O Vizinho - Capítulo VIII

Um conto erótico de M.K. Mander
Categoria: Gay
Contém 9274 palavras
Data: 14/03/2024 00:03:05

CAPÍTULO VIII

*** ERIC VIANA ***

A pedra fria imprensa minha frente enquanto o corpo quente de Gustavo imprensa minhas costas. A pele suada desliza sobre a minha à medida que nossas respirações ofegantes tentam se controlar. Deus, eu fiz isso! Eu realmente fiz isso! Eu transei com o vizinho fodedor, e porra! Eu entendo cada uma das malditas pessoas que o chamaram de deus. O homem sabe como usar o que tem entre as pernas.

Malditas por que, Eric? Minha consciência cheia de empatia escolhe o pior momento possível para me alertar eu fecho os olhos, reconhecendo que não, elas não são malditas, e ignorando completamente o que quer que tenha me feito chamá-las assim. Porque qualquer outro momento não seria bom o suficiente para refletir sobre isso, e o agora, certamente não o é.

Os lábios de Gustavo deixam uma trilha de beijos pela minha coluna, acalmando minha pele sensível e, ao mesmo tempo, me dizendo que nós ainda não acabamos. Levo alguns minutos para controlar minha respiração durante os quais meu vizinho cretino não faz qualquer questão de me soltar e eu não posso dizer que não gosto disso, porque eu gosto, e muito, mas eu nunca vou deixar que ele saiba disso...

— Se você não se importar, eu realmente gostaria de me levantar agora... -Finjo desgosto e ele ri e sai de dentro de mim com delicadeza. Me levanto e ao me virar, seus braços me envolvem imediatamente.

— Com medo de que eu fuja? -debocho.

— Pode apostar que sim! -reconhece com um sorriso cafajeste no rosto e eu estreito meus olhos para o homem covardemente lindo. Sim! O universo foi covarde ao colocar um homem desses fodendo minha vida e esperar que eu realmente fosse resistir a imensa vontade de deixar que ele fodesse meu corpo, desculpa mundo, não fui capaz...

— E então, já se apaixonou? -Gustavo sussurra e lambe meu maxilar, fecho os olhos, aproveitando o toque provocante.

— Você vai precisar de mais do que isso...

— Então que bom que nós temos a noite toda...

E nós aproveitamos cada minuto dela. No sofá, na poltrona, e, por último, na cama. A parede ficou para outro dia.

A madrugada já está alta quando me desvencilho dos braços duros que em cercavam e ele resmunga, sonolento. Saio do quarto, buscando minhas roupas. As encontro na sala, espalhadas, exatamente como deixamos, e enquanto as visto, um Gustavo nu, com os cabelos bagunçados e esfregando os olhos se apoia no batente do corredor, me observando.

— Isso é realmente necessário? -Questiona quando eu termino de me vestir.

— Isso o quê? Dormir na minha própria cama? Definitivamente! Detesto dormir na cama alheia!

— Meu colchão é ruim? É isso que você tá dizendo? -gargalho.

— Não! Mas, pra mim, o meu é melhor. -Pego meus sapatos, ao lado da porta e ele continua me encarando, de longe.

— Então por que eu não vou dormir no seu colchão maravilhoso? -Ergue uma sobrancelha, deixando claro que pensa saber exatamente o que eu estou fazendo. ͞ Não jogue com o jogador, Eric, sabe quantas vezes eu já usei essa porra de desculpa?

— Posso imaginar que tantos quanto eu, e é por isso que você não devia ficar putinho! É madrugada e eu vou dormir, boa noite, Gustavo! -Sem olhar para trás, saio pela porta, fechando-a assim que passo.

*************

— Você não pode estar falando sério... -Lívia diz, segurando o registro do acordo que fiz com Gustavo em mãos.

Sentada no sofá da minha sala, minha irmã ergue os olhos, alcançando-me, de pé, com a pergunta explícita em seu rosto. Ela realmente não acredita. Balanço a cabeça confirmando, e ela repete o gesto, instantes antes de negar.

— E foi consumado ontem... -concluo com palavras aquilo que comecei a dizer com gestos.

— Você transou com ele? -questiona, olhando-me de baixo com repreensão clara na voz. Mas tudo o que ouço são os grunhidos roucos e gemidos fortes de Gustavo em meu ouvido. Meus, todos meus, a noite toda. Fecho os olhos, sendo arrebatado pelas lembranças da noite passada e mordo o lábio.

— É sério isso? Você realmente vai ficar com essa cara de quem tá lembrando da foda da noite passada enquanto eu tô falando com você? -Meus olhos se arregalam e minhas sobrancelhas se erguem com o tom usado por Lívia. Abro a boca, mas fecho sem dizer nada. Inclino a cabeça para o lado, estudando-a. É óbvio que minha irmã está irritada, eu só não tenho ideia do porquê. Estreito os olhos para ela e concordo lentamente.

— Okey... Você quer me dizer sobre o que é tudo isso? Porque, com certeza, não é sobre a minha aposta com meu vizinho... -Ela suspira, passa as mãos pelos cabelos, deixa os papéis sobre a mesinha de centro a sua frente e esconde o rosto nas mãos. Dou a volta e sento-me ao seu lado no sofá. Passo meu braço ao redor de sua cintura e ela deita a cabeça em meu ombro.

Ficamos assim, lado a lado, em silêncio, por algum tempo. A situação deixa-me cada vez mais curioso, mas espero, sei que quando se sentir confortável, Lívia vai falar. Minha irmã sempre foi assim, desde que éramos crianças. Eu a amo como se ela fosse uma parte de mim, mas nós dois não poderíamos ser mais diferentes.

Sorrio, porque o pensamento me traz à memória duas irmãs que não poderiam ter personalidades mais diferentes, apesar dos rostos idênticos. Alícia e Alice. Enquanto a primeira é quase um furacão, curiosa, bruta e falante, a segunda é delicada, tímida e paciente.

— Sei lá... Eu só... Não sei, ok? Eu só... -Expira com força, levanta a cabeça do meu ombro e os sentimentos em seus olhos fazem meu cenho se franzir. Levo a mão ao seu rosto, acariciando sua bochecha e ela pisca com força.

— Eu acho que... -Respira profundamente: - Eu conheci um cara... -diz e um sorriso começa a se formar em meu rosto, mas ela balança a cabeça, negando e minhas sobrancelhas se erguem em confusão.

— Casado, Eric... O filho da puta é casado, e deixou pra me contar isso depois que eu já tivesse envolvida... Depois que... — Inclina a cabeça para trás, vejo que ela está contendo as lágrimas e uma fúria assassina começa a crescer dentro de mim.

— Depois que o quê, Lívia?

— Depois que eu transei com ele. -Diz, de uma vez, e meu queixo vai ao chão. Quer dizer, puta que pariu! Minha irmãzinha, que sonha com flores, um altar, e o príncipe chegando num cavalo branco, transou com um homem casado? Pisco várias vezes, absorvendo a informação.

— Lívia...

— Eu sei, eu sei! Estúpida! Mil vezes, estúpida!

