Quando me recuperei, fui procurar Renata, saindo apressadamente do nosso quarto. Depois de procurar em todo piso superior, fui até o piso inferior, onde a encontrei em um pequeno quarto no final do corredor. Ela estava sentada na cama chorando de forma contida, para não chamar a atenção. Eu me aproximei tentando de alguma maneira acalmá-la, para que pudesse explicar tudo o que aconteceu. Assim que me viu, ela me olhou com raiva e desprezo, como se, naquele momento, me quisesse morto. Assim que fiz menção em falar algo, ela simplesmente se levantou e, em um rápido movimento, desferiu um tapa em minha cara, seguido de outro e outro. Para que parasse com aquelas agressões, tive que segurar seus braços e forçar que se sentasse na cama. Sentada ali enquanto a segurava, percebi que ela se sentiu subjugada, então a soltei. Assim que o fiz, ela me olhou com aquela expressão de raiva e me disse:
– Sai daqui Paulo, eu não quero te ver!
– Renata, precisamos conversar. Eu sei que fui um idiota e sei que te machuquei de uma forma horrível, mas eu te amo e quero tentar resolver isso.
– Me ama? Você transou com a minha irmã seu maluco. Onde está o seu amor? Eu te digo onde Paulo, no meio das pernas dela, seu babaca miserável.
– Eu não… as coisas não aconteceram da forma que você pensa. Eu fui fraco, mas não foi algo que planejei.
– Eu não quero saber disso, só vai embora daqui, eu quero ficar sozinha.
– Ela fez aquilo pra se proteger e eu acabei caindo na armadilha dela.
– Você está jogando a culpa pra cima dela? Como você pode fazer isso Paulo? As nossas vidas, a nossa família, você não pensa em nada disso?
– Claro que penso! Eu não estou jogando a culpa nela, estou falando o que ela mesma me disse.
– De que merda você está falando?
Naquele momento, não havia motivos ou razões para esconder o que sabia, então decidi contar tudo a ela. A conversa foi longa, onde contei detalhadamente tudo que aconteceu aquela noite na confraternização e minha conversa com Ana no shopping. Renata estava estática, e pasma com tudo que eu lhe contava. Em momento algum ela me interrompeu ou retrucou, apenas ouviu em silêncio até que eu terminasse. Ao fim de tudo, ela abaixou a cabeça e levou as mãos até ela, tentando digerir todas aquelas informações.
– Você não está mentindo, está?
– Claro que não, Renata. Eu estou falando a verdade!
– Seu canalha. Você sabia disso tudo, ouviu tudo e mesmo assim me deixou lá naquela sala com ele? Paulo você escolheu seu prazer ao invés de me ajudar. Você escolheu me testar ao invés de me tirar de lá. Você acha que tudo isso vai te ajudar? Eu só estou percebendo o quão ordinário você é.
– Renata, eu… calma… não é isso.
– Apenas me deixa aqui tá, eu preciso pensar.
Renata já falava comigo com um tom mais leve, tentando absorver e entender tudo aquilo. Achei melhor seguir o que ela me pediu e deixá-la ter um tempo para pensar. Mas assim que fui sair do quarto, João abre a porta e entra. — Bora lá Renatinha, não vamos a praia hoje? — Rindo de orelha a orelha, ele se dirigia a ela como se não tivesse provocado toda aquela merda de situação. Minha esposa o olhou nos olhos e com raiva, se levantou e foi até perto dele, lhe dando um belo tapa na cara. — Mais que porra essa? — Berrou João levando sua mão ao rosto, olhando com os olhos esbugalhados para ela. — Que porra é essa digo eu. Você está chantageando minha irmã e ainda mandou ela me arrumar pra você. Seu merda, parte disso é culpa sua! — João me olhou, incrédulo com o que acabou de ouvir, voltando seus olhos a Renata novamente. Eu então lhe contei que ouvi e vi tudo que aconteceu lá, da conversa dele com Ana, do outro diretor que ela tinha um caso e da chantagem dele. João ficou tão atônito que se sentou na cama.
– Mas que diabos está acontecendo aqui? Vocês são malucos, não é possível.
– Maluco é você por fazer isso com aquela idiota da Ana. É igualzinho esse ai, que me traiu por causa dela.
