O mês de fevereiro veio mais rápido do que se imaginava no apartamento de Luis, ele, Marco, Kaio e Emilia conversam sobre o futuro de cada um ali presente.
Emilia: Bom amanhã eu e o Luis começamos a trabalhar, e vocês dois já foram matriculados naquela escola aqui perto, vocês vão estudar de manhã, assim eu poderei dormir um pouco mais sossegada sem vocês dois brigando o tempo todo!
Luis: Ai nem me fala tia, nossa faz tanto tempo que não tenho horário pra acordar e agora todos os dias ter que suportar a vontade de ficar mais tempo na cama e encarar o transito de Goiânia às sete da manhã, ai me faz até pensar se eu to fazendo o certo!
Kaio: Claro que tá mano, veja o tanto que tu cresceste desde outubro do ano passado, naquela época tu era um Zé ninguém, eu mesmo achava que tu ias ser pra sempre o filinho da mamãe, mas agora tu ta ai com casa própria, emprego, responsabilidades de adulto, até um filho você tem!
Marco: (risos) É mesmo papai tu ta certinho tem que trabalhar muito pra ganhar dinheiro e bancar as minhas regalias aqui nessa casa!
Luis: Ta vendo isso tia, eu novo assim já tenho filho barbado e preguiçoso!
Marco: Por falar nisso mano, eu quero ver se consigo um emprego, sei que você não vai me deixar faltar nada, mas eu preciso ajudar nas despesas eu não quero me sentir um inútil aqui dentro!
Emilia: A cala a boca seu besta, eu e o Luh já acertamos todas as despesas, mesmo que você trabalhasse não sobraria nada pra pagar!
Marco: Mais tia, eu preciso de dinheiro, não posso viver as custas do Luis, não quero vê-lo sacrificando um jantar com o namorado, pra guardar dinheiro pra me comprar um caderno por exemplo!
Luis: Isso não vai acontecer, até por que tudo indica que eu não tenho mais namorado!
Marco: Não importa, eu quero trabalhar e espero contar com o apoio de todos vocês!
Emilia: Tu sabes mexer com computador, projetor essas parafernálias eletrônicas todas?
Marco: Sei sim por quê?
Emilia: Então fica tranquilo você tá contratado já, vai trabalhar pra mim na faculdade, no antigo lugar do Luis, eu até aprendi a mexer com essas merdas, mas confesso que sou uma jurássica em tudo isso, e você vai me ajudar, alem do mais vai ganhar uma grana boa e fácil e só vai trabalhar três vezes por semana.
Luis: Nossa na minha época trabalhava todos os dias, até nos sábados!
Emilia: Eu abandonei o curso de Pedagogia, agora trabalho só com as turmas de Letras, aulas noturnas as segundas, quartas e quintas-feiras, então amanhã as seis e dez da tarde esteja pronto Marco pra começarmos a trabalhar!
Marco: Pode contar comigo tia, a senhora não vai se arrepender!
Emilia: Pra começar para de me chamar de tia, e deixa eu ir me deitar, tenho que planejar um apelidinho bem vergonhoso pra te chamar na frente de toda a turma!
Emilia saia em direção ao quarto, deixando um adolescente preocupado olhando o amigo e tutor em busca de uma resposta sobre a tal ideia de um apelido.
Luis: Preocupa não, todos um dia terão um apelidinho esdrúxulo criado por essa insana, o meu mesmo era calanguinho albino de parede, imagina como foi vergonhoso isso no primeiro dia de aula, mas logo eu me acostumei e já nem dava bola, e outra o curso de Letras só tem mulher velha e feia, e estar na faculdade pode te proporcionar muitas aventuras, afinal foi lá que conheci o Mateus e a Laila, a razão de todos os meus problemas.
Marco: Por falar nisso você tentou ligar pra ele?
Luis: O que mais fiz nestes últimos dias, mas não adianta ele não me atende e agora acho que trocou de numero por que já nem chama mais, dá sempre telefone fora de área ou desligado, falei ontem com a Vic e ela disse que ele nada diz a ela sobre mim, que sempre se esquiva quando ela pergunta de mim pra ele.
Kaio: Mano deixa ele, logo ele vai ver que esta errado e vem correndo te pedir perdão!
Luis: Só espero não seja tarde de mais!
Marco: E tu Kaio não pretende trabalhar não vagabundo?
Kaio: Eu? Ate queria, mas sou novo demais e o emprego melhorzinho que tinha, tu já pegou então acho que vou ficar aqui mesmo morgando a preguiça!
Luis: Uai se você quiser Kaio, eu posso conversar com o Marcos Alexandre e ver se ele não te contrata na condição de menor aprendiz, assim você trabalha comigo lá no escritório!
Kaio: Já vi que vocês não vão me deixar ficar quieto em casa curtindo minha adolescência né?
Luis: Só se você quiser cara, mas seria bom se todos trabalhassem ou você pretende ficar que nem eu vivendo pra sempre da mesada da mamãe?
Kaio: Tá já convenceu, fala com ele lá, mas tem uma coisa eu não vou usar um uniforme cinza horrível como àqueles carinhas que moram no andar de baixo na né?
Luis: Ai depende de qual instituição ele usa pra contratar os menores, mas pode apostar que o cinza da Pro-cerrado e melhor do que o de todas as outras!
Os três ainda conversaram por um longo tempo, até o telefone de Kaio tocar, era Vic para suas longas conversas ao celular, Luis o lembrou que não deveria dormir tarde, já que acordava cedo no dia seguinte, Marco acabou indo se deitar, Kaio foi atender o telefone na varanda e Luis ficou ali na sala vendo Fantástico, estava apreensivo, era o ultimo passo a ser dado, começar a trabalhar, teria que matar um dragão por dia, até se adequar ao serviço.
Tinha consciência de que só conseguira aquele emprego devido a sua amizade com o patrão, e que este havia criado aquela vaga apenas para ajuda-lo como fez em tantas outras oportunidades na faculdade.
Pensava também no namorado, como sentia saudades de Mateus, já fazia vinte dias que não se falavam, desde que se mudou novamente pra capital Mateus havia parado de atender suas ligações, era difícil para Luis entender aquele comportamento do namorado, ele não havia se mudado pra tão longe assim, pelo contrario Mateus todas as noites estaria a poucos minutos do apartamento de Luis, havia escolhido aquele apartamento devido a proximidade com a faculdade em que ele estudava e ao escritório em que ele trabalharia.
