"Tudo certo pra hoje?"
"Sim"
"Não quer mesmo que eu te pegue de carro? Prometo que não vou te sequestrador. Hahaha''
"Hahaha! Eu sei. Mas eu prefiro ir de bicicleta. Não é tão longe"
"Certo então. 22:30?
"Sim".
— Com quem você tanto conversa, em? — perguntou a minha mãe.
— Com ninguém — Eu tentei conter um sorriso.
Isabelle riu.
"Eu tenho que terminar o jantar com a minha mãe" — mandei para o Frank.
"Ok. Então até mais tarde, Ethan"
"Até mais tarde, Frank".
//
Capítulo 3: Catarse
Depois de tomar um gole do seu suco de laranja, minha mãe disse:
— O Wade nos chamou para ir à casa dele hoje. Dessa vez você podia finalmente ir.
— Sim. Ele me chamou.
— Foi é? Quando?
— Ontem. Por que a surpresa? Não queria que nos aproximássemos?
— É claro.
— Ele só me chamou pra conhecer a casa dele — E transar lá. — Mas eu estava com o meu pai. E qual o problema?
— Nenhum, Ethan. Eu só fiquei surpresa, só isso. E uma surpresa boa, por saber que vocês estão se falando — Ela sorriu e deu uma batidinha no meu ombro. — Então, tudo certo pra gente ir, né? — acrescentou.
Eu assenti, com a boca cheia de panqueca, desejando que a minha mãe estivesse no trabalho, para eu ir sozinho com o Wade. Mas teríamos outras oportunidades. E de repente, me atentei a algo. Eu, absolutamente, não me sentia mal em ser amante do Wade. Este era o meu homem e o da minha mãe. Aliás, não me sentia o amante, parecia que a minha mãe é que era.
— Por que está me olhando assim? Está com raiva? — Isabelle indagou.
— Não. Eu só estava pensando que... Você ainda voltaria com o meu pai?
Ela engoliu em seco.
— Não, eu estou com o Wade agora — disse.
— Sim, mas vocês estão há pouco tempo. Isso poderia mudar.
— Você está querendo que eu termine com o Wade e volte com o seu pai, é isso?
— Não, claro que não. Eu só perguntei.
A minha mãe pareceu não se convencer.
— Mas você iria querer isso? — ela sugestionou, parecendo levar a sério essa ideia. — Iria gostar se eu voltasse com o Brian? — acrescentou.
— Eu não sei. Eu quero que você fique feliz com quem quiser, mãe.
— Nossa! Você não parecia tão decidido assim há algumas semanas — ela ironizou. — A viagem te fez mais bem do que imaginei.
— Pois é, você nem imagina. Mas você nunca se importou tanto com a minha opinião a respeito dos seus relacionamentos, não é mesmo? Pelo contrário — rebati. — Se eu dissesse que não queria ver o meu pai, o que você faria? Insistiria até eu dizer sim. Porque no final, é você que sempre ganha. É você que sempre tem a última palavra. Já tem o Wade, mas se quiser, tem o papai.
— Por que está falando assim comigo? O que deu em você agora? Jesus — Ela suspirou. — Por que as nossas conversas sempre viram uma bola de neve?
Tomou um gole de suco e enfiou na boca um pedaço de panqueca.
Talvez eu tenha exagerado um pouco.
— Mãe, me desculpa — Suspirei antes de continuar: — Às vezes eu me sinto tão... Impotente. E fico com tanta raiva e se... E se eu não for uma pessoa boa?
— Não diga isso, você não é uma pessoa ruim. Sabe, eu nunca te contei, mas eu me sentia tão carente quando eu era pequena. O meu pai era maravilhoso mas trabalhava tanto e quando ele estava em casa eu meio que lutava pela atenção dele. Com os meus irmãos e principalmente com a minha mãe. Disputando a atenção do meu pai com a minha mãe — Isabelle riu. — E ela sempre vencia, é claro. E quando ele se foi, eu fiquei despedaçada.
