Encerrada a reunião com o Dr. Mathias, o Sr. Eugênio e eu saímos juntos do escritório. Já do lado de fora, enquanto caminhávamos até os carros, ele me surpreendeu, apelando para o meu lado sentimental, humano:
— Vou ser honesto com você. Aquela máquina era a minha última cartada. Investi tudo o que eu tinha naquele projeto. O seu pai, se passando por amigo, por um investidor sério, mentindo que investiria na minha empresa, me roubou bem debaixo do meu nariz. Eu amaldiçoo o dia em que o conheci.
Me comovi com o desabafo dele, pois conhecia muito bem o meu pai. Também fui uma de suas vítimas. Todos que cruzavam o caminho dele tinham uma história de perda para contar. A fila era enorme: minha mãe, eu, Eugênio, Maitê, Tina …
Eu sabia o que era certo e o que precisava fazer. Mas antes, mesmo que eu tivesse total autonomia, era justo conversar com a minha mãe e ouvir a sua opinião.
Acompanhei o Sr. Eugênio até a sua fábrica e durante quase quatro horas, ele me explicou detalhadamente suas intenções e o que ele pretendia em uma possível parceria comigo. O homem era muito experiente e eu só teria a ganhar com aquela possível sociedade. Nós nos despedimos e eu fiquei de dar a minha resposta assim que resolvesse as coisas com o meu pai.
Entrei no carro e voltei diretamente para a minha cidade natal. Não fazia sentido levar as coisas que separei, pois tinha a certeza de estar de volta muito rapidamente. Ainda na estrada, mandei mensagem para o Carlos me encontrar na casa da minha mãe e não demorei a chegar.
Todos estavam ansiosos, me esperando. Sem perder tempo, iniciamos a conversa definitiva. Carlos foi o primeiro a falar, explicando para todos, minha mãe principalmente, as conclusões do Dr. Mathias sobre o acordo proposto pelo meu pai:
— O certo seria ele oferecer tudo à senhora, tia, tanto o dinheiro quanto a fábrica, mas eu acredito que a senhora não tenha objeções sobre a fábrica ir para o Rafael, não é?
Minha mãe nos surpreendeu:
— Eu conversei muito com o Cirilo e chegamos a conclusão de que tudo deve ir para o Rafael. Mesmo que aquele homem tenha me enganado, eu não quero nada que venha dele. Essa é minha única condição para aceitar o acordo.
É claro que eu protestei:
— Mas mãe … é justo que a senhora receba o dinheiro. Ele é seu, fruto da sua herança. Tudo que aquele homem fez foi construído com o seu dinheiro.
Tentei encontrar apoio no meu padrasto:
— Você concorda com isso, Cirilo? Esse dinheiro pode mudar a vida de todos para melhor. Me ajuda aqui.
Ele estava alinhado com a dona Celeste:
— Não precisamos desse dinheiro, Rafa. Minha oficina é mais do que suficiente para nos sustentar. Eu concordo com a Celeste, e essa é apenas uma forma de não deixar aquele canalha sair impune. Você é filho dele, é justo que seja o beneficiário de tudo. Nada que vier dele fará bem a sua mãe. Você não precisa entender, apenas respeitar o desejo dela.
Acabei sendo grosseiro, passando dos limites com Cirilo:
— Você está com ciúme? Não quer deixar ela aceitar? Esse dinheiro pode …
Minha mãe deu um passo à frente e falou de forma firme, taxativa:
— Perdeu a noção, moleque? Respeite o meu marido, o seu padrasto. Essa decisão é minha e no começo até ele foi contra. Se for para criar problemas entre nós, prefiro até retirar esse processo e acabar com essa patifaria de uma vez. Só estou fazendo isso por você, para apoiá-lo. Eu não quero absolutamente nada daquele homem …
Ela respirou fundo, passando da ira ao afeto, acariciando meu rosto antes de continuar:
— Na verdade, eu quero uma coisa sim. Quero que ele pague pelo que fez para a Maitê e para você. Por ter destruído o que vocês dois tinham.
Abracei minha mãe já com os olhos marejados:
— Me desculpe. Acabei passando do limite. – Puxei Cirilo também para o nosso abraço. – Você também, me perdoe. Não pensei, só fui falando bobagens.
Assim que nos recuperamos, contei a eles sobre o Sr. Eugênio e sua proposta. Perguntei também sobre a Maitê, se ela estava bem.