– Vocês são idiotas! Eu nunca fiz chantagem nenhuma com aquela puta por causa do caso dela. Ela ficou com o Murilo e passou a ter um caso com ele, como somos amigos, ele me contou tudo. Entenderam? Eu sempre soube do caso deles.
– Tá, mas aí você chantageou ela pra ficar com você também. Foi o que ela me contou.
– caralho Paulo, aquela puta desgraçada, tá mentindo! Eu fiquei com ela porque ela e o Murilo me convidaram pra fazer um ménage. Segundo ele, esse era um desejo dela.
– Mas que merda você tá falando? Minha irmã queria fazer com vocês dois?
– É isso aí! Eu posso ligar pra ele e vamos ver quem está mentindo aqui.
– Tá mas você a pressionou para que pudesse ficar comigo.
– Claro! Você é gata e, além disso, ela fez muita merda comigo.
– Como assim?
– Aquela vadia da sua irmã não presta. Ela descobriu um caso antigo meu e, somado ao ménage que fizemos, ela usou essas duas cartas pra me chantagear e conseguir uma promoção. Eu tive que fazer de tudo pra ajudar aquela merdinha, mas eu sou vingativo e não ia deixar aquilo barato.
– Caralho, bem que o pessoal lá na empresa falava que ela estava subindo de cargo muito rápido. Então foi assim. Mas porque você parecia estar no controle naquele dia?
– Porque? Eu disse que sou vingativo. Fuçando e ficando de olho nela, descobri que sua cunhadinha estava se aproveitando do cargo novo para desviar dinheiro da empresa. Descobri isso um dia antes da confraternização, hahaha. Aquela merdinha ficou apavorada e não teve como fazer nada. Então quando vi a sua esposa naquele vestidinho maravilhoso eu fiquei completamente doido por ela. Então tentei fazer uma troca com sua irmã, você pelo meu silêncio.
– Cara você não presta!
– Falou o sujo do mal lavado. Mas se é assim, já que você não conseguiu nada comigo, então… o que você fez?
– Continuei tentando. Acha mesmo que foi o acaso eu estar naquele shopping? Logo na loja onde vocês dois estavam e depois na loja que foi com ela. Renatinha, sua irmã me ajudou, me dando todas as informações que precisava. A Ana não presta, eu não já disse?!
– Aquela filha da puta me enganou, mentiu na minha cara quando perguntei o motivo daquilo tudo.
– Claro que mentiu Paulinho, é o que mais ela faz.
– Mas e as provas que ela juntou contra você? Do seu caso e tudo mais.
– Ela perdeu parte da força quando minha mulher soube que eu tinha um caso. Ela não sabia com quem, mas desconfiava de sua irmã. Por isso estou aqui. Estou em processo de divórcio.
– Isso é sério?
– Claro que é Renatinha, estou dizendo a verdade nua e crua.
– Mas se ela ainda tem parte dessa força é porque a coisa é mais embaixo.
– Claro, eu comi a filhinha preferida do patrão.
– Puta que pariu, João você comeu a filha do sr. Francisco?
– Claro que comi meu caro Paulo, hahaha...
– E o que isso tem de mais?
– Tem e muito. Todos na empresa sabem disso, não é Paulo? A garota é super protegida por ele, sendo que se ele descobre algo, como o que fiz, ele, além de me mandar embora, mandaria me darem uma surra ou até mesmo me matar.
– Matar?
– Nessa ele tá falando muito sério amor, o sr. Francisco é meio maluco em relação à filha. Uns três funcionários já foram demitidos por darem em cima dela e outros 2 que ficaram com ela, além da demissão, foram espancados depois de saírem da empresa. Ninguém tem provas, mas todos sabemos que foi ele o mandante.
– Você por acaso é maluco João? Porque diabos fez isso?
– Pela adrenalina Renatinha. Ela é uma gostosa e eu não podia deixar passar.
– Tá eu entendi e não é esse o foco da conversa. O que eu quero saber é, em relação a minha irmã, você tem provas de tudo que disse?
– Além do amante dela que confirmaria tudo, o seu marido e claro, as provas dos roubos dela. Essas aí estão bem guardadas!
– Eu quero que me dê essas provas e pare com essa chantagem.
– Não vai rolar! Sua irmã é uma vadia maluca que iria me ferrar assim que eu não tivesse mais nada contra ela. Inúmeras vezes ela aceitou ir ficar comigo só pra tentar pegar as provas, mas ela nunca conseguiu. Talvez, e só talvez, ela tenha contado essa historinha pro seu marido só para ele ajudar com isso.