Minha mãe fungou antes de prosseguir:
— Eu culpei muito a minha mãe. A gente não se apoiou quando o papai morreu. Pelo contrário, a gente só se desgastou. Tudo o que eu queria era sair daquela casa. E então, aconteceu a mesma coisa com a Lucy. Ela foi embora. E sinto medo de você querer ir também. E eu acabar sozinha, como sempre. Mas eu não posso te prender aqui.
— Eu não vou a lugar algum.
Ela sorriu.
— Quando o Brian me traiu — continuou — , eu pensei que merecia aquilo, que realmente era culpa minha. Mas eu não aguentava mais ser tratada daquele jeito.
Até mesmo quando eu achava que não era sobre mim, na verdade era sim.
Cada um tem a sua história. Antes eu não percebia que a minha mãe também se sentia culpada, mesmo que a culpa não fosse dela. De alguma forma nos sentíamos culpados por estar perdendo aqueles que amamos. Deveria ter sido o contrário. Graças a Deus o meu pai percebeu isso também.
— Às vezes eu tenho medo de acabar como ele.
— Não. Você não vai acabar como o Brian. E você é uma pessoa boa, porque você sempre esteve comigo. Mesmo que tenhamos discutido um pouco nos últimos tempos, mas nos tempos realmente difíceis você estave lá comigo. Por isso, nunca duvide de quem você é.
Ela estendeu a mão sobre a mesa. Eu a toquei.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, mãe.
Após uma ligeira pausa, minha mãe disse:
— Você se sente sozinho? Eu trabalho tanto e o seu pai não estava aqui. Eu entendo você querer saber se eu posso voltar com ele. E às vezes eu penso que talvez seria melhor — Ela se emocionou um pouco.
— Mãe?
— O Wade é ótimo, mas eu não sei se a gente vai durar muito. Eu sinto que estamos ficando distantes, ainda mais depois que voltou da viagem.
— Como assim? Vocês parecem tão bem. Não foi por isso que insistiu para viajarmos juntos? Para fazer isso dar certo. Não faz sentido você dizer isso agora.
— Eu sei. Mas esse tempo que ficamos longe eu percebi que... O que posso dizer que estou bem sem o seu pai e que também vou ficar sem o Wade.
Tomei um gole de suco e falei:
— Isso parece ótimo. Essa segurança. Acho que é o tipo de coisa que todo mundo deveria ter.
— Não é? — Ela deu uma risadinha. Limpou a garganta e acrescentou: — O que quero dizer é que agora estou escolhendo o melhor para mim. Então, se isso me permitiria reatar com o Brian? Bom, eu acredito que sim, porque agora a minha felicidade não depende dele, nem do Wade. Mas de quanto eu me sinto bem.
Eu dei um sorriso de alegria e orgulho pela minha mãe. Fazia tempo que não nos conectávamos assim. Nossa vela de companheirismo esteve sempre ali, só precisava de umas faíscas para acendê-la.
— A gente já passou por tanta coisa que não faz sentido viver brigando o tempo todo. A gente merece ficar bem.
— Com certeza, mãe.
— E agora que o seu pai voltou eu espero que as coisas fiquem cada vez melhores.
Assenti.
— Então, vamos terminar nosso café — disse mamãe. — Daqui a pouco o Wade vai vir.
E às 9 horas já estávamos no seu jipe abelha.
— E aí, como foi com o seu pai? — Wade perguntou.
— Foi bom. A gente foi ao shopping, na casa dos meus avós...
E contei sobre o meu dia anterior com o meu pai, assim como contei ontem para a minha mãe, quando ela chegou em casa.
Antes de chegar na casa do Wade, mandei mensagem para o Dylan:
"Eu estou vendo sua mensagem agora". Menti. "Ontem tirei uma folga do celular".
O Dylan me mandou mensagem ontem mas eu não respondi. Uns 20 minutos depois, ele me respondeu:
"Sem problema. Mas está tudo bem?''
"Sim. É só algumas coisas de família".
"Se quiser conversar eu estou aqui".
"Obrigado".