Luis se perdeu em pensamentos e se quer viu o termino do programa e o inicio do Big Brother Brasil, na TV Bial já anunciava a votação para o paredão quando Kaio tirou o irmão do transe.
Kaio: Ei cara tu vai ver essa merda?
Luis: Hãn?
Kaio: Perguntei se você vai mesmo assistir essa patetada toda?
Luis: Nossa nem vi que o Fantástico tinha acabado, mas eu vou assistir o BBB sim, to torcendo pelo Rodrigão já viu homem tão lindo assim?
Kaio: E eu vou lá achar homem bonito me erra né? E outra acho isso muito idiota como alguém pode gostar de uma besteira assim, eu vou é dormir, boa noite!
Luis: Mano gosto é que nem cu, todo mundo tem o seu!
Kaio: O meu o caralho, em bundinha que mamãe passou talco marmanjo nenhum põe a piroca meu querido!
Luis: Tu és mesmo um idiota, eu vou é dormir também, boa noite! Luis desligou a TV e acompanhou o irmão até a porta de seu quarto, lá cada um tomou seu rumo e ajeitou-se para dormir, ele ainda teve certa dificuldade em conciliar os pensamentos com a vontade de dormir, sua cabeça fervilhava de pensamentos e nada lhe afastava a imagem de Mateus chorando na ultima vez que se viram.
Na manhã seguinte foi àquela correria, um único banheiro para três jovens rapazes e muito pouco tempo para se arrumarem e irem cumprir com os seus deveres. Marco foi o primeiro a acordar e ocupou o banheiro por quinze minutos sobre protesto de Kaio que esmurrava a porta querendo fazer xixi.
Luis já sabendo de toda a demora que se seguiria até chegar sua hora para tomar banho e fazer sua higiene pessoal, preferiu preparar o café da manhã, passou um café fresquinho, esquentou leite, fez chá de camomila e assim que Marco saiu do banheiro o mandou a padaria para comprar pão.
Atrasados Kaio e Marco não esperaram o elevador com Luis, saíram apressados pelas escadas, era o primeiro dia de aula deles na nova escola, e já sabiam sobre a doutrina aplicada pela escola, temiam ficar de castigo por causa de um atraso.
Luis desceu de elevador até a garagem do prédio, em seu carro antes de sair procurou alguma estação de radio que tocasse uma musica legal, e foi nessa procura que encontrou uma que tocava a musica que mais o entristecia nos últimos dias, Pensando em Você – Pimentas do Reino, como aquela musica lhe trazia lembranças do namorado, era como se o vocalista cantasse a sua historia, os seus sentimentos em relação ao amigo namorado.
Assim que Luis tomou a Avenida T-7 viu o que lhe esperava todos os dias uma imensa fila diante do semáforo, um engarrafamento àquela hora seria uma má ideia, já estava quase atrasado e se não saísse logo dali chegaria atrasado no primeiro dia de trabalho. Alguns minutos depois toda aquela fila se desfez, uma característica legal da grande Goiânia era a capacidade de formar enormes congestionamentos e dissipa-los mais rápido ainda do que foram formados.
Às sete e meia Luis parou o carro no estacionamento em frente ao prédio em que trabalharia, atravessou a rua e colocou-se a observar como era grande aquele prédio, e bem localizado, seu amigo deveria pagar uma fortuna pelo aluguel, pensando nisso lembrou-se que quase se tornou um advogado como o amigo, mas para enfrentar o padrasto preferiu não seguir a carreira e agora se via ali obrigado a regressar aquilo que um dia desprezou.
Ali parado Luis imaginava o quanto havia protelado sua vida, o quanto havia lutado bravamente para negar seu destino predefinido antes mesmo de nascer, mas que agora vinha à tona com toda a força impelindo-o a aceitar bravamente todos os percalços que sugiram e surgirão na sua vida. Entrar naquele prédio lhe trazia uma inquietação era uma atitude sem volta, não conseguiria se desprender daquilo novamente, restava-lhe apenas aceitar a nova vida que lhe surgia tão fácil.
Já no andar em que trabalharia Luis encontrou com o amigo e agora chefe o advogado Marcos Alexandre, o jovem imponente advogado estava sorrindo a espera do novo funcionário, Luis via toda aquela situação como algo já previsto, e realmente já havia sido previsto a muito tempo atrás.
Marcos: Bom dia meu amigo, seja bem vindo, espero que possamos galgar grandes conquistas nessa jornada árdua de trabalho!
Luis: Bom dia chefe eu espero o mesmo meu amigo, mas me diga qual será realmente o meu trabalho?
Marcos: Acompanhe-me ate a minha sala!
Já na sala do advogado Luis esperava inquieto pelas ordens do patrão, não queria passar esse sentimento ao amigo, mas temia não conseguir atingir os objetivos que ele próprio auto colocou.
Marcos: Pois então Luis Carlos esta mesa aqui agora é a sua mesa, você vai trabalhar comigo, será meu auxiliar, vai trabalhar com a digitação, arquivação e distribuição dos documentos e arquivos provenientes as pastas que eu e o escritório assumimos, não será fácil o trabalho mais tenho certeza que você vai conseguir se sair bem, agora vamos ao trabalho, vá até a sala da Doutora Ângela e pegue com ela as pastas do projeto filantrópico, terei uma reunião com o representante do órgão publico que nos atendemos e preciso rever essa documentação antes da reunião!
Luis: Pois não Dr. Marcos, em um instante estarei aqui!
Luis saiu bem sucedido na primeira tarefa distribuída pelo patrão, estava sentado em sua mesa digitando um novo contrato para a instituição parceira do escritório, quando a secretaria telefonou para sua mesa, dizendo que a pessoa que o advogado esperava havia chegado.
Luis: Marcos o Julio seu cliente está lá fora, posso deixar entrar?
Marcos: Pode sim, quero que você acompanhe de perto essa reunião, futuramente você irá me representar diante da instituição!
Luis: Como quiser!
Luis telefonou para a recepção e pediu que deixasse o tal Julio entrar, e que após uns cinco minutos levassem até sala duas xícaras de café.
Julio: Boa tarde Dr. Marcos, pronto para nossa reunião?
