Gostaríamos de agradecer ao amigo Mark, que vem nos ajudando no desenvolvimento dessa série com seu conhecimento profissional, corrigindo e nos orientando em toda a parte jurídica narrada.
Aviso: Conteúdo sensível.
Continuando ...
Tive um estalo. Eu precisava de orientação especializada. Carlos talvez não fosse a melhor opção, naquele momento. Peguei o telefone e liguei para o número pessoal da Dra. Ester e fui atendido no terceiro toque:
— Rafael, eu precisava mesmo falar com você. Carlos me disse que vocês vêm amanhã. Obrigado por …
Precisei interromper e ser mais direto:
— Me desculpe, doutora, mas eu preciso de ajuda com outro assunto. Tem a ver com aquele homem, mas é uma outra situação.
Sempre solícita, ela entendeu pelo meu tom de voz a gravidade do assunto:
— Você me parece muito nervoso. Se acalme e me conte o que aconteceu. Estou aqui para ajudar no que eu puder.
Expliquei a situação da Maitê e ela rapidamente me orientou:
— Quero pedir que você traga a Maitê ao vir amanhã. Gostaria que ela passasse por uma avaliação com a nossa psicóloga de confiança. Enquanto nos reunimos com o Sr. Angelo, ela pode ser atendida.
Me assustei um pouco com o pedido:
— Levar a Maitê junto comigo? Isso é realmente necessário?
Ela pacientemente explicou:
— Como mulher, me solidarizo com a situação, mas como profissional, preciso determinar a veracidade de todo e qualquer fato antes de prosseguir. Mesmo que a nossa avaliação não tenha valor legal, sendo necessário um laudo produzido por um perito oficial durante o processo, é ela que vai nos mostrar a forma correta de seguir em frente, a nossa linha de atuação.
Era hora do salto de fé:
— Eu confio na senhora, doutora. Amanhã cedo estaremos aí.
Me despedi e desliguei, ao mesmo tempo em que minha mãe retornava para casa. Aproveitei e expliquei para as duas as orientações da nossa advogada. Maitê estava decidida, nem precisou pensar:
— Eu disse que farei o que você quiser. Só me diga a hora em que vamos sair.
— Então vá arrumar suas coisas, partimos daqui a pouco. Vamos passar a noite na capital.
Meu padrasto também chegava em casa, no mesmo instante em que minha mãe disse:
— Eu irei com a Maitê. Enquanto você cuida das coisas, eu cuido dela.
Meu padrasto, que não sabia o que estava acontecendo, perguntou:
— Vai com a Maitê? Para onde? O que eu perdi?
Enquanto dona Celeste e Cirilo conversavam, Maitê foi arrumar algumas roupas para nos acompanhar. Me despedi de todos e disse que voltaria para buscá-los em uma hora.
Fui até a casa do meu avô e também me preparei para a viagem. Carlos chegou pouco depois e assim que ele se aprontou e eu o coloquei a par dos acontecimentos, voltamos até a casa da minha mãe, já preparados para a viagem de três horas até a capital.
Para a minha surpresa, Cirilo decidiu nos acompanhar. Ficou combinado que ele, minha mãe e Maitê iriam em seu carro e Carlos e eu seguiríamos viagem no meu. Viajaríamos todos juntos, em comboio e, para adiantar as coisas, pelo celular, acabei reservando três quartos num hotel indicado pelo Carlos.
A viagem foi tranquila e nós todos jantamos no hotel. Combinamos que Cirilo e as mulheres ficariam aguardando no hotel na manhã seguinte e que eu mandaria por mensagem o endereço da psicóloga indicada pela Dra. Ester.
Por mais que eu estivesse sendo educado e cortês, tentei ficar o máximo possível afastado da Maitê. Mesmo que tenha prometido cuidar dela, minha mágoa ainda era gigantesca.
Como planejado, Carlos e eu saímos cedo na manhã seguinte, direto para o escritório da Dra. Ester. Chegamos e fomos imediatamente recebidos. Ao lado dela, um outro homem, advogado certamente, também nos aguardava na sala de reuniões. A Dra. Ester fez as apresentações:
— Rafael, Dr. Carlos, Esse é meu sócio e presidente da firma, o Dr. Mathias. Ele vai prepará-los para o encontro com o Sr. Angelo.