A casa do Wade era murada. Rente ao muro branco ficava a garagem aberta. Tinha outro carro lá, um Sentra vermelho. E também uma motocicleta preta. Assim que saímos do jipe, um cachorro muito peludo, de cor bronze, veio saltitante até nós.
— Este é o jason — disse-me Wade.
— Oi, jason — falei.
Ele parecia um lobo, era grande e mansinho também.
Na varanda tinha uma mesa grande, algumas cadeiras e uma churrasqueira. Mais adiante, uma grande piscina, e ao redor: grama, coqueiros e outras plantas.
— Hoje está bom para um mergulho — Wade falou.
— Você gosta mesmo de água, em? — comentei.
— Já, já damos um mergulho — E piscou um olho para mim.
E entramos na casa. Era espaçosa, com paredes cor chumbo e móveis claros ou de madeira.
— Bela casa, Wade — comentei.
— Obrigado. Espero que você venha aqui mais vezes.
— Com certeza.
A minha mãe deu uma risadinha, toda contente.
— Vai ser bom vocês passarem mais tempo juntos — ela disse, e me lançou um olhar meigo.
Se ela soubesse o que o Wade e eu iríamos fazer aqui, a sós, passando tempo juntos. Mas de alguma forma, mesmo que sarcasticamente, aquele sorriso e aquele olhar me transmitiu uma sensação de permissão, uma aceitação no meu caso Wade. Afinal, ele agora não era o homem dela. Era o meu também. Um sentimento ambíguo, talvez, mas que me deixou aliviado.
Depois de mostrar um pouco a casa, o Wade arrumou algumas boias e uma bola. Enchemos um pouco antes de ir para a piscina. Então, tiramos as roupas e fomos para a água refrescante. Eu com um shortinho vermelho, o Wade de sunga laranja e a minha mãe, um biquíni amarelo coladinho no seu corpo magro. Esta, tomou mais banho de sol do que na piscina. Em certo momento ela saiu.
— Eu já volto — disse. E entrou na casa, provavelmente foi ao banheiro.
Olhei para trás e não vi o Wade. Então, de repente, senti um puxar pela minha perna. Eu ri. Lá embaixo da água, Wade e eu nos abraçamos por meio minuto.
Novamente na superfície, ainda colados, acariciei o rosto dele com minhas mãos.
— Não ficou bravo dessa vez — Ele riu.
Balancei a cabeça, sorrindo também. Depois, nos beijamos rapidamente.
Rimos.
O cabelo curto e arrepiado do Wade pingava e escorria pelo rosto dele. Toquei-lhe a face com as costas da minha mão, senti a penugem rala nas bochechas — e que ficava mais visível nas mandíbulas e ao redor da boca. Ele sorria sem mostrar os dentes, enquanto me olhava com seus olhos castanhos, claros e gentis.
— O que está olhando? — indaguei, sorrindo.
— Você.
Wade afastou os meus cabelos colados em minha testa.
— É tão lindo.
O pau duro dele roçou na minha barriga.
Eu só sorri com o rosto quente. Então, nos beijamos de novo.
★
Mais tarde chegaram alguns amigos do Wade. Eram dois homens carecas e de pele escura, e outro, loiro barbudo e muito musculoso — mais do que o Wade; e duas mulheres, uma morena que parecia de um grupo de K-pop, e a outra era loira e do cabelo até os ombros. Todos com corpos saudáveis, afinal, o Wade trabalhava no rumo dos esportes e academia, era comum ele ter amigos nesse perfil.
O Wade me apresentou todos eles. Tentei ser legal, sorrindo muito. Logo, estávamos todos na piscina.
Em certo momento, a morena indagou:
— Foi com o que mesmo, um pedaço de madeira?
Wade se recuperava do ferimento, já sem pontos. Os meus ainda estavam um pouco doloridos, mas não dava para perceber.
— Isso. Quando eu estava consertando a cerca a madeira quebrou de uma vez e me acertou.
Estávamos num canto da piscina, eu, minha mãe, Wade e as garotas, sentados na borda. Os outros três rapazes estavam do outro lado, brincando com a bola dentro da água.