Aquela conversa foi longa, mas, no final, serviu para que todas as arestas fossem aparadas e decidirmos nossos próximos passos.
Peguei o telefone e liguei para o Dr. Mathias. Fui atendido sem demora:
— Vamos aceitar o acordo. Os dois. O do meu pai e o do Sr. Eugênio. Você pode cuidar de tudo?
Ele parecia bastante satisfeito:
— Excelente, meu jovem. Então vamos manter o foco na situação da srta. Maitê de agora em diante?
Com o telefone no viva voz, minha mãe tomou a frente:
— Sim, exatamente isso. Peça a Dra. Ester para me contatar, preciso falar com ela.
O Dr. Mathias era rápido:
— É a senhora Celeste? Prazer em falar com a senhora. Fique tranquila, ela já está totalmente focada na situação da srta. Maitê. É a nossa prioridade.
— Fico muito grata e satisfeita em ouvir isso. Estamos contando com vocês, não nos decepcione.
Agradecemos e desligamos. Assim que tivesse novidades, o Dr. Mathias entraria em contato.
Eu até estava preocupado com a Maitê, mas tentava ficar o máximo possível afastado dela. Eu não sabia o que falar ou como poderia ajudá-la de alguma forma. O conflito dentro de mim era intenso. Por mais que eu entendesse toda a situação, não conseguia encontrar uma forma de perdoá-la. Por mais que ela fosse uma vítima, assim que tudo aconteceu, era sua obrigação me contar. Mesmo que ela tenha sido chantageada, ela se forçou a gostar para passar por tudo aquilo. Para mim, era apenas mais uma forma de traição.
Carlos voltou ao seu escritório, minha mãe e Cirilo foram cuidar da vida e, pensativo, meio perdido nos pensamentos, eu acabei ficando sozinho com a Maitê na casa. Eu já pensava em ir embora, voltar para a casa do meu avô, mas quando me preparava para sair, ouvi a música que vinha do quarto que ela ocupava, o meu antigo quarto:
“Seu sorriso é tão resplandecente
Que deixou meu coração alegre
Me dê a mão
Pra fugir desta terrível escuridão
Desde o dia em que eu te reencontrei
Me lembrei daquele lindo lugar
Que na minha infância era
Especial para mim
Quero saber
Se comigo você quer vir dançar
Se me der a mão, eu te levarei
Por um caminho, cheio de sombras e de luz
Você pode até não perceber
Mas o meu coração se amarrou em você
Que precisa de alguém
Pra te mostrar o amor, que o mundo te dá
Meu alegre coração palpita
Por um universo de esperança
Me dê a mão, a magia nos espera
Vou te amar por toda a minha vida
Vem comigo por este caminho
Me dê a mão pra fugir desta terrível escuridão
Lembra foi aqui que um dia eu deixei
Um grande tesouro pra te lembrar
Mesmo que um dia eu cresça
Meu amor nunca terá fim
Quero saber
Que galáxia você quer desvendar
Se me der a mão, contigo eu irei
A qualquer destino que esconde esse céu azul
Mesmo assim eu só quero lembrar
Que tudo que eu guardei foi desejo de amar
Mas hoje eu sou esse alguém
Que vai te mostrar o amor que eu tenho pra dar
Meu alegre coração palpita
Por um universo de esperança
Me dê a mão, a magia nos espera
Vou te amar por toda a minha vida
Vem comigo por este caminho
Me dê a mão pra fugir desta terrível escuridão”
Percebi também que ela estava chorando. Aquela música era especial para nós, o tema de abertura em português do anime Dragon Ball. Aquela era a música que tocava no nosso primeiro beijo, no tablet de uma criança próxima que assistia ao episódio em seu aparelho. A música trazia recordações poderosas. Foi por causa de Dragon Ball que eu me apaixonei por animes e mangás. A coincidência pela música estar tocando no nosso primeiro beijo, acabou fazendo com que eu me apegasse ainda mais a Maitê. Interpretei tudo aquilo como um sinal positivo.
Comecei a me lembrar dos momentos felizes do meu relacionamento com a Maitê:
“Estávamos juntos há pouco tempo e mesmo com aquele jeito atirado, Maitê mantinha uma certa distância no que dizia respeito a intimidade física. Hoje eu entendo o porquê.
