TINHA QUE SER VOCÊ - 21: BENDITA TECNOLOGIA (JOÃO)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1882 palavras
Data: 07/04/2024 00:53:20

É difícil colocar em palavras tudo o que tem acontecido em minha vida nos últimos meses. Parece que estou preso em um turbilhão de emoções, onde cada reviravolta é mais surpreendente do que a anterior. E agora, aqui estou eu, enfrentando o maior desafio de todos: tentar escapar de um cativeiro onde fui trancado por minha própria avó.

Descobrir que fui adotado foi um choque, uma revelação que abalou as bases da minha identidade. Mas, ao mesmo tempo, também foi uma fonte de libertação, uma oportunidade de redefinir quem eu sou e o que quero ser. E ao lado de Hector, meu namorado, comecei a trilhar esse novo caminho com coragem e determinação.

Mas então veio o sequestro. E a pior parte? Eu não sei como está o Hector. Ele apanhou bastante dos bandidos. O que me deixa mais puto é saber que a mandante foi a vovó. Como um familiar pode estar por trás desse ato vil? Uma traição que dilacerou meu coração. Como alguém que deveria me amar e proteger pôde ser capaz de tal crueldade?

Agora, enquanto me vejo trancado neste cativeiro sombrio, a única coisa que me mantém são as lembranças de Hector e a determinação de escapar desse pesadelo. Olhava obcecadamente para o buraco na parede, afinal, lá estava o meu único recurso para avisar aos meus familiares o meu paradeiro.

De repente, um dos bandidos entra no quarto com um celular em mãos. Ele se aproxima com violência e me ergue do chão usando uma única mão. O meliante me leva para um lado mais limpo do quarto e manda eu ficar encostado na parede.

— Vou gravar um vídeo, mané. Nada de caô. Pegou a visão?

— Si, sim. — concordei.

— Não vem de perreco pra cima de mim. — disse o homem, antes de apontar o celular na minha direção e começar o vídeo. — É o seguinte, a gente tá de posse do menor. Não queremos confusão com os fardados, viu. O 'principezinho' está sendo tratado a pão de ló. Então, para garantir a segurança dele, queremos a quantia de R$ 10 milhões, em dinheiro. Duas bolsas. — olhando para mim. — Diz aí, menor. Cê tá bem?

— Eu, eu, eu tô ótimo. — afirmei, tentando passar segurança e não cair em prantos. — Só façam o que eles querem. — pedi, ainda sem ter noção da quantia. R$ 10 milhões. Eu valho tudo isso?

— Em breve, vamo entrar em contato sobre as coordenadas. Mais uma vez eu aviso, nada de fardados. Quem avisa amigo é. Fui! — desligando o vídeo. — Muito bem, menor. Vai descansar e aproveitar o quarto VIP. — rindo e saindo do cativeiro.

— Filho da puta! — disse alguém me assustando.

— Porra, — peguei no peito, ainda me recuperando. — você de novo? Eu preciso de muita terapia.

— Eu sou melhor do que terapia, João. — minha contraparte psicológica era irritante. — R$ 10 milhões. A gente tá valendo muito, hein. E se a gente escapar daqui, pegar o dinheiro e fugir para as Bahamas?

— Você é louco. — murmurei.

— Eu meio que sou você, então...

— Calado. Eu preciso verificar a tag. A fonte de sol não deve ser tão forte. — falei, indo em direção a parede e verificando o buraco. — Droga, a luz ainda tá vermelha. — analisando o aparelho.

— Isso que dá comprar produto vagabundo. — a minha contraparte encostou na parede e ficou com cara de tédio.

— Isso não é um produto vagabundo, João. Apenas não tive tempo para carregar. Fora que não tenho noção se alguém sabe sobre a tag. E se o Hector....

— Vira essa boca pra lá. Não podemos perder o boy. Ele é tudo de bom, né? A melhor escolha que fizemos nos últimos tempos. — garantiu. — Espera. — olhando para o chão. — Tem outro buraco aqui. — apontando para frente. — Tenta aqui.