— Entrou muito fundo? — continuou a morena.
— Um pouco.
— Que golpe perigoso, Wade — disse a loira. Bom que não foi em outro lugar. No peito ou no rosto.
— É. Eu tive sorte.
Engoli em seco e olhei brevemente para o Wade. Este fez o mesmo movimento antes de acrescentar:
— Mas o Ethan me ajudou na hora.
Todos me olharam, então eu disse:
— Eu sei algumas coisas que a minha mãe me ensinou. Ela até me obrigou a levar uma maleta de primeiros socorros para viagem.
Rimos.
— Que impressionante! Você ensinou técnicas de primeiros socorros ao seu filho e ainda insistiu que ele levasse a maleta. E tudo isso preparou você, Ethan, para aquele exato momento. Em que o Wade se machucou — disse a loira.
— É. Eu acredito que sim — falei, sorrindo para ela.
Ela tinha um ar gentil e uma espontaneidade. Amanda era o seu nome.
— Eu acho que foi intuição — acrescentou a minha mãe.
— Com certeza. As mulheres, principalmente as mães, têm facilidade em ter essa intuição. Esses dias eu estava lendo um artigo sobre isso, sobre essa sincronicidade — Amanda limpou a garganta e prosseguiu: — Vejam, nada é por acaso. Em um momento difícil muitas vezes antecede uma grande transformação. Agora Wade e o Ethan estão aqui tomando banho juntos porque houve essa catarse, essa purificação entre vocês depois desse trauma. Afinal, vocês não estavam se entendendo, não?
— Não, não mesmo — falei.
Rimos novamente.
Essa era uma boa história, desta resolução, dessa catarse. Wade se machucou, eu cuidei dele, e então, nos tornamos amigos.
Queria que tivesse sido simples assim. Uma catarse depois de um pequeno acidente, e não...
"— Ethan, você... você...
— Wade?"
Fui tirado das minhas lembranças pelos rapazes jogando água na gente. Eles gargalhavam enquanto as garotas tentavam se proteger com as mãos, dando gritinhos. Elas logo acabaram entrando novamente na água.
Logo depois, eu fui até a varanda e comecei a preparar um sanduíche. Não demorou para a minha mãe vir até mim. Enxugando a cabeleira castanha com uma toalha, disse:
— Eu vou tirar um cochilo. Se comporte — acrescentou.
Eu revirei os olhos, sorrindo. Passei geleia no pão e dei uma mordida.
— Oi, Ethan — disse o barbudo musculoso.
— Oi.
Michael era o nome dele. Estava com o cabelo molhado, loiro e com o corte na altura dos olhos.
— Preparando um sanduíche?
— É.
— Vou fazer um pra mim também.
— Tá — dei uma risadinha.
Michael pegou uma fatia de pão e passou pasta de amendoim.
— E então, você tem quantos anos? — aventurou.
— Dezessete.
— Novinho. Haha.
— Quase dezoito — acrescentei.
— Bom.
— E você?
— 28 — Depois de uma ligeira pausa, aventurou: — Curte caras musculosos?
— Sim. Por quê?
Então, ele contraiu o peitoral.
— O seu corpo é muito bonito — eu disse, sorrindo.
— Valeu. Gostou? — E flexionou o bíceps direito.
Exibido. Mas gostoso, muito gostoso. Ele também tinha algumas tatuagens tribais.
— Uau! Você deve malhar bastante.
— Todo dia. Eu sou personal trainer, inclusive o do Wade.
— Achei que vocês fossem só amigos.
— O Wade e eu nos conhecemos há muito tempo.
O Wade me olhava no canto da piscina. Ele estava sério, mesmo brincando com os amigos.
Michael me fez voltar a atenção para ele:
— Posso ver os seus olhos novamente?
Eu estava de óculos escuros. Os levantei até a cabeça.
— Que olhos lindos.
— Obrigado — falei, risonho.
Peguei a faca e comecei a cortar alguns morangos.
