O Chef de Cozinha Joselito Faranhas estava radiante. Naquela noite, inaugurou seu sonhado restaurante “Tabuleiro de Emoções”. Vários colegas, jornalistas, artistas e empresários renomados, foram prestigiá-lo. Anos de luta e dedicação resultavam em homenagens gloriosas. Falava-se até que ele provavelmente estaria próximo de ser jurado de um reality show culinário na TV, tamanho o sucesso conquistado. A imprensa estava cobrindo o evento e até alguns políticos deram uma passadinha por lá.
Zelito, como era conhecido, fez um breve discurso falando de sua trajetória até aquele momento, quando aos 17 anos foi ser auxiliar de cozinha num polo industrial, servindo um monte de pião de obra, o que o fez se tornar um grande especialista em vários tipos de corte de carne. De lá, foi pra um pequeno box numa feira, um boteco, uma famosa petiscaria, foi chef de um badalado restaurante, até aquela noite onde abria seu próprio estabelecimento, o auge de qualquer chef. Numa entrevista, perguntaram a ele se pratos carnistas tinham futuro num mundo que buscava consumir menos proteína animal. Respondeu que sempre haverá consumidores de carne e que pretende abrir um novo estabelecimento especializado em produtos veganos. E ainda mandou: “nunca se abandona quem sempre o acompanhou”.
Este recado, nas entrelinhas, seria direcionado, talvez, para as algozes de seu grande fracasso: o amor. Ele foi abandonado por suas duas ex-mulheres, em circunstâncias bem semelhantes. Até hoje, é sua grande frustração. Ele nunca soube direito o porquê. Com isso, criou ojeriza por relacionamentos permanentes e desde então tem encontros fortuitos e passageiros. Atualmente, sai de quando em vez com uma chef chilena que se mudou para o Brasil. Como ela também é divorciada e estável financeiramente, os dois saem ocasionalmente para jantares e motéis, nunca para as residências de ambos. Zelito mora sozinho há anos e assim ele quer permanecer até os últimos dias. Alto, calvo, e com óculos charmosos, ele está com 52 anos e sua aparência lembra muito o químico Walter White, de “Braking Bad”.
Pois foi numa tarde de uma terça-feira qualquer que esse ponto negativo de sua vida viria novamente à tona. Ele estava na administração do restaurante contabilizando os ganhos daquele dia, quando um funcionário lhe trouxe uma carta. Ao ver o remetente, ficou absolutamente surpreso. Vinha de sua segunda mulher, Maristela, conhecida carinhosamente como “Martela”. O apelido tanto era a corruptela de seu nome, como o fato dela ser tão obstinada pelas coisas que ela “martelava” o juízo de todos para conseguir. Ele a conheceu numa apresentação de dança na petiscaria onde trabalhava, durante um festival gastronômico de comida árabe. Na época, ela estava com 26 anos e já era uma aplicada dançarina do ventre, tornando-se depois professora. Envolvendo namoro e casamento, levaram dez anos juntos. Há oito, não tinha notícias dela.
A leitura daquela carta seria um festival de verdades sobre ela e a respeito do abandono. Sentado calmamente em sua confortável cadeira, ele passou a ler o que aquela mulher teria pra contar:
“Zelito... primeiro queria relatar a minha intensa felicidade com o prestígio conquistado com a abertura de seu próprio estabelecimento. Você sempre lutou por isso. Como homem honrado que sempre fora, sei muito bem que não ficará apenas nisso. Vem mais conquistas por aí! E tudo, tudo é do seu merecimento. Parabéns por chegar onde chegou!
Após tanta luta para conseguir seu mais que merecido espaço, venho através dessa aproveitar o equilibrado momento que você vive para expor as razões da minha partida. E quero deixar claro que aqui é o verdadeiro ponto final de uma relação que começou há 18 anos e joguei fora devido a meu comportamento estabanado. Lendo a longa reportagem sobre a inauguração do seu restaurante, me motivou a escrever explicando tudo, e na hora certa, quando acredito que você superou meu sumiço e ao terminar de ler se sentirá muito confortável em ter me deixado. É bom saber de tudo agora que está muito bem.