Eu já estava louco, com uma vontade absurda de possuir aquele corpinho lindo, que me despertava os pensamentos mais pecaminosos. Eu precisava avançar o sinal ou partir para outra. Resolvi ir para o tudo ou nada.
Embosquei Maitê naquela noite e a levei para o meu apartamento. Fui delicado, compreensivo, apenas me insinuando, mas sem atacar diretamente. Aos poucos, ela começou a se render, aceitando meus beijos mais ousados, mas assim que minha mão chegou aos seios, ela se retraiu. Achei melhor dar um passo atrás.
Com carinho e muita paciência, alguns dias depois, consegui atravessar aquela barreira de proteção que ela construiu e tivemos uma noite maravilhosa.
Em princípio, muito nervosa e tímida, ela apenas aceitava as minhas investidas. Desci beijando seu pescoço e com muito cuidado comecei a tirar sua blusa. Ela sempre tentava desviar minha atenção voltando a beijar a minha boca.
Eu insistia:
— Eu quero muito você. Eu estou completamente apaixonado. Só falta esse passo para sermos um casal completo. Faz amor comigo, eu desejo você mais do que tudo nesse mundo.
Eu a encarava com olhos de súplica. Ela tentava resistir, mas sua convicção fraquejava:
— Eu também quero você, mas … por favor, seja carinhoso. Eu não tenho muita experiência.
Eu sabia que o jogo estava ganho, mas como todo homem apaixonado, eu jamais a decepcionaria. Fui ainda mais carinhoso, paciente, mas decidido.
— Eu só quero te fazer feliz. Só isso. Não tenha medo, eu te amo.
Foi a primeira vez que essas três palavrinhas simples, mas cheias de promessas e significado saíram da minha boca. Ela não resistiu mais.
Voltei a beijar a boca e minhas mãos já corriam livres por seu corpo. Apalpei a bunda perfeita, redonda e carnuda, colando seu corpo ao meu. Nossos beijos eram cada vez mais fortes e viciantes.
Me surpreendendo, Maitê segurou o pau e o acariciou. Abri o zíper da calça e o tirei para fora, fazendo com que ela o sentisse em suas mãos. Aproveitei a chance e tirei seu sutiã, expondo os seios médios, com os bicos já durinhos pela excitação do momento. Enquanto ela alisava meio sem jeito a pica, comecei a sugar cada seio com muito desejo, mordiscando levemente os mamilos e enlouquecendo Maitê de vez.
Ela saiu de si, se entregando completamente ao momento:
— Como isso é bom … que delícia … não para …
Afoito, apenas levantei a saia que ela vestia e acaricei a bucetinha, ainda por cima da calcinha. Antes que ela protestasse, a calei com mais um beijo, afastei a calcinha para o lado e comecei a massagear o grelo em movimentos bem delicados e precisos. Ela não ofereceu resistência:
— Ai, meu Deus … você tá acabando comigo … assim mesmo, bem aí.
Não resisti mais e ataquei com tudo, me enfiando entre suas pernas e começando a sugar o grelinho. Fui bastante carinhoso para não assustá-la, mas em nenhum momento ela me pediu para parar.
— Por que eu esperei tanto? Eu sabia que você me faria feliz, mas tive medo. Desculpa por tudo, é que …
Aumentei a pressão e passei a lamber toda a xoxota, brincando depois com a língua no grelo e enfiando dois dedos na entrada. Maitê parou de falar e só gemia.”
Só agora, com as lembranças, me dei conta de que posso ter interrompido um possível desabafo dela, a revelação sobre seu passado.
Ainda ouvindo a música, voltei a me concentrar nas memórias:
“A xoxotinha babava de tanto tesão. Os fluidos escorriam pela coxa, em direção ao lençol. Eu tentava sugar cada gota daquele néctar inebriante, o mel mais doce que eu já havia provado até aquele momento.
Subi para beijar sua boca novamente, já apontando o pau na xoxota. Sem interrupções, ela apenas esperava o que estava prestes a acontecer, me olhando com paixão, totalmente entregue.
Penetrei devagar e com muito com cuidado. Era tão apertada, que eu comecei a imaginar que aquela era a sua primeira vez e até a encarei, muito espantado. A pergunta escapou da minha boca:
— É a sua primeira vez?
