. É uma forma de proteção, medo de que as pessoas não as aceitem.
Eu tentava, juro que tentava ser mais empático e menos julgador, mas não era fácil:
— Poxa, mãe … ela disse que gostou do que aconteceu. Disse que apesar do assédio daquele homem, ela gostou de ter feito o que fez.
Minha mãe era paciente comigo:
— Filho, eu entendo a sua dor, e se eu pudesse, a tomaria para mim. Ela disse aquilo para se proteger, para ter um pouco de controle sobre a situação. Se impondo a gostar, ela deixa de ser o fantoche de alguém e passa a ter um pouco de primazia sobre a própria vida. Eu olhei no fundo dos olhos dela e tenho certeza de que era uma mentira, para ela mesma. O que ela disse, ou fez, foi apenas para se proteger da dor e do trauma.
Peguei o celular, abri o vídeo gravado dos dois naquele dia e coloquei em um ponto específico:
— Você é o meu macho … meu dono … meu amante safado e gostoso … fode essa buceta, me arromba inteira …
Minha mãe virou o rosto para a cena gravada. Como ela poderia explicar aquelas palavras? Mesmo assim, ela sabia o que queria dizer:
— Maitê é vítima de abuso desde que se entende por gente. Ela não é uma pessoa racional como eu e você. Tudo na vida dela é embaçado, borrado pela crueldade de quem deveria protegê-la, mas que ao invés disso, apenas a machucou ainda mais.
Minha mãe se levantou, pensando nas palavras que queria dizer, tentando me explicar em detalhes o que eu não conseguia compreender:
— Essa garota foi vítima do próprio pai, passou pelo inferno e conseguiu uma segunda chance na vida. Quando ela encontrou o amor, uma vida feliz, tudo aconteceu novamente? Você consegue imaginar o quanto o cérebro dela precisou trabalhar para protegê-la? Quanta fantasia foi criada para mascarar os verdadeiros sentimentos? Ela está num mundo só dela, irreal, que ela criou para se proteger. Além de tudo isso, ela se viu sozinha, tendo que voltar para perto das pessoas que a culpam por um crime cometido contra ela.
As palavras da minha mãe pareciam tapas na minha cara. Ela ainda não tinha terminado:
— Eu não estou dizendo que você deva reatar o noivado, esquecer tudo o que aconteceu e voltar correndo para os braços dela, nada disso. Maitê precisa de apoio, de carinho, de incentivo para poder sair da escuridão. Você é a luz dela. O simples fato de você estar presente, por perto, dará a ela a chance de lutar contra os demônios que a assombram, e esperança para tentar recomeçar a viver.
De uma coisa eu tinha certeza: minha mãe jamais iria dizer algo prejudicial a mim. Se ela estava convencida de que aquilo era o melhor, eu não tinha motivos para contrariá-la. Mesmo ainda muito machucado também, resolvi aceitar seus argumentos e disse o que ela queria ouvir:
— Ok! A senhora venceu. Vamos até a Maitê. Eu quero conversar com ela, ouvir o que ela tem a dizer.
Dona Celeste me deu um lindo sorriso. Meu avô, acompanhando tudo de sua poltrona, disse:
— Eu vou ao banco, então. Transfiro seu dinheiro ainda hoje.
Brinquei com ele:
— Ainda tá nesta de ir ao banco, vô? Hoje em dia se faz tudo pelo celular.
Ele fez uma careta para mim:
— Eu nem tenho esse troço. Não confio nessas tecnologias. Esse negócio de celular transforma as pessoas em zumbis. Deus me livre.
Saímos os três juntos e eu aproveitei para deixar meu avô na entrada do banco. Era a hora de reencontrar a Maitê.
Chegamos à casa da minha infância sem demora. Entramos em silêncio e a casa parecia vazia. Já no corredor, na porta do meu antigo quarto, pude ouvir o choro baixo da Maitê, pois a porta estava entreaberta. Minha mãe me segurou fazendo sinal para eu acompanhá-la até a cozinha. Ela falou baixo, quase inaudível:
— Me deixe ir na frente, prepará-la. Ela está grávida e pode se assustar ao ver você ou se emocionar demais. Espere aqui, por favor.
Enquanto minha mãe ia ao encontro da Maitê, meus pensamentos fervilhavam: “Eu entendo a preocupação de todos, mas e se isso tudo for apenas uma armação, um jogo de cena para ganhar simpatia? Eu sempre respeitei os limites impostos pela Maitê e nunca a pressionei para saber mais sobre o seu passado. Quem é essa tal benfeitora? Muita coisa faz sentido, mas outras parecem apenas cortina de fumaça. Como eu pude me enganar tanto, e se tudo o que ela passou for verdade, como pude ser tão cego, tão insensível? Por outro lado, até agora só temos a versão da Maitê e mais nada. Será que eu deveria aceitar tudo calado, apenas para satisfazer os desejos da minha mãe e a desconfiança do Carlos? E se eu fosse direto com ela, cobrando uma prova das suas alegações? Talvez se eu exigisse …”.
Fiquei tão perdido em meus pensamentos, que nem reparei as duas chegando:
— Rafa? Você está mesmo aqui, é verdade.
Até me assustei ao olhar para a Maitê. Ela estava irreconhecível. Se não fosse pela maquiagem feita às pressas, eu nem saberia que era ela. Nada lembrava a mulher tão linda que eu chamava de noiva. Para quem está grávida, aquela magreza era preocupante. Os olhos sem brilho, a pele ressecada, o semblante sem vida …
— Oi, Maitê!
