Minha esposa foi currada e não fiz nada! - 3

Um conto erótico de Ribamar (Pelo Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 5054 palavras
Data: 03/05/2024 18:41:00
Última revisão: 07/05/2024 15:21:07

Amigos,

O capítulo acabou ficando maior do que eu imaginava. Então, decidi dividi-lo em dois.

Amanhã, se não tiver nenhum imprevisto, posto o último.

Forte abraço,

Do Mark

[...]

Diz o ditado que “um homem se conquista pela barriga”, pois é... Além de ser a formosura em pessoa, Clara também cozinha bem por demais da conta e esse cozido era o meu preferido, simples, mas saboroso e bem servido, com um arrozinho branco, um tutuzinho de feijão e uma saladinha, tinha nada melhor na vida não. Como um parvo, caí na ladainha da danada, confirmando presença em sua casa no dia seguinte. Antes eu não tivesse ido...

[CONTINUANDO]

No dia seguinte, após o trabalho, tomei uma ducha e vesti uma roupa limpa, mas simples por demais, nada de roupa de festa ou missa. Tomei o caminho da minha antiga casinha e uns quarenta minutos depois, estava na frente do portãozinho da entrada. Não achei coerente “entrar entrando”, então bati palmas, já que o antigo morador, ou seja, eu, nunca havia tomado a iniciativa de consertar a campainha da própria casa, logo eu, um faz tudo. É como diz o ditado: “Em casa de ferreiro o espeto é de pau.”

Bati palmas novamente e a Clara apareceu, olhando curiosa por um vão da porta da sala. Ao me ver, além de curiosa, ficou invocada:

- Mai... Mai que coisa é essa, Riba!? Entra, homem, a casa é sua!

- Num é mais não, Clara. Você sabe disso.

- Deixa de coisa, homem! – Insistiu, ainda mais invocada, descendo dois degraus da escada e abrindo o portão pra mim: - Entra que eu tô com comida no fogo!

Entrei, aliás, entramos rapidamente. Ela na frente, rebolando aquele bundão, sempre gostoso, e eu atrás, sempre abobado com a visão. Ela também não estava vestida pra festa, mas usava um bonito vestido florido que uma tia lhe dera há uns tempos atrás, rodado e na altura do joelho, com um decotezinho de nada entre os seios. Se usava maquiagem, nem notei, mas o cabelo estava preso num rabo de cavalo que eu vi.

Eu não sabia bem onde ficar e acabei ficando no meio do caminho, mais na sala que na cozinha. Ela depois de socorrer sua comida, voltou meio corredor, me procurando:

- Deixa de bobice e entra, Riba! – Convidou-me.

Fui até a cozinha e antes que eu parasse, ela se adiantou:

- Senta aí, homem. Já que a comida fica pronta.

Ela nem precisava avisar, porque um aroma inconfundível daquele delicioso cozido já havia tomado conta do ambiente. Simplesmente divino! Só não babei porque estava de boca fechada, senão teria passado vergonha...

Ela ia e vinha, fiscalizando as panelas, pouco falando comigo além de coisas triviais do meu trabalho e umas coisas de sua nova vida de mulher abandonada:

- Abandonada não! Eu saí de casa e você sabe bem o motivo, num sabe? – Contestei.

- Sei, mas não aceitei! Eu ainda acho que a gente podia dar um jeito de...

- Jeito de quê!? – A interrompi e parti para um leve ataque: - De você me chifrar de novo? Quero não...

Ela sentiu a indireta, tanto que parou por um momento, colocando ambas as mãos sobre a frente do fogão e respirando fundo de cabeça baixa. Depois se virou para mim, ficando ainda uns segundos em silêncio, antes de continuar:

- Eu sei que errei e já pedi perdão. Por que é tão difícil de perdoar um erro meu?

- Sabe que eu fui conversar com o padre Celso sobre isso e ele me fa...

- Ah, você não foi! Que jeito vou na igreja agora? – Interrompeu-me, colocando uma mão sobre a boca.

- Fui! E você vai andando, de carro, do jeito que você quiser. – Retruquei, antes de continuar minha explicação: - Então... Ele me falou que uma traição não é um erro, é uma escolha. Ele até deu um exemplo: ninguém tropeça no chão e cai sentado numa pica, ou senta numa pica pensando que é um banco, isso seria um erro. No seu caso, você decidiu fazer o que fez, então você escolheu me trair.