— Tome cuidado com essa faca. Me dê aqui, deixa que eu corte pra você.
— Acho que consigo sozinho — Eu ri, sem entregar a faca ao Michael.
— Tem certeza? Não queremos que alguém volte a se machucar — Ele deu uma risadinha.
— Quê?
O meu sorriso sumiu. Olhei para o Wade e novamente para o Michael.
— O Wade ele? Ah. Com licença — gaguejei.
— Espere — Michael entrou na minha frente —, me desculpa, eu não quis...
— O que aconteceu não foi nada engraçado.
— Eu sei. Me desculpa, de verdade.
— Só me deixe ir, por favor.
— Tá.
Ele saiu da minha frente, e então, fui para dentro. Bebi um copo de água. Não demorou para alguém chegar na cozinha.
— Está tudo bem? — Wade disse chegando até mim. Tocou no meu ombro e perguntou o que eu e o Michael conversamos.
— Algumas coisas.
— O Michael é gay — comentou.
— É, eu percebi.
— Ele deu em cima de você?
— Talvez — eu ri e depois voltei a ficar sério.
— Ei, o que foi? Por que essa cara?
— O Michael me disse umas coisas e... Ele deu a entender que — fiz uma ligeira pausa antes de continuar: — Você disse que ia ficar só entre a gente mas você contou pra ele.
— Como assim?
— Ele sabe que eu quase te matei na fazenda.
Após uma pausa, Wade falou:
— Ethan, eu contei pra ele porque... Eu não sei — Ele suspirou. — Eu precisava desabafar, eu acho. Foi bem no início, quando eu saí para Greenville naquela manhã. O Michael me ligou quando eu estava no hospital e eu acabei contando.
— Mas por que escondeu isso?
— Não achei que precisava contar. O Michael é gente boa.
— Ele debochou de mim. Praticamente me chamou de o maníaco da faca — dramatizei.
— O quê? Ele disse isso?
— Não foi exatamente isso. Mas me chateou.
— O Michael costuma ser brincalhão, mas tenho certeza que ele não fez por mal.
— Pode ser.
— Eu vou conversar com o Michael. Ele não vai te incomodar outra vez.
— Não precisa. Está tudo bem. Ele percebeu que não gostei, até me pediu desculpas — bebi mais água e perguntei: — Você contou pra mais alguém?
— Só para o Michael. E eu fiz ele prometer que não contaria pra mais ninguém.
— Bom... Pra mim ele falou — Eu dei uma risadinha. — Mas você só contou isso pra ele, não foi? Não falou que a gente...
— É claro que não contei sobre nós — ele tentou me acalmar. — Eu vou ter mesmo uma conversar com o Michael. Está tudo bem.
— Wade, só de lembrar do que aconteceu — choraminguei.
— Ei, não... Você está tremendo.
Wade pegou na minha mão e me levou para dentro da despensa. Fechou a porta.
— O que aconteceu já passou, não vamos mais falar disso — ele disse, me abraçando. — Está tudo bem.
E me aconcheguei no corpo dele.
— E aconteceu com aquele Dylan? — Wade mudou de assunto. — Conversou com ele?
— Um pouco. Não foi você que insistiu para conversar com ele?
— Talvez eu não tenha me expressado muito bem antes, quando eu disse pra você conversar com aquele cara — Wade disse no meu ouvido: — Eu quis dizer que era para você escolher o que queria fazer, sem se importar com o que foi ou com o que poderia acontecer entre a gente.
— Quem eu quero é você — No mesmo instante que falei isso, Wade me virou de frente para ele e me beijou.
— É? — sua voz foi sedutora. Me beijou.
— Eu não quero saber de ninguém, só de você? — falei no ouvido dele.
Ele voltou a me beijar. Depois, abriu um pouco a porta e olhou para fora. A fechou novamente e colou as costas nela.
— Vem cá — Me chamou para os seus lábios. Em seguida virou-me, abaixou a minha bermuda e passou o pau salivante na minha bunda.
Comecei a gemer, mas logo o Wade abafou a minha boca com a mão dele. A sua respiração quente batia em meu pescoço.
