TINHA QUE SER VOCÊ - 19: CATIVEIRO (JOÃO)

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1643 palavras
Data: 02/04/2024 03:39:15

CAPÍTULO: CATIVEIRO

NARRAÇÃO: JOÃO

O aniversário do meu pai biológico deveria ter sido um dia comum, talvez até alegre. No entanto, a vida sempre reserva surpresas, e eu estava prestes a descobrir que a minha seria mais intensa do que eu jamais imaginara.

Hector e eu dirigíamos pelas ruas iluminadas da cidade, e estávamos nos divertindo, completamente alheios ao caos que se desenrolaria em breve.

Do nada, fomos abordados por um grupo de homens encapuzados, surgindo das sombras como fantasmas. Antes que pudéssemos reagir, fomos dominados, nossos gritos abafados por mãos rápidas e cruéis.

Vi Hector sendo brutalmente espancado diante dos meus olhos, impotente diante da violência que se desenrolava. Cada golpe era um eco ensurdecedor, uma sinfonia de dor que ecoaria na minha mente para sempre.

Arrastado para um caminhão, fui amarrado, minhas pernas e braços presos de maneira brutal. Uma sacola de pano foi colocada sobre meu rosto, me privando da visão e mergulhando na escuridão. Meu coração batia descompassado, enquanto o medo se misturava com a dor de ver Hector sendo maltratado.

A viagem para o cativeiro foi uma eternidade de tormento psicológico. A sacola sobre meu rosto amplificava a sensação de isolamento, e a incerteza do que me esperava aumentava meu desespero. A cada curva da estrada, eu me perguntava se seria a última.

A velocidade do veículo foi diminuindo, então alguém me colocou no colo. A pessoa cheirava a cachaça e desodorante vencido. Eu tive que fazer força para não vomitar ou morreria sufocado. Que morte patética seria?

No cativeiro, os homens discutiam entre si, como se eu fosse uma mercadoria a ser negociada. O valor do resgate flutuava no ar, como se minha vida pudesse ser mensurada em termos financeiros. Ouvir aquelas conversas cruéis, enquanto meu corpo ainda pulsava de dor e meu coração ansiava por notícias de Hector, era um tormento insuportável.

Não havia espaço para compreender o porquê dessa crueldade. Eu era João, um rapaz que acabara de descobrir suas origens ricas, e agora estava mergulhado em um pesadelo que ameaçava a minha vida.

A ansiedade atacou de uma maneira forte. Eu estava ficando suado e a roupa social não ajudava em nada a minha situação. "Tira uma foto dele", ordenou alguém. Então, um dos bandidos tirou o meu capuz e percebi que eu estava em uma casa de madeira. Recebi um forte tapa no rosto, quando analisei o ambiente.

— Ei, tio! É o seguinte, mano. Nós é da paz, sacou. — o homem disse, enquanto filmava o meu rosto. — A gente pegou esse arrombado aqui. E se tú não quiser a cara dele cravejada de bala é melhor seguir a nossa ordem. Queremos R$ 5 milhões em dinheiro. Em breve, a gente entra em contato pra falar onde é pra brotar com a grana. Não vai embaçar! — ele parou a gravação.

— Esse linguajar popular é tão fofo, né? — questionou uma voz feminina, mas não a reconheço, pois a lanterna do celular deixou minha visão turva. — Deixa eu enviar o pedido. Tenho certeza que o Jayme vai fazer de tudo para recuperar, de novo, o seu filhinho perdido.

— A gente só quer a nossa parte, coroa. Não queremos confusão com os fardados. — avisou o homem.

— Não se preocupe, meu querido. A parte de vocês já está garantida. — mexendo no celular e entregando para o bandido. — Se livre deste aparelho. A segunda mensagem vai ser enviada de outro número. Por favor, tratem o rapaz bem. Eu preciso fazer mais uma movimentações para fugir deste país de merda. Volto ao amanhecer. — saindo do quarto.

— Vocês ouviram a coroa. — o bandido chamou a atenção dos colegas. Ele usou uma faca para libertar meus braços e pernas das cordas. — Amarrem o pé dele na corrente. Eu vou descansar, pois tô quebrado. — se aproximando de mim e apertando o meu rosto. — É melhor se comportar. Não queremos te machucar. Se colaborar com a gente, a gente colabora com você. — assenti com a cabeça.

— Eu vou me livrar dessa porcaria. — disse um dos bandidos balançando o celular.

— Tripa seca. Traz água e fica no primeiro turno. Vamos revezar para não dar B.O. — o homem que me libertou disse para um dos bandidos.

Isso só pode ser um pesadelo. Eu fechei os olhos e desejei estar em outro lugar. As vozes dos bandidos foram sumindo à medida que eles saiam do quarto. O silêncio do quarto me deixava ainda mais angustiado. O choro e soluços continuavam a sair de mim, mas uma determinação sutil começava a se formar.

Ao abrir os olhos, fui confrontado pela realidade do cativeiro. O chão de madeira rangia sob minha posição, e as paredes, igualmente envelhecidas, pareciam cansadas. Móveis antigos, marcados pelo tempo, estavam espalhados pelo espaço, enquanto o cheiro estranho de mofo e cachaça impregnava o ar.

