TINHA QUE SER VOCÊ - 11: FUTURO INCERTO (JOÃO)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1805 palavras
Data: 11/03/2024 01:50:32

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CAPÍTULO 11: FUTURO INCERTO

NARRADOR: JOÃO

— Para, José. — reclamei, enquanto seguíamos o Hector em direção a casa da família Telles.

— Será que eles emprestam uma graninha? Eu tô precisando de um trocado para comprar uma moto. — meu irmão soltou, talvez tentando mascarar o seu nervosismo.

— Olha só. Eu sei que isso não é fácil. — chamei a sua atenção, mais grosseiro do que gostaria de parecer. — Então, se controle, por favor.

Que lugar enorme. A casa da minha família biológica está localizada em uma das áreas mais ricas do Rio de Janeiro. Depois de passar por algumas ruas, o meu ficante entrou em um terreno gigantesco. No fundo, uma mansão chamou a minha atenção. Do nada, o José quase vai parar na frente do carro. O meu irmão se debruçou e ficou maravilhado.

— É aqui que a família de vocês mora. — avisou Hector, estacionando o carro e tocando no meu ombro. — Vai dar tudo certo.

— Ok. — respirei fundo e saí do carro.

Uma moça usando uma espécie de farda nos atendeu no estacionamento. Ela nos guiou para dentro da casa, ou melhor, mansão. O interior da residência era um contraste gritante com a simplicidade da vida que o José e eu conhecíamos. Cada passo que dávamos sobre o piso polido era como uma confirmação de que estávamos entrando em um universo desconhecido.

Nem preciso dizer que o José estava encantado com a grandiosidade da casa. Seus olhos brilhavam com a luz dos lustres extravagantes que iluminavam o caminho. Ele admirava cada detalhe, como se estivesse entrando em um novo reino. Para o meu irmão, aquilo se tornou uma possibilidade de vida melhor, uma realidade que eu ainda tentava assimilar.

De nós dois, o José sempre foi o mais deslumbrado. Teve uma vez, que ele fingiu ser um garoto rico para impressionar uma garota. Lembro que o José trabalhou quatro meses para levá-la em um restaurante bacana. Nem preciso dizer, que a moça o trocou por alguém rico de verdade. Pelo menos, ele nunca apelou para caminhos fáceis como muitos outros garotos do bairro seguiram com o passar do anos.

Ao meu lado, o Hector caminhava conversando com a moça que nos recebeu. O seu nome era Aline e trabalhava para a família Telles há 10 anos. O Hector é demais. Ele sempre me passava uma sensação de confiança, mesmo quando eu não acreditava que as coisas iam dar certo. Fora os beijos e carícias que trocamos. Ok. Isso não é o momento para pensar na boca do Hector. Abstrai, João!

A casa parecia não ter fim, os seus cômodos intermináveis me faziam sentir dentro de um labirinto. Passamos pela sala principal, onde os quadros enfeitavam as paredes. Nas fotos, os momentos felizes da família ao longo dos anos. A sensação era de estar em uma novela, aquelas onde a família da alta sociedade mostra que os ricos também choram. Eu me questionava se aqueles retratos refletiam a verdadeira felicidade dos Telles ou eram apenas poses calculadas para deixar o ambiente mais harmônico.

Os móveis eram luxuosos, cada peça parecia ter sido escolhida a dedo para compor o cenário de elegância e riqueza. Um som de instrumento clássico ecoava pelo corredor, contrastando com o barulho que se formava dentro de mim. O José, por outro lado, parecia ignorar a tensão. Ele explorava cada canto da casa como se fosse uma criança em uma loja de brinquedos.

— Não toca ai. — alertei, quando ele tentou pegar um vaso.

— Para papai, eu só achei o vaso bonito. — ele deixou o objeto no lugar.

Porém, o meu irmão ficou boquiaberto quando viu a piscina, que ficava na área externa da mansão. Havia também um jardim bem cuidado e uma enorme quadra de esportes. Enquanto isso, eu me sentia como um intruso, uma peça fora do lugar. Eu travei ao ver o Jayme e a Patrícia sentados ao redor de uma mesa cheia de doces.

Hector, percebendo minha hesitação, aproximou-se e sussurrou: "João, você está bem?". Balancei a cabeça, tentando acalmar os nervos que me atraíam naquele momento. Não estava apenas enfrentando o desconhecido, mas também a verdade que me foi revelada recentemente.

Finalmente, chegamos nos aproximamos de Jayme e Patrícia A ansiedade pairava no ar quando Hector, o mediador entre dois mundos, nos apresentou. Enquanto a conversa se desenrolava, eu lutava para equilibrar o peso da revelação com a necessidade de compreender o passado e dar algum conforto aos pais biológicos que tanto haviam sofrido.

O bate-papo parecia mais uma entrevista de emprego. As perguntas deles eram formais demais. Eles queriam fazer um levantamento da nossa vida acadêmica? Quanto mais o tempo passava, mais eu queria implorar para que os Telles não fizessem nenhum mal para a mãe e o pai. Eu sei que eles são os meus pais biológicos, mas, ao mesmo tempo, são meros estranhos, que estão tentando forçar uma aproximação.

— Por favor, não façam nada com os nossos pais. — pedi. Acho que surpreendi a todos, pois o silêncio reinou entre nós.

— Não, não vamos fazer nada. — garantiu Patrícia, que respirou fundo e tocou no meu rosto. — Vocês são tão parecidos com o Jayme.

— Sim! — o Jayme exclamou, pegando um álbum de fotos e mostrando um retrato seu na adolescência.

— Deixa eu ver. — o mal educado do José puxou a foto das mãos. — Caramba, olha só essa maluquice, João.