– Faz sentido Renata.
– Cala a boca Paulo, você fica com ela e depois quer escapar pelas beiradas, toma vergonha na sua cara. João eu tô falando sério, eu quero as provas.
– E o que eu vou ganhar com isso?
– Nada!
– Então nem pensar. Eu vou continuar com isso até aquela maluca morrer. Ela mexeu comigo primeiro, então que se dane.
– Olha essa merda Paulo, olha no que você nos meteu.
– Eu meti?
– É claro seu idiota. Se você tivesse agido que nem um homem de respeito, não estaríamos aqui nessa situação. Agora você me traiu, minha irmã tá metida nessa merda e tem o João. E depois disso tudo eu ainda quero ajudar aquela merda de irmã. Mas que inferno, eu to com raiva, confusa e vocês não ajudam em nada. Vão embora, saiam daqui e me deixem sozinha.
Saímos do quarto deixando Renata lá, tentando se acalmar e absorver tudo o que soube. Eu também estava pasmo, sem saber o que fazer, depois de tudo aquilo. “Fui usado”, pensei comigo mesmo enquanto ia à cozinha tomar um copo de água. João saiu resmungando sobre a praia que Renata ia nos levar, falando que era melhor ter mostrado o vídeo depois. “Aquele filho de uma cadela, eu deveria matar esse merda”, pensava em meio a raiva que sentia por ele. Aquele dia passou dessa forma, Renata trancada no quarto, eu na sala tentando me distrair e o João fora, provavelmente bebendo e frustrado. Já à noite, Renata saiu e perguntou sobre João, ao qual disse ter saído. Ela então aproveitou esse momento para ter uma conversa franca comigo. — Eu liguei para minha irmã. — me disse sentada ao meu lado no sofá. — Parece que as notícias sobre vocês já chegaram no Nando. — Continuou a falar com uma voz cansada. “Puta que pariu, o Fernando já sabe, agora ferrou tudo!” Pensei enquanto olhava em seus olhos. — O que aconteceu? — Perguntei um pouco aflito, mas tentando não transparecer.
– Eu disse que sabia de tudo sobre vocês, falei do vídeo que o João mostrou. Ela começou a chorar e me contou que não só foi o vídeo de vocês que eles acharam, mas também ela entrando com o João e o outro naquela sala que você falou ter visto eles. Alguns amigos dele que trabalham lá mandaram os vídeos para o Nando e depois de saber que foi traído por ela com três homens, ele ficou maluco, esculhambando ela de todas as formas e saiu do hotel em que estavam. Provavelmente voltou para casa. Eu claro, queria falar um monte pra ela também, xingar, gritar, falar tudo, mas não consegui! Fiquei com pena dela, mesmo depois de tudo. Eu gosto tanto dela e ela faz isso.
– Perdão amor, eu sou o pior!
Disse a abraçando, enquanto ela se desmanchava em lágrimas, perdida e ferida, sem ter a quem recorrer naquele momento tao sombrio e confuso. Como sempre fui aquele que esteve ao seu lado em momentos difíceis, ela acabou recorrendo a mim, mesmo sendo o culpado de sua dor e sofrimento. Apenas ficamos abraçados lá, por um bom tempo, até ela interromper nosso abraço, me olhando nos olhos.
– Paulo, preciso te contar algo, algo do nosso passado.
– Pode falar meu amor.
– Quando estávamos na faculdade, Ana sempre estava por lá, mesmo ainda não cursando nada. Ela vivia no meu pé e como sempre gostei dela, sempre aturava aquele jeito maluquinho dela. Mas o motivo para ela sempre ir lá, era alguém que ela estava apaixonada. Eu não sabia na época quem era, até o dia em que ela tomou coragem de me mostrar. Eu fiquei em desespero naquele dia.
– Ué, qual o motivo disso?
– O motivo do meu desespero, foi saber que acabei roubando a pessoa a qual ela era apaixonada.
– Como assim?
– Você! Paulo a Ana sempre foi apaixonada por você.
Naquele momento eu simplesmente não tive reação ou qualquer pensamento, me senti tão perdido que só voltei a mim quando ela me sacudiu, chamando meu nome.