— Não! - Prendo suas bochechas entre as palmas das minhas mãos e a encaro seriamente: ͞ Não! Ele é o cretino aqui! Ele é o filho da puta que enganou à esposa e a você. Você não sabia, você não tem culpa! - seus olhos enchem-se de água e, dessa vez, ela não segura. As lágrimas rolam pelo seu rosto e eu a abraço forte.

Acaricio suas costas, tentando confortá-la.

Não leva um minuto para que ela me afaste, negando com a cabeça.

— Vo-você não entende... -gagueja: ͞ Eu não sabia... da primeira vez...- Não consigo esconder meu choque por saber que houve uma segunda vez, e que ela aconteceu depois de minha irmã saber que o homem era casado: ͞ Mas das outras sim...

— Outras? - A palavra foge de mim sem que eu nem mesmo pense. Lívia estremece e abaixa a cabeça, escondendo-se, envergonhada. Respiro profundamente, me recompondo. Apoio os dedos sob seu queixo e ergo seu rosto.

— Por que você não começa pelo começo, Lili? - Ela chora. Chora, chora e chora, até que soluços irrompam pela sua garganta e eu tenha que me levantar para buscar um copo de água com açúcar. Quase trinta minutos se passam até que minha irmã se torne capaz de falar outra vez.

— Eu o conheci no trabalho... Um cliente, grande, importante... Ele estava se divorciando. -Começa e, depois de algumas poucas palavras, pausa, respira fundo e bebe mais alguns goles de sua água.

— Passamos muitas horas juntos, a empresa dele estava passando por uma fusão e eu era a advogada do caso... E o jeito como ele me olha, Eric... -Balança a cabeça, negando: ͞ Faz eu me sentir como se mais nada além de mim importasse no mundo. Eu só... Ele era tudo o que eu queria... o que eu esperava há tanto tempo... Lindo, inteligente... divertido, e fazia eu me sentir especial de um jeito que eu não sabia que queria ser, até ele me dizer que eu era...

Balanço a cabeça, concordando, mas não digo nada. Continuo escutando.

— Ele começou a se insinuar depois de dois meses que estávamos trabalhando juntos. Eu neguei, porque ele era meu cliente, eu jamais faria algo assim. Ele disse que entendia e realmente me deixou em paz... E eu comecei a sentir falta das suas palavras doces, dos toques despretensiosos e nada acidentais, dos olhares roubados... Eu... Eu percebi que queria aquilo, que queria ele... Só que eu não ia dizer, não depois de dispensá-lo, e porque eu acreditava na minha justificativa, ele era meu cliente.

As palavras de Lívia vão se tornando mais firmes a cada frase dita. Quanto mais ela fala da forma como o tal homem faz com que ela se sinta, mais brilhantes seus olhos se tornam. O que é preocupante e lindo de se ver na mesma medida.

— Mas o caso acabou. A fusão foi concluída e nossa relação profissional encerrada. Na mesma noite, quando eu estava saindo do escritório, ele me esperava, encostado no meu carro, no estacionamento. -Ela olha para cima como se pudesse ver no ar as cenas que narra. Mordo o lábio, precisando fazer alguma coisa enquanto processo a torrente de informações sendo despejadas sobre mim.

— Ele disse que não era mais meu cliente. E eu fiquei muda, querendo ficar e querendo correr, e ele me beijou. Deus, ele me beijou de um jeito que fez meus pés saírem do chão, meu coração acelerar, me fez voar e cair, tudo ao mesmo tempo... e depois disso, as coisas só aconteceram...

— Há quanto tempo isso tá rolando, Lívia? -Minha irmã parece ainda mais envergonhada e desvia os olhos.

— Três meses. -Responde, sem olhar para mim.

— Três meses? Trê... -A constatação me atinge e eu paro de falar no meio da palavra. Pisco algumas vezes antes de voltar focar meu olhar em Lívia, que parece querer olhar para todos os lugares, menos para o meu rosto.

— Foi por isso que você ficou tão sem graça quando eu perguntei há quanto tempo você não transava naquela noite? Quando saímos pra comemorar a compra do apartamento! -acuso: ͞ Eu achei que fosse por eu estar falando de sexo... Lívia...

Passo a língua sobre os lábios e me remexo no sofá.

͞ Por que você não me contou? -questiono, magoado, e ela volta a olhar para mim. O que vejo acaba com qualquer chateação que eu pudesse estar sentindo.

— No começo, eu só não queria falar nada sem ter certeza ainda... Você sabe... a gente saiu algumas vezes, e era só isso... Até que uma noite, as coisas simplesmente aconteceram, não foi nada planejado, foi natural, foi... perfeito... -a última palavra sai baixinha por seus lábios e novas lágrimas molham suas bochechas.

— E depois? -Ela ri, desgostosa.

— Naquela noite, depois de eu ter me entregado completamente, o telefone tocou e, ao invés de desligar, por acidente, deboche, ou misericórdia do destino, Téo atendeu e colocou na viva voz. Era a esposa dele... Foi a melhor e a pior noite da minha vida ao mesmo tempo, foi como me sentir no topo do mundo, só pra ser empurrada lá de cima logo em seguida...

— Mas ele não tava se divorciando? E o que você fez? questiono, sentindo-me solidário, mas realmente muito curioso, a culpa me cutuca, mas Deus, de repente, a vida da minha irmã virou uma novela mexicana e eu tenho três meses de episódios atrasados para assistir.

— Fugi... Saí do hotel feito uma louca, desvairada... Eu só queria não ter que olhar pra cama em que eu tinha acabado de transar com um homem casado... -Lívia soa triste, eu tenho tantas perguntas, quero entender tantas coisas, mas coloco minha curiosidade de lado e a abraço, deixando que ela me conte apenas o que quiser. Suspiro. Definitivamente, eu não esperava por essa, meus problemas com Gustavo quase parecem pequenos agora.

O silêncio toma conta da sala enquanto minha irmã aceita todo conforto que lhe dou.

— No dia seguinte, ele estava, de novo, encostado no meu carro, dessa vez, de manhã cedo, na hora em que eu saía pra trabalhar. Ele pediu desculpas, me deu mil e uma justificativas, e eu não quis saber de nenhuma delas, vê-lo me deixou louca de tantos jeitos diferentes, Eric! Eu queria estapeá-lo, e queria beijá-lo. -Luto contra o sorriso que quer se espalhar pelo meu rosto pelo simples fato de eu saber exatamente qual é a sensação.

— Ele não me deixou em paz. Me ligava, mandava mensagens, e-mails, aparecia na porta de casa, no estacionamento do trabalho... -Diz, e, agora, muita coisa faz sentido. Como, por exemplo, sua irritação com meus telefonemas insistindo para que ela me ajudasse a tomar alguma providência legal contra o assédio de Gustavo.

— Eu ameacei pedir uma medida restritiva contra ele, ameacei ir a um repórter, e ele disse que não se importava de ser exposto, ou processado, se isso significaria que não ia perder a melhor coisa que aconteceu na vida dele nos últimos anos. -Lívia suspira, parecendo exausta.