As garrafas jogadas no chão deixavam uma pista do forte cheiro. O colchão, coberto por uma camada de sujeira, parecia ter absorvido não apenas a poeira do tempo, mas também a água que escorria do teto.

Minha mente, embora confusa pela angústia, buscou a imagem de Hector. A visão dele sendo espancado assombrava meus pensamentos, e a impotência de não poder protegê-lo pesava dentro de mim. As lágrimas continuavam a rolar, mas respirei fundo, decidido a não me render ao desespero.

Só a calma pode me ajudar nessa merda de situação e encontrar uma brecha do cativeiro. Limpei os olhos e busquei por qualquer sinal de fraqueza na estrutura da casa, mas a porcaria da corrente atrapalha uma oportunidade de fuga. Meus dedos procuravam nervosamente por alguma saliência na corrente que me mantinha prisioneiro.

Enquanto planejava uma fuga improvável, meus pensamentos retornavam incessantemente a Hector. O amor que sentíamos um pelo outro era a minha força motriz, uma chama de esperança para me manter são. Eu sabia que precisava escapar não apenas por mim, mas por nós dois.

A cada soluço contido, minha determinação se fortalecia. Não importava quão sombrio fosse o cativeiro, a esperança, mesmo que pequena, permanecia viva dentro de mim. Era hora de lutar, não apenas pela minha liberdade, mas para não preocupar meus pais e irmão.

— Você acha que vamos escapar? — perguntou uma voz familiar. Ao me virar para trás, quase tive um infarto. Era eu.

— Que porra! — exclamei me afastando. — O que é isso?

— Eu sou você.

— Para com isso, João. — falei, colocando as mãos no rosto e respirando fundo. — É um delírio.

— Delírio? Delírio é essa situação. — a minha versão ilusória levantou e ficou andando no quarto de um lado para o outro. — A gente acabou de ficar rico e já fomos sequestrados. Valemos ouro.

— Você tá de zoação comigo? Puta que pariu. — soltei, levantando e puxando a corrente. — Essa merda não sai. — tentei puxar novamente.

— É impossível, João. Ei, me escuta. Você precisa pensar direito. Sabe que esses caras são barra pesada. — a minha cópia alertou.

— Eu sou tão rídiculo sendo conselheiro. A minha cara de sabedoria é um nojo. — sentei no chão e passei a mão na minha perna, quando senti algo diferente dentro da meia. — O que é isso? — tirando um objeto e sorrindo. — Hector.

— Isso é uma TAG?

— Sim. Ele colocou dentro da minha meia. — respondi.

— Nosso namorado é demais. — o 'outro eu' comemorou.

— O meu namorado. — salientei. — Você é apenas um devaneio da minha ansiedade.

Um bandido entrou no quarto e como reação coloquei a TAG dentro da boca. Ele trouxe uma garrafa de água e um pacote de biscoito. De uma maneira bruta, o meliante jogou tudo no chão. O meu corpo começou a tremer e tive que me controlar para não chorar. Eu estava faminto, mas não queria ingerir aquele alimento e se estivesse envenenado? É irônico como até mesmo a mínima oferta de sustento pode se transformar em um gesto de crueldade quando oferecida por aqueles que te aprisionam.

Graças a Deus que o Hector, o meu amado Hector, teve a ideia de colocar a tag localizadora em minha meia antes que eu fosse levado para este inferno. Porém, o dispositivo é ativado por raios solares, ou seja, precisava dar um jeito de carregar a tag.

Eu me agarro a essa esperança como se fosse minha última âncora para a sanidade. Será que alguém seria capaz de rastrear a minha localização? Será que a polícia está lutando contra o tempo para me encontrar? Esses pensamentos me consomem, mas, ao mesmo tempo, alimentam a determinação para sobreviver a este pesadelo.

Esperei o bandido sair do quarto, então cuspi a TAG e limpei a minha camisa social, que a essa altura estava toda suja. No desespero, encontrei uma fresta que poderia receber a luz do sol quando amanhecesse. Peguei o dispositivo e coloquei de maneira estratégica no buraco.

De repente, uma figura feminina adentrou meu cativeiro. Para a minha surpresa era Viviane Telles, minha avó paterna, uma mulher de idade, mas cuja beleza transcendia o tempo. Seus cabelos bem arrumados e seu perfume doce trouxeram um breve vislumbre de normalidade para o local.

— Estão te tratando bem? — ela perguntou, antes de sentar em um banquinho de madeira à minha frente.

— O que está acontecendo? — quis saber.

— Calma, João. — pediu Viviane. — Vou ser direta. — ela cruzou as pernas. — Preciso de dinheiro. Durante anos, as empresas do seu avô geraram lucro e parte deste dinheiro é meu, entretanto, as pessoas podem ser egoístas. Digamos, que o Fernando e eu discordamos em vários pontos. O que causou o meu desaparecimento. Se tudo der certo, garoto, você não vai se machucar. — levantando. — A minha equipe já entrou em contato com os teus pais. Em breve, eles vão enviar o meu dinheiro e você será liberado. — saindo do quarto e me deixando com uma feição de horror no rosto.

— Eu não vou me entregar. — afirmei, limpando as lágrimas e olhando para a TAG que poderia ser a minha salvação, mas será que vai carregar a tempo? Meu Deus, por favor, me ajuda.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 3 estrelas.
Incentive Escrevo Amor a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários