TINHA QUE SER VOCÊ - 13: EU QUERO (JOÃO)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1640 palavras
Data: 16/03/2024 01:18:53

CAPÍTULO: EU QUERO

NARRADOR: JOÃO

Não tinha como negar: a festa era um espetáculo grandioso. Porém, eu me sentia incomodado com a atenção exacerbada. Cada sorriso e elogio parecia coreografado para um público ávido por espetáculo. Os olhares curiosos se dirigiam a mim e a José, os filhos recém-descobertos da família Telles. A suntuosidade daquela celebração era estranha, e eu me sentia como um intruso em um mundo que não era meu.

José, por outro lado, deslizava pela multidão como se já pertencesse a ela desde sempre. Seu carisma natural se destacava, envolvendo os convidados em conversas leves e sorrisos fáceis. Eu, como sempre, me via encarcerado em um silêncio incômodo, inapto para as nuances sociais da elite carioca.

O clima de desconforto atingiu seu auge quando descobri que meu ex-namorado, aquele traidor desgraçado, era nada menos que o filho do vice-presidente das empresas Telles, ramo de negócios pertencente ao meu avô biológico, Fernando Telles. Uma reviravolta digna das tramas mais rebuscadas da Netflix.

Por sorte, o Hector chegou e conseguiu me resgatar. Infelizmente, andamos poucos metros, quando o meu pai biológico parou para me apresentar algumas pessoas. Para o meu desespero, o Mauro puxou o Hector para um canto, mas eu não pude fazer nada.

— Jayme, — pedi com pressa. — com licença. Eu preciso ir ao banheiro. — sai na direção de Hector. Um barraco estava fora de cogitação. — Ei. — peguei no ombro de Hector. — Vamos encontrar o José.

Maldito Mauro! Neguei a mim mesmo que ainda sentia algo por ele, mas sua presença provocava um nó desconfortável no meu estômago. As palavras não ditas ecoavam na minha mente, reacendendo sentimentos que eu acreditava ter enterrado. No meio da festa grandiosa, eu me via preso entre a obrigação de encarar meu passado e a necessidade de proteger meu coração das feridas que ele infligiu.

A festa continuava, os sorrisos falsos e as risadas ensaiadas ecoavam no salão. Enquanto meus pés deslizavam pela grama do jardim, eu me perguntava se, em meio àquela encenação de luxo, eu conseguiria encontrar meu lugar ou se permaneceria como um espectador solitário, observando meu passado e presente se entrelaçam em um balé complexo de laços e desenlaces.

— Ei, maninho. — José chamou a minha atenção. — Essa é a senhora Suzana Duarte. Ela tem uma escola de boas maneiras. A dona Patrícia já marcou uma aula para mim.

— Olá. — a cumprimentei.

— Vocês são tão lindos. — disse a mulher me deixando sem graça. — Vai ser uma honra dar aula para dois jovens tão especiais.

— Especial quer dizer: ricos. — Hector sussurrou em meu ouvido e tive que segurar o riso.

Aula de etiqueta? Isso é surreal. Eu não preciso de aulas de etiqueta. Sei me comportar muito bem próximo a outras pessoas. Talvez o José precise, assim ele para de ser um enxerido e intrometido. Durante toda a noite, fui cordial, sorri e conversei. Mesmo me sentindo um peixe fora d'água, eu consegui desempenhar o meu papel. Eu só queria ir para casa, ficar deitado no sofá e comer os doces da minha mãe.

Em menos de quatro horas, conheci centenas de pessoas. Empresários, artistas e clientes do conglomerado Telles, mas não fui apresentado ao meu avô, o Sr. Fernando Telles. O Hector contou que era grato por toda ajuda que recebeu dele, sendo tratado da melhor maneira e auxiliado enquanto a questão financeira.

Outra pessoa que passou distante foi o Jorge Telles, o irmão gêmeo do meu pai biológico. Os meus pais não possuem irmãos, logo, não tenho tios ou primos. Sempre fomos só nós, ou seja, uma vida meio solitária. Segundo o José, precisamos olhar para a situação geral. Vamos criar uma rede de apoio melhor e, dessa maneira, dar uma vida melhor para o pai e a mãe.

O centro das atenções. O José e eu éramos a novidade do momento, algo que, por toda nossa vida, nunca imaginamos experimentar. Jayme e Patrícia, nossos pais biológicos, sorriam orgulhosos, como se estivessem apresentando jóias raras à alta sociedade carioca.

Era um cenário surreal. Crescemos em um lar simples, onde o amor e a dedicação de nossos pais de consideração foram riquezas fundamentais para nós. Agora, nos víamos diante de um universo luxuoso, onde as posses pareciam definir a importância das pessoas.

De repente, o Jayme nos levou para um palco montado no jardim. Flashes e mais flashs atrapalharam a minha visão, porém, o José era só sorrisos e acenos. O meu pai biológico tinha uma atitude firme e sua voz grave nada lembrava a minha. Ele tomou a palavra no meio da festa, todos os olhares voltaram para nós.

— Queridos amigos, é com grande alegria que apresento meus filhos, João e José. O destino pode ter nos separado no início de suas vidas, mas hoje celebramos a reunião desta família. Estes jovens são o orgulho de nossas vidas, e queremos proporcionar a eles todas as oportunidades que merecem.

Os flashes das câmeras iluminavam o ambiente enquanto Jayme continuava seu discurso, exaltando nossas supostas origens nobres e a importância de pertencermos a esse círculo social. Os convidados aplaudiam, absorvendo cada palavra.

