Eu estava indo ao banheiro da escola. Era uma manhã comum de quarta-feira, um tanto fria. No meio do caminho, me deparei com Luciano. Evitei olhar em sua direção e segui em frente; porém, ele me parou, segurando meu ombro.
— Sara, posso falar com você um momento? — Aquilo era inesperado. Foi, tipo, a segunda vez na vida que conversamos. A primeira em que ele falou primeiro comigo.
— C-claro... — Respondi, evitando olhar em seus olhos. Era muito tímida... Um defeito meu, sim.
— Então, sei que você é uma boa aluna, mas essa sua última nota... — Merda, tinha tirado 4. Por que ele estava falando aquilo?
— Sim, foi 4. — Senti-me envergonhada. — Há alguma maneira de aumentar essa nota?
— Hum... — Não havia percebido que sua mão agora estava em minhas costas, acariciando-me suavemente. — Eu tenho uma ideia.
Pouco a pouco, o espaço entre nós começou a diminuir, nos aproximando. Olhei para seus olhos âmbar e respirei fundo. Senti seu perfume.
— Sara? — Uma voz interrompeu meu cenário imaginário. Era minha mãe.
— Oi, mãe. — Respondi, ainda deitada na cama.
— Está na hora de ir pra aula! — Ela me lembrou.
— Já vou. — Bocejei.
Na real, as coisas eram bem diferentes da maneira que imaginava. Não era uma boa aluna- mediana, no máximo. E ele não dava a mínima pra mim.
O máximo que já aconteceu foi, enquanto ele explicava o conteúdo, nossos olhos se encontrarem... E esse era o ponto alto do meu dia.
De qualquer forma, as coisas seriam diferentes a partir daquele dia. Havia vestido minha blusa de uniforme, uma saia de pregas preta e um cardigan rosa claro. Caprichei na maquiagem.
Suspirei. Estava um pouco ansiosa, porque iria chamar Luciano para sair, usando a desculpa de corrigir umas atividades da prova. Iria abordá-lo após a aula e iria chamá-lo para ir na padaria perto da escolaFinalmente, as aulas tinham acabado. Iria ficar na escola à tarde, estudando. A última aula era de Biologia, então esperei que todos saíssem para ir falar com ele.
Respirei fundo e me levantei. Meu coração estava batendo rápido e forte. Passo a passo, andei em sua direção.
Lá estava ele. Um pouco mais alto que eu, definitivamente mais forte e com olhos profundos. Luciano percebeu minha investida e disse:
— Oi.
— Oi... Eu precisava de ajuda em uma coisa. — Foi o máximo que consegui falar.
— O que seria? — Ele perguntou, curioso.
— Então, eu fiquei confusa sobre umas questões da prova... E queria aproveitar para tirar essa dúvida com você. — Manti minha cabeça baixa. Imaginei qual seria sua expressão.
— Ah, sim. Você tá com sua prova aí?
— Sim. Você quer... ir na padaria aqui perto? Eu queria tomar um suco. — Me perguntei qual seria sua reação. Imaginei o pior cenário, ele dizendo algo como: Jamais. Mas, pra minha surpresa...
— Pode ser. Estou com tempo livre hoje. — Olhei para seu rosto de relance, e vi que ele estava sorrindo. Sorri um pouco, de volta.
Após isso, fomos para a padaria, que não estava muito movimentada naquele horário. Sentei-me de frente para Luciano e peguei a prova.
— Então... — Respirei fundo, olhando para a prova. — O que exatamente eu errei na questão 4?
— Deixa eu ver. — Ele pegou minha prova, e, por um instante, nossas mãos se tocaram. Ele leu, concentrado na pergunta. — Você errou na parte de mutualismo. Não é intraespecífico, e sim interespecífico.
— Ah... São tantos nomes pra decorar! Desculpe, sei que não sou muito boa na sua matéria, prometo que vou me esforçar mais.
— Tá tudo bem. Sei como é difícil. — Ele sorriu para mim. — Mas, se precisar de ajuda, é só me chamar.
Nosso diálogo foi interrompido pela atendente da padaria, que disse:
— Boa tarde. Já foram atendidos?
— Na verdade, ainda não. Mas eu já sei o que vou querer- um misto quente com suco de abacaxi, sem açúcar. — Respondi.
— E o senhor? — Ela se referiu a Luciano. Ele não era tão velho assim para ser chamado de "senhor". Estava na casa dos 30, supus. Não era casado, não havia aliança em seu dedo.
— Só uma lata de guaraná, por enquanto.
— Então... — Retomei a conversa. — Você dá aula particular ou algo assim?
— Sim. Teria interesse?
— Seria bom. — Sorri.
— Tá livre hoje a noite? Posso te ajudar com a matéria, na minha casa. — Ele propôs.
Caramba, sexta-feira à noite, na casa dele... Parecia demais. Algumas horas atrás, nós mal conversávamos direito. Mas, pra falar a verdade, já fazia dois anos que ele dava aula pra mim.
— Isso seria ótimo! — Não consegui esconder minha animação. Ele percebeu isso, porque sorriu pra mim.