O homem, muito educado, nos cumprimentou e pediu que nos sentássemos. Antes de começarmos a reunião, a Dra. Ester me informou o endereço e horário da consulta da Maitê. Informação que eu repassei em seguida para a minha mãe.
O Dr. Mathias começou sua orientação:
— Angelo é, principalmente, um estrategista. Ele não joga para perder. O processamos outras três vezes e em todas, ele se safou. Se não consegue um acordo, ele mente, suborna, compra, protela … ou seja, ele sempre encontra uma forma de se livrar das garras da lei ...
Por toda a manhã, o Dr. Mathias, e também a Dra. Ester, discorreram sobre os diversos cenários possíveis para a reunião com o meu pai. De uma coisa eles tinham certeza: sua primeira jogada seria pedir para falar a sós comigo. Nenhum dos dois achava um possível acordo ruim. O foco do escritório deles era outro.
Mesmo que não demonstrassem sua empolgação, já que a nova situação envolvendo a Maitê, inesperada e reveladora, era grave e triste, ela se casava perfeitamente com os planos deles contra aquele maldito.
Naquela primeira reunião, eu entendi o interesse deles em mim. A intenção era enfraquecer o Angelo financeiramente e sufocá-lo com a revelação de seus negócios escusos, o levando a ruína e provavelmente a falência. Uma denúncia grave como a feita por Maitê, adiantaria os planos, causando um escândalo sem volta. Sujando o nome que ele tanto se esmerou para construir com mentiras.
Ficou bem óbvio para o Carlos, que eles tinham outros processos em andamento contra o meu pai. A Maitê era a cereja do bolo para eles. Já no final daquela conversa de orientação, a Dra. Ester recebeu uma ligação:
— Então procede?
Seu semblante deixava claro o seu descontentamento:
— Obrigada, querida. Você vai aceitá-la como paciente?
A advogada me encarava:
— Ok! Estou a caminho. Chego em vinte minutos.
A doutora desligou e virou para mim imediatamente:
— Não há mais dúvidas. A Srta. Maitê realmente foi abusada pelo seu pai.
A Dra. Ester adquiriu um tom mais grave:
— Se você autorizar, eu quero cuidar desse caso pessoalmente. Não há mais como fazer prova pericial da violência física, dado o decurso do tempo da ocorrência. Mas ainda há como se fazer da violência psicológica, o que já foi atestado pela nossa profissional. Mesmo que o laudo dela não tenha valor oficial, a investigação será baseada nisso. A justiça, no decorrer da investigação, irá designar um perito para um laudo válido e de acordo com a lei vigente.
Eu não sabia o que responder, apenas concordei. A Dra. Ester informou:
— Vou levar a Maitê à delegacia especializada no atendimento as mulheres vítimas de violência. Precisamos fazer a denúncia. O Dr. Mathias acompanhará vocês na reunião com o Sr. Angelo.
Almoçamos no escritório mesmo, acompanhados pelo Dr. Mathias e, às treze em ponto, meu pai e três advogados adentraram o recinto, sendo direcionados por uma secretária diretamente para a sala de reuniões em que estávamos. Ele me encarou de forma melancólica, mas eu não podia me deixar levar. Sabia que era pura encenação.
Com seu jeito arrogante, ele confrontou o Dr. Mathias:
— De novo, Mathias? Opa! Errou meu, me desculpe, “Dr. Mathias”. Até quando vai insistir nessa obsessão contra mim?
Ele foi respondido a altura:
— Sinto lhe informar, mas Nicolau Copérnico já respondeu essa dúvida. A terra gira em torno do sol, Sr. Angelo, e não do senhor.
Tentei segurar o riso, mas não consegui. O Dr. Mathias completou:
— Atualmente, nosso escritório tem mais de uma centena de processos em andamento, o que torna o senhor menos especial do que acredita.
Irritado, meu pai exigiu:
— Eu quero falar a sós com o meu filho.
E nos surpreendendo, se virou para o Carlos:
— Não vai dar um abraço no seu tio? Não nos vemos há muitos anos.
