05 – Chico
Eu estava completamente apaixonado por Artur e eu achei que ele não ia nunca querer algo com algum cara, todo machão e tudo, Artur acordou e era começo de noite, estava com fome e com vontade de chutar o pau da barraca, fomos antes de mais nada ao camarote de Pedro, uma bagunça, juntamos tudo para levar para o meu depois. Pedro pergunta se somos de Recife, claro, sotaque desses...
O cara quer saber o bairro, ele vira o chopp e levanta para voltar com outro, diz que era de Barra de Jangada, mas trabalhava em Boa Viagem, ele respira fundo e diz que estava muito insatisfeito com a moradia...
Artur mandava eu me acalmar e deixar Pedro se enrolar sozinho, ele bastou dar duas batidinhas na minha coxa e deixar a mão sobre ela, Artur deixa Pedro usar uns quinze minutos para dizer que gostou da foda, que gostou do gosto de esperma nos dentes. Eu vi ele dizer que gastava uma grana com transporte e queria saber se um de nós podia dar carona a ele, ou se um de nós topava dividir apartamento e as contas depois ele para e fica vermelho, seca as mãos suadas nas coxas.
Artur olha pra ele e pega o maxilar dele e o beija em público, depois me beija, diz que vamos discutir o depois depois, agora ele queria tomar umas cervejas antes de jantar e antes de ver Pedro surtando de modo contido.
Pessoas olhavam para três homens que se beijavam entre uma risada e outra, contamos sobre minha vida no Santo Amaro, depois Correão e novamente casa de meus pais, mas agora na Torre. Artur diz que era cria do Bode no Pina, mas agora morava na Caxangá, Artur diz que temos de escolher onde vamos alugar um apartamento.
Pedro pergunta se vamos morar juntos, Artur pergunta se ele ia pedir à minha mãe para a gente morar na casa de meus pais, Pedro sorri, diz que estava acontecendo muito rápido, Artur diz que por isso queria alugar um imóvel e não financiar algum, nos levantamos e o telefone de Artur toca, ficamos surpresos, era incomum pessoas falando ao telefone, era pelo wifi, era a ainda esposa de Artur.
Ele nos chama com um movimento de queixo enquanto pede para ela esperar para ele ir para um lugar mais calmo, estamos perto do alambrado na popa do navio, ele diz para ela falar, o telefone no viva-voz.
Ela pergunta se ele estava bem, ele diz que foi como cair da bicicleta, mas estava distante do lugar onde caiu, diz que é importante não parar, ela faz um silêncio, ela diz que estava apaixonada, era complicado explicar como alguém se apaixona no meio de uma orgia, ele diz que era uma coisa de química.
Ela diz que estava muito feliz e muito infeliz, ele diz que podia tornar ela ainda mais infeliz dizendo meio quilo de verdades, mas era melhor desejar tudo de bom e receber tudo de bom, que outras opções, ela pareceu chorar e soluçar e dizer que seriam, Artur toma a voz e diz que seriam só lembranças um para o outro, iria informar o telefone de alguém que pudesse intermediar a separação e depois bloquear ela em todas as redes sociais, em seu telefone, cortar conversas onde o nome dela pudesse surgir.
Ela do outro lado leva um tempo, e pergunta se ele estava com tanta raiva assim, Artur diz que não, mas faz ela lembrar de como ela o convenceu a se afastar de sua primeira esposa, de quem era separado a anos, a pesar de ser amigo do atual de sua ex e terem excelente convivência, era hora de fazer os mesmos argumentos voltarem à mesa e cortar o mal pela raiz como da vez anterior, na vez anterior não havia motivos para isso, agora havia.
Ela disse que ia esperar o número do o interventor, ele disse que ela ia reconhecer imediatamente. Artur desliga e liga para um amigo, o marido de sua ex e explica que estava se separando, pede para ele fazer uma busca no apartamento dele, diz onde esconde a chave reserva, pede para retirar as coisas que ia mandar que ele ia ler numa lista e preparasse o divórcio, diz onde estava a certidão de casamento e tudo o mais, diz que queria se livrar de tudo.
Artur pede desculpas por não ter sido homem e escondido a amizade que ainda mantinha deles e não estar presente em datas importantes como Natal e aniversários. O homem diz que irmão é assim mesmo, briga e acaba se unindo novamente, eu sinto um choque. Terminam dizendo eu te amo um ao outro e Artur diz que tem uma novidade, mas os detalhes ia contar com muita cerveja e charutos, diz que estava completamente apaixonado e sem mais detalhes, o irmãos o xinga falsamente raivoso.
Ele desliga e eu estou perplexo, Artur me olha e diz que estava completamente apaixonado por mim, então olha para Pedro e diz que por ele também.
Seguimos para o restaurante, e encontramos com Saulo, ele ia se levantar, Artur o segura pelo ombro e diz que amigos dizem coisas que ofendem, amigos fazem coisas que machucam, amigos pedem desculpas e amigos desculpam com sinceridade, ambos soltam quase instantaneamente um ‘foi mal, cara’, sorriem e começam a conversar sobre o que fizeram no dia, um fez sexo e dormiu, o outro fez compras pra relaxar, Saulo diz que comprou perfumes que deixou de usar há anos e pergunta se gostaríamos deles ou de trocar na loja de importados do navio.
Artur o chama de riquinho esnobe, ouve que ele é um proletário frustrado, sorriem um para o outro e percebem a chegada de Fábio, ele senta e pergunta a Pedro qual é o resumo da ópera, Pedro diz que um pediu desculpas ao outro ao mesmo tempo, nós três os observamos e chega o cardápio, resolvemos que cada um ia pedir uma coisa diferente para todos experimentarmos tudo. Foi divertido.
Depois fomos jogar jogos de tabuleiro na suíte de Fábio e Saulo, às onze estávamos vendo um espetáculo no teatro e seguimos para minha cabine, nós três aos beijos, Pedro me beija por trás e morde meu pescoço, ele mal deixa eu entrar e esfrega o pau na minha regada me vira de frente e diz que quer ver Artur batendo punheta enquanto eu comesse ele (Pedro), Pepeu diz que me ama.
Ele diz que esperou quarenta e cinco anos para ter certeza, não precisava pensar muito nisso, ele diz que ama Artur e eu. Sabe exatamente que estava prestes a sofrer tudo o que o amor faz sofrer, mas queria muito dizer que nos amava, não era paixão, era algo de querer envelhecer, beijando a gente e jogando jogos de tabuleiro até as regras não fazerem mais sentido.