— Wade, eu não...
— Só um pouquinho — Ele mordiscou a ponta da minha orelha. Então, disse: — Fique comigo, Ethan. Depois do que passamos, do que vivemos... Você faz parte da minha vida agora. Fique comigo.
— Sempre, Wade.
Acho que ninguém é realmente bom ou ruim, mas ambos. Estorninhos não são maus por destruírem uma plantação inteira de um pobre coitado, por que eu seria por foder com o namorado da minha mãe, enquanto esta dormia no quarto dele? Esses pensamentos volta e meia passavam pela minha mente. Pensamentos repetitivos. Explicações repetitivas. Foda-se. Eu só estava com o Wade. E era ali que eu queria estar. Naquele cômodo abafado com o calor dos nossos corpos, com o calor do nosso tesão, do nosso amor. Sentindo nossas respirações e fluidos. O suor, saliva e esperma. E o cheiro disso tudo...
— Ahhh!
//
Hálito fresco, aura de perfume, me olhei uma última vez no espelho, e então, desci para a sala.
— Aonde vai? — perguntou a minha mãe.
Ela assistia TV.
— Vou dar uma volta com a galera.
— A essa hora?
— Mãe, hoje é sábado.
— Tá. Mas não chegue muito tarde.
Peguei a minha bicicleta e pedalei pelas ruas de Atlanta, às 10 da noite. Bem agasalhado, porém, sentia um frio que não podia aquecer. O da ânsia em conhecer o Frank. Pedalei e pedalei, até o meu destino.
O bar era afastado da rua e se chamava "Toca do Lobo". Tinha algumas motocicletas na frente e, depois delas, uma caminhonete vinho e outros dois carros.
"Já cheguei".
"Estou no final do bar. Mesa do canto.''
O estabelecimento tinha um estilo country. A ornamentação, a música e algumas pessoas — chapéus, botas, barba, canecas, tabaco. Vi alguns caras jogando sinuca. Estavam com jaquetas, provavelmente eram os motoqueiros. A maioria dos clientes estavam no balcão. Do lado esquerdo tinham algumas mesas com assentos de couro e lá, no final dele, o Frank. Ele se levantou ao me ver. Sorridente, caminhei ao seu encontro.
Nos abraçamos ao nos cumprimentar. O cheiro dele ficou um pouco comigo. Um aroma semelhante à menta. O Frank usava um casaco de touca acinzentado ou púrpura — talvez por causa da iluminação. Ele era um pouco retraído, não sei. Até mais do que eu, ali, tendo o meu primeiro encontro. A gente já tinha conversado bastante, mesmo assim, eu sentia aquele frio na barriga.
— Vem muito aqui? — perguntei.
— Quase toda semana. Eu tenho um amigo que trabalha aqui, mas ele já deve ter ido embora. Está com fome? Aqui tem alguns bons aperitivos.
— Não, estou bem — disse, tirando o meu casaco marrom.
— O que quer beber?
Escolhi um coquetel de morango e o Frank outra cerveja. A garçonete não demorou para trazer.
— Que tal o drink?
— Bom. Acho que é o meu favorito — falei. — Quer experimentar?
Suguei um gole da minha bebida e dei ao Frank para tomar também.
— Muito bom. Combina com você. Um drink de morango.
Eu dei uma risadinha e perguntei:
— Como vai a faculdade?
Ele estudava arquitetura.
— Bem — respondeu, sorrindo.
Covinhas.
— Estou muito contente por já estar terminando o curso — acrescentou.
Ao levar a caneca à boca, um bigodinho de espuma se formou nele. Tinha um rosto cheio, sem barba, olhos verdes e o cabelo castanho, penteado para o lado direito. Ele não era gordo, mas não era magro.
— Me dê a sua mão — pediu.
Ele a acariciou quando eu a estendi na mesa, e o meu pulso também.
— Gostei da sua pele. Tão macia e quente.