Não preciso recordar que antes de te conhecer, minha vida era só correria, conhecia várias pessoas e bastava eu saber o nome, tratava como se fosse um grande amigo! Sempre fui assim e melhorei quando lhe conheci, batalhador, guerreiro, um trabalhador nato. Melhorei muito meu jeito e assim consegui me acalmar.”
Zelito lembrou de Maristela assim que a conheceu. Esbaforida, ansiosa, falava “pelos cotovelos”. Muito diferente, o avesso da primeira “esposarada”. Era assim que ele brincava, pois nunca foi casado no papel com nenhuma delas. Como as duas chamavam ele de “namorido” – mistura de namorado com marido - ele sempre as apresentava como “esposarada” – mistura de esposa e namorada. Qualquer problema doméstico – seja chuveiro queimado, torneira pingando, ou parede suja – ela queria consertar, mexer, pintar. Era uma mulher alvissareira, sempre com alguma novidade. Eles se deram bem por isso: nada era obstáculo.
Maristela era muito mais chamativa, corpo esguio, formoso, curvilíneo. Cabelos curtos, mas cheios, ouriçados. Pele morena, olhos esbugalhados, riso fácil. Contava muitas piadas e adorava futebol. Tanto que o acompanhava sempre ao Morumbi assistir jogos do São Paulo.
“Pois então, Zelito... sempre fui muito feliz a seu lado e sexo pra mim sempre foi algo cotidiano, nunca foi meu forte, apenas algo corriqueiro, não era uma das minhas paixões, e você sabe muito bem disso. A sua satisfação era meu maior prazer, nunca fomos um casal que fosse criativo ou sempre buscando novos métodos de gozar. Passeávamos, dançávamos, torcíamos, festejamos com parentes, amigos, vizinhos. Nossa atividade sexual era mais um “boa noite” que um ato carnal intenso e ruidoso. Claro que tínhamos momentos de maior furor, mas nossa parceria fora da cama era a verdadeira folia! Que saudade de nosso convívio!
O que eu não sabia, é que parte de mim estava embaixo do tapete, alguém sacudiu e aí voou poeira pra todo lado... Nunca achei importante revelar coisas do passado, e eu compreendia isso quando você mal falava de sua primeira companheira, que ao que parece, lhe deixou sem lhe dar satisfação. Jamais soube o nome dela, vi fotografias, ou qualquer outra menção. Com isso, achei bom não lhe revelar faces de uma infância conturbada, considerando que o que não vivemos juntos não dizia respeito ao companheirismo firme e forte que construímos. Revelarei sobre isso no final desta despedida.
Pois bem... Meses antes do nosso malfadado rompimento, provocada por minha tresloucada fuga, passei a notar que um homem me acompanhava. Bem, não sei se estou sendo verdadeira, dando a parecer que ele me perseguia. Não. Passei a vê-lo com frequência após a aula de dança e fiquei sabendo que ele tinha sido marido de uma aluna minha. Porém, ele não a esperava. Todo dia ele bebia em um bar próximo e sempre estava na companhia de alguém, homem ou grupo, neste bar. Me surpreendeu que ele era muito bonito, charmoso, cabelos lisos e sempre penteados. Quase sempre estava fumando e era muito sorridente. Como era uma das últimas a sair, cruzava sempre com ele. Com o tempo vieram os olhares, cumprimentos, e num dia de muita chuva parei no local, fui bebericar algo e acabei por conversar amenidades com esse sujeito. Ele era agradável, e após a estiagem, me despedi e fui embora. A partir desse dia, a aproximação era evidente, mas juro que não me dava conta, não me vi com nenhuma idéia ou intenção de ir além de cumprimentos e tolices. Mas tudo começa assim. Eu não sabia, mas nutria em meu íntimo alguma admiração por aquele homem.
Foi naquele dia, naquela quinta-feira. Eu estava com seu carro e sai mais cedo, quase nenhuma aluna apareceu por conta das fortes chuvas. Ao passar pelo bar, notei que ele estava lá, querendo ir embora, mas sem guarda-chuva, em pé, ensaiando se encorajar para encarar o diluvio. Buzinei. Ofereci carona. Ele aceitou. Eu estava apenas manifestando um ato de gentileza, nada mais. O destino, porém, se manifesta quando quer...