- Tá! Tudo bem... Vamos dizer que ele tá certo. Eu escolhi errado! Quer dizer que isso não tem perdão, não posso mais ter paz ou ir pro céu?

- Ah, aí eu num sei, né! Você vai ter que perguntar lá pro padre. – Falei enquanto me servia de um café do bule direto num copinho americano que sempre ficavam no centro da nossa mesinha: - Mas acho que se você tiver realmente arrependida, Deus também perdoa. É o que eu acho...

- Tá! E se Deus pode me perdoar, você não pode por quê?

- Porque Deus é perfeito, eu não!... – Retruquei, dando um bom gole num cafezinho já meio morno.

- Credo, Riba, você nunca foi tão ressentido assim...

- É que o chifre não foi em você! Se fosse, você entenderia certinho o que eu tô sentindo...

Ela se virou novamente na direção das panelas e por um tempinho pareceu ficar perdida, sem saber o que fazer. Olhou para dentro de todas as panelas e desligou o fogo. Tive a impressão de vê-la secar uma lágrima, mas pela minha posição era difícil saber. Olha que nesse momento, imaginei que ela pudesse estar realmente arrependida do que fez e isso me fez ficar desacertado comigo mesmo, afinal, o padre Celso também me disse que o perdão sempre é possível quando há amor no coração e arrependimento verdadeiro de quem ofendeu, mas eu não queria ou não conseguia pensar nisso, porque continuar com ela seria o mesmo que viver com medo pelo resto da minha vida.

Depois de um tempinho, ela foi até um armário e pegou dois pratos, indo até uma gaveta na pia, onde pegou dois joguinhos de colher, garfo e faca, colocando-os todos sobre a mesa, praticamente sem me encarar, tudo no mais completo silêncio. Dali foi até a geladeirinha, onde pegou uma bacia com salada de alface, tomate e cebola bem fininha, fininha, fininha, do jeitinho que eu gosto e também colocou sobre a mesa:

- O que você quer beber, Riba?

- O que você quiser, eu bebo.

Ela foi até a geladeirinha e trouxe um Vinho Canção, tinto e suave, do jeito que ela mais gostava. Eu bebia qualquer coisa que fosse líquida, então, por mim, estava bem também. Ela me pediu que abrisse a garrafa. Então, como era dessas garrafas mais simples, de rosquear, em dois movimentos estava aberta. Enquanto eu nos servia em dois copos, ela foi fazer o meu prato, como sempre fazia e caprichou na quantidade do cozido. Depois de me entrega-lo, foi se servir também. Enfim, sentou-se à mesa, ao meu lado e passamos a comer e beber, em um silêncio quase tumular. Não durou muito:

- Riba, eu sei que errei. Poxa, mas quem não erra?

- A questão é essa, Clara, você quis, decidiu e fez. Olha, talvez se você tivesse feito escondido e eu descobrisse, não teria doído tanto, sabe? O problema é a forma que você decidiu fazer as coisa...

Ela continuou comendo, parando logo depois para tomar um baita gole do vinho, praticamente secando o copo. Eu a servi novamente e agora ela tomou mais meio copo, sem tirar os olhos de mim:

- Tendi! Então se eu tivesse feito igual você fez com a Fernandinha da dona Amélia, teria ficado tudo bem. É isso que você tá querendo me dizer?

Eu também a encarava naquele momento, mas nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que ela soubesse daquele meu deslize, acontecido praticamente no início do nosso namoro, acho que pouco antes do noivado. A surpresa ficou estampada no meu rosto e devo ter ficado com os olhos arregalados, só pode, porque ela me olhava com uma cara de satisfação pelo efeito causado. Eu não entendia como ela soube, mas não faria diferença entender ou não como ela descobriu, pois o fato é que ela sabia. Respirei fundo e foi a minha vez de virar o meu copo de vinho, enchendo o meu e o dela novamente:

- Sei do que você tá falando não... – Tentei despistar.

- Ah não, é!? Bão, eu sei, o Zé Tonho, o Tinoco do tio Zé também, a Marianinha também e... Ah, falar a verdade, tem uma turma que pode confirmar isso. Você vai mesmo querer jogar um falso desse pra cima de mim? – Perguntou, sem tirar os olhos de mim.

Respirei fundo novamente, mas perdido por um, perdido por dez, tentei justificar:

- Ó só, eu sou homem! A gente começou a namorar e você não facilitava pra mim, né? Eu tinha minhas necessidades...