Os dedos dele estavam gelados por causa da caneca de cerveja. Mas não me arrepiei por causa disso. Era a primeira vez que alguém me tocava assim. Transmitindo uma energia de romance e desejo por mim.
— E então, o que achou de mim pessoalmente? Você gostou?
— Gostei — falei, sorrindo e com as bochechas quentes.
— Isso é bom.
— E você gostou de mim? — Eu ri.
— Ah, com certeza. O seu sorriso, os seus olhos... Você é lindo.
Eu sorri, quentinho.
Depois de um minuto inteiro me olhando, Frank em enfim acrescentou:
— Sabe de uma coisa — Ele se inclinou na minha frente e completou: — Vamos embora, quero te comer agora.
Engoli em seco.
— Ah... O quê? — Eu sorri amarelo.
— Vamos para o meu apartamento. Eu posso te deixar em casa depois.
Fiquei quase um minuto inteiro em silêncio.
— O que foi? — Frank indagou, depois de tirar a carteira do bolso.
— É que esse não foi o nosso combinado, não se lembra? — falei.
Ele franziu a testa antes de responder:
— Sim, mas... a gente já se conheceu e eu pensei que você poderia mudar de ideia agora.
— Você está falando sério? A gente combinou de se conhecer primeiro e depois...
— Eu sei, mas eu esperei tanto por isso. Vamos, você vai gostar. Não vai se arrepender.
— Eu não estou preparado para isso hoje. Eu vou com você outro dia, como a gente conversou.
Frank me assustou ao bater na mesa. Me encarou.
— Isso é sério? — falou.
Limpei a garganta e me levantei.
— Então, a gente conversa melhor depois — disse.
Frank segurou o meu braço.
— Espere. Não, vá. Me desculpa, Ethan. Fique, por favor — ele gaguejou.
— Já está tarde — Rapidamente vesti o meu casaco.
— Vai me deixar aqui? Assim? — Ele apertou o volume duro nas calças.
— A gente veio aqui para se conhecer. E nesse momento você não está sendo nada parecido com o que imaginei.
Frank ficou quieto, me olhando.
— Boa noite, Frank.
Então, virei as costas e saí do bar. Porém, antes que eu chegasse na minha bicicleta, fui surpreendido com um aperto forte em meu braço.
— Você vem comigo — disse Frank.
— Que porra é essa, cara? Vai me obrigar a ficar contigo?
— O meu carro está logo ali. Vamos — E andou me levando junto.
— Você é louco. Frank, me solta. Qual o seu problema? Você estragou tudo.
Ele parou.
— Eu já disse que você vai gostar. Está sendo dramático, você vai ver.
— Me solta ou eu grito.
— Viu só. E eu já disse que te deixo em casa depois, não tenha medo.
O Frank poderia ser um sequestrador, um estuprador, ou pior, um assassino em série. Meu Deus, eu estava perdido.
— Me solta, seu psicopata! Me solta! — Dei tapas nele, enquanto me debatia.
— Ah, eu gosto assim — Ele riu.
Passamos pelas motocicletas.
— Eu não vou com você. Me deixe ir, por favor. Solte-me! Socorro!
— Cala essa boca!
— Socorro! Socorro! — Eu berrei, já em lágrimas.
Frank abriu a porta do passageiro da caminhonete vinho.
O meu corpo inteiro se contorcia em medo, não paralisante mas ávido por sobrevivência. Como uma presa fugindo de milímetros das garras de um felino.
— Socorro!
Então, as portas do bar se abriram e cinco motoqueiros chegaram até nós.
— Solte o garoto — exclamou um deles.
— Está tudo bem — disse Frank. Ele só está nervoso.
— Me ajudem — choraminguei. — Ele quer me levar à força.
— Quem é você? Solte o garoto. Ele não quer ir com você — disse outro motoqueiro.
— Fica na tua. Isso não é da conta de vocês!
— Ele quer abusar de mim.
E foi quando os motoqueiros partiram para cima do Frank. Derrubaram-no e deram-lhe chutes, chamando-o de abusador, covarde e outras coisas. Enquanto isso, corri para a minha bicicleta e fugi.