No final de seu discurso, Jayme fez um gesto grandioso, revelando um carro para mim e uma moto para José. Eu olhei para ele, ainda sem entender o que estava acontecendo. O meu irmão tapou a boca com as mãos e correu na direção da mota.

"Eles são loucos?", questionei para mim, pois havia ganhado um carro zero, mas nem a CNH eu possuía. Era um presente carregado de expectativas, uma responsabilidade que parecia pesar sobre os meus ombros. Jayme e Patrícia, sem dúvida, tinham boas intenções, mas a facilidade com que tentavam comprar afeto era desconcertante.

— Vai lá, João. — Hector me cutucou e cochichou no meu ouvido. — Sorria e vá.

— Ok. — respirei fundo, acenei e andei em direção ao carro.

— Olha isso, João! — gritou José, apontando para a sua moto e sorrindo.

Era certo aceitar esse presente? Eu sorri. Não tinha o que fazer. O desafio estava lançado, e enquanto a festa continuava, eu me questionava como equilibrar as diferentes facetas dessa complexa jornada que tinha se tornado a minha vida.

— Carro lindo, João. — Mauro se aproximou e um fotógrafo insistiu em registrar o momento.

— Só um minuto. — pediu Mauro me abraçando e apontando para o carro. — Você ganhou em uma loteria, cara. Parabéns.

— Eu não queria nada disso e...

— Qual é, João. Você tem que aproveitar essa oportunidade. — ele disse, olhando para mim, pois o fotógrafo já tinha ido embora. — Você não é mais o bolsista da escola. Agora é um Telles. Esse é o seu lugar de direito.

— João. — Hector pegou no meu ombro. — Vamos, o seu pai quer tirar mais algumas fotos.

— Qual é, cara. — soltou Mauro, revirando os olhos. — O João não precisa de uma babá. Você ficou sabendo, João?

— Gente, eu não quero confusão. — tentei apaziguar a situação ao ver os dois se encarando.

— Pera aí, João. Que essa é legal. Você sabia que o Hector foi preso por posse de drogas? O Alex me contou. Inclusive, como está o seu vício?

— Hector? — perguntei.

— Isso é. Isso é. — Hector ficou estranho, então saiu esbarrando em alguns convidados. — Desculpa. — ele pediu, antes de sumir.

— Sério, Mauro? Você é um babaca. — sai em busca de Hector.

O Mauro é um idiota. Como eu posso gostar de alguém tão baixo e manipulador? Ele sempre me fez sentir mal, principalmente quando eu me destacava em alguma matéria ou teste. "Os professores estão sendo bons com você, porque é bolsista", ele costumava dizer. Eu não posso voltar para a estaca zero.

Mesmo na adversidade, o Hector esteve ao meu lado e, literalmente, segurou a minha mão neste turbilhão de novidades. Ele é um cara gentil, sincero e batalhador. Eu preciso encontrá-lo. Eu preciso dizer que ele é o cara certo para mim.

A festa estava ganhando um novo tom com os convidados alegres devido a bebida. Eu andava de maneira atrapalhada e pedia licença das pessoas. Encontrar o Mauro neste evento despertou lembranças que eu preferia esquecer. Mas quem acabou machucado foi o Hector.

Ele pareceu incomodado, seus olhos lançaram uma tristeza que me deixou angustiado. Queria acalmá-lo, e explicar que o Mauro fazia parte do meu passado e que não havia motivos para preocupação.

Depois de um tempo, eu o encontrei na sala. Ele carregava um semblante triste e dolorido.

— Hector, precisamos conversar. — eu disse me sentando ao seu lado.

Ele virou-se para mim, os olhos carregados de tristeza e vergonha. Eu sabia que precisava ser honesto e direto.

— Ei, eu sei o que o Mauro disse é mentira. — tentei tranquilizá-lo.

Hector olhou para mim, e por um momento, o peso em seus ombros parecia diminuir. Ele suspirou e, finalmente, começou a compartilhar sua verdade.

— João, eu soube que esses rumores poderiam surgir em algum momento. É verdade que eu já tive problemas com drogas, mas isso faz parte do meu passado. Estou limpo há quatro anos. Eu luto contra isso todos os dias.

A confissão de Hector reverberou em meu peito. A coragem que ele demonstrou ao se abrir sobre seu passado de luta contra o vício iluminou uma nova perspectiva. Eu sabia que aquele momento seria crucial para nós dois.

— Hector, agradeço por compartilhar isso comigo. Seu passado não me assusta. O que importa é o que somos hoje, e eu quero estar ao seu lado, independentemente do que já aconteceu. — segurei a sua mão e acariciei.

No silêncio que se seguiu, senti a barreira entre nós desmoronar. A noite tinha começado com desafios, mas agora, naquele espaço isolado da festa, estávamos construindo uma base de confiança e compreensão. O caminho à frente podia ser incerto, mas juntos, estávamos dispostos a enfrentar qualquer desafio que o destino nos reservava.

— O que isso, — Hector também acariciou a minha mão. — significa?

— Significa que estou disposto a tentar. Se você também quiser.

— Eu quero. Eu quero.

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Comentários

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sempre tem uma uma yag regina gorge aporreando a vida das outras.

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Pelo amor de Deus não me deixe nessa agonia de tamanha espera por um capito novo, tenho ansiedade faz isso comigo não carai kkk

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