Foi tudo tão surreal, que Carlos ficou travado, sem saber o que fazer. Como era esperado, eu acenei positivamente para o Dr. Mathias, aceitando falar a sós com ele. Todos saíram, e ele veio se sentar ao meu lado. É claro que eu me levantei, colocando uma boa distância entre nós. Eu não poderia fraquejar ou me deixar envolver pela lábia profissional do miserável. Ele veio com tudo para cima:
— Como você está? Vai levar mesmo esse processo adiante? Eu posso ser honesto com você, mas tenho certeza de que você não vai aguentar a verdade.
O provoquei:
— Qual verdade? A verdade que você roubou e enganou a minha mãe? Ou a que você seduziu a minha noiva?
Ele riu alto:
— Você só pode estar de brincadeira … aquela putinha da sua noiva só faltava esfregar a buceta na minha cara.
Insisti:
— E a minha mãe? Vai denegrir a imagem dela também?
Ele, de repente, se transformou em comediante:
— Claro que não. Sua mãe foi o amor da minha vida. Eu jamais a rebaixaria ao mesmo patamar daquela putinha que você chama de noiva.
O corrigi:
— Chamava. Você me tirou isso também. Você é mestre nisso, não é? Tirar, trair, roubar … quanto talento.
Eu estava entrando no jogo dele. Era hora de ser mais direto:
— Afinal de contas, o que você realmente quer? Já não basta tudo o que me fez? Diga logo, ou eu vou sair daqui.
Ele abriu sua maleta e me entregou alguns contratos. Olhando no fundo dos meus olhos, ele disse:
— A essa altura, eu imagino que uma reconciliação entre nós é perda de tempo. Sei que nem de longe fui um bom pai. A única forma de me redimir com você e sua mãe é aceitando as suas exigências.
Eu o encarava muito desconfiado. Ele explicou:
— Minha proposta de acordo é a seguinte: vou passar integralmente a empresa para o seu nome. E para sua mãe darei cinquenta milhões de reais. A empresa, mais o dinheiro, são exatamente cinquenta por cento de tudo o que eu possuo. É um acordo justo e dentro do que vocês exigem.
O bicho era um cara de pau:
— Por falar na sua mãe, cadê ela? Não veio com você?
Ri alto, com deboche:
— Você não está falando sério … eu jamais o deixaria chegar perto dela novamente.
Fui direto e bem grosseiro:
— Você já disse a que veio, podemos trazer os advogados de volta. Eu vou analisar a sua proposta, pedir ao meu advogado para analisar esses documentos e ele lhe dará um retorno.
Me levantei, mas ele jogou outro papel sobre a mesa, dizendo:
— Quanto a paternidade do filho daquela puta interesseira, fique tranquilo, ele é seu. Eu não posso e nem quero ter filhos. Melhor você ir atrás dela, onde quer que ela esteja. Não espere o processo vir até você.
O papel parecia ser a cópia de um espermograma, comprovando que a contagem de espermatozoides era inexistente. Ele completou:
— Eu fiz uma vasectomia dez anos atrás. Estou sempre fazendo exames para ter certeza de que continuo incapaz de ter filhos.
Se era real, eu não podia dizer. Peguei o papel e disse:
— Você não liga se eu quiser comprovar a veracidade disso aqui, né? Como você sabe, todo cuidado é pouco.
Fiz sinal para o Carlos e o Dr. Mathias e todos voltaram à sala de reuniões. Entreguei a ele os papéis trazidos pelo carcará sanguinolento e disse:
— Ele ofereceu a empresa e mais cinquenta milhões. O senhor pode analisar esses documentos?
Antes que o Dr. Mathias respondesse, eu voltei a encarar meu pai:
— Nós vamos estudar a sua proposta e depois o Dr. Mathias irá entrar em contato com a nossa resposta. Passar bem, Angelo.
Ele caminhou até mim decidido, mas eu me afastei e ele parou:
— Não demore, pois eu tenho planos de ir embora desse país, recomeçar a vida em um lugar decente, onde um empresário gerador de empregos e renda tenha incentivos para empreender.
Quase entreguei os pontos, me afobando, mas fui contido pelo Carlos, que disse:
— Imagino que o Senhor dependa da nossa resposta para concluir suas intenções, estou certo?
Meu pai respondeu positivamente e o Dr. Mathias completou:
— O que acha de trinta dias? É um bom tempo para a gente analisar se sua proposta é satisfatória e se as informações contidas aqui são verdadeiras. Acredito que você irá ceder, por livre e espontânea vontade, uma cópia da sua última declaração do imposto de renda.