Marcos: Claro Julio! Antes quero lhe apresentar meu novo funcionário, no futuro ele será o meu porta voz junta a sua instituição, Julio este é Luis Carlos um grande amigo, Luis este é Julio Marcelo meu associado!
Julio: Não acredito você aqui?
Luis: Caraca Celo é você mesmo pessoa?
Marcos observava os dois amigos que há tempos não se viam, e que agora estavam abraçados e sorrindo expressivamente.
Marcos: Mais vocês se conhecem?
Luis: Ai desculpa Marcos é que faz tempo que não vejo este louco!
Julio: Não que eu tenho procurado o nosso afastamento, mas você que desapareceu do mapa, pensei até que tinha morrido!
Luis: Nada, estava passando uma temporada no interior, voltei a algumas semanas e não tive tempo para retornar contato!
Julio: Então te convido para almoçar comigo e esclarecer essas pendências, mas vamos a essa reunião que quanto mais rápido me livrar deste problema melhor será!
A reunião entre Julio e Marcos Alexandre perdurou por toda a manhã, era uma situação critica o escritório estava defendendo uma mulher que processava a instituição que Julio presidia, e como também eram eles os advogados da instituição, havia uma disputa de interesse que precisava ser sanada, a proposta de Marcos era que o advogado associado do escritório iria abdicar do direito de defender a mãe virtuosa e assumiriam integramente a defesa do Órgão defensor dos direitos infantis.
Julio ponderou por alguns minutos a possibilidade de romper o contrato com o escritório de Marcos, mas a parceria entre os dois já durava mais de um ano, e sabia que aquele advogado era o mais qualificado em defender os interesses do estado e das crianças e adolescentes atendidos pela instituição a qual trabalhava.
Julio: Muito bem Doutor, onde eu assino?
Marcos: Fico grato a mais essa demonstração de confiança, o senhor não vai se arrepender, e seu órgão terá total cobertura do nosso escritório sem gerar nenhum ônus para o senhor ou para o município!
Julio: Fico muito feliz com isso Doutor, confio na sua palavra e sei que o melhor para os nossos pequenos é essa parceria... mas mudando de assunto, e então Luis quando você sai para o almoço?
Marcos: Sai agora meu querido, você já pode ir Luis, após o almoço discutiremos as suas opiniões sobre a reunião e o seu desfecho!
Luis acompanhou Marcelo até um restaurante ali próximo do escritório, estavam alegres por terem se reencontrado novamente, ainda mais com toda a situação, trabalhariam em parceria o que significava que não se afastaria de novo. Já no restaurante após pedir o almoço, Luis e Marcelo conversavam sobre suas vidas naquele intervalo em que estiveram sem se ver.
Celo: Nossa mano, eu jamais pensei que te convidar pra uma simples saída sábado a noite fosse resultar em tantos problemas!
Luis: Nem liga pra isso mano, você não foi culpado, os reveses da vida provocaram todo esse desencontro e toda essa desarmonia entre os acontecimentos da minha vida, se não fosse com você teria acontecido da mesma forma. Mas me diz e você o que fez nesse tempo todo?
Celo: Trabalhei mano, nossa desde aquele dia não sai mais pra curtir uma balada, ou pra dar uns beijos, lembra-se da garota que eu fiquei naquela noite?
Luis: Lembro!
Celo: Pois então fera, to namorando ela, caralho nem acreditei o dia que a pedi em namoro, praticamente a primeira mulher que namoro firme mesmo, parei até de sair por causa dela
Luis: Nossa fico feliz por você mano, mas então o negocio entre vocês é serio?
Celo: Foi serio! Hoje eu já nem sei por que ainda estamos juntos, sabe nos acostumamos um ao outro e a esse rolo todo que não conseguimos mais terminar, mas sei lá cara eu até curto ficar com ela, mas sei lá fera eu preferia ficar só, a vida boemia é a melhor de todas, ser comprometido e ter alguém fiel a ti e bom, mas nada se compara ao fato de curtir a vida de solteiro e curtir todas as pessoas que lhe podem servir...
Luis: Ai meu tu não muda mesmo!
A conversa entre os dois ainda durou um bocado de tempo, até chegar a hora de Luis regressar ao trabalho, mas antes de se despedir Celo ainda marcou uma visita à nova casa de Luis, os dois amigos se despediram e Luis retornou ao trabalho.
Naquele dia ele ainda aprendeu muitas coisas com o amigo e chefe Marcos Alexandre, e isso seguiram com os dias e depois semanas, ainda não havia conversado com o amigo para empregar Kaio, estava esperando uma oportunidade melhor, não queria abusar da confiança do amigo.
De seu namorado Mateus não teve noticias, exceto quando conversava com Vic por telefone, e ela lhe contava que o irmão parecia ter superado a separação, e isso entristecia Luis, durante o mês de fevereiro a única atividade que Luis desenvolvia era o trabalho, todos os dias de segunda a sexta ficava naquele escritório, e já recebia elogios tanto do chefe como dos clientes que acabava por atender na ausência do patrão.
O mês de março se iniciou anunciando o feriado de carnaval, Marcos havia decidido esticar o feriado por toda a semana, e Luis teria uma folga, em sua cabeça uma única coisa lhe parecia obvia para se fazer, era ir atrás de Mateus e tentar conseguir o seu perdão.
Naquela noite de sexta, Luis assistia a um programa na televisão quando Marco e Emilia chegaram da faculdade, Kaio já dormia, pois iria com Luis no dia seguinte para a casa dos pais no interior, Emilia apenas deu um beijo no rosto do sobrinho e buscou o descanso dos justos, Marco estava inquieto e encarava Luis a todo o tempo, e aquilo começou a incomodar.
Luis: Porra Marco fala logo o que ta te incomodando por que já estou ficando maluco com sua cara de preocupação me comendo vivo!
Marco: Cara tu não sabe quem eu vi hoje na faculdade com o Mateus!
Luis: E vou continuar sem saber se você não me contar de uma vez!
Marco: Cara eu não to querendo bancar o fofoqueiro, mas tipo eu acho que você precisa saber, foi assim a tia Emilia tinha uma reunião hoje e eu não podia participar então fui pra lanchonete, me sentei naquele cantinho próximo aos banheiros saca qual é?