— Ele simplesmente sabia dizer todas as coisas certas.... E eu cedi, concordei com um café, que acabou numa cama de hotel... E, desde então, tem sido um inferno, porque eu me julgo e recrimino, mas continuo cedendo todas as vezes, todas as malditas vezes... Eu simplesmente não consigo me manter longe... -Seco uma lágrima que desliza pelo seu rosto e acaricio sua bochecha.

— E o divórcio dele? -Lívia balança a cabeça, descrente.

— É uma grande confusão. Se ele não mente pra mim, a esposa não aceita, porque tem muita coisa em jogo, ações, dinheiro, propriedades... E tudo continua se arrastando eternamente... Mas é com ela que ele mora, Eric... É na cama dela que ele dorme... -A dor em sua voz deixa uma coisa muito clara, e meu coração se aperta por dois motivos. O primeiro, eu daria qualquer coisa para não ver minha irmã sofrer, o segundo, medo de me ver na mesma situação que Lívia aperta meu estômago e faz um bolo travar minha garganta.

— Você se apaixonou... -sussurro e ela balança a cabeça, devagar, confirmando...

— Eu sou tão idiota! -Diz, e cobre o rosto com as mãos outra vez. Pego-as nas minhas, abaixando-as, deixando seus olhos livres para encontrarem os meus.

— Não, você não é, você é humana, e tá tudo bem... Agora eu só preciso saber de uma coisa... O que você quer ouvir? A verdade, ou o que vai fazer você se sentir melhor?

Lívia me olha com olhos pidões e a resposta escrita em seu rosto.

— Tudo bem! O que vai fazer você se sentir melhor, então... Eu vou buscar o chocolate!

***************

Deitada em minha cama, a parede compartilhada com Gustavo me encara e debocha de mim. Suspiro, exausto, depois da tarde inusitada que passei com Lívia. A minha irmãzinha, romântica incurável, envolvida com um homem casado. Se eu não tivesse ouvido de sua própria boca, não teria acreditado. Eu nunca a julgaria por isso, porém isso não torna toda a situação menos surpreendente.

Ainda não fui capaz de desenvolver uma opinião, principalmente, porque sei que faltam muitas peças a esse quebra-cabeças, mas depois que Lívia foi embora, quase duas horas atrás, cumpri meu expediente de Stalker por um ano inteiro. Procurei por Teodoro Lima em todas as redes sociais, li todas as colunas e notícias que encontrei a seu respeito, vasculhei o google e fui tão profundo quanto o raso que consigo acessar da deep web me permitiu.

O homem é bonito, não se pode negar, e cafajeste também. Mesmo sendo casado, nos últimos dois anos, há um número exorbitante de fotos dele com mulheres que não são sua esposa estampando as capas de jornais e revistas. Me pergunto como foi que Lívia não viu isso. Logo ela, sempre tão cuidadosa, tão preocupada, tão metódica...

Parece que esse não é o ano dos irmãos Viana, talvez devêssemos visitar papai e mamãe... Colo de mãe é sempre bom, e todas as vezes que visito nossos pais, nunca volto para casa com as mesmas dúvidas que tinha quando cheguei à Miguel Pereira, onde eles moram agora.

Bom, mas uma coisa eu tenho que reconhecer sobre o tal Téo. Nos últimos seis meses, ele não foi fotografado com qualquer mulher, nem mesmo com a esposa, e, pelos meus cálculos, apesar de o “relacionamento” dele com minha irmã ter apenas três meses, faz cinco desde que ele demonstrou interesse por ela. E, se a ausência de fotos significar uma ausência de casos, talvez eu não precise arrancar as bolas dele, e os dois só precisem de tempo para se ajustar.

Eu não diria isso para ela, porque esse é um desejo, não uma certeza. Se ela tivesse escolhido ouvir a verdade ao invés do que a confortaria, eu ateria aconselhado a se afastar dele, pelo menos por um tempo. Tempo o suficiente para que ela colocasse a cabeça no lugar e ele resolvesse a própria vida, porque não é justo que minha irmã tenha vergonha de si mesma por estar quebrando um compromisso que não é dela. Nenhuma mulher deveria passar por isso... Aliás, ninguém, seja homem ou mulher, deveria.

Tenho quase certeza de que Lívia sabia que era exatamente isso que eu diria, e, por isso, escolheu não ouvir. O celular, ao meu lado na cama, vibra, e eu expiro com força antes de pegá-lo. Reviro os olhos ao ver que, como esperava, é uma mensagem de Gustavo, apenas, logicamente, não da forma como eu esperava.

Apesar de termos trocado telefones, coisa que ele disse ser fundamental para o andamento correto de nossa aposta, já que uma de suas armas de sedução seriam nudes, não foi uma mensagem por aplicativo que ele me enviou, mas sim um e-mail. Um que veio do endereço anônimo que te ouve gemer.

anonimoqueteouvegemer@linket.com:12h

“Na minha casa ou na sua?”

Estalo a língua com a cara de pau do infeliz.

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:12h

“Em nenhuma das duas! Estou exausto!”

anonimoqueteouvegemer@linket.com:12h

“Porra, Eric! Primeiro, você foge na primeira noite, e, agora, ainda não temos nem um dia de namoro e você já tá usando a desculpa da dor de cabeça?” Gargalho.

anonimoqueteouvegemer@linket.com:13h

“Eu posso ouvir você rindo...”

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:14h

“Bom que seus ouvidos estejam funcionando bem, já que os olhos não, ou seria um problema de interpretação de texto? É verdade... Você é de exatas, né, lindo? Tio Eric explica pra você: Eu disse que estou cansado, não que estou com dor de cabeça! Quando eu não quiser transar com você simplesmente porque não quero, não espere desculpas, eu vou dizer que não quero! A garagem é minha e estaciona quem e quando eu quiser. E, Gustavo, eu não fugi de nada, e nós NÃO ESTAMOS NAMORANDO!”

Agora, sou eu quem ouve sua gargalhada do outro lado da parede. Espero pelo próximo e-mail, mas ele não chega. Minutos depois, ouço batidas em minha porta e sei que o cretino teve o cuidado de não bater a própria apenas para me surpreender.

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:18h

“Não vou te receber, Gustavo! Eu disse que estou cansado!” anonimoqueteouvegemer@linket.com:18h

“Você disse que estava cansada pra transar, não pra me ver...” juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:19h

“Gustavo, isso é autoexplicativo... Ver você me cansa... Não preciso falar isso toda hora...”

anonimoqueteouvegemer@linket.com:19h

“Mentiroso! Me ver te excita!”

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:19h

“Gustavo, agora, falar com você tá me cansando... Boa noite!” anonimoqueteouvegemer@linket.com:19h

“Eu trouxe comida...”

Merda. Isso é golpe baixo! Minha boca enche d’água só de pensar na comida gostosa que ele serviu duas noites atrás. Gemo, frustrado, dividido entre deixá-lo sozinho, em silêncio, plantado em minha porta, até que desista e volte para o próprio apartamento, ou perguntar o que ele trouxe. Meu estômago mimado vence.

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:23h

“O que você trouxe?”

anonimoqueteouvegemer@linket.com:23h

“Você vai ter que me deixar entrar pra descobrir...”

juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:23h

“Tentando comprar sexo com comida, Gustavo?” anonimoqueteouvegemer@linket.com:24h

“Agora é você quem tá com problemas pra interpretar texto, mas não tem problema! Tio Gustavo explica, eu disse entrar, não estacionar.” Rio, é impossível me impedir.