Angelo fez sinal para um de seus advogados e ele entregou o documento solicitado para o Dr. Mathias. Enquanto se preparava para sair, ele disse:
— Aguardo o seu retorno, doutor. Quanto antes resolvermos esse imbróglio, melhor.
Ele me olhou uma última vez:
— Me desculpe, filho. Sei que o machuquei, que você tem todo o direito de estar magoado comigo, mas pelo menos, eu consegui provar que aquela puta não valia nada.
Naquele momento, enquanto o desgraçado saía, eu pensei na Maitê e em como aquele homem vil e mesquinho conseguia destruir tantas vidas sem se importar. O sentimento era de tristeza, de impotência. “Pai” é quem deveria nos proteger, nos acalentar, cuidar de nós, mas o meu deveria ter vindo com defeito, já que nem um ser humano ele parecia aos meus olhos.
Se não estivesse na presença de outras pessoas, eu certamente teria desmoronado. Como alguém pode ser tão frio e calculista?
Carlos e o Dr. Mathias conversavam. Meu primo disse:
— É realmente uma excelente proposta. Oferecer a empresa foi uma surpresa. Será que ela está saudável?
Sem opções, o Dr. Mathias precisava ser honesto. Ele ligou para um ramal da empresa:
— Marcela, por gentileza, ligue para o senhor Eugênio Alves e peça a ele para vir com urgência ao escritório. E me traga o processo dele, por favor. Ah, e também, peça ao seu irmão para vir até a sala de reuniões. Pode mandar o processo por ele, se for mais fácil.
Enquanto esperávamos as pessoas chamadas pelo Dr. Mathias, ele voltou a dar orientações:
— Agora você precisa decidir se aceita ou não o acordo. Já que a sua ex-noiva irá iniciar um processo separado, no caso de uma prisão do Angelo, a justiça pode nomear um curador para cuidar dos negócios do seu pai.
Não entendi:
— Ué, mas eu sou filho dele, único herdeiro. Eu não seria automaticamente responsável?
O advogado explicou:
— Não, nesse caso. Você é parte interessada, já que é representante da sua mãe no processo contra ele. O melhor cenário é aceitar o acordo e separar as situações definitivamente. Vou analisar os documentos minuciosamente e dar o meu parecer. Em princípio, me parece um acordo muito justo.
Um gigante de mais de dois metros bateu na porta e logo entrou:
— Aqui está, patrão. O processo que você pediu.
Fomos apresentados:
— Rafael, Dr. Carlos, esse é o Marcel, chefe da equipe de investigadores do escritório.
Pensei comigo: “Marcel e Marcela, irmãos? Que maluquice. Que falta de imaginação”.
O Dr. Mathias disse para o gigante:
— Marcel, quero vigilância vinte e quatro por sete no Sr. Angelo. Vamos descobrir o que ele está tramando para ter sido tão generoso. Já sabemos que ele tem o desejo de deixar o país. Descubra se ele tem intenção de sair na surdina ou da forma correta. Pode ir.
O gigante se despediu e o Dr. Mathias finalizou a nossa reunião:
— Vou começar a analisar tudo o que ele entregou. Darei minha resposta o mais breve possível. Qualquer dúvida, não hesite em nos procurar. — Ele me entregou um cartão. — Vocês irão lidar diretamente comigo agora. A Dra. Ester irá assumir e se dedicar integralmente ao caso da sua ex-noiva.
Nós nos despedimos e saímos. Na frente do escritório, já na calçada, eu entreguei a chave do meu carro ao Carlos, retirando apenas a chave do meu antigo apartamento na cidade. Ele me olhou sem entender:
— Quer que eu dirija?
Fui honesto:
— Eu não vou voltar com vocês. Tenho algumas coisas para resolver por aqui. Preciso buscar minhas coisas na casa em que eu morava com a Maitê. Quero visitar alguns amigos também. Vou alugar um carro, pode ficar com o meu. Volto pra casa em dois ou três dias.
Carlos não gostou muito, mas concordou:
— Você é adulto, dono de si. Por tudo que é mais sagrado, cara, não vai fazer besteira e se prejudicar. E avise a sua mãe. Posso te levar até a locadora de veículos, pelo menos?