— Finalmente, você foi útil para algo. — soltei, andando na direção do buraco e colocando a tag. — Por favor.

Sabe a pior parte de morar no Rio de Janeiro? O calor. Como o cativeiro era de tijolos e o telhado de metal, a temperatura começou a castigar o quarto. Tirei parte da minha roupa, pois não queria morrer desidratado. Fiquei apenas com a calça social.

Um bandido entrou no cativeiro e reclamou do calor. Sério? Idiota. Ele trouxe um almoço até que decente: carne moída com arroz e batata frita. Não vou mentir, devorei a comida como se não houvesse amanhã. O homem até ficou impressionado e avisou que a mensagem havia sido enviada para a minha família.

— A tua sorte é que eles estão cooperando. Aproveita o rango, riquinho. — ele disse, antes de jogar uma garrafa de água gelada perto de mim. — Vazei. — saindo e trancando a porta.

— Eles estão cooperando. — falei com um pingo de esperança dentro de mim. — Isso é bom, né?

— Nossa, João. — a minha outra parte reclamou e percebi o nojo em sua feição. — Essa comida parece estar horrível.

— Cara, se eu não comer nós vamos morrer. Você esqueceu que estamos ligados?

— Tá, manda ver. — ele disse.

— Bip. — um barulho faz o meu coração parar.

Deixei a comida de lado e fui em direção do buraco no chão. Com as mãos trêmulas, peguei a tag e a luz verde acendeu como um milagre. Me esforcei para ligar o dispositivo, rezando para que o Hector tenha passado a informação de que ela estava comigo.

Com a tag em mãos, levantei e a coloquei em uma fissura na madeira do telhado. Era a minha única saída e não havia mais como ajudar meus familiares, além de esperar e rezar. Quem disse que a tecnologia não pode ser útil em um sequestro? A Viviane vai pagar caro por ter me feito de refém. Tenho certeza que a sua prisão vai ser uma alívio para todos os Teles.

— O que vamos fazer? — a minha cópia questionou.

— Esperar e orar. Alguém precisa localizar essa tag.

Mais horas se passaram e nada do resgate. Os bandidos começaram a ficar impacientes com a demora e o nervosismo refletiu na maneira em como estavam me tratando. De noite, um deles jogou o prato de comida no chão e não trouxe colher. Tive que comer com as mãos. A fome venceu e a cena não foi bonita de se ver.

Naquela madrugada, ouvi a conversa de Viviane. A minha avó também já parecia no limite, afinal, ninguém da família confirmou a entrega do dinheiro. Engatinhei até a parede e pressionei o meu ouvido para tentar ouvir mais sobre a discussão.

— Não, eu já falei. Eu vou sozinha. Não podemos dar bandeira. — ela disse. — Eu só quero o dinheiro. O seu pai não pode deixar o próprio neto à mercê de bandidos. — Viviane fez uma pausa. — Eles também estão me pressionando, Jorge.

PUTA QUE PARIU! Jorge. O meu tio estava mancomunado com a vovó. Eu queria estar surpreso com a informação, mas já esperava por algo assim. O Jorge nunca gostou do meu pai biológico e sempre apoiou a mãe em suas loucuras. Agora não vai ser diferente, né?

Eu preciso sair deste cativeiro. Bolar um plano para escapar e contar tudo para a polícia. Mas quem estou enganando? Eu sou fraco. Eu não sou capaz de me defender. Eu só trouxe problemas para todos.

Deixei no chão. Também cheguei ao meu limite. Nos últimos dois dias, lutei para sobreviver, mas parece que nada está a meu favor. Se eles quiserem me matar, que matem. Eu só quero sair daqui. Os pensamentos intrusivos entraram na minha cabeça de uma única vez.

Com toda a força que consigo reunir, soltei um grito estridente que rasgou o ar e fizeram os meus pulmões arderem. O som chamou atenção dos bandidos que entraram assustados no quarto.