“Você é tão irritante...”

anonimoqueteouvegemer@linket.com:24h

“A recíproca é verdadeira, lindo! Agora abre a porta e me deixa comer você?”

“Ops! Foi o corretor! Eu quis dizer comer você!”

“Meu Deus, ele está terrível hoje! Comer com você, lindo! Eu quis dizer, comer com você!” juntossomosmaisfortesedfuno@linket.com –– 21:25h

“É bom que essa comida esteja gostosa!”

Levanto da cama, antes de sair do quarto, o espelho chama minha atenção. Olho a regata, o short soltinho, os cabelos bagunçados de quem os estava roçando em lençóis. Troco de roupas? Nhé... Não! Definitivamente, não vou me arrumar para ele! Deixo o espelho para trás e me encaminho para a porta da sala.

Giro a maçaneta e contra a minha vontade, a visão ainda me atinge como uma onda gigante, me desequilibrando momentaneamente, e melando minha cueca, permanentemente. Deus, quando é que isso vai parar? Como sempre, Gustavo tem um sorriso cafajeste no rosto e eu reviro os olhos antes de dar espaço para que ele passe. Atrás dele, dou uma boa conferida em sua bunda envolta em um tecido caro, é uma bela bunda.

Aproveito que ele não está me vendo para conferi-lo inteiro. Calças jeans escuras, uma camisa listrada, com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, e mocassins marrons vestem o corpo alto, largo, grande. Um pequeno arrepio atravessa minha coluna ao pensar nesses adjetivos. Admiro o conjunto que exala poder, inspiro profundamente e sou atingido com força por uma mistura do cheiro do que quer que ele tenha em mãos e do seu perfume.

— O cheiro é bom... – comento, e Gustavo me olha sobre o ombro me dando uma piscadela, como se pudesse ler minha mente e soubesse que eu falava não só da comida. Ele caminha até minha cozinha, entra e começa a abrir os armários e as gavetas, procurando pelos utensílios que quer como se estivesse em casa.

Cruzo os braços na frente do corpo, observando, sem fala, e meu coração salta no peito com a visão. É uma visão tentadora. O homem é lindo e, se fosse domesticável, minha santa dos gays adestradoras de homem, a senhora sabe do que estou falando. Acorda, Eric! Nem você sabe do que está falando.

Meu grilo interior grita, e eu sou obrigado a concordar. Deus, Gustavo me deixa tonto! Em todos os sentidos possíveis. Balanço a cabeça, expulsando os pensamentos doidos e aleatórios e decido que é a hora de dizer algo sobre a folga do infeliz.

— Você sempre invade a cozinha alheia e age como se fosse sua, Gustavo?

— Não, lindo... Só as dos meus namorados, e, como você é o primeiro, esse é um privilégio só seu!

— O quê? Você nunca teve um namorado aos trinta e três anos? -pergunto, chocado, aproximando-me da bancada da cozinha e sentando-me em uma banqueta enquanto ele trabalha.

— Não... Nunca... -diz, termina de pôr os lugares e abre minha geladeira. Não sei porque isso ainda me surpreende, mas o faz, e eu balanço a cabeça, incrédulo.

— Tudo bem, Gustavo... Qual é a história? Passado sombrio? Seu pai era um canalha? Sua mãe traiu seu pai? O que rolou?

Ele gargalha com uma garrafa de vinho pela metade nas mãos e passa os olhos pelo rótulo. Ergue uma sobrancelha, julgando meu vinho barato, mas depois dá de ombros, conformando-se.

— Me lembra de da próxima vez, trazer a bebida... -pede e eu franzo o cenho em um questionamento debochado.

— Não gosta do meu vinho, Gustavo?

— Vinho? Isso aqui não é vinho, Eric... Isso aqui é uva fermentada...

É a minha vez de gargalhar.

— E não é essa a definição de vinho?

— Com certeza não! Vinho é uma bebida incrível para paladares apurados. Vinho é o que bebemos ontem e o que vamos beber amanhã.

— Deus, é claro que você é esnobe também... É o pacote completo de cretino... E nós não vamos beber nada amanhã...-Seus olhos encontram os meus, desafiadores: ͞ O quê? Você acha que agora minha vida vai girar ao seu redor? Eu tenho mais o que fazer, lindo!

Ele estala a língua e balança a cabeça lentamente de um lado para o outro.

— Antes de qualquer coisa, não, eu não sou esnobe, eu ou um apreciador de coisas gostosas, é diferente... -diz, olhando-me de cima abaixo deixando muito claro que não é sobre vinho que está falando: ͞ E você tem certeza de que realmente aceitou essa aposta pra tentar manter seu apartamento, Eric? Porque eu tô começando achar que você só quer se aproveitar do meu corpinho sexy... Dois meses não é muito tempo, se eu fosse você, não desperdiçaria um minuto sequer, nem do meu corpo, nem de oportunidades pra tentar fazer eu me apaixonar por você...-Usa um tom de falsa repreensão e balança a cabeça, como se estivesse desapontado.

Apoio meus cotovelos sobre a bancada.

— Você pareceu apreciar muito o meu esforço na noite passada... -seus olhos se estreitam para mim e inclino minha cabeça para o lado, apoiando-a sobre as costas de minhas mãos: ͞ A noite toda... Eu não me esforcei o suficiente, lindo? -começo em um tom sussurrado e termino em um falsamente inocente, para, logo em seguida, morder meu lábio inferior, porque sei que ele adora isso.

Por último, passo a língua sobre os lábios bem devagar, deixando-os bem molhados. Gustavo fecha os olhos e aperta os dentes por um segundo. Olho para suas calças, uma ereção potente já dá sinais de sua presença, e eu gargalho.

Um sorriso de canto surge nos lábios dele e sua cabeça balança para cima e para baixo. Ele se aproxima de mim, trazendo consigo o vinho do qual desdenhou e senta-se ao meu lado, com o corpo virado na minha direção.

— Você fode gostoso que é uma porra, Eric... Um tesão, um verdadeiro encantador de serpentes! -Diz com a boca bem perto da minha e a secura se espalha por ela instantaneamente. Merda, merda, merda! A facilidade com que esse maldito rouba o controle das minhas mãos é tão irritante.

— Mas se planeja que eu me apaixone por você, vai ter que fazer muito mais do que me enlouquecer com a sua sentada deliciosa, ou gritar meu nome enquanto eu como esse cuzinho gostoso...-Vira-se e começa a servir o próprio prato como se não tivesse acabado de me dizer barbaridades, e eu? Eu permaneço estático.

— A comida vai esfriar... -debocha, depois de levar a terceira garfada a boca enquanto continuo parado no mesmo lugar. Nego com um aceno e começo a me servir também.

— Você precisa parar de falar essas coisas!

— Por quê? -pergunta e eu abro a boca, prontamo para responder, mas me recuso a lhe dar essa vitória.

— Porque te deixa excitado? Esse é todo o motivo que eu preciso para te dizer coisas como essas com uma frequência ainda maior!