No caminho, formos conversando normalmente quando bruscamente uma moto conduzida por um irresponsável passou na minha frente com tanta velocidade que acabou derrapando, e eu tive que frear imediatamente com o susto. Isso fez com que meu pé escorregasse e torcesse um pouco. Senti uma fisgada no tornozelo e logo após uma dor latente. Dei um grito:
- Torci meu tornozelo, porra!!
Ele, muito calmamente, pediu pra que eu fosse por banco do carona e assumiu o volante
- Fique tranquila, cuidarei de você
Ele me levou até a casa dele, em um bairro tranquilo. Quando chegamos, a dor já tinha melhorado e muito. Acho que havia sido só o susto mesmo. Sei que desci do carro pisando levemente e fui me dar conta que caminhava bem e que não havia sido uma torção grave. Ainda assim, ele me pediu pra entrar e passar uma pomada para dores musculares. Baixada a adrenalina, acabei por aceitar. Entramos. Ele falou que morava só, mas que havia sido casado com “algumas mulheres”. Ele informou que estava com 45 anos e não teve filhos.
Sua casa era decente, bem arrumadinha e com algumas plantas. Fui me sentar. Bebia um copo d’água enquanto ele buscava a pomada. A sala era bem grande, com quadros e uma mesa enorme. Ele morava bem. Ao regressar, ele sentou numa cadeira em frente a minha, pegou meu pé, e tirou minha sandália. Naquela altura, nem precisava. Tinha me dado conta que tinha exagerado na minha reação após a freada. Mas ele estava sendo bem prestativo, então deixei. Senti um pouco de vergonha, pois tenho joanetes bem evidentes – você sabe. Ao passar aquele creme no meu calcanhar e ir deslizando, senti mãos fortes e pesadas, mas também com certa maciez. O produto tinha um cheiro gostoso de hortelã e fui relaxando. Juro que não estava percebendo qualquer maldade dele. Chego a fechar o olho e com isso meu pé acabou encostando... bem... aí que começa o drama... Meu pé tocou algo bem duro e grande. Quando olhei aquela protuberância... Parecia um rolo pra esticar massa de pastel! Posso estar exagerando, entretanto, quero lhe passar totalmente a verdade do que senti naquele momento. Fiquei a olhar fixamente aquela ferramenta que parecia imensa e me perdi, paralisada ao ver aquilo. Quando olhei seu rosto, ele sorria maliciosamente.
- Tudo bem ficar olhando. Essa reação é muito comum quando se deparam com “meu amigão”. Ele realmente é grande.
Não tenho como mentir. Ver aquilo me causou uma sensação de novidade total, era como um mineiro vendo o mar pela primeira vez. Ele pegou minha mão e foi colocando em cima daquilo tudo. Nossa, que choque! Era algo... nossa!!! Deslizava minha mão sobre aquilo e não acreditava no tamanho. Inebriada, passei a me excitar e ter algumas recordações que me davam conta do porquê daquela minha reação. Após alguns minutos, ele passou a me olhar com desejo. Aquela situação, aquele “negócio”, eu sozinha com um homem que eu não sentia qualquer repulsa ou mistério, me fez despertar algo. Meu coração, não sei por que, batia feliz quando o via com aquele jeito de menino pidão. Imediatamente, levantei, procurei uma música no celular e perguntei a ele se tinha alguma caixa de bluetooth. Fiz o pareamento e quando aquela música iniciou, me vi num “dever”: comunicar a ele minha satisfação em estar ali dançando pra ele. Desde que eu danço, só havia me exibido em aulas e eventos públicos. Para um homem, apenas pra você... e ali pra ele.
Bailava como nunca, e cada rebolado, me sentia cada vez mais excitada. Estava entregue. Havia algumas respostas a algumas questões que me infligiam desde adolescência. Ele, sentado, começou a passar a mão naquele colosso que me deixou naquele estado. Após dançar e dançar por minutos me aproximei dele, sensualizando. Daí foi um passo para sentar em seu colo... e iniciar minha vida de orgasmos, loucuras e sacanagens ao lado dele. E que viraram cinzas anos depois”.
Zelito estava aflito ao ler aquele relato. Estava ali estampada em páginas, a fragilidade de uma mulher quando se depara com o contingente.