Realmente, o Jayme era parecido conosco. Acho que não era necessário um teste de DNA para provar tal fato. Agora, sabendo de toda a verdade, eu percebia que haviam sinais espalhados por todos os contos. Principalmente, em relação a nossa aparência com a mãe e o pai.

— E quem jogou a gente na rua? — perguntou José, quase me fazendo sofrer um infarto.

— José! — o repreendi. — Que ideia? — fiz uma careta engraçada, que quase fez os meus óculos caírem no chão. Então, o levantei com o dedo indicador como sempre faço. O meu movimento fez o Jayme rir.

— Eu sofro com os meus também. — ele usou o dedo indicador para subir os óculos. — Temos uma equipe tentando investigar a situação, mas creio que foi a minha mãe.

— Que velha maluca. — disse José, pegando um pouco de suco e tomando. — Geralmente, as avós protegem os netos e não os joga como se fossem cachorros.

— Eu sei que é muita coisa para absorver, José e João. Sofremos durante anos. Eu chorei por um filho, mal sabia que havia ganhado duas bençãos. — a Patrícia não aguentou e começou a chorar. O José me olhou de maneira estranha. Sempre foi assim, ele fazia um comentário bosta e eu precisava limpar a sua barra.

— Tudo bem, Patrícia. O José só está um pouco revoltado com a situação, mas sabemos que ninguém tem culpa nessa história. Estamos aqui com o coração aberto. — peguei em sua mão e apertei.

— Obrigada. O meu sonho sempre foi ser mãe. Quando vocês desapareceram, eu entrei em uma depressão profunda e jurei que nunca mais teria filhos. — ela explicou e pude sentir o pesar em suas palavras.

— O importante é que estamos aqui. Juntos. — apertei a sua mão. — Teremos que aprender a conviver. Vocês têm esse direito e não vamos privá-los disso. — vociferei, mas me arrependi, pois nem eu sabia o que queria nesta história toda.

Fotos. Histórias. E vidas para conhecer. Sempre fui um aluno dedicado na escola, mas não fazia ideia de como iria decorar todos os nomes da família Telles. Diferente de mim, o José conseguiu uma conexão com nossos pais biológicos, inclusive, os dois se sentiram orgulhosos quando descobriram que eu estava na universidade e o meu irmão no Exército.

Talvez não fossem os sonhos que tivessem para os seus filhos, mas era o melhor que conseguimos ser. A tarde passou de maneira tranquila. Não vou mentir, os dois ganharam a minha simpatia, entretanto, eu me sentia um traidor, já que os meus pais eram Esther e José.

Outra que fez um ótimo serviço foi o Hector, que nos elogiou de todas as maneiras possíveis. O Jayme ficou muito feliz quando soube que éramos amigos. Eu conto ou o Hector conta? Amigos, com certeza. Só que o comentário do meu pai me trouxe mais questionamentos. Será que ele é homofóbico? Meu Deus. Minha família aceitou tão bem o fato de eu ser gay. Vou ter que sair do armário de novo?

— Eu sou gay! — gritei, fazendo o José cuspir todo o suco que tomava. A expressão no rosto de Jayme e Patrícia era de surpresa.

— Bem, — Jayme olhou para a Patrícia, ajeitando os óculos igual a mim. — parabéns? — seu questionamento veio com um sorriso.

— Oh, querido. — ela pegou em minha mão e apertou. — Tudo bem.

— Eu tenho uma tatuagem na virilha. — José soltou e fez os dois rirem. — Desculpa, irmão. Você não pode ganhar todas.

Sobrevivemos. No fim da noite, prometemos fazer uma segunda visita na casa dos Teles. A Patrícia faria uma festa para os familiares mais próximos e seremos apresentados para todos.

Como sempre, o Hector se mostrou um verdadeiro parceiro. Seu carisma conseguia 'flutuar' entre todos os tipos de conversas. Levamos um tempo considerável para chegar em casa e pude conhecer mais do gosto musical dele. No sistema de som, tocou 'Capital Inicial', 'Skank', 'CPM 22' e 'Detonautas'.

Mal estacionamos em frente de casa e José saiu correndo para contar todas as novidades aos nossos pais. Aproveitei para dar uns beijinhos no Hector, que estava pegando fogo, no bom sentido, claro.

Os lábios deles tinham gosto de menta com chocolate. Esse foi o sorvete que tomamos na casa dos Telles. Acabei agradecendo por todo companheirismo dele nos últimos dias.

— Não precisa agradecer, João. Isso é muita coisa para assimilar. Se eu fosse você também estaria confuso. — ele afirmou tocando em meu rosto.

— Eu gostei de conhecer a Patrícia e o Jayme. — confessei. — Cara, como ele se parece comigo e com o José. É uma coisa insana, né? Somos a cópia dele. — afirmei.

— Bem, eu preciso ir. Amanhã eu trabalho cedo.

— Tudo bem. Eu também tenho alguns trabalhos do estágio para finalizar. — o Hector me abraçou e nos despedimos com um beijaço.

Finalmente, depois de um bom tempo eu sentia que a vida estava entrando nos eixos. No instante em que saí do carro, o meu celular começou a tocar, o nome que apareceu no visor interrompeu a atmosfera leva da noite. Era o Mauro, o meu ex-namorado. De início, hesitei antes de atender, mas a curiosidade falou mais alto.

— Alô?

— João, por favor. — a voz de Mauro soava carregada de emoção. — João, precisamos conversar. Eu sei que errei, e quero consertar as coisas.

Senti o meu coração acelerar. O encontro desta noite me deixou mais vulnerável, e agora me encontrei diante de uma encruzilhada emocional. O futuro se desenhava incerto, repleto de desafios e escolhas difíceis.

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Comentários

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Apostp que o Mauro ja sabedos pais biologicos são ricos e ele quer te usar.

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