Bufo. Levo a primeira garfada do risoto que ele trouxe a boca e é impossível não gemer com o gosto que explode em minha língua. Puta que pariu! O maldito tinha que cozinhar tão bem assim? Ouço sua risadinha baixa, mas ignoro.

— Você não se veste como um CEO... -mudo drasticamente de assunto e a expressão divertida em seu rosto me diz que não vou gostar da resposta.

— É como é que um CEO se veste? -questiona.

— Não sei... Com ternos escuros e gravatas sóbrias? -digo e aproveito para deslizar meus olhos mais uma vez pelo corpo grande e bem vestido, apesar da maneira nada convencional.

— Meu irmão pensa como você...

— Rodrigo, né? O pai das meninas?

— Isso... Ele adora dizer que eu tenho que aprender a me vestir como um homem de negócios, e eu sempre digo pra ele que é mais do que suficiente que eu saiba ganhar dinheiro como um homem de negócios... Eu não preciso usar roupas insossas pra isso...

— Roupas insossas? -ironizo: ͞ Não me diga que você é um metrossexual?

— E se eu fosse? -Ele tem uma sobrancelha arqueada em desafio e eu nego, lentamente.

— Nada... Eu só não consigo te imaginar fazendo manicure e pedicure... -Meus olhos se desviam para os seus dedos grandes, para as suas unhas, mais especificamente, e ele ri alto.

— Não, eu não sou metrossexual... Eu só gosto de roupas... Acho que elas dizem muito a meu respeito...

É a minha vez de rir, porque, definitivamente, as roupas de Gustavo dizem algo a seu respeito: que ele é rico e gostoso.

— O que é tão engraçado? -questiona e eu dispenso a resposta com um aceno.

Um silêncio estranhamente confortável se instala entre nós até ser quebrado pela vibração do meu celular sobre a mesa. Estico o olhar para ver a notificação e descubro uma mensagem de Lívia se desculpando por não ter dado a menor atenção ao acordo que fiz com Gustavo, e pedindo para que eu envie uma foto para que ela possa analisar com calma.

Deixo para responder mais tarde, mas minha expressão deve ter entregado a preocupação que senti assim que vi o nome de Lívia na tela, porque Gustavo pergunta.

— Algo errado?

— Não... É só minha irmã...

— E o que há de errado com ela?

— E por que você acha que há alguma coisa de errado com ela?

Ele sorri.

— Digamos que sou muito bom em ler pessoas...

— E você leu no meu rosto que há algo de errado com a minha irmã? -Ergo minhas sobrancelhas, deixando clara a minha descrença.

— Eu li no seu rosto que a mensagem dela te deixou preocupado... -Estalo a língua, dispensando-o.

— Não é nada demais... -desconverso e ele vira o corpo de lado na banqueta, ficando de frente para mim.

— Vamos lá, namorado... Deixa eu ser útil pra você de outras formas além de alimentar suas fomes...

— Eu não sou seu namorado! -digo entredentes e seu sorriso fica ainda maior.

— Continue dizendo isso pra você mesmo... -pisca, como se compartilhássemos um segredo e, de repente, estou irritada com ele. Céus, por que esse homem é assim?

— Eu acho bom você se lembrar que essa casa ainda é minha e que eu posso expulsar você dela...

— Agora que você já se aproveitou dos meus dotes quer me expulsar, né?

— Exatamente! -sorrio, vitorioso.

— Bem, é você quem perde... Vai ficar sem a sobremesa.

Reviro os olhos.

— Eu já falei que não vou transar com você hoje!

— Continua dizendo isso pra si mesma, lindo! Mas eu não tava falando de sexo...

Coloco um dedo na boca, pensativo. Merda. Ele trouxe a sobremesa também? Eu poderia expulsá-lo e manter suas travessas cativas, seria justo... Não bastasse meu corpo me trair pelo desejo que sente por esse homem, agora, vai me trair também pelo estômago?

— Qual é a sobremesa? -pergunto, curioso e ele balança a cabeça em negação e estala a língua.

— Ah, não, amor! Agora você vai ter que me dar algo em troca...

— Gustavo, eu não sou seu amor! -resmungo e ele sorri imenso, parecendo ter sua felicidade alimentada pela minha irritação: ͞ E eu já tô te dando algo em troca, não chutei sua bunda porta a fora! Sinta-se lisonjeado!

Volta a negar e estalar a língua.

— Não, amor... -Fecho os olhos e inspiro profundamente, pedindo a todas as minhas santas paciência para lidar com esse maldito: ͞ Você não tá me deixando ficar por mim, mas porque é interesseiro e quer a sobremesa... Se você quiser comer a cheesecake...

Meus olhos se abrem e minha boca, que ainda tem o gosto do risoto, se enche de água. Puta merda, Cheesecake é a minha sobremesa preferida e a expressão cínica no rosto de Gustavo me diz que ele sabe disso e, por isso, fez a pausa dramática depois de dizer qual era o doce.

— Se... você quiser comer a cheesecake que eu fiz com todo carinho, porque sou um ótimo namorado, vai ter que reconhecer justamente isso...

— Nem fodendo, Gustavo! Eu não posso reconhecer que você é um namorado incrível, porque nem meu namorado você é! – O maldito assume uma expressão de quem ganhou na loteria e eu me amaldiçoo por me tornar tão estúpido quando estou com ele. Deus, meus neurônios parecem simplesmente parar de funcionar! Como é que eu não vi isso vindo?

— Então é isso o que eu quero! Que você diga que eu sou seu namorado! -reviro os olhos.

— Você sabe que eu dizer as palavras não vai torná-las verdadeiras, certo? -aponto o óbvio e ele inclina a cabeça, parecendo ponderar.

— Você tem razão! -concorda e eu reviro os olhos, outra vez.

— Dããããã... É claro que eu tenho razão! -Levo minha taça de vinho à boca e estou no meio de um gole quando Gustavo me responde, quase fazendo-me cuspir o maldito vinho.

— É por isso que você vai assumir um relacionamento sério comigo no facebook!

— Quê? -engasgo, por ter forçado o vinho para baixo, me impedindo de cuspi-lo, mas engolindo errado e tendo um acesso de tosse.

— É isso! É perfeito! Você tá coberto de razão, você dizer isso não torna real, mas as outras pessoas saberem? Isso, definitivamente, torna tudo muito real!

Tusso e meus olhos ardem. Tenho certeza de que estão vermelhos. Deus, por que eu não podia ter um outro vizinho velho? Quer dizer, seu Marcelo é um vizinho incrível, por que o vizinho do outro lado não podia ser um seu Jonas, um seu Ezequiel, ou um seu Romildo, por exemplo?

Por que precisava ser esse maldito travestido de homem gostoso? Que rebola esses quadris de um jeito enlouquecedor, e fode minha cabeça tão bem quanto faz com meu corpo? Eu não merecia, Deus! Eu não merecia! Isso é castigo pelo quê? Pelo tempo que não vou à igreja? Qual é? Eu posso não me confessar há anos, mas todas as minhas santas conhecem os meus pecados e elas me perdoaram, Deus! Elas me perdoaram!