- E foi matar elas com aquelazinha, é isso!? – Interrompeu-me com uma calma de dar medo: - Você pode pular a cerca, eu não, é isso que você tá me dizendo?

Eu sabia que os meus argumentos, além de machistas, eram antiquados, injustificados e não resolveriam os nossos problemas naquele momento. Ainda assim preferi não dar o braço a torcer:

- Por que isso agora? Por que você não me cobrou isso lá atrás? Você podia ter terminado comigo e arrumado um melhor que eu. Por que não fez isso?

- Ué! Porque eu te amo e achava que tinha sido só um deslize seu, como realmente foi, afinal, não fiquei sabendo de mais nada. – Ela explicou e após engolir uma farta garfada dum pedação de linguiça, perguntou: - Se fez mais alguma coisa que eu não fiquei sabendo, Riba?

- Não, nunca! Aquela vez lá... É... Aquela aconteceu. Foi meio sem querer, mas aconteceu. Só que nunca mais tornei noutra.

- Bão, bão também... Menos mal, né? – Ela resmungou, enquanto limpava a boca: - Então, vou perguntar novamente: por que a gente não pode se perdoar e continuar? Pensa assim, você fez, eu fiz, os dois erraram e agora os dois tem a chance de consertar.

O argumento dela era bom. Se antes, eu usava a traição como argumento para a separação, agora ela usava o mesmo argumento para tentar uma reconciliação. Tentei ser honesto e explicar o que eu pensava:

- Não vai dar certo... Ó só você mesmo: você nunca me perdoou, tanto é que na primeira chance deu o troco. A gente só vai acabar se machucando ainda mais se continuar junto.

- Primeira chance!? Você acha mesmo que o bocó do Dudú foi o primeiro homem que deu em cima de mim, Riba? Aliás, esse nem em cima de mim deu, foi a Rina que me apresentou ele.

- Pois é! Essa sua prima é outra também...

- Esquece dela agora! Se você quiser, depois a gente até fala dela. A gente pode até nunca mais falar com ela, mas agora é a gente que tem que se resolver. – Ela me interrompeu e continuou: - Se eu quisesse mesmo te chifrar, já tinha feito isso há muito tempo, porque o que nunca me faltou foi homem safado dando cantada. Eu é que nunca cedi, entendeu?

- Você nunca me falou isso!

- E pra que eu ia falar? Para você ficar na neura e não querer mais me deixar sair na rua? Deixa de ser bobo, homem! Mulher é que tem que se dar valor. Se eu não quero, não dou abertura e tem macho que pegue. – Ela bebeu mais um bom gole de seu vinho e disse algo que me surpreendeu: - Até amigo seu... Há! Amigo... Até uns mané que joga bola com você já me cantou. Esses, eu até me arrependo de não ter te contado, porque vou te falar, talarico filho da mãe!

- Como é que é?

- Aham! É isso aí! Zé Preto, Bananinha, Ferinha... Esses são só uns dos que me cantaram, bem debaixo do seu nariz.

Eu a encarei confuso, chateado, quase irado com aquela revelação e só queria entender:

- Mas... Mas quando foi isso!?

- Ah, Riba, foram em várias vezes. Às vezes quando vocês voltavam de uma pelada, num churrasco na represa, na praia...

- E você não me contou, Clara!? Porra! Tinha que ter me falado que eu dava um jeito neles.

- Não falei para não criar caso com as famílias deles, mas, como eu te disse, disso eu me arrependo, realmente eu devia ter te contado.

Nervoso, virei o meu copo de vinho e quando fui me servir, a garrafa já estava no fim. Ela se levantou e foi buscar outra garrafa na geladeirinha. Até parece que ela sabia que eu ia precisar e se pensou nisso, acertou. Não sei exatamente o que eu sentia, mas naquele momento, parece que uma culpa por não ter protegido a minha mulher era maior que o meu próprio desejo de me separar dela:

- Você devia ter me falado, devia mesmo!

- Eu sei. Desculpa. Só não quis problema pra gente e para as famílias deles.

- Caramba, a gente chegou a ir na praia juntos.

- Foi... Inclusive, o Bananinha chegou a me encoxar nessa vez, mas eu dei um esporro nele e ele nunca tornou noutra!

- Eu vou matar aqueles desgraçados! Ah, se vou...