Um pouco triste, ela respondeu:
— Tecnicamente, não. Mas eu gostaria muito de pensar que sim. É a primeira vez que faço com quem amo.”
Outro sinal que eu deixei escapar. Eu começava a me culpar por ser cego. Mas também, como eu poderia imaginar algo tão terrível e do nada?
“Fui forçando, mas com calma, parando sempre para que Maitê se acostumasse com o volume. Ela não reclamava, apenas fazia algumas caretas, mas me incentivava:
— Não para, já estou acostumando. Tá começando a ficar bom.
Não demorou muito e a resistência inicial acabou sendo quebrada e o pau se agasalhou perfeitamente dentro dela. Que bucetinha quente, apertada, mastigando o pau com as contrações musculares. A pica latejava de tão dura dentro dela.
Alternei estocadas mais leves com beijos na boca e carícias nos seios. Nossa primeira vez ganhava ritmo e intensidade. Entendi seu nervosismo e elevei o quadril, mudando o ângulo, roçando o púbis no clitóris a cada estocada. Maitê gozou mais rápido do que eu esperava.
Estimulado pelo momento, acabei gozando também. Dentro dela, só me lembrando depois do perigo. Passamos todo aquele final de semana fazendo amor. Apaixonado, a convidei para morar comigo.”
As lembranças mexeram comigo e achei melhor ir falar com ela. Bati na porta e me anunciei:
— Maitê? Sou eu. Posso entrar?
Ouvi barulhos e uma certa afobação:
— Só um minuto, já vou abrir.
Parecia que ela estava trocando de roupa e eu precisei esperar por quase cinco minutos. Ela sempre falava comigo:
— Só mais um minuto, estou quase pronta. É rapidinho.
A voz aflita dava lugar a uma certa empolgação por falar comigo, ao me pedir para esperar. Acho que ela pensou que eu desistiria e iria embora.
Finalmente, ela abriu a porta. Estava com o rosto inchado e os olhos vermelhos, mas bem maquiada e sorrindo:
— Oi, Rafa! Quer falar comigo?
Seus olhinhos esperançosos me escaneavam. Resolvi ser simpático:
— Vim ver como você está. Precisa de alguma coisa?
Ela me surpreendeu:
— Na verdade, preciso sim. Eu gostaria muito de fazer o exame de DNA de uma vez. Já cheguei na décima segunda semana. Eu quero logo uma resposta, antes que a sua mãe se apegue ainda mais a essa criança. Não é justo com ela. Sinto que estou abusando da hospitalidade.
Apesar de surpreso, não contestei:
— Ok! Eu venho te buscar amanhã cedo. Fora isso, está precisando de mais alguma coisa?
A alegria dela deu lugar a melancolia:
— O que eu mais queria, eu destruí. Obrigada por vir me ver. Te espero amanhã cedo.
Achei melhor não forçar a barra e fui gentil:
— Sei que as coisas estão complicadas no momento, mas quem sabe, aos poucos, a gente consegue ser amigos? Principalmente, se esse filho for mesmo meu.
Pelo forma triste que ela me olhou, mesmo sendo sincero, percebi que disse a coisa errada. Sinceramente, eu ainda estava muito machucado e acabava perdendo o filtro na frente da Maitê. Achei melhor me despedir:
— Estamos combinados, então. Até amanhã, tenha uma ótima noite.
Apenas me virei e saí. Percebi que fiz tudo ao contrário do que pretendia, mas já era tarde para voltar atrás. Antes de voltar para a casa do meu avô, devolvi o carro alugado na agência local.
Tive um fim de noite péssimo, pensando tanto na Olívia, quanto na Maitê. Eu só dava mancada. Quando me preparava para dormir, Carlos chegou, trazendo Vanessa com ele. Ela não perdeu tempo:
— Hummm … soube que rolou uma certa reconciliação na capital … os pombinhos se encontraram.
Aproveitei a oportunidade para me aconselhar, contando aos dois sobre a entrevista da Olívia na empresa que seria minha num futuro muito breve.
Carlos foi o primeiro a me repreender:
— E você não achou que deveria contar que era filho do dono daquela empresa e que em breve ela seria sua?
Vanessa também não gostou nem um pouco:
— Poxa, cara, isso destrói a confiança. Imagina quando a Olívia descobrir que você não confiou nela? É assim que você quer começar? Com segredos e omissões?