Ninguém avisou para o senhor? Esse homem é penitência demais! Isso é castigo para criminoso grande e grave, não para um pobre homem que não se confessa. Até porque, convenhamos, ele só piora minha situação, porque em menos de uma hora, já me fez cometer cinco dos sete pecados capitais.

Inveja de todo e qualquer ser humano que não é obrigado a aturar Gustavo. Ira com a prepotência, arrogância, e com o nível extraordinário de inconveniência que esse homem é capaz de alcançar. Gula pela comida irritantemente gostosa e pela cheesecake que eu continuo me perguntando de que tamanho é, e se existe alguma maneira de eu não precisar dividi-la com Gustavo.

Preguiça de aturá-lo e luxúria pelo corpo maravilhoso dele. só me faltaram a avareza e a soberba. Ou seja, esse castigo por não ter me confessado, Deus, só está me dando mais pecados para confessar.

— E então? Pronto para reconhecer? Ou ainda quer passar mais um tempo em marte? -Gustavo me arranca dos pensamentos em que eu chutava sua cara como uma bola de futebol.

— Ninguém nem olha mais o facebook, homem! Por que você faz tanta questão disso? Que inferno! -E lá se vai, ira outra vez: ͞ Você é o pior castigo que existe! Eu juro que é!

— De novo, você tem razão! Porra, Eric! Isso é tão sexy! Um cara que tá sempre certo...

Fecho os olhos brevemente, respiro, olho para cima, brigando com Deus de novo, e então, respondo, buscando paciência no mais íntimo do meu ser.

— Todos os passivos estão sempre certos, porque vocês, ativos, estão, constantemente, errados.

— Tudo bem! Eu posso viver com isso! -pisca para mim, dizendo-me que está aprontando alguma coisa. Ele não se daria por vencido tão facilmente.

— O que você tá tramando, Gustavo?

— Que bom que você perguntou! Além de postar no facebook que tá num relacionamento sério comigo, você vai postar uma foto nossa no instagram! E nada de legenda de Emoji! Eu quero palavras! Palavras sinceras e bonitas! -Exige e não sei como meu queixo não vai ao chão com a cara de pau do infeliz. Olho para ele, meus olhos piscam, tentando, de alguma forma, conferir se tudo isso é realidade.

Lambo os lábios e inclino a cabeça.

— Quão boa é a câmera do seu telefone? Porque nós podemos tirar no meu se você quiser... -comenta, já enfiando a mão no bolso e tirando de lá o aparelho. Isso me desperta e eu finalmente falo.

— Gustavo! Isso não vai acontecer! Eu não vou assumir um namoro com você!

— E por que não? -estreita os olhos para mim.

— Deus, seu lunático! E por que sim? Por que, na maldita face da terra, eu faria algo assim?

— Porque se você não fizer, não come a sobremesa...

— Você não pode achar que vai me comprar tão facilmente, Gustavo! Eu não sou a porra de um animal faminto, uma sobremesa não vai me convencer a fazer uma loucura dessas!

— Nem se eu disser que eu menti?

— Mas é claro que você mentiu, Gustavo... E sobre o que?

— Eu não fiz a Cheesecake... -Demora-se nas palavras, como se elas tivessem um gosto tão delicioso quanto a porcaria da torta deve ter e, enfim, diz aquelas que me jogam na lona: ͞ Ela é da Dulce Delicatessem...

— Ah, não, porra! -choramingo. A Cheesecake da Dulce Delicatessem é, simplesmente, a melhor cheesecake de todo o universo, e o fato de Gustavo saber que isso pode me convencer, me diz exatamente de onde ele tirou a informação de que essa era minha sobremesa preferida. Do mesmíssimo lugar que ele tenta me convencer a profanar com sua presença, as minhas redes sociais.

Gustavo me stalkeou. Odeio admitir, mas Lívia estava certa e eu devia deixar meus perfis fechados apenas para que amigos possam ver o que posto, isso teria evitado uma situação como essa. Inspiro, fechando os olhos, abro-os, olhando para o rosto diabolicamente bonito a minha frente, tão enganoso quanto um rosto pode ser.

Mordo o lábio. Inacreditavelmente, cogitando fazer o que ele quer. Eu amo tanto essa torta, e faz tempo demais que eu não a como, e o que é que fazer a vontade desse cretino mudaria em minha vida? Nada... Exceto que meus contatinhos achariam que eu estou comprometido... Mas, em contrapartida, se eu decidir que isso não é exclusivo em algum momento dos próximos dois meses, vou adorar ver Gustavo pagar por essa situação ao ser apontado como corno.

A perspectiva faz um sorriso imenso brotar em meu rosto e Gustavo meu olha desconfiado.

— Tudo bem! Aceito! -digo, e sua desconfiança cresce ainda mais.

— Tudo bem? Simples assim?

— Achou fácil demais, Gustavo? É porque você ainda não viu quantas fotos vamos ter que tirar até que eu considere que uma está boa o suficiente pra postar...

— Por que eu tenho a impressão de que você não tá fazendo isso só pela cheesecake?

— Porque, talvez... você não seja tão burro quanto finge ser...

Ele abre a boca, mas lambe os lábios e engole as palavras que estava prestes a dizer, fechando-a.

Pego meu próprio celular sobre a bancada e, em minutos, tenho um novo status de relacionamento. Assim que posto, Gustavo aprova em seu próprio perfil e, pronto! Simples assim, notificação atrás de notificação começa a aparecer na barra superior da tela do meu telefone e o celular de Gustavo passa apitar como uma Maria fumaça.

E, em uma olhadela, vejo que há mensagens de pelo menos cinco pessoas diferentes. Posso apostar minha preciosa cheesecake que todas elas têm alguma relação com sua atualização de status.

— Pronto para a foto? -questiono com um sorriso no rosto que é maior a cada segundo que Gustavo parece perdido e desconcertado com a minha mudança de atitude com o reconhecimento do nosso relacionamento falso. Talvez essa seja uma boa estratégia para lidar com ele, afinal, virar a mesa...

Ele acena com a cabeça e eu me levanto, colando meu corpo ao seu e esticando o braço, enquadrando-nos na tela. Por ela, vejo seus olhos estreitos para mim e não seguro o riso de satisfação que foge da minha garganta. Mas eu deveria saber que não seria fácil assim, com ele, nunca é, parece que nenhum de nós nunca consegue ganhar do outro.

Às vezes, tenho a impressão de que somos iguais demais para que haja um vencedor em qualquer dos nossos embates. Quando toco a tela do aparelho, disparando a foto, a mão de Gustavo agarra minha nuca, virando meu rosto em sua direção e sua boca desce sobre a minha como se meus lábios fossem a verdadeira refeição da noite. O flash dispara e eu tenho certeza de que vou odiar essa foto, mas algo em mim vibra quando penso em quantas outras mensagens Gustavo vai receber depois que eu a postar.

E aí está, mais um pecado. Avareza. Resta apenas um, e, algo me diz que, muito em breve, esse homem me tornará um pecador completo.