- Vai nada, homem, sossega! Isso já passou. Foi logo no nosso começo. Depois, eles viram que a gente era sério mesmo, ou que eu era séria de verdade, e nunca mais tornaram. Se aquiete!

Respirei fundo e segui seu conselho, aliás, eu e ela, mas acho que exageramos, pois nos silenciamos demais, por um longo tempo. Até a vontade de comer diminuiu, não sei se pelo que já havíamos comido ou mesmo bebido, mas como eu ainda tinha comida no prato e meus pais me ensinaram a não desperdiçar, comi todo o resto. Ela também. Nesse tempo, apenas o barulhinho dos talheres batendo no prato era ouvido. Quando terminei, fiz algo que tinha muito costume de fazer: fui até a panela e peguei mais uns pedacinhos de carne com um pouco de caldo e legumes, desfiei e piquei bem picadinhos, e cortei um pão em fatias para a gente comer juntos até limpar o prato. Era quase uma tradição nossa e ela nem pestanejou em fazer.

Quando enfim terminamos, eu a encarava e ela a mim, mas parece que ninguém sabia bem o que dizer. Eu estava surpreso e chateado, ela esperançosa mas temerosa. Na verdade, eu já não sabia de mais nada e decidi que seria melhor me decepcionar de vez com ela. Então, perguntei:

- Fala uma coisa pra mim... Por que você me traiu então? Se você tinha me perdoado e sabia que eu nunca tornei a te trair, por que você fez aquilo comigo?

Ela parecia saber que eu faria essa pergunta, pois apenas levantou uma sobrancelha como quem diz “chegou a hora” e não se negou a responder:

- Bobice minha... Dias antes daquele dia, a gente tinha brigado feio, mas nem lembro porque agora. Uma bobeira qualquer, sei lá... Então... Acabei ficando bem chateada e encontrei a Rina na feirinha da Rua do Esgoto. Como fazia tempo que a gente não se via, ela ficou muito feliz e me levou para comer um pastel e tomar uma garapa no seu Evair. Acabei falando pra ela da nossa briga e... – Ela parou, parecendo lembrar de algo e voltou a falar: - Lembrei! A gente brigou porque a Suzana Pereira tinha dado em cima do você e...

- Deu nada! – A interrompi: - Aquilo foi coisa da sua cabeça e eu já te expliquei isso!

- Tá! Explicou. Tá bom... – Ela resmungou, sem tirar os olhos de mim e voltou a falar: - Então... Ah é! Então falei para a Rina da nossa briga e disse que tinha certeza que você estava me traindo de novo com a Suzana. Ela quis saber que história era essa de “de novo” e eu expliquei da outra vez, daquela que você comeu a Fernandinha. Daí ela me aconselhou a dar um troco.

- Ah, fiadaputa!

- Pois é! Então, ela me disse que estava saindo com um cara todo fortão, gostosão safadão e pauzudo, o tal do Dudu. Bão, o restou eu não preciso explicar, né?...

- Só uma coisa que eu não entendi... Por que você só não me traiu? Por que inventou aquela história furada e me fez assistir tudo?

- Ideia dela ou deles, sei lá. Como eu disse que iria experimentar só uma vez, ela me convenceu a te obrigar a assistir para que você nunca tornasse noutra. Foi pra doer mesmo, acho...

- É... E doeu pra caramba! Dói ainda... – Confessei, realmente ainda doído com as lembranças do meu chifre presencial.

Um novo silêncio surgiu. Ela se levantou para guardar o resto de salada na geladeirinha e para por as louças na pias. Depois, voltou, se sentou à mesa, servindo-se de mais vinho e a mim também. Então, puxou sua cadeira para mais pertinho de mim e pôs sua mão sobre a minha:

- Eu só queria uma chance...

- Ó, Clara, a gente conversou sobre muita coisa hoje, muita mesmo e eu tô bem passado com umas coisas que você me disse. Deixa eu pensar um pouco, tá bom? Prometo que vou pensar em tudo com bastante carinho e a gente volta a conversar, pode ser?

Ela, apesar de parecer decepcionada, não negou meu pedido:

- Eu só queria te pedir uma coisa. A Catarina, ela...

- Não vou chegar perto dela, prometo! Nem dela, nem do Dudu, nem de ninguém que não seja da nossa família. Eu só quero me acertar com você, Riba, só isso!

- Tá... Dá um tempo pra mim então e a gente volta a conversar.