Peguei os dois de surpresa:
— Eu sei que errei, mas também não sabia o que dizer. Afinal de contas, ainda não estava certo, o acordo não foi fechado. E outra, agora que foi decidido, eu gostaria muito que vocês viessem trabalhar comigo.
Os dois não sabiam o que dizer. Vanessa falou primeiro:
— É sério mesmo? É uma oferta real de trabalho?
Ela não conseguia esconder a empolgação:
— Eu estava muito triste por saber que a Olívia estava indo embora … você não está brincando comigo, né? É claro que eu aceito.
Só então ela se lembrou do Carlos:
— Nossa, amor! Me desculpa. Fique tão empolgada que acabei não esperando para saber o que você pensa de tudo isso. Você vai também, não vai? Nós já conversamos sobre mudar para capital, é a chance perfeita. Já que decidimos assumir de vez nossa relação, que resolvemos morar juntos, porque não aceitamos juntos também a proposta do Rafa?
Vanessa e eu aguardávamos a resposta dele. Carlos estava imerso em seus pensamentos. Ansiosa, Vanessa o pressionava:
— Mesmo não trabalhando para o Rafa, você pode advogar na capital. Sua carreira pode dar um salto.
Ele, enfim, falou:
— A Doutora Ester me ofereceu uma vaga em sua equipe. Acho que pode ser uma boa mudança mesmo.
Ele se virou para mim:
— Eu posso continuar trabalhando para você, é claro, mas não como empregado. Eu gosto do que faço, quero continuar na minha área, crescendo como advogado.
Eu o encarava, fazendo suspense. Ele achou que eu ficaria bravo e se explicou:
— Pelo bem da empresa que você vai assumir, acho que seria bom você ter um advogado mais experiente como o Dr. Mathias no começo. Eu estou apenas no segundo ano como profissional, não sei se tenho a experiência necessária para ser advogado de uma empresa como aquela.
Parei de brincar e fui honesto com ele:
— Eu entendo, primo. Mas se você aceitar ir para a capital e for realmente trabalhar com o Dr. Mathias e a Dra. Ester, vou exigir que eles sempre o coloque como um dos advogados que me representa. Combinado?
Vanessa nem esperou a resposta dele, pulando em seu pescoço e o enchendo de beijos no rosto. Ele se rendeu:
— Combinado então. Agora só falta o principal, você assumir a empresa de vez, aceitando o acordo com o seu pai. O Dr. Mathias já respondeu? Já disse o dia que o acordo será assinado?
Para encerrar de vez o assunto, eu disse:
— Fiquem preparados. Assim que o acordo for assinado, você avisa a Vanessa e ela se desliga do emprego atual. – Aproveitei o momento. – Agora eu preciso ligar para a Olívia e ser honesto com ela. Não quero nada mal resolvido ou mal interpretado entre nós dois. Melhor previnir do que remediar.
Vanessa estava feliz demais:
— Por que não procuramos apartamentos no mesmo edifício? Poderíamos ficar todos juntos. Não sei porque, mas acho que sua história com a Olívia está apenas começando. Seria bom ficarmos todos próximos.
Dei uma cortada no embalo dela:
— Opa, devagar. É tudo muito recente. E outra, Olívia precisa cuidar do pai, não podemos colocar tanta pressão nela. Vamos com calma. Nem somos namorados … Antes de qualquer coisa, tenho que resolver minha vida, saber se realmente serei pai … tudo isso pode acabar afastando a Olívia de mim. Eu não quero que ela sofra. Se for necessário, eu até me afasto de uma vez.
Vanessa não recebeu bem minhas palavras e disparou:
— Porra! Não vai me dizer que está pensando em reatar? Que estava usando a Olívia todo esse tempo?
Por sorte, Carlos intercedeu por mim:
— Rafa tem o costume de se enrolar com as palavras. Ele quer dizer uma coisa, mas acaba falando outra. – Ele se virou para mim, perguntando – Acho que ele não quer trazer a Olívia para o meio do turbilhão que a vida dele se encontra nesse momento, não é isso?
Concordei imediatamente:
— Era isso mesmo que eu queria dizer. Não quero fazer a Olívia sofrer com os meus problemas. Ela não merece a bagunça que a minha vida está.