Minha mãe achou melhor ser discreta:
— Vou dar uma saidinha, mas não demoro.
Maitê, com olhar suplicante, a encarou. Minha mãe a acalmou:
— Fique tranquila, querida. Foi o Rafa quem decidiu vir te ver. Eu não o arrastei até aqui. Vocês precisam conversar, vai lhe fazer bem. Se lembre de tudo o que já falamos, seja honesta e as coisas irão acontecer naturalmente.
Mesmo ainda um pouco arisca, ela veio se sentar próxima a mim, na cabeceira da mesa. Minha mãe saiu em seguida, nos deixando a sós.
Tentei quebrar o gelo:
— Você almoçou? Como está se sentindo?
Maitê me deu um sorriso amarelo, bem tímido e constrangido:
— Sim, eu comi. Sua mãe fez comida para mim antes de ir te encontrar …
Maitê estava de cabeça baixa, sem coragem de me encarar:
— Sabe, Rafa … eu pensei muito em tudo o que fiz a você, em como o magoei … Se eu pudesse voltar no tempo, lá no comecinho do nosso namoro, no momento em que eu deveria ter sido honesta, mas não fui …
As lágrimas pingavam no tampo da mesa e Maitê soluçava baixinho, incapaz de continuar falando. Eu não sabia o que dizer, mas precisava falar alguma coisa. Deixei a tristeza e a raiva me dominar e fui um completo babaca, exigindo:
— Quer que eu acredite em você? Então denuncie aquele desgraçado, me prove que ele realmente fez o que você está dizendo. Se você fizer isso, será um enorme passo …
Maitê finalmente me encarou. Seus olhos demonstravam uma força que chegava a me assustar:
— Eu faço, meu amor. Eu juro, por tudo que é mais sagrado, que não menti. Ele realmente me forçou no começo e depois ainda me chantageou. Eu faço o …
— Como assim ele te chantageou, Maitê? Isso é muito grave. O que ele tinha contra você? Por que não disse isso desde o começo? Você poderia ter contado para o Carlos, ou para a minha mãe. Está difícil acreditar em você, a cada hora você vem com uma nova …
Maite murchou novamente, voltando a chorar:
— Ele disse que tem câmeras na casa e que ele me gravou. Se eu falasse qualquer coisa, ele iria enviar para você. Eu não disse nada porque eu não tenho certeza …
— Você tem algum vídeo dessa chantagem, ou alguma mensagem?
Ela não parava de chorar:
— Não! Ele é esperto. Ele só fazia as ameaças pessoalmente. Ele disse que as câmeras são discretas, ninguém percebe. Eu nem sei se são reais.
Maite chorava convulsivamente. Um choro pesado, intenso. Achei melhor diminuir a pressão, lembrando que ela estava grávida. Fui direto:
— Vamos à delegacia. Você precisa denunciar esse desgraçado. Ele precisa pagar.
Maitê, mesmo chorando, concordou:
— Eu faço o que você quiser, qualquer coisa. Se você estiver ao meu lado, eu juro que faço qualquer coisa que você mandar.
Fiquei tão revoltado, tão chateado, tão destruído com aquelas revelações da Maitê, que precisei abraçá-la, tentando lhe dar um pouco de conforto e proteção. Ela se agarrou em mim com força, apertando minhas costelas e até me deixando sem ar.
— Esse filho é seu, Rafa. Eu tenho a mais absoluta certeza. Eu faço qualquer exame que você exigir, só não me deixe sozinha com essa criança, não nos abandone. Não deixe aquele homem chegar perto de nós novamente, por favor.
Ela me apertava cada vez mais, achando que eu fosse sumir se ela me soltasse. Ela continuava se lamentando:
— Eu sei que você desistiu de mim e isso é culpa minha, apenas minha. Eu aceito as consequências, sei que mereço tudo o que estou passando … sei também que prometi lhe entregar nosso filho, abrir mão dos meus direitos, mas se você deixar, eu quero ser mãe do nosso filho. Ele é a única coisa que me restou, o meu último elo com você, o amor da minha vida. Eu abro mão de todo o resto e prometo não atrapalhar a sua vida. Só me deixe ser mãe, não me tire isso.
Suas palavras me tocaram profundamente. Que ser humano tira o filho da própria mãe? Quem poderia negar tal pedido? Talvez, aquela criança fosse o último sopro de esperança na vida dela. É bem provável que ela seja um milagre em meio a todo aquele caos, um fator definitivo para a plena recuperação da Maitê. Provavelmente ela veio para dar esperança e mudar toda aquela vida de sofrimento e provação.
Por mais magoado e machucado que eu estivesse, eu jamais seria capaz de tamanha maldade. Minha mãe é a pessoa mais importante da minha vida e sendo filho de quem eu sou, sabendo que eu fui o responsável por mantê-la de pé na pior fase de sua vida, eu via em Maitê, naquele momento, as mesmas circunstâncias.
Tive um estalo. Eu precisava de orientação especializada. Carlos talvez não fosse o melhor naquele momento. Peguei o telefone e liguei para o número pessoal da Dra. Ester. Fui atendido no terceiro toque:
— Rafael, eu precisava mesmo falar com você. Carlos me disse que vocês vêm amanhã. Obrigado por …
Precisei interromper e ser mais direto:
— Me desculpe, doutora, mas eu preciso de ajuda com outro assunto. Tem a ver com aquele homem, mas é uma outra situação.
Continua ...