Ela tentou me convencer a decidir no ato, mesmo porque eu estava bastante balançado, mas resisti. Nós nos despedimos, ao contrário das outras vezes, com um apertado abraço e não me envergonho em confessar, quase fraquejei ao sentir seu perfume e a maciez de seu corpo. Ainda assim me fiz de forte e fui embora para o meu cafofo. Lá remoí tudo o que havia acontecido, desde o meu erro e depois o dela naquela noite. Acho que só dormi as tantas da madrugada por causa do vinho, senão teria virado em claro.

No dia seguinte, eu ainda me sentia muito revoltado com tudo, achando que a traição dela havia sido muito desproporcional e preferi me aconselhar novamente com o padre Celso. Ele foi bastante objetivo:

- Ela achava que você ainda a estava traindo, Ribamar, com a tal... Qual é o nome mesmo, Suzana? - Confirmei com um meneio de cabeça e ele explicou: - Pelo que eu entendi, ela não quis se sujeitar a uma vida de traições, pagando na mesma quantidade em que imaginava estar sendo traída. Por isso, ela fez aquela única vez, daquele jeito, na sua presença, praticamente te obrigando a se sujeitar aquilo. Foi um erro... não justificável... mas acho que um erro de interpretação. Ela achou que fazendo uma vez daquela forma, estaria compensando todos os seus erros.

- Mas eu só fiz uma vez e bem no comecinho. - Insisti.

- Sim, mas ela achava que não. Pensava que você a estava traindo reiteradamente.

- O senhor acha que eu devo perdoá-la?

Ele se calou, pensando um pouco e depois explicou:

- Dois erros, não fazem um acerto; mas dois corações que se amam, podem facilmente consertar dois erros. Se você a ama e ela ama você, por que não se darem essa chance?

Agradeci aquelas palavras e disse que iria pensar a respeito. Pensei. Pensei e como pensei. Foi uma semana pesada no trabalho e mais ainda no meu cafofo remoendo tudo para tomar uma decisão. Na sexta-feira decidi que teria que dar um caminho à minha vida e liguei para a Clara, marcando um novo encontro:

- Quer que eu faça um cozido? - Ela me perguntou.

- Ó, querer eu quer, mas dessa vez não. Eu levo uma pizza.

- Calabresa, tá bom? Não, não, Portuguesa é melhor. Pega lá no Joaquim!

- Tá bom.

No dia seguinte, por volta das seis da tarde, voltei a minha antiga casinha. Com as mãos cheias, com sacola de refrigerante e duas pizzas, não consegui sequer bater palma e me repreendi com força: "Amanhã mesmo venho consertar essa merda de campainha. Ah, se venho!". Gritei pela Clara como um louco. Eu literalmente tive que me esgoelar até ela vir atender a porta:

- Mas por que você não entra, Riba?

- Tô com as mãos cheias, mulher, ó! - Mostrei meus volumes e ela veio me ajudar.

Entramos e fomos direto para a cozinha, onde, ao contrário da vez anterior, ela já havia arrumado tudo para me receber. Guardou os refrigerantes na geladeira e perguntou se eu não preferia um vinho, mas recusei, afinal, era a nossa vida que estava em jogo e agora seria definitivamente decidida. Acho que ela não gostou do tom, pois seu semblante se abateu um pouco. Voltou então com um refrigerante e nos servimos. Comemos trocando umas poucas palavras. Ela estava temerosa em ouvir o que não queria e eu ainda não tinha certeza de nada. Quando nos terminamos, após nos servir um cafezinho que havia feito há pouco, entrei no assunto:

- Eu te prometi uma resposta.

- É eu sei...

- Por que você quer continuar comigo, sabendo que eu te traí?

- Ué! Eu já te falei, porque te amo!

- Tá!... Eu também te amo. Só que continuo achando que você exagerou, porque, fora aquela vez com a Fernandinha, eu nunca mais te traí, nem com a Suzana, nem com ninguém.

- Tá, mas... Tá! Tudo bem. Se você não estava com a Suzana, então eu exagerei mesmo. Se você me der mesmo essa chance, eu concordo que você fique com outra para descontar o meu exagero. Se você quiser, eu até assisto tudo, quietinha, caladinha...

Por essa proposta eu não esperava e certamente minha surpresa ficou estampada na minha cara. Comecei a rir e ela se invocou comigo:

- Tá rindo do quê!?