Vanessa pareceu entender e acabou me perdoando. Decidir ir deitar ou eu iria acabar me enrolando ainda mais. Deixei os dois na sala e saí. Meu avô dorme cedo e já tinha se recolhido há algumas horas.
Do quarto, fiz uma chamada de vídeo para Olívia. Ela me atendeu sorrindo:
— Rafa? Estava pensando em você, acredita? Olha só, me desculpa pela forma que reagi ontem. Eu sei que você não falou por maldade e entendo o quanto as coisas devem estar complicadas na sua vida …
Acabei interrompendo:
— Você não tem motivos para se desculpar. Fui insensível, um grande babaca na verdade.
Respirei fundo e fui honesto:
— Realmente as coisas estão muito complicadas e eu tenho uma coisa importante para dizer …
Como sempre, sutileza não era o meu forte. Deixei Olívia tensa e preocupada. Falei de uma vez, sem pensar muito nas palavras, apenas querendo ser honesto e direto:
— A empresa que você fez a entrevista ontem é do meu pai. E é bem provável que seja minha em alguns dias. Eu não tinha a intenção de esconder isso de você, apenas fiquei surpreso quando você me disse o endereço e acabei pensando bobagens, achando que o meu pai poderia estar tentando fazer alguma coisa para me prejudicar …
Muito brava, foi ela que me interrompeu naquele momento:
— Você está desconfiando de mim? Acha que eu estou mancomunada com seu pai para lhe preju …
Tentei acabar logo com qualquer mal entendido:
— Claro que não. Não pensei em nada sobre você. Isso nem passou pela minha cabeça. É ele que me preocupa. Ainda mais sabendo que você se candidatou para vaga por conta própria, sem nenhuma indicação de ninguém. Por favor, acredite em mim. Eu só quero que saiba que é bem provável que em poucos dias serei eu o seu patrão. Eu precisava contar logo e afastar qualquer confusão.
Lembrei que eu tinha uma carta na manga para jogar:
— E aproveitando, quero dizer também que convidei a Vanessa para vir trabalhar comigo, assim que eu assumir a empresa. Apesar dessa situação, das coincidências, estou muito feliz por isso estar acontecendo.
Minha jogada surtiu efeito, acalmando a Olívia e a nossa conversa ficou mais leve daquele momento em diante. Ela ficou radiante por saber que continuaria trabalhando ao lado da sua melhor amiga.
Fui honesto em tudo, até sobre a situação do exame de DNA com a Maitê no dia seguinte e nos despedimos em muito bons termos. Terminei aquela chamada convicto de que minha relação com a Olívia tinha tudo para se recuperar.
Consegui ter uma ótima noite de sono e às oito horas da manhã seguinte cheguei pontualmente à casa da minha mãe. Maitê já estava pronta.
Sou obrigado a ser honesto, mesmo que pareça um canalha: ela estava linda. Parecendo a mesma Maitê que eu tanto amei. Reparando melhor, ela já tinha ganhado peso e estava mais corada. Acho que o rosto inchado pelo choro da noite anterior não me deixou ver claramente o quanto ela estava se recuperando. Minha mãe estava fazendo um excelente trabalho ao resgatá-la do fundo do poço.
— Rafa? Tudo bem? Podemos ir?
Acabei encarando demais, um pouco embasbacado por vê-la tão bem. Ninguém deixa de amar de uma hora para outra e a raiva e o rancor acabaram nublando tudo que era relacionado a Maitê dentro de mim.
— Ah, sim … me desculpa. Me perdi um poucos nos pensamentos. Podemos ir, sim. Já tomou café?
Como era um exame particular, foi tudo muito rápido. Mesmo não sendo um exame tão simples, a equipe era ótima e tudo correu muito bem.
Acabei encarando a Maitê bem mais do que eu queria e ela percebeu. Num certo momento, ela até tentou pegar na minha mãe durante o exame. Vendo aquela agulha enorme entrando em sua barriga, não tive opções. Recusar seria muito cruel.
Seu sorriso iluminou toda a sala. Sua felicidade, apenas por estar de mãos dadas comigo, era genuína. Era impossível não sonhar com uma realidade alternativa, onde éramos um casal feliz. Onde a traição e o abuso não aconteceram. Onde poderíamos estar simplesmente no exame pré-natal de nosso filho tão amado e aguardado.
Mas, infelizmente, a realidade era outra. Suja, cruel, nociva, destrutiva …
Continua ...