Luis: Sei sim, era onde ficávamos, eu e a turma toda, mas e daí quem tava com o Mateus?
Marco: Ta, então eu tava lá tomando uma coca e mexendo no notebook, quando vi o Mateus chegar à lanchonete, eu ia chama-lo pra sentar comigo, essa semana era a primeira vez que o via na facu, mas antes de gritar o seu nome, eis que surge um cara bem conhecido de nós dois...
Luis: O Nando?
Marco: Antes fosse! Era o teu irmão Luis, era o Leonardo!
Luis: Mas o que o Leo tava fazendo lá na faculdade ainda mais com o Mateus?
Só se ele foi esperar a Manu e ai encontrou o Mateus...
Marco: Não cara ele e a Manu terminaram tem uma semana, a própria Manu me contou. Mas no inicio eu nem me preocupei em ver os dois juntos, até pensei que o Leo havia ido pedir ao Mateus para intermediar uma conversa com a Manu, mas o que me deixou inculcado foi que os dois se abraçaram na lanchonete e permaneceram assim por tempo demais saca, ai tipo o Mateus estava de costas pra mim, mas o Leo me viu, cara ai foi o que mais eu estranhei ele falou algo no ouvido do Mateus que se virou na hora pro meu lado, cara tu tinha que ver a cara que ele me olhou, nossa fiquei até sem graça, bom ai pra piorar ele saiu da lanchonete puxando o Leo pela mão, deu pra ver quando os dois entraram no carro do Leo que estava no estacionamento da Lanchonete, mas cara talvez seja coisa da minha cabeça, só que eu achei essa atitude muito estranha saca?
Luis: Eu não consigo achar nada que justifique essa atitude dos dois, até por que eu nem sabia que os dois estavam assim tão próximos, quer dizer os dois se viram duas vezes mais ou menos, uma vez na minha festa e no dia que eu sofri aquele acidente, ta certo que o Leo foi um ombro amigo pro Mateus, mas não achei que tivessem se tornado tão amigos!
Marco: E eu tenho que te contar outra coisa, a Janaína contou pra mim e pra tia Emília essa semana que ela, Manu e Mateus não se falavam mais!
Luis: Cara agora to bobo, mas por que os três são amigos a anos?
Marco: Segundo Jana ela se afastou do Mateus por que ele agora só quer andar com a Laila, e elas ficaram sabendo da historia de vocês dois sabe, e desde então não andavam mais com ela, agora a Manu havia brigado com o Mateus, segundo a Jana ela não sabia o motivo, mas a Manu vivia acusando ele de traição, de ser um falso amigo!
Luis: Cara isso ta muito estranho, dá licença que eu vou descobrir o que ta acontecendo agora!
Marco: Onde você vai?
Luis: Vou ligar pra Manu, tenho que saber o que ta acontecendo antes de ir ver o Mateus, e a propósito tem certeza que não quer ir passar o fim de semana lá na casa do meu pai?
Marco: Tenho sim, eu vou com a Tia Emilia, tua mãe e o tio Raul pro sitio de vocês!
Luis: Nossa que feriadão em?
Marco: Você esta enganado fiote tem uns amigos dos teus pais que vão e eles vão levar os filhos, tu não sabes cada deus grego que vai junto, você devia ir!
Luis: Cara eu só quero resolver logo essa historia com o Mateus, isso ta me consumindo por inteiro!
Marco: Por favor, não diga que fui eu que te contei isso ta? Não quero levar fama de fofoqueiro, só acho injusto com você eles te deixarem fora de assuntos que com certeza lhe interessam!
Luis: Pode deixar maninho, sei como resolver isso fácil fácil!
Luis caminhou até o quarto, na cabeça já havia bolado uma ideia para tirar toda aquela historia a limpo, Manu era esperta, mas não superava a vivacidade de Luis, e ele contava com isso para esclarecer toda aquela obscuridade que pairava sobre sua cabeça.
Pegou o celular sobre a cama e colocou-se a discar o numero da amiga, que não tardou a atender.
Manu: Fala peste, lembro-se que tem amiga né coisa do cão?
Luis: E que dia que te esqueci filha, você que nem se lembra mais de mim, a quanto tempo to morando na minha casa nova esperando uma visita sua e nada de você aparecer!
Manu: Nossa tenho sido negligente contigo né amigo, não só com você, com todo mundo que realmente importa!
Luis notou um tom de tristeza na voz da amiga, tava claro que algo acontecia para deixar a senhora alegria triste, e era esse o caminho que Luis iria abordar.
Luis: Realmente, você se esqueceu de mim, nossa trabalho o dia todo, chego tarde em casa e você minha cunhadinha linda nunca veio aqui dar o ar da tua graça na minha humilde residência!
Manu: Sinto lhe dizer então meu amigo, mas tua cunhadinha aqui nunca vai lhe visitar, até por que já não sou mais tua cunhada!
Luis: Meu que historia é essa conta tudo!
Manu: Pensei que você soubesse e por isso havia me deixado de lado...
Luis: Para né, somos amigos e não é por que terminaste com meu irmão que eu iria ignorar você criatura de Deus!
Manu: Vejo que não meu amigo... Como tava dizendo eu e seu irmão terminamos, na verdade ele terminou comigo, sabe desde que você o Mateus terminaram...
Luis: Calma ai, eu e ele não terminamos nada!
Manu: Então sinto muito te dizer eu amigo, mas você é corno então!
Luis: Que?
Manu: Isso mesmo meu amigo, você ta sendo traído, e o pior de tudo pelo seu irmão!
Luis ficou mudo no telefone, aquilo era tudo que ele não desejava ouvir, lágrimas já caiam de seus olhos, era uma dor profunda em seu coração, era um aperto no peito que o deixava sem ar, sem vontade de falar e respirar. Era como se algo quebrasse dentro dele e deixasse um buraco sem fundo e negro, impossível de ser preenchido novamente.
Manu: Lu você ainda esta ai?
Luis: To sim, desculpe. Manu como você soube disso, quem te contou?
Manu: Quem me dera se tivesse sido assim, alguém me contar, mas não me amigo foi pior, a Laila fotografou os dois juntos e enviou por email pra mim, a algumas semanas os dois se juntaram a Laila, todos os dias eles estão lá na faculdade, e o Leo sabe dessas fotos, mas não se importou com isso, só me fez prometer que não te contaria, e é por isso que me afastei tanto de você!