- De nada, Clara. - Respirei fundo para me controlar e continuei: - Eu não vou fazer isso, te trair de novo para empatar. Não preciso disso. A gente até pode tentar de novo, mas sem mentiras e sem traições daqui por diante, tudo bem?

Sua face se iluminou quando me ouviu dizer aquilo e seus olhos pouco depois começaram a verter lágrimas de alegria. Nem tive tempo de dizer nada e ela já estava sentada no meu colo, me beijando e agradecendo pela chance. Eu ainda precisava explicar outras coisas e pedi que se sentasse à minha frente. Ela o fez, sorrindo igual criança e sem querer soltar a minha mão:

- Não estou dando essa chance para você, estou dando para a gente. Nós dois erramos, mas acho que podemos consertar tudo, juntos.

- Podemos! Claro que podemos!

- Só que... - Frisei e fiz um certo suspense, fazendo ela recolher um pouco o imenso sorriso que tinha: - Nunca mais, estou dizendo nunca... mais... eu quero você perto da Catarina. Aquela bisca é que causou tudo isso. Se você tivesse falado com a Zabel ou mesmo com a Toninha, garanto que nada disso tinha acontecido. Aquela messalina da Catarina plantou ódio no seu coração e a gente é que acabou colhendo a discórdia. Isso não pode acontecer mais, concorda?

Ela se calou por um instante e explicou:

- Você nem precisa se preocupar. Encontrei com a Toninha no meio da semana e ela me disse que a Catarina se mudou, parece que ela foi para a Bahia com o tal Dudu. Acho que ele tem família lá...

- Coitado dele! - Lamentei, balançando negativamente a cabeça e perguntei o que havia acontecido, afinal, eu queria aprontar alguma coisa contra ela por ter plantado minhoca na cabeça da Clara.

- Bem... – Ela titubeou por um instante, mas, depois de respirar fundo, explicou: - Meus pais... Eles me pressionaram quando a gente se separou. Há! Quando descobriram que você tinha saído de casa, eles fizeram um inferno na minha cabeça até que eu contei tudo...

- Tudo!? – A interrompi, temeroso com a imagem que agora eu ficaria em sua família.

- Tudinho mesmo! Mas... Mas fica tranquilo, ninguém mais sabe, só a gente, eu, você, Catarina, Dudu e eles, e... – Ela se calou, preocupada.

- E!? Tem mais? – Insisti.

- Meus tios, os pais da Catarina...

Antes muito chateado, agora eu também estava envergonhado. Não sabia como reagiria ao encontrar com os meus sogros, mas saber que a história já havia se espalhado dentro da família deixava tudo ainda pior. Ela continuou:

- Contei, contei mesmo... Tudo! Quando eles souberam, tomei até uns tapas da minha mãe. Meu pai ficou uns dias sem falar comigo. Depois, minha mãe me disse que ele foi reclamar com o tio Tião, pai da Catarina, e quando meus tios souberam do que aconteceu, ficaram irados, deram uma coça de cinta nela e um cacete de pau duro no Dudu, e ainda a expulsaram de casa. Acho que por isso eles se mudaram daqui...

Era uma surpresa, bem inesperada mesmo. Eu me senti até que, de certa forma, feliz, satisfeito, mas agora eu tinha um problema a mais: as reuniões em família nunca mais seriam as mesmas, afinal, eu já havia me tornado “o corno” para os familiares e pior, se eu realmente voltasse a viver com a Clara, eu seria “o corno resmungão mas manso” que é chifrado, briga, mas depois aceita:

- Isso muda um pouco as coisas, Clara. Antes só nós quatro sabíamos disso e já não seria fácil reencontrar com os seus pais, mas agora além deles tem os seus tios. Eu não sei se quero ser visto como o corno manso da família não...

- Por favor! Eles não vão falar nada, eu sei que não vão.

- Não sei... Não sei mesmo!

Levantei-me e fui até a porta da cozinha que dá saída para o quintalzinho da casa. Ela veio quase que imediatamente e me abraçou por trás. Antes que um dos dois falasse algo, a campainha tocou. Eu a olhei surpreso e ela somente levantou os ombros, dizendo não saber quem era:

- Mas a campainha não estava queimada? – Perguntei.

- Pensei que tivesse. Foi você que me disse que estava. – Ela retrucou, virando-se e indo atender a porta.