– Ana… apaixonada por mim?
– Ela sempre foi, e tenho certeza que ainda é!
– Ela sempre amou o Fernando e sempre fez questão de mostrar isso.
– Ela sempre fez questão mesmo, provavelmente para colocar na cabeça dela que deveria ser assim. Mas eu sempre desconfiei que ela ainda sentia algo. Ela se tornou próxima a você de outras formas, sendo uma amiga, sendo colega de trabalho e sempre arrumando programas em casal. Eu achei que ela tinha redirecionado aquela paixão, para que eu fosse feliz. Mas acho que ela só estava se escondendo do que sentia.
– Você está tentando dizer que aquele dia foi uma oportunidade que ela aproveitou?
– Sim, eu acho! E como você cedeu, ela criou certo esperança nisso. As lágrimas que ela derramou quando falei com ela, não eram pelo fim de seu casamento, mas sim por ter me apunhalado, fazendo o que fez com você. Pensei tanto nisso que não consigo parar de pensar que de certa forma, ela tentou lutar por aquilo que roubei dela há muitos anos.
– Mas eu sempre fui apaixonado por você Renata! Desde aquela época eu nunca quis outra. Eu te amo!
– E eu também amo você Paulo! Mas apesar disso, você ficou com ela e deu esperanças a ela, além de me machucar. É como se por decisão que tomei há tantos anos, o destino está brincando com a vida de nós três.
Ela começou a chorar de novo e novamente a abracei, tentando a consolar. Acabei pegando no sono e quando acordei, já tarde naquela noite, Renata não estava mais lá, “Provavelmente voltou para o quartinho.” pensei comigo mesmo. Tomei uma água na cozinha, relembrando tudo o que ela me contou, sem ainda acreditar em tudo que aconteceu nas últimas duas semanas. Pela janela vi que o carro de João estava lá fora, o que indicava que ele já tinha voltado. Eu já ia subir para nosso quarto, mas quis ver como ela estava, então decidi ir até o quartinho e espiar um pouco. Chegando lá ouço a voz de João, que conversava com ela.
– Sério Renata, já tem meia hora que você tá nessa lenga, lenga. Oi você aceita meus termos ou eu simplesmente continuo minha vida tranquilamente.
– Eu não vou ficar com você!
– E eu não vou entregar as minhas provas pra você de graça.
O merdinha estava tentando se aproveitar de toda aquela confusão pra se dar bem. Eu estava incrédulo de quão filha da putal aquele cara era e mais ainda por ver o quão determinado ele era, já que legou tantos foras dela que dava até dó. Mas ele estava ali, lutando para tomar o que sempre foi meu.
– Cara como você é escroto, eu não vou ficar com alguém tão baixo e canalha como você.
– Seu marido é pior que eu, nunca comi nenhuma irmã da minha esposa.
Renata ficou calada pela cortada que recebeu, enquanto eu estava furioso com aquele merdinha. Mas não podia entrar ali sem mais nem menos, já que poderia estragar tanto a minha tentativa de reconciliação quanto a tentativa de Renata em proteger a irmã. Então continuei ouvindo, preparado para entrar se algo saísse fora do controle.
– Vamos fazer assim, primeiro você paga a prenda que está me devendo. Amanhã vai ser a véspera de ano novo e foquei sabendo que aquela praia tem uma festinha de virada, onde geral fica peladão. Então eu pensei em irmos a festa, já que você tá me devendo uma visita à praia. Claro, vamos curtir só nós dois.
– Se for pra fazer isso, eu vou levar o Paulo.
– Mas que mané Paulo, deixa ele ai e gem curtir comigo uma vingança.
– Você que sabe, eu aceito você me ver nua pagando a prenda, aceito ir a praia,as com ele junto e por último, saiba que nada mais que isso vai rolar. E então?
– Tá bom caralho, eu aceito essa merda de programação. Mas a prenda, como não está chovendo, eu vou mudar.
– Como?
– Eu quero que você cumpra a prenda, mas ao invés de correr nua na chuva, você vai dançar nua pra mim, de forma bem sensual.
– Não vou fazer nada disso.
– Não impôs suas regras? Qual o problema de eu impor umas minhas também? Vai ou não?
Renata estava em silêncio e um frio percorreu minha espinha, sem saber o que ela iria responder e pior, qual o rumo tudo aquilo iria tomar.