Luis: Manu me manda essas fotos agora, eu preciso ver isso!
Manu: Ta. Vou mandar, mas Luis promete que não via fazer nenhuma besteira?
Luis: A maior besteira eu já fiz Manuela, e foi acreditar no Leo e no Mateus!
Os dois desligaram o telefone e Luis correu para o notebook, esperava que essas fotos nada significassem que fosse apenas um engodo da Laila, e torcia não implorava a Deus que ela estivesse enganada, não queria voltar a odiar Leonardo, não agora que tudo estava indo bem. Não queria ficar sem Mateus, não queria isso pra sua vida, amava incondicionalmente os dois e ser traído assim significaria a morte.
Demorou até que o email de Manu surgisse na tela de seu Hotmail, ainda ficou alguns minutos olhando para a pagina pensando se baixava ou não os arquivos, mas por fim tomou coragem e clicou em download estava na hora de por fim aquelas duvidas.
Por fim estava tudo pronto, agora era só abrir as fotos e ver se tudo era verdade, em um clique surgiu diante de Luis uma imagem que jamais pensou ver na vida, ali estava uma foto de Mateus abraçado a Leonardo, não se via o rosto de Mateus, mas o de Leo estampava um sorriso que se não fosse a circunstancia Luis teria achado lindo, na foto seguinte já mostrava o rosto de Mateus que de olhos fechados cheirava o pescoço de Leo, havia pelo menos vinte fotos e cada uma estampava os dois em trocas de afeto e carinho, a que mais revoltou Luis foi a ultima onde Leo beijava o nariz de Mateus, até poderia ter acreditado que aquilo era só troca de abraços e caricias entre amigos, mas esta ultima não poderia ser um gesto fraternal, onde um amigo permitiria que outro beijasse seu nariz de olhos fechados e você ficaria imóvel recebendo tal carinho também de olhos fechados e sorrindo.
Luis sentiu-se traído, ferido, humilhado e infeliz, mas uma serenidade tomou conta dele, era como se enxergasse aquela traição como uma redenção, agora não precisaria se preocupar com namorado, falso irmão, ou os inimigos que sempre tencionavam feri-lo. Calmamente pegou o notebook e caminhou ate a sala conectou o aparelho a impressora de sua tia Emilia e começou a imprimir foto por foto, no fim digitou algo no computador e imprimiu também, com as provas nas mãos retornou ao quarto, colocou tudo em cima do criado mudo e saiu em direção ao banheiro.
No armário de remédios de sua tia Emília procurou um sedativo que ele já conhecia, retirou dali uma quantidade de comprimidos e de uma só vez sem ajuda de água engoliu todos, novamente no quarto pegou a folha com alguma coisa digitada e mais a foto do beijo no nariz e colou com fita na porta do quarto, trancou a porta e deitou-se em sua cama, apenas queria fechar os olhos e não acordar jamais queria esquecer e ser esquecido, aquilo era como morrer, e era isso que ele desejava naquele momento morrer e não vivenciar novamente a traição de duas das pessoas que mais amava no mundo.
No dia seguinte, Kaio pela primeira vez foi o primeiro acordar, estava animado em voltar a sua cidade, desde que veio pra capital essa era a primeira vez que visitaria os pais e a namorada Vic, correu para o banheiro, fez sua higiene pessoal e foi acordar o irmão, pois queria estar no interior ainda a tempo para o café da manhã.
Preparava-se para chamar o irmão quando viu na porta à foto e o recado deixado por Luis, colocou-se a admirar aquela foto, não acreditou que aquele ali fosse Mateus, ele não seria tão mentiroso assim, Kaio se lembrava da ultima noite quando telefonou para a namorada contando que iria para o interior e Mateus tomou o celular da mão da irmã para perguntar se Luis também iria.
Kaio: Ele parecia tão apaixonado no telefone... como pode fazer isso com meu irmão...
Kaio começou a ler o recado de Luis, era impossível não notar as gotas que mancharam o papel, certamente eram lagrimas derramadas após descobrir a traição, foi com aperto no coração que Kaio leu o recado.
“Kaio meu irmão, por favor, vá de ônibus pra casa do pai, como pode ver eu não irei mais, não tenho mais motivo pra procurar aquele garoto, me desculpa ta.
Por favor, peço a ti e aos outros que não me incomodem, me deixem em paz, sozinho, quero curar essa dor que destruiu meu coração, curtam o feriado de vocês, prometo que ficarei bem, mas preciso pensar em tudo isso.
Bom Carnaval.
Luis.”
Kaio chorou ao ler aquele pedaço de papel, eram frases soltas amontoadas umas as outras mas sem conexão real, Luis sofria muito, e Kaio sabia que o melhor era deixa-lo ali naquele quarto, logo que Emilia e Marco acordaram ele lhes contou tudo, foi surpresa geral para ambos ali naquela sala.
Emília: Olha eu não conheço muito o Mateus, mas não acredito que o Leo fez toda essa cachorrada com o irmão dele!
Kaio: Isso é pro Luis ver que quem é irmão dele de verdade é só eu e o Kauê!
Marco: Também não acredito que o Mateus fez isso, sabe antes mesmo de ser amigo dele, ouvia a Vic elogia-lo tanto que ele era um garoto incrível com um coração gigantesco, incapaz de fazer mal a alguém...
Kaio: Pobre do meu amor, nem sei o que ela vai dizer ao saber que o monstrinho não é nada do que ela acredita ser!
Marco: Você acaba de me dar uma ideia Kaio, me da essa foto ai. Marco pegou a foto da mão de Kaio e correu pra sala, ligou a impressora e xerocopiou a foto duas vezes, iria tirar aquela historia a limpo, e antes daquele dia terminar Luis conheceria a verdade.
Marco: Pega. Você vai levar essa foto e entregar ao Mateus e contar o quanto o Luis ta sofrendo e eu antes de ir pro sitio vou entregar isso pro Leo, algo me diz que essa historia toda tem um “q” de engodo!
Kaio: Aff... mano não sei o que é engodo mas tanto faz, eu te ajudo, mas espero mesmo que isso ajude meu irmão, não quero ver ele enfiado em outra depressão.