**************

*** GUSTAVO FORTUNA ***

Os papéis sobre a mesa parecem um pequeno exército de problemas. Giro o pulso, oito e meia da manhã, se isso não for indício de que esse será um dia de merda, eu não sei o que é. Passo os olhos outra vez sobre a manchete que estampa a capa de cinco jornais diferentes. Nossa maior fornecedora de materiais elétricos foi indiciada por envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro governamental.

Balanço a cabeça, negando. Esfrego as mãos no rosto, mas quando libero os olhos, as manchetes continuam as mesmas, e os papéis e jornais diante de mim, no mesmo lugar. Expiro, articulando em minha mente as medidas necessárias para que toda essa merda não respingue na GAF. Definitivamente, esse não era o tipo de coisa com o qual eu esperava lidar, não quando tenho bolas azuis depois de Eric ter realmente se recusado a transar comigo.

O maldito comeu a cheesecake quase inteira, só me deixou tirar uma fatia mínima, e, depois, me colocou para fora de seu apartamento, alegando que a torta estava paga, e ainda teve a cara de pau de arrematar a frase com um “namorado”. Eu não pude acreditar na audácia daquele homem.

Ele, simplesmente, me dispensou... Disse que estava cansado... Quem se cansa de um sexo como aquele que fizemos? Porra, eu seria incapaz de me negar a transar com ele mesmo depois de correr oitenta quilômetros. E eu duvido, sinceramente, que ele realmente estivesse imune ao desejo que parece nos cercar desde muito antes de dividirmos os mesmos cômodos.

Se ele era imenso quando nos ouvíamos através de uma parede, agora, ele é sufocante, então é impossível que ele não tenha sofrido ao me mandar embora, mas o maldito do homem é tão obstinado quanto gostoso, e quando coloca alguma coisa na cabeça, porra... Não há santo que tire.

Pego o copo de café sobre a mesa e o levo até a boca. Meu vício amargo se espalha pela minha língua, relaxando meu corpo, mas não fazendo nada pela minha mente, que continua cheia dos problemas da GAF e sendo assaltada a cada dois segundos por lembranças do corpo nu de Eric. Não sei se algum dia vou ser capaz de superar a imagem dele nu, deitado sobre a bancada da cozinha, l as pernas grossas arreganhadas para os meus olhos, expondo o pau duro, avermelhado...

— Porra, Eric!! -resmungo para ninguém além de mim enquanto sou obrigado a ajeitar as calças, que, subitamente, tornaram-se desconfortáveis e apertadas. Bolas azuis, caralho!

͞ Você tá namorando? O vizinho? -Rodrigo já abre a porta perguntando, giro em minha cadeira, escondendo dele meu rosto atormentado, e aproveitando para ver a hora exata no relógio sobre a bancada atrás de mim.

— Oito horas. Demorou mais do que imaginei. Achei que você me ligaria imediatamente... parabéns, irmão! Você está melhorando muito quando o assunto é autocontrole...-Ironizo e ele assume uma expressão grave. Grave demais para o assunto discutido.

— Gustavo...

— Não me venha com Gustavo... Eu sei o que estou fazendo, porra! Eu não sou um moleque, Rodrigo! -Reclamo, muito mais irritado com a dor entre minhas pernas do que com o excesso de cuidado de Rodrigo. Ele só apareceu na hora errada com o assunto certo para que eu descarregue minha frustração.

— Sabe mesmo? Porque, primeiro, Alicia e Alice chegam em casa falando do quão incrível foi passar o dia com o tio Gustavo e o namorado dele que tem nome de príncipe... -É imediato, ouvir essas palavras alivia a carga pesada com a qual o dia já começou, e é impossível impedir que um sorriso surja no canto dos meus lábios com essas lembranças daquele dia.

Foi realmente um dia muito bom, inteiramente bom... Tirando o começo de agonia que aquele homem me deu, deixando-me esperar até o último segundo, e fazendo-me acreditar que não aceitaria a aposta, é claro.

͞ E ontem, eu estava muito bem, trabalhando, quando Camilla invadiu meu escritório em casa para me mostrar sua atualização de status de relacionamento. Ela estava aos gritos, Gustavo! Aos gritos! Nem meia hora depois nossa mãe me ligou querendo saber se eu já conhecia o seu namorado e quando ela iria conhecê-lo, ela estava tão feliz, que eu não tive coragem de contar pra ela que isso, provavelmente, era algum tipo de piada sua... Mandei que ela te ligasse, esse é um problema seu!

Concordo, movimentando a cabeça para baixo e para cima.

— Gustavo... -Bufo, porque não importa, ele vai me repreender, mesmo depois de eu ter dito que não deveria fazê-lo.

— Fala, Rodrigo...

— O que você está fazendo? -senta-se na cadeira diante de mim, abrindo o paletó e cruzando uma perna sobre a outra, apoiando o tornozelo no joelho.

— Mantendo o empreendimento seguro... Pelos próximos dois meses Eric vai estar distraído demais com a nossa aposta pra se preocupar com qualquer coisa. Eu sou uma excelente distração, sabia? -Pisco para ele e meu irmão deixa que a cabeça pensa de lado enquanto me dirige um olhar incrédulo: ͞ O que acaba de se tornar ainda mais necessário... Viu isso? -questiono, empurrando os jornais sobre a mesa em sua direção.

— Você sabe que está falando de uma pessoa, certo? Uma com sentimentos? -me devolve as perguntas enquanto passa os olhos pelas manchetes: ͞ Sim, eu vi... Uma porra!

Um som de desdém atravessa minha garganta sem que eu faça nada para detê-lo.

— Eric não é nenhuma criança, Rodrigo. Ele sabia exatamente onde estava se metendo quando aceitou a aposta. E, antes que você chore mais, eu avisei a ele que não sei jogar pra perder, e que se estava propondo algo assim, é porque acreditava na minha própria vitória! Alguma ideia pro plano de contenção? -Pergunto por último sobre aquele que é o problema mais sério, e franzo o cenho ao me dar conta disso, mas não me apego ao pensamento.

— Nós podemos, por favor, falar de um problema por vez? Pede, e eu concordo com um aceno.

— Tudo bem, alguma ideia? -Reforço a pergunta, mas Rodrigo não me dá chances.

— Nem fodendo! Primeiro, nós vamos falar sobre o seu vizinho!

Reviro os olhos e, imediatamente, me repreendo. Porra! Isso é sério? Agora eu vou pegar as manias de Eric? E isso em o quê?! Três dias? Onde eu vou estar daqui a um mês? Viciado em cheesecake, provavelmente... Meu subconsciente piadista sopra as palavras e eu não evito o sorriso que vem junto com elas.

Rodrigo me observa por alguns minutos em silêncio, depois, balança a cabeça, negando.

— E se ele ganhar?

— O quê? -Mal posso acreditar que ele realmente tenha sugerido algo assim...

— E se ele ganhar? -Repete, um pouco mais alto, como se tivesse sido o volume de sua voz o que causou minha incompreensão.

— Rodrigo...