Como nada é ruim que não possa piorar, eram seus pais, que vinham visitar a filha para saber como ela estava. Clara tentou pedir que fossem embora, mas ao saberem que eu estava lá, quiseram porque quiseram e entraram para me cumprimentar. Depois daquelas recentes descobertas, fiquei totalmente constrangido em sua presença. Eles bem que tentaram ser agradáveis, mas eu não sabia o que falar e respondia apenas “sim” e “não” as suas perguntas. Clara acabou revelando que estávamos conversando sobre reatar, mas que depois dela contar que eles já sabiam de tudo, eu fiquei com medo de sujar meu nome e já estava repensando em desistir. O seu Agenor, homem vivido, tomou a palavra:

- Ó só, Ribamar, a Clara contou tudo para a gente e nós só podemos de pedir desculpas. Nós não educamos nossa filha pra fazer essas “coisa”, mas aconteceu. Só quero que você saiba que nada vai mudar e no que depender da gente, ninguém mais vai ficar sabendo de nadica de nada.

- Mas já ficaram sabendo, né, seu Agenor? – Acabei falando, involuntariamente.

- Pois é... Mas meu irmão e cunhada também são gente de bem e sei que não irão contar nada para ninguém. Você pode ficar tranquilo que ninguém vai falar mal de vocês.

- Fácil falar, mas é meu nome que tá na boca do povo agora...

- Do povo não, fio! – Ele me interrompeu: - Só nós aqui, meu irmão e cunhada é que sabemos. Da gente, você pode ficar tranquilo, mas da Catarina e daquele outro lá, eu já não sei te falar.

- Não sei mais de nada. Eu preciso pensar de novo e...

- Fica calmo. Tô te dando a minha palavra! Você me conhece já faz tempo, não faz? Quando foi que eu não cumpri uma promessa? Fica tranquilo que esse segredo morre com a gente. Nunca, ninguém mais saberá de nada. É promessa de Agenor Penteado!

Preferi não continuar com aquele assunto, pois era muito constrangedor, afinal, eu era o corno que estava cogitando ser amansado e tudo isso com ciência, consciência e aceitação dos meus próprios sogros. Enfim, eles entenderam que o momento era delicado e se despediram, dizendo que entendiam que ainda tínhamos muito o que conversar. Sinceramente, eu já não tinha mais nada para falar e também queria ir embora para bem longe dali, mas a Clara me segurou.

Depois de um tempo sem sabermos o que falar, ela se levantou e foi até a geladeirinha, voltando com um pote de sorvete, cheio de doce de abóbora com coco. Serviu-me e a si também. Comemos em silêncio, mas ela não tirava mais os olhos de mim, ansiosa por uma confirmação que eu mesmo já não tinha a certeza se seria a correta. Um medo ainda me afligia e agora uma certeza de ser visto como corno por seus familiares e até pelos meus me deixava com uma certa angústia:

- O que foi, Clara? – Perguntei por não aguentar mais vê-la me encarando.

- A gente... vai... voltar, não vai!? – Perguntou com os olhos quase marejados.

- Ó... Eu vou ter que ficar uns dias fora, fiscalizando uma obra lá no litoral. Depois a gente resolve isso, pode ser?

Ela se calou por um segundo e perguntou:

- Onde você vai ficar lá?

- Num alojamento. Por quê?

- Ué, se tivesse lugar, eu ia com você.

Naturalmente meu patrão não iria me pagar um lugar só para eu ficar e naturalmente eu não iria pagar um hotel ou pensão para nós dois ficarmos, afinal, meu salário não era muito dos bons. Expliquei para ela que ficou chateada, mas não desistiu:

- Tem nem um lugarzinho nesse alojamento, sei lá, um quarto só para nós dois? Eu poderia até ajudar... eu... eu poderia cozinhar para vocês, ué!

Normalmente comíamos de marmita, tanto pela praticidade, como pela economia de espaço e aparelhos, apesar de ter uma cozinha compacta mas completa no ônibus de suporte. Expliquei e ela novamente ficou triste, tanto que chegou a chorar brevemente e só parou quando eu prometi que iria conversar com o meu patrão, apesar de que eu não iria fazê-lo, pois achava descabida a proposta.

Nessa noite, ela acabou me convencendo a dormirmos juntos, mas sem sexo, apenas como bons amigos, lado a lado, mas sem contato. Amanhecemos grudados, com ela dormindo e babando sobre o meu peito. Ao me despedir dela, tive que prometer novamente que conversaria com o meu patrão, dando minha palavra de homem. Antes eu não tivesse dado...