Marco e Emilia foram à casa de Lais e Raul de onde seguiriam para o sitio da família, e Kaio foi de taxi para a rodoviária queria ver o mais breve possível a sua amada Vic. O apartamento agora parecia vazio as escuras e em completo silencio nada se movia por ali.
Já era inicio de noite quando um vulto cruzou a sala em direção à cozinha, era Luis que finalmente havia despertado de seu estado letárgico de sono.
Caminhou ate a geladeira tomou um copo de água e voltou até a sala, abriu uma das gavetas da mesa de estudos de Emilia e pegou dali uma carteira de cigarros, sentou-se por fim na cadeira da varanda e acendeu um cigarro, seguido de outro e mais outro. Sua cabeça parecia vazia, tudo que deveria pensar ou lembrar havia sido desfeita na noite anterior, o sono esticado ao extremo pelo uso de calmantes o fez esquecer ou pelo menos esconder temporariamente os receios e preocupações provocadas pelas descobertas da noite anterior.
Ficou ali naquela varanda fumando até ver o ultimo cigarro apagar-se entre seus dedos, preparava-se para voltar a dormir quando bateram na porta do apartamento, pensou em não atender, mas preferiu saber quem era pra que não o perturbasse depois, sem ver quem era pelo olho mágico atendeu abriu a porta e se surpreendeu com quem estava ali parado com os olhos vermelhos de choro e uma expressão de alegria estampada no rosto, Leo era sem duvidas a maior contradição possível, os olhos demonstravam uma tristeza imensa enquanto os lábios demonstravam uma felicidade sem tamanho ao ver o irmão em pé a sua frente.
Luis: O que você quer?
Leo: Falar com você!
Luis: Eu não tenho nada para falar com você, quem sabe o Mateus não tenha algo interessante para lhe dizer!
Leo: Para Luis... você não... não você... eu aguentei a Manu e a Janaina me acusando e acusando o Mateus mas você não... cara entende eu não tenho nada com o Mateus!
Luis: E todas aquelas fotos, vai negar que são reais? Vai negar que tem saído direto com o Mateus? Vai negar que terminou com a Manu por causa disso?
Vai negar que esta ficando com o Mateus que me traiu?
Leo: Cara para, vamos conversar isso tudo é um engano!
Luis: Não me faça rir cara, eu só me pergunto como eu pude ser tão ingênuo e acreditar em você, desde o inicio você planejava isso não é, você sempre esteve planejando isso junto com aqueles dois idiotas eu sei confessa é bem melhor cara!
Leo: Cara eu não irei negar que eu tenho me encontrado com o Mateus ou que essas fotos sejam reais, por que isso é verdade, desde que você veio pra capital tenho falado com ele, mas cara todas as vezes que nos vimos você era o tema das nossas conversas...
Luis: Claro que era. vocês dois deve rir muito do otario aqui não é, devem se sentir felizes por saber que me enganaram tão bem!
Leo: Luis você é o meu irmão cara, tu acredita mesmo que eu seria capaz de te trair assim, eu não sei como essas fotos foram tiradas, mas nenhuma delas mostra demonstrações de romance, namoro sei lá, são fotos de dois amigos juntos um consolando o outro...
Luis: Claro que são amigos... amigos íntimos que beijam, que se abraçam...
Luis caminhou ate a porta de seu quarto sendo seguido por Leo, lá retirou a foto que estava na porta e entregou a Leo.
Luis: Agora diz você beija assim todos os seus amigos?
Leo: Eu não me lembro o que me fez fazer isto, mas uma coisa eu sei cara eu jamais seria capaz de te trair, ainda mais roubar o teu namorado, cara eu não sou gay, eu amo a Manuela!
Luis: Não me tome como idiota fera, eu já sei que vocês terminaram, ou melhor, você terminou com ela.
Leo: Cara você prefere acreditar em algo montado pela pessoa que jurou te destruir do que no que o seu irmão diz?
Luis: Ai serio Leonardo, você é ridículo, cara por acaso a Laila forçou você e o Mateus a tirar essas fotos? Por acaso ela obriga vocês dois a visitarem ela e o Nando? Ela coloca uma arma na cabeça de vocês toda vez que vocês saem juntos? Vamos me diz cara, me mostra que você é mesmo meu irmão e que eu posso acreditar no que você diz!
Leo: Luis, por favor, entenda tudo isso foi a maneira que eu e o Mateus encontramos para enfrenta-la, para evitar que alguma de suas armações lhe fizesse mal...
Luis: Olha faça um favor a mim e a você, não mais insista nisso, não tente se explicar, vai embora, por favor, nada que você diga vai provar que isso não é real, nada cara!
Leo: Mano pensa bem no que você ta dizendo, se eu sair dessa casa talvez seja pra sempre, perdi até a mulher que eu amo para encontrar uma solução para todos os seus problemas, mas se você não vê isso não posso fazer nada, só que eu me arrependo de ter me entregado a ti, de ter tentado ser o irmão que eu deveria ter sido a muitos anos atrás.
Luis ria debochado não conseguia ver sinceridade no que o irmão dizia, era muita conversa sem concordância, era como se Leo não quisesse realmente provar sua inocência, não havia paixão em sua defesa, não havia honestidade ou certeza no que dizia, era claro que ele estava gostando de tudo aquilo e isso revelava muita coisa a Luis, naquele instante ele percebeu que toda a aproximação de Leo foi imposta por acontecimentos que envolviam Laila e Nando, poderia ate ser paranoia de sua cabeça, mas Luis se via no centro de um emaranhado de iscas e armadilhas elaboradas por seus inimigos e executadas por Leo.
Luis: Cara fala a verdade, você nunca quis ser meu irmão, meu herói como sempre disse né, você esteve sempre a frente de muita coisa que aconteceu e só agora eu vejo que tudo que você diz ter feito para me ajudar originava-se em Laila. Isso tudo foi sempre parte do plano de me destruir não é? Tudo que você disse e fez foi planejado, calculado, você nunca superou aquele incidente de quando éramos crianças, você não aceitou e nem pretende aceitar que eu sou querido por seu pai e que ele me vê como um filho, diga a verdade Leo você tem inveja de mim não é?
Leo: Sinceramente Luis, você é louco só pode, cara nunca fiz nada que te prejudicasse desde que voltei, apenas tenho tentado demonstrar o quanto quero te ajudar, me redimir com você, agora se não enxerga isso azar o seu, eu fiz o que achava certo, e agora cabe a ti aceitar ou não, só te digo uma coisa, não sei se serei condescendente com você quando enxergar o seu erro e vier atrás do meu perdão.