Nossos pedidos chegaram, e ataquei meu misto quente. Aquele seria meu almoço.
— Então... O que você gosta de fazer no tempo livre? — Ele perguntou.
— Ah... Ouvir música, dormir e ler.
— Você gosta de ler? Isso é bom.
— É. Quem dera eu gostasse de ler as apostilas da escola com a mesma vontade que leio meus livros de ficção. — Dei de ombros, rindo.
— Falando nisso... Quer que eu te passo meu número, pra te mandar meu endereço?
— Pode ser! — Peguei meu celular e dei a ele, para colocar seu número.
— Pronto. Tenho que ir agora. Nos vemos às 19h? — Ele olhou para mim.
Assenti, terminando minha refeiçãoNunca havia me arrumado tanto para alguma coisa antes. Tomei um banho longo, me depilei todinha e passei um perfume que guardava para ocasiões especiais- como aquela.
Ao me ver me arrumando daquele jeito, minha mãe perguntou:
— Vai encontrar com quem hoje?
— Vou na feirinha com minhas amigas. — Inventei uma desculpa.
— Que amigas?
— A Natália e a Luiza... — Pessoas com quem eu não falava há um tempo, mas que costumavam ser minhas amigas.
— Certo. Volte até meia noite! — Ela me avisou.
— Tá, não se preocupa! — Pisquei, pegando meu celular.
O Uber havia chegado. Iria para o endereço, da casa de Luciano.
Se estava nervosa? Com certeza. Literalmente tremendo de entusiasmo, mas não podia deixar minha ansiedade me levar. Então respirei fundo, como sempre, e fui.
Chegando lá, Luciano estava me esperando na frente de sua casa. Era estranho vê-lo sem seu típico jaleco- estava vestindo uma camiseta preta com calças jeans, usando seu típico perfume.
Tinha dificuldade de olhar pros olhos das pessoas, principalmente para os dele. Sentia que podia me perder dentro deles...
— Oi, Sara. Que bom que você veio. — Ele me cumprimentou.
— Boa noite. — Sorri, entrando na casa. Eu estava segurando um caderno e a apostila.
A casa dele era pequena. Já entrando, havia uma sala de estar minúscula, seguida de uma sala de jantar, que era nada mais que uma mesa com algumas cadeiras. Nos sentamos nela.
— Então... Eu fiz macarrão, você quer provar? — Ele sugeriu. Ri.
— Ah, não. Imagino que deva cozinhar bem, mas acabei de jantar. — Era verdade, mas também não queria ficar com mau hálito.
Lemos um pouco da apostila e resolvemos alguns exercícios no caderno. Ele se sentou no meu lado. E estava tão nervosa com sua presença, a caneta tremia nas minhas mãos.
Estava tudo correndo bem, até virar uma página do meu caderno e ter... um desenho dele. Com seu nome. E um coração.
Arregalei meus olhos e fechei o caderno rapidamente.
— Desenho legal. — Ele disse.
— Desculpa. Não era nada. — Abri o caderno novamente, em outra página. Talvez ele não tivesse visto... Sem eu estar esperando, sua perna se encostou na minha, e não tive coragem de me desaproximar.
— Você tem um rosto bonito, sabia? — Luciano passou sua mão em minha bochecha. Meu olhar se encontrou com o dele.
— Sei que isso soa estúpido, mas eu meio que tenho uma queda por você. — Confessei. Ele riu suavemente.
— Então é por isso que vai mal na minha matéria? Não consegue se concentrar comigo? — Seu rosto se aproximou do meu. Conseguia sentir sua respiração.
— Sim. — Murmurei. — Seria errado se eu te beijasse agora?
— Não. — Fechei meus olhos e toquei seus lábios com os meus. Ele retribuiu o beijo, e ficamos assim por um tempo, até me afastar dele.
Sorri um pouco. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Me sentia tão... estranha. E feliz.
Ele me beijou novamente, sua língua adentrando o interior da minha boca. Era quente. Luciano colocou sua mão por baixo de minha blusa, tocando suavemente minhas costas. Me arrepiei com seu toque frio.
Ele tocou o fecho do meu sutiã, abrindo-o. Ofegante, tirei meu sutiã.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, um pouco preocupado.
— É só que... Nunca tinha beijado alguém antes. — Olhei para baixo.
— E... Foi bom? — Ele tocou a área acima dos meus seios.
— Sim. — Ri um pouco.
— Sua pele é macia e morna. — Ele sussurrou, sua mão descendo. Soltei uma exclamação quando ele encostou no meu peito direito, afagando-o.
— Eu... — Levantei-me subitamente. — Desculpa, não tô pronta pra isso.
Sem esperar sua resposta, fui embora. O problema não era ele, e sim que... Não gostava do meu corpo. E tinha medo que isso o afastasse.
Como seriam as aulas com ele após isso? Me perguntei.
Aviso: Me baseei no perfil do Twitter @bunnyddlg para criar a personagem, então a aparência dela é idêntica como a das fotos lá.