Sem hesitar, comecei a jogar objetos na direção deles. Copos, garrafas e o prato de metal, qualquer coisa que via na minha frente jogava na direção dos bandidos. Um deles apontou a arma na minha direção e meu coração acelerou de uma maneira alucinante. "Eu vou atirar, menor", ele ameaçou, mas eu não parei o meu protesto suicida e continuei. "Socorro", "Estão me sequestrando", "Vão me matar", "Alguém me ajuda". Gritei várias coisas, algumas sem nexo, mas a adrenalina me ajudou.

"Eu vou atirar, caralho", o homem continuava ameaçando, então fechei os olhos e fiquei em pé. De repente, ouvi um estouro repentino que pareceu ecoar dentro da minha cabeça. Estou sendo alvejado?

Mas então, uma voz rouca e autoritária cortou o ar. "Polícia! Todos no chão, mãos para cima!". Abri os olhos lentamente, aterrorizado, e vi figuras uniformizadas correndo em minha direção. Eles estão aqui por mim. Eles vieram me salvar.

Tudo aconteceu muito rápido. Os bandidos sendo dominados, algemados, levados embora. E eu, eu sendo envolvido por cobertores, recebendo palavras de conforto e promessas de que tudo ficaria bem.

Não acredito. Será que a tag funcionou? É difícil acreditar, depois de tanto medo, finalmente estou livre. Mas enquanto olho para o rosto dos policiais, para as luzes piscando lá fora, sei que estou seguro.

A casa onde fui colocado fica localizada em um bairro humilde do Rio de Janeiro. Haviam outras residências pela região, mas todas abandonadas. De um carro preto saíram todos os meus pais e meu irmão. Eles se adiantam e me abraçam. Viramos uma bagunça ambulante, mas, logo, lembrei que estava imundo.

— Gente, estou todo sujo e fedorento. — falei.

— Não importa. — afirmou a mãe Esther, que continuava abraçada comigo. — Eu te amo tanto, meu filho.

— Eu também não me importo, João. — garantiu Patrícia, emocionada. — Eu fiquei com tanto medo de te perder outra vez.

— Obrigado, pessoal. — agradeci. As minhas mães deram espaço e vi o José na minha frente. — Vem cá. — o chamei para um abraço.

— Eu te amo, seu idiota. Nunca mais me assusta assim, viu. — meu irmão pediu, enquanto me sufocava em um forte abraço. — Ah, e eu apaguei a pasta 'José - as piores'. — ele cochichou no meu ouvido. — E uns vídeos inapropriados também, a polícia ia mexer no teu notebook.

— Obrigado. Eu sabia que vocês iam conseguir. — me afastei do José. — E o Hector?

— Ele está bem. Apanhou pra caralho, mas está bem. — explicou meu irmão. — O cunha que falou sobre a tua localização. Nunca mais vou te criticar sobre essas bugigangas tecnológicas.

— Elas salvam vida. — afirmei sorrindo e recebendo mais uma sessão de abraços dos meus pais.

— Ei, João! — alguém exclamou o meu nome. Me virei e era a minha cópia maluca. — A gente foi guerreiro. Agora vai cuidar do Hector por nós. — sumindo na minha frente.

— Pode deixar. — respondi e deixei todos à minha volta confusos.

— Ele está falando com quem? — questionou o seu Josué.

— Sei lá, pai. Um fantasma? — brincou José dando com os ombros.

Três horas na delegacia. Após ser sequestrado, precisei colaborar com a investigação. Contei todos os detalhes que recordava dos dois dias que passei no cativeiro. Informei sobre a Viviane e a participação do Jorge no meu sequestro. Perdi a noção do tempo, mas o Hector não saia dos meus pensamentos.

Os policiais explicaram que ficariam de guarda na frente da mansão dos Telles. O meu pai pediu para ficarmos todos juntos, afinal, a Viviane continuava à solta pela cidade e representava um perigo real para todos nós. Enquanto seguíamos para casa, o Jayme explicou que vai dar um jeito de entrar em contato com a mãe para oferecer dinheiro e nos livrar deste mal de uma vez por todas.

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