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL PODEM NAO SER MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 265Seguidores: 629Seguindo: 21Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Tá ate parecendo a novela " chocolate com Pimenta"

Tá ótimo essa fabulosa trama! ⭐⭐⭐💯

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Ê Ribamar vèi, vai ser o corno manso da firma tbm? Kkkkkkk, no aguardo da continuação.

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Grande @Mark!!! Muito bom seus escritos!!! Um pouco de tudo!!! Parabéns!!! 👏👏👏 Tudo bem dosado!!! 😍✨✨✨😃

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Mark pelo jeito vão voltar o perdão já está próximo quem sabe kkkk nota mil amigo quero a continuação da caso Annemeiry pode ser kkkkkk quem és tu comandante kkkk

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Prefiro não comentar até ler o último capítulo.

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Ribamar, Ribamar... Onde você vai se enfiar... Tá pedindo!

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O Ribamar me parece ser o tipo de sujeito aberto, franco e honesto, por outro lado, a Clara está se mostrando ser uma mulher cínica e desonesta. Desonesta até com ela mesma. Não há amor ou tesão que resista pois água e óleo não se misturam nunca. Essa relação já foi pro espaço.

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🤔🤔🤔 Dormir junto de uma gostosa,sem sexo! Coé mermão contra outra história prá ver se o boi dorme kkkk. Vai ser corno a vida toda. Pô está esquecendo o sexo nessa história. Conto gosto e nem escrito

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Oi tudo bem Mark , então eu dei três tipos de cornos , o corno mansinho que eu gosto, o corno brabo e vingativo que eu também gosto e o corno indeciso que eu odeio, estou achando que esse é o corno indeciso kkkkkkkk , eu sou mulher e sei bem que, " Para trair e coçar basta apenas começar ", então esse aí coitado vai tomar chifre de todo jeito, até pr história ficar quente kkkkkk ,vai ser aquele drama, já pensaram nessa moça em um canteiro de obras kkkkk puta que pariu do jeito que ela fez com o Dudu, vai ser o cataclisma, uma bomba atômica kkkkkkk .

O conto está muito bom, como sempre.

Parabéns.

Beijinhos da titia Sueli Brodyaga 😘😘😘😘😘😘

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Bom dia Titia!

Concordo em número, gênero e grau!

🤣🤣🤣🤣🤣👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

😘😘😘😘

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Oi Hugostoso tudo bem com você.

Eu acho que ele é um trouxa, quem consertou a campainha? Uma mulher depois que experimenta essa emoção não tem mais volta , porque pra nós vai ficar sempre a emoção e as comparações serão inevitáveis.

Beijinhos da titia Sueli Brodyaga 😘😘😘😘😘😘😘😘😘

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Eu e minha Rô nos matando de rir do conto. Muito bom. Kkkkkkk.

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Mais um capítulo excelente! Parabéns Mark!

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Mark não ta criando um personagem tão burro assim.

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Eita porra de corno bravinho, agora tá ficando mansinho, larga desta porra de traidora e segue tua vida corno, kkkkkk

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Porra Mark, outro Gervásio pra engolir não dá nem meu, outro personagem frouxo agente lê mas não engole !!!!!!

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Ta tido muito bom, tudo muito legal... mas essa história da campainha mw bugou. Tem caroço debaixo de angu.

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Foto de perfil de Velhaco

Outro ponto q me esqueci de comentar, no capítulo anterior, clara e sua prima tentaram se justificar dizendo q eles fatasiavam com o meio liberal, mas de repente a justificativa passou a ser uma suposta traição do marido com a tal Suzana?, se no capítulo anterior até a prima dela se ofereceu aí Ribamar pra igualar o jogo, como de uma hora pra outro a traição da Clara passou a ter outra motivação? Algo ficou desconexo a não ser q o autor justificará essa mudança no próximo capítulo

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Foto de perfil de Tiotesão

Huummm tá me cheirando outro ou outros chifres nessa empreitada no litoral.

Ansioso pela continuação

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qual homem leva sua esposa, pra uma obra cheio de homem, só pode ser muito burro.

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Foto de perfil de rbsm

Muito bom capítulo , mas coitado do Riba

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acho q ela vai junto com ele nessa viagem a trabalho e a merda ta feia.

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