— Não me venha com Rodrigo! -Usa minhas palavras contra mim: Quanto tempo faz que você conhece esse garoto, Gustavo? Duas semanas? Três? Você diz que tem tudo sob controle, mas da maneira que eu vejo as coisas, nesse curto espaço de tempo, ele já conseguiu de você o que eu vi você negar a homens que passaram muito mais tempo na sua cama do que ele na sua vida. E sabe o que mais? Ele nem precisou te pedir! Você o apresentou pra Alice e Alícia, passou um dia brincando de família feliz, e, agora, assumiu a porra de um namoro, Gustavo! Você assumiu a porra de um namoro!

Diz, sério. Meu cenho se franze diante de suas palavras. Ele não está errado, mas as coisas não são como meu irmão está fazendo com que pareçam. Quer dizer, eu tenho o controle sobre tudo o que já aconteceu.

Eric estava no meu apartamento quando as meninas chegaram, porque eu dei um ultimato a ele.

Passou o dia conosco, porque eu insisti.

Assumiu um namoro comigo, porque eu achei que seria divertido e também me seria útil... Ou será que me tornei vítima da minha própria armadilha e Eric está me manipulando enquanto dá a mim a sensação de controle?

Repenso tudo o que já aconteceu desde que o louco bateu em minha porta pela primeira vez... Lindo, a porra de uma visão! Assim que pus meus olhos nele, eu soube que tê-lo seria uma delícia, mas eu realmente não tinha ideia do quanto, não até que ele estivesse em minha cama.

Eric dá e toma na mesma medida, e puta merda! Eu adoro isso! Adoro a forma como ele exige toda a minha atenção, e como me entrega toda a sua sem reservas. Nu, nos meus braços, ele parece se esquecer do quanto eu o irrito, do quanto ele detesta minha companhia e, eu diria, até mesmo da aposta. Ele não é meu pela metade, por aquelas horas, ele é inteiro meu como ninguém jamais havia ousado ser, e mais do que isso, ele não aceita que eu seja menos do que inteiramente seu, e isso é foda demais.

Não, definitivamente, ele não está me manipulando, mas se eu tiver que ser honesto, a sugestão de Rodrigo tem seu mérito. A resistência de Eric tem tornado minha vontade de dominá-lo cada vez maior, e, como consequência disso, eu tenho aberto um espaço cada vez maior para ele em minha vida. Um espaço que nunca havia sido ocupado por quem quer que fosse, e isso é perigoso.

Sorrio... porque, definitivamente, o maldito é o meu tipo de cara, um que eu ainda não tinha encontrado por aí, e por isso, agradecia aos céus todos os dias. Porque eu sempre tive certeza de que não resistiria ao desafio, e se esse tal tipo existisse fora da minha imaginação e realmente viesse a cruzar meu caminho, se eu não tivesse cuidado, poderia acabar na palma da mão do infeliz.

Felizmente, Eric não tem a menor intenção de ter-me em suas palmas, não para além da aposta... Eu só preciso mantê-lo distraído por tempo o suficiente...

Com os pensamentos devidamente organizados, volto a prestar atenção em Rodrigo e ele tem os olhos estreitados e uma expressão de dúvida no rosto.

— Você não vai rebater? -questiona, desconfiado, e eu sorrio.

— Não, você tá certo... -declaro e sua expressão passa de duvidosa para algo quase assustado, fazendo-me gargalhar.

— Mas que porra... -resmunga, passando as mãos pelos cabelos e franzindo o cenho: ͞ Desde quanto você assume tão fácil quando tá errado, Gustavo?

— Desde que eu tô errado, ué... Só que esse, meu irmão, é um evento raro...

— Então você vai parar com isso? E pode me dizer o que vai fazer? Porque a porra da aposta já foi feita...

— Nada, Rodrigo... Eu não vou fazer nada... Como você mesmo disse, a posta tá feita, e eu não sou homem de voltar atrás com a minha palavra.

Rodrigo joga a cabeça para trás, apoiando-a no encosto de sua cadeira e fechando os olhos.

— Então você reconhece que tá fazendo merda, mas vai continuar fazendo merda, é isso?

— Eu nunca reconheci isso... Eu disse que você estava certo, foi você quem deduziu que eu estava arrependido do que fazia...

— Então você sabe que está errado, mas não se arrepende? Seu tom é tão incrédulo quanto seu rosto é julgador.

— Rodrigo, você tá convivendo demais com crianças de oito anos. Quem foi que te disse que eu acho que tô errado, porra? Você estar certo não significa, necessariamente, que eu esteja errado. Sim, você tá certo, dei ao Eric experiências e um título, por assim dizer, que eu não tinha dado a nenhuma outra pessoa antes, é verdade, mas isso não significa nada! Na verdade, se eu dei, é porque ele não quer! -Explico, o que seria óbvio para qualquer um que o conhecesse, mas que, para um expectador de fora da relação completamente fora dos padrões que estamos construindo, pode parecer realmente difícil de ver.

— Eric não dava a mínima pra conhecer as meninas, Rodrigo, e quando conheceu, ficou apavorado, olhando-as como se tivesse medo de quebrar um vaso de cristal muito caro. Eric não se importa em ser chamado de meu namorado, eu tive que suborná-lo com comida, e, ainda assim, tenho quase certeza de que aquela cabecinha só aceitou, porque encontrou uma forma de eu me ferrar com isso, ele simplesmente não liga, então eu não me importo em ceder, porque não significa nada. -A cada palavra dita, a diversão em minha voz aumenta.

— Conhecer Alícia e a Alice não fez com que Eric começasse a escrever nossos nomes envoltos por um coração em seu diário. Passar o dia com elas não fez com que ele começasse a planejar nosso casamento e pensar qual seria o melhor lugar pra recepção. Ser, oficialmente, meu namorado, vale muito menos pra ele do que a porra de uma fatia de cheesecake da Dulce Delicatessem... Ele simplesmente não se importa, por isso, eu não me importo também...

— E você devia parecer tão orgulhoso ou satisfeito com isso quanto soou?

Sorrio.

— Vai se foder!

— Cuidado, Gustavo... Ou eu vou começar a achar que ele é a pessoa por que eu tô esperando há anos...

— Achei que Camilla fosse essa pessoa. -Debocho.

— Pode debochar à vontade... Mas esse tom, esse olhar, e essa disposição em se arriscar? Ah, meu irmão... Eu já vi tudo isso antes... No espelho... Tudo bem... Vamos falar sobre o plano de contenção...

— Simples assim? Você vai deixar pra lá? -questiono e sorriso que toma seu rosto é indício o suficiente de que vem merda por aí.

— Vou... -afirma e puxa os jornais pra si: ͞ Acho que a primeira coisa que devemos fazer é soltar uma nota de repúdio, a segunda, contratar um gerenciador de crises que possa acompanhar isso de perto.

Levo alguns segundos observando-o, tentando descobrir suas intenções, mas sua expressão divertida não me diz nada além do fato de que ele as tem. Desisto, em algum momento, vou ter que lidar com elas, de uma forma ou de outra.

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Comentários

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Ansioso por mais..espero que poste com mais frequência por favor.

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Que bom que vocè voltou a postar novamente.

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E se o Rodrigão se apaixonar pelo Eric?

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Show. Um pouco insosso mas tudo bem. Este capítulo está mais para "Os irmãos" do que para "o vizinho ". Ansioso.

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