Leo finalmente havia deixado o apartamento, mas também deixava um Luis inerte, perdido em pensamentos, assombrado pelos fantasmas da desconfiança e da traição, assim ele permaneceu por todo o fim de semana, já era segunda-feira e não havia recebido noticias de mais ninguém, Leo não o procurou novamente e Mateus como sempre estava ausente, e Luis de novo via-se obrigado a recomeçar uma nova vida, uma nova historia, mas agora estava disposto a esquecer Mateus, esquecer toda aquela dor e aquela incerteza que predominava no namoro dos dois, e sabia bem a quem recorrer, em apenas uma chamada do celular, o amigo atendeu o telefone animado.
Celo: Fala doido, iai como ta de feriado?
Luis: Mano to precisando de ti, onde você tá?
Celo: To no interior velho, na casa de uns parentes, mas depois do almoço to em gyn!
Luis: Quando chegar vem aqui em casa, mas vem preparado pra night beleza?
Celo: Pode crê mano, logo mais to colando ai, falou!
Naquele dia antes que Celo aparecesse por ali, Luis tomou um banho tirou a barba e resolveu se transformar em outra pessoa, estava cansado de parecer fraco diante de todos, via que era hora de mudar, de radicalizar. Pegou carteira e as chaves do carro e correu para o shopping, andou por algumas lojas e comprou varias peças de roupa era a hora da transformação, sua felicidade não seria mais afetada pelos outros, era a hora de renascer.
No caminho pra casa parou em uma barbearia e pela primeira vez em toda a sua vida se livrou das madeixas que tanto emolduraram sua face, poderia ate dizer que enquanto via seus cabelos sendo cortados, aquele som da maquina foi sumindo aos poucos dando lugar aquela música que marcou a cena de Carolina Dieckmann em Laços de Família.
Era como realmente se sentia ele era Camila perdendo tudo o que amou ta certo que ele não tinha leucemia, mas aquele momento era o fim de uma vida, era seu rito de passagem para um novo homem, seria finalmente como todos esperavam.
Já em casa Luis abriu a porta assim que o porteiro interfonou avisando que Julio Marcelo estava subindo, o esperava ali em pé na porta, queria um abraço amigo, queria se sentir protegido e querido por alguém que não esperasse nada em troca.
Celo se assustou ao ver o amigo, aquilo não poderia ser Luis, como uma pessoa se transforma assim do dia para a noite, Luis estava quase careca, poucos fios de cabelo lhe restara na cabeça, seus olhos estavam pintados de preto com delineador ou lápis, trajava uma roupa toda preta, camiseta preta com palavrões em inglês tipo fuck you, uma calça cargo preta com correntes saindo da cintura e percorrendo toda a extensão das pernas, um coturno tão alto que deixou os um metro e oitenta e três de Celo pequenos perto de
Luis. E para finalizar Luis trazia as unhas pintadas de preto.
Celo: Cara me diz uma coisa eu errei de casa ou tu é mesmo o Luis?
Luis: Claro que sou Zé Mané quem mais seria?
Celo: Me explica que parada toda é essa, resolveu se tornar gótico depois de velho fera?
Luis: Cara eu precisava mudar meu estilo e acho que esse combina mais comigo não acha?
Celo: Se você quer assustar alguém sim, por que eu juro estou com medo de ti meu amigo!
Luis: Sabe cara to cansado de tudo isso sabe, de ser como todos esperam que eu seja, o certinho, honesto e bunitinho, esse Luis morreu, agora vou mostrar a todos como anda minha alma, como anda meu coração!
Celo: Cara me conta o que ta acontecendo!
Celo guiou o amigo ate o sofá da sala, e ali Luis descreveu tudo o que lhe aconteceu nos últimos meses, Celo permaneceu calado somente escutava tudo que o amigo lhe contava.
Luis: E é isso meu amigo, como você acha que eu deveria reagir depois de tudo isso que lhe contei!
Celo: Olha Luis vou te falar a verdade, se eu não te conhecesse e ouvisse essa historia lhe diria que é tudo invenção sua, cara isso é digno de uma novela de Agnaldo Silva, tudo é um verdadeiro dramalhão mexicano, serio não sei como você pode ter suportado tudo isso até agora e não ter surtado!
Luis: Sabe ainda tinha esperança que tudo isso passasse e se tornasse só lembranças de um passado ruim, jamais pensei que terminaria assim!
Celo: Vou ser sincero com você cara, sofrer por esse tal de Mateus e se tornar assim uma pessoa antissocial não vai lhe trazer nada de bom, te pergunto uma coisa como pretende trabalhar vestindo-se assim? Você acha mesmo que vai conseguir entrar em uma reunião vestido assim, você acha que é dessa forma que vai esquecer o seu irmão e a canalhice que ele te fez?
Luis: Nem sei cara, eu só queria radicalizar, mas acho que exagerei né?
Celo: Você abusou muito em toda essa produção, vestindo-se assim e agindo como pretende agir, você só confirma a Laila e aos outros a vitoria deles sobre você, o que tem a fazer é ser você mesmo, esquecê-los e iniciar uma nova vida, sair, se divertir, namorar outras pessoas, e mostrar a eles que nada que possam fazer vai lhe desviar do seu caminho, que nada vai destruir essa pessoa simpática e de bem com a vida que tu mané!
Luis: Você tem toda razão, vem me ajuda a tirar essa porcaria da cara!
Os dois amigos se divertiram desfazendo o figurino de Luis, Celo o ajudou a escolher outra roupa que combinasse mais com ele, e finalmente estavam prontos para sair, Luis queria ir em um barzinho que não ia a muito tempo, desde seus tempos de faculdade que não voltara aquele lugar, e seria ali o inicio de sua nova caminhada.
Já no barzinho um lugar bem frequentado e elegante, Luis e Celo bebiam e punham a fofoca em dia sobre o escritório, trabalho, coração e sexo.
Luis: Mais e você e a menina da balada ainda estão juntos?
Celo: Nada, terminei com ela aquele dia mesmo que a gente almoçou juntos, eu estava cansado dela já, o pior, e que ela me disse a mesma coisa acredita!