Aceitei seu pedido e após pesquisar no celular, encontramos a locadora mais próxima. Assim que terminamos os procedimentos, Carlos se foi.
Primeiro liguei para a minha mãe e depois de muito insistir, ela acabou concordando e me deixando em paz. Eu não tinha muito o que falar sobre a Maitê. Sabia que ela tinha todo o apoio e cuidado que precisava. Eu ainda não estava pronto para lidar com aquela situação e só iria atrapalhar. Achei melhor ser honesto com meus sentimentos e não forçar uma situação que seria desconfortável para os dois.
Cheguei ao meu antigo apartamento, o local que antes eu chamava de lar, mas que agora estava repleto de lembranças ruins. O porteiro até se assustou ao me ver, mas foi profissional, não criando problemas para que eu entrasse. Pelo estado do imóvel, um pouco empoeirado, ninguém esteve lá desde a saída da Maitê. Estava organizado e minhas coisas estavam em seus devidos lugares.
Já era noite e enquanto eu esperava a comida que pedi pelo aplicativo, tomei um banho para relaxar. Com saudade, não resisti e liguei para a Olívia. Achei que não seria atendido, mas estava enganado:
— Rafa? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Era tão bom ouvir a voz dela:
— Nada que eu queira falar agora. Eu só estava com saudade, queria ouvir sua voz.
Lembrei de uma informação relevante:
— Se eu não estou enganado, a cidade natal do seu pai fica a uma hora da capital, correto?
Ela confirmou e eu perguntei:
— Eu estou bem próximo de você, quer almoçar comigo amanhã?
Preferi não ser afoito, indo com calma. Ela revelou:
— Amanhã eu vou à capital, tenho um compromisso. Podemos …
Não resisti e a interrompi:
— Eu estou aqui, na capital, podemos nos encontrar. O que acha?
Ela estava surpresa:
— Nossa! Tá fazendo o que aí? Podemos sim. Me pega na rodoviária às dez da manhã?
Eu tinha tanta coisa pra contar e o telefone não era a melhor forma. Pedi:
— Eu conto tudo amanhã pessoalmente, pode ser? Estou feliz por você ter aceitado me ver … e ansioso.
Nós nos despedimos num clima muito gostoso e eu sabia que se fizesse as coisas corretamente, poderia ter Olívia de volta na minha vida. Eu só precisava ser honesto e decidido. Empolgado, senti que as coisas voltavam a dar certo para mim.
Lembrei da Tina também. Estar na cidade e não entrar em contato com ela, seria uma grade sacanagem. Fiz a chamada:
— E aí, ex-madrasta? Como você está?
Ela não estava muito feliz:
— Nada bem, ex enteado. A tristeza demorou, mas ela se instalou com tudo. Estou tentando esquecer aquele filho da puta do seu pai.
Achei que ela precisava de um ombro amigo, alguém que dividia aquela mesma tristeza com ela:
— Está em casa? Vou aí te buscar.
Ela se surpreendeu:
— Você tá na cidade? É sério mesmo?
Confirmei:
— Estou sim. Tenho novidades sobre aquele homem. O jogo começou.
Um pouco mais alegre, ela perguntou:
— Onde você está? Eu vou até você.
— Estou no apartamento que dividia com a Maitê. Vem mesmo, vou esperar.
Mesmo a contragosto, ela perguntou:
— Teve notícias dela? Pra onde ela foi?
Aquela era uma conversa para se ter pessoalmente:
— É uma longa história. Eu conto quando você chegar. Já comeu? Eu pedi comida, posso pedir para você também.
Ele se animou de vez:
— Chego aí em meia hora. Vou levar bebidas, estou precisando extravasar.
Tina levou quase uma hora para chegar e veio carregada. Cerveja, vodka, tequila … tinha quase de tudo. Ela estava mesmo com vontade de enfiar o pé na jaca. Passei por isso e sei como ela estava se sentindo.
Conversamos muito e eu fiz um resumo das coisas mais importantes para ela. Conforme íamos ficando embriagados, o clima entre nós começava a mudar. Tina se insinuava abertamente para mim e suas mãos começavam a ter vida própria.
Me pegando desprevenido e sem que eu esperasse, ela me beijou.
Continua ...