Como já dizia um goiano, o mundo não gira, ele capota. Essa frase eu entendi o dia que topei com Gabriela novamente, 19 anos desde que nos conhecemos e que nós nos vimos pela última vez. Até agora. Gabriela surgiu na minha vida no início do ensino médio, bem naquela fase de descoberta, sexualidade aflorada, muitas novidades em pouco tempo.
Em meados de 2005 estudávamos em um colégio no centro da cidade, e por ser uma cidade de interior todo mundo conhecia todo mundo, mas a cidade estava crescendo e trazendo novas pessoas, uma delas foi Gabriela, que chegou ao nosso colégio com sua pele morena adornada com traços sutis de ancestralidade e olhos que refletem a sabedoria das eras, personifica a beleza natural e intemporal das terras que a viram nascer. E como toda novidade não existia uma pessoa que não estivesse de olho na indiazinha, e foi óbvio para mim que seria mais fácil manter distância, a vida de uma pessoa que gostava mais de estudar do que de socializar já era difícil demais para eu ainda me aproximar.
Com o passar das semanas Gabriela estava no grupo dos populares, sempre sorridente em seu grupo de amigos, mas nem tudo eram flores. A dificuldade em algumas matérias do ensino médio logo começou a dar as caras, e em pouco tempo os professores iniciaram os pares de estudo, e claro que em matemática eu tinha que estar com Gabriela, nunca sequer trocamos uma palavra, mas precisávamos trabalhar por 6 meses juntas para que todas as notas estivessem nas médias.
Tendo essa ligação obrigatória, combinamos de toda sexta à tarde irmos para casa de uma das duas e revisar os conteúdos da semana e organizar as atividades. Nas cinco primeiras semanas isso funcionou de forma adequada, as notas de ambas aumentaram nos testes e atividades. E ao mesmo tempo as coisas entre mim e Gabriela também melhoraram, estávamos conversando com mais facilidade e às vezes no colégio, ficávamos juntas. Porém ao contrário do que tudo parecia tudo mudou quando Lucas passou a ser namorado de Gabriela, nossos encontros de estudo agora tinham ele como parte principal, o que impedia nossos estudos.
Em poucos dias tudo o que lutei para alcançar nas notas caíram, já que a professora avaliava a dupla. Fiz algumas tentativas frustradas de falar com Gabriela para melhorarmos, mas sempre Lucas estava no caminho. Um dia Lucas não apareceu enquanto estudávamos na casa de Gabriela, o que era estranho, mas logo descobriria o amargor dessa estranheza.
Naquele dia fatídico Gabriela me disse que havia terminado com o namorado pois gostava de outra pessoa, e que estava com medo do sentimento que tinha por ser algo diferente. Escutei-a como deveria, e logo me surpreendi com um beijo, um beijo que ao mesmo tempo me assustou e me agradou, ao fim do beijo eu estava com o coração acelerado e percebi que aquilo não poderia ter acontecido. Juntei minhas coisas o mais rápido que pude e fui embora.
Mas o pior ainda estava por vir, na segunda pela manhã quando cheguei ao colégio todos cochichavam e apontavam para mim, não sabia dizer o motivo e a medida que aumentava eu me incomodava mais. Até que ao chegar à sala de aula vejo Gabriela e Lucas com uma câmera na mão mostrando para todos o beijo e ali tudo estava acabado, voltei para casa imediatamente chorando, e implorei para meus pais me mudarem de escola sem dizer o motivo. Mas os meus pais queriam saber o motivo, e ao descobrirem me mandaram para a casa de uma tia minha que vivia na Europa, lá eu iria estudar em um colégio interno para garotas e meus pais iriam me ver todas as férias. Mal sabia eu o que viria pela frente.