Luis: É por isso que não acredito em amor de balada fera, aquele ambiente é lugar de tu encontrares amigos e sexo sem compromisso só isso!
Celo: Começo a acreditar nisso mano... escuta deixa te perguntar o que tu acha do teu outro chefe?
Luis: Ai que nojo Celo, não me diga que tu tá interessado no Dr. Saul?
Celo: Ta louco mano, o velho Saul não é advogado não, e nem é sócio do escritório, ele é só o investidor do neto que é o verdadeiro sócio do Marcos, o Fred tu não conhece ainda?
Luis: Nunca nem ouvi falar nesse ai!
Celo: Não sabe o que ta perdendo cara, ele é um verdadeiro colírio para os olhos, pensa no homem mais lindo que tu já viu, nossa sem comentários praquele ali...
Luis: Nossa, mas eu nunca vi esse tal de Fred lá no escritório!
Celo: Ele quase nunca fica lá, geralmente ele que cuida dos casos mais sigilosos e atende os clientes em casa, quando ele que atendia o meu trabalho, nossa eu ficava ate sem ar nas reuniões.
Os dois amigos beberam muito naquela noite, e já era mais de quatro da manhã quando resolveram ir embora, por precaução Luis preferiu pedir um taxi e deixar o carro no estacionamento do bar, Celo estava tão ruim que mal conseguia lembrar o próprio nome e preferiu dormir na casa de Luis.
Dentro do taxi foi aquela algazarra, Celo falava coisas sem nexo, e até o taxista ria das suas peripécias, já no prédio, os dois subiam pelo elevador rindo e fazendo caretas diante o espelho.
Luis: Agora fica caladinho, por que minha tia já deve ter chegado em casa, e eu não quero acordar ela!
Celo: Ta!
Luis já estava diante da porta tentando colocar a chave na fechadura, quando Celo o chamou, ao olhar para o amigo Luis o viu de quatro imitando um cachorro e urinando em um vaso próximo ao elevador, não teve como ter o riso, o álcool deixou tudo ainda mais engraçado, e os dois caíram na risada, foi uma zona Luis chegou sentar-se no chão para segurar a barriga que doía de tanto rir, Celo estava deitado no chão com o bilau pra fora, e para surpresa geral dos dois eis que a porta do apartamento de Luis se abre e Marco surgi na escuridão, por causa do susto Celo tentou levantar-se e guardar o órgão antes que o rapaz visse, mas acabou caindo no chão fazendo um barulho muito alto, as luzes dos apartamentos vizinhos começaram a acender e Marco só teve tempo de pegar o desconhecido amigo de Luis e puxa-lo pelos pés para dentro do apartamento, o próprio Luis entrou engatinhando.
Já no interior do apartamento, Marco olhava para os dois bêbados e balançava a cabeça censurando e isso foi o motivo para mais uma gargalhada.
Marco: Aff... francamente, e você ainda quer ser responsável por mim, que pai que tu é, estou desde que cheguei preocupado com você, nem dormi, te liguei milhares de vezes e o seu celular tava desligado... eu devia era te dar umas palmadas!
Celo: E Luis ta ferrado, o teu filho ai vai te por de castigo!
Marco: E você quem é?
Celo: Eu sou sua mãe, oras não me reconhece mais meu filho, nossa que ingrato que você é, ta vendo Luis eu falei que não podia cria-lo sozinho, nem se lembra de mim, uma pobre senhora que só quer um abraço do filhinho dela...
Luis ria tanto que sua barriga doía, não consegui dizer nada, e Marco só olhava espantado para o outro rapaz também deitado no chão, será que Luis havia saído e conhecido àquela criatura em algum bar e já estivesse dormindo com ele.
Emilia: Que porra é essa aqui Luis, não se pode mais dormir nessa casa!
Marco: Ta vendo isso tia, eu os encontrei deitados no corredor fazendo macaquices, e esse ai diz que é minha mãe!
Luis: Ai gente calma, é só brincadeira, esse ai é o meu amigo Marcelo, já falei dele pra vocês, nós só estamos um pouco bêbados, mas nada que uma boa noite de sono não de jeito!
Emiia: Então vá dormir e leve o teu amigo, eu encarei duas horas de viagem ao lado do Raul porra, tu sabe muito bem como aquele cara é chato dentro de um carro, eu só quero descansar...
Luis: Ta tia, já vamos... vem Celo... escuta Marco não vai pedir benção pros teus pais!
Marco: Vá a merda bêbado!
E novamente a risada tomou conta do apartamento, algumas batidas se fizeram ouvir pela parede, certamente o vizinho do lado estava incomodado com a alegria dos dois amigos.
No dia seguinte os dois acordaram as onze da manhã, todos de ressaca e sem lembrar da noite anterior.
Luis: Cara como chegamos aqui, eu vim dirigindo foi?
Celo: Não acho que viemos de taxi!
Luis: Vem vamos ver se o povo já chegou!
Na sala Marco assistia televisão, sua cara de bravo denunciava que os amigos haviam aprontado durante a noite.
Marco: Bom dia pai, bom dia mãe, dormiram bem?
Luis: Han?
Marco: Uai, ontem quando vocês chegaram aprontando todas você era meu pai pinguço, e ele ai era minha mãe ausente e dependente!
Celo: Nossa nunca mais eu bebo cara, rapaz desculpa ai se te ofendi!
Marco: De boa cara, tu não tem culpa, to com raiva é desse imbecil ai do teu amigo, primeiro desiste de viajar pra ficar entocado em casa, eu ligo e nada dele me atender, ate antecipei a volta pra ver se ele tava bem e quando chego nada dele em casa, celular desligado, e ai o cara chega bêbado e careca as cinco da manhã, porra fala serio, tu esquece que tem família né, tu não ta nem ai pra gente, pras nossas preocupações, o que importa é você e seus sentimentos por aquele fdp do caralho que só te machuca!
Luis: Desculpa Marco, sei que agi mal, mas isso não vai mais acontecer, como você mesmo disse esse fdp agora é passado, você esta diante do novo Luis de agora em diante tudo vai ser diferente, não vou mais sofrer por quem não me ama, você e aqueles me amam que se preocupam comigo é que realmente importa!
Marco: Vamos ver mesmo, quero ver ações praticas e não reações infantis e caóticas!