“Sem qualquer pingo de consciência, fui agarrada e beijei ardentemente aquela boca. Minha xota inchava, borbulhava, transbordava líquidos em profusão. Nossas línguas se enroscavam obscenamente e logo depois ele explorava meu pescoço, descendo pros seios, avançando sobre mim com fúria. Ele mordiscou e lambeu muito meus peitinhos. Foi descendo até encontrar meu poço de prazer inundado. Eu não reagia, parecia que estava sobre efeito de uma moderada embriaguez.
Com maestria, ele devorou literalmente minha buça, parecia que ele estava caindo de boca num sanduiche após ficar dias desaparecido numa floresta. Ele sugava tudo, era muito diferente do sexo calmo que fazíamos, não tínhamos volúpia, Zelito, essa era a verdade. Aquele misterioso cavalheiro parecia querer deixar seus lábios dentro de mim ou ainda aspirar todo meu canal vaginal! Gozei muito em sua língua. Ao se levantar com a boca melada de meus sucos, ele foi desabotoando a calça. Não tinha jeito. Eu ia levar aquela rolaça descomunal, não tinha como evitar.
Ao tirar sua cueca, aquela cobra monumental apareceu e aí foi que eu quase desmaiei. Era imensa. Não dava pra calcular direito, era vinte e tantos centímetros. Preparei minha boca pra abrir ao máximo e mamar com vontade e tesão aquele caralho todo. Chupei como nunca. Me senti uma hipócrita, pois passei a vida recriminando esse tipo de coisa. Mas minha sem vergonhice estava apenas começando.
Aquele pauzão pesado foi lambido e explorado de todas as formas. Minha boca de puta indecente queria engolir o máximo aquele tarugo. Punhetava com as duas mãos aquela coisona e tome lambida na cabeça daquela picona. Depois de perceber que tinha baba escorrendo por todo meu pescoço, olhei pra ele com aquele olhar devasso como quem diz “me fode!”
Após minha calcinha ser estraçalhada por suas mãos (o que, não nego, me causou um frisson e um gritinho de quem gostou daquele ato violento) ele foi guiando aquela monstruosidade pra minha buceta, que pingava pedindo clemência. Depois de pincelar inúmeras vezes aquela cabeçorra, me deixando impaciente, tive que suplicar
- Vai, gostoso, fode minha bucetinha, acaba com ela, mostra a potência que uma pica desse tamanho pode causar!
Sem piedade, ele foi me penetrando, sem pedir licença, arrombando minhas carnes, perfurando meu ventre, estocando meu útero e dilacerando qualquer dignidade que eu tinha preservado. É pra isso que uma rola daquele tamanho serve, pra nos desencaminhar! Atolada de pica, parecia que minha alma ia sair do corpo. Uma sensação de saciedade imensa me tomou. Enquanto ele aos poucos ia aumentando o ritmo das bombadas, comecei a sentir falta de ar. Puxava a respiração, que não vinha. De repente, dei um grito avassalador
- ahhhhhhhhhhhhhh, O QUE É ISSO!!! VOU MORREEEEEEEEEEEEEEEEEER
Era um fortíssimo orgasmo que sacolejou todo meu corpo, ao sentir que aquele homem metia com vigor e fazia força como quem carregava sozinho uma geladeira. As bombadas me levavam a vários gozos consecutivos, uma loucura!
Ele me ergue, ficou por baixo de mim e levantava meu corpo. Entendi o que queria, e comecei a cavalgar. E queria me acabar de montar naquele caralho, até não poder mais. Pulava naquela pica, enquanto sua boca mordia meu pescoço e mordiscava minha boca, e eu só sentindo aquela tromba de elefante me invadir. Pulava como doida, alucinava de tesão e comecei a arranhar seu peito todo.
Ele me pôs de quatro, e tome varada! Minha bunda até ardia das intensas batidas que seu quadril produzia ao chocar-se com ela. Minha xota já estava dormente de tanta paulada. Ele estava quase deitado em cima de mim, sentia o suor dele se misturando ao meu. Depois de muitas investidas em outras posições que nem lembro de tão inebriada de que estava daquela fodança toda, ele tirou aquele pauzaço e eu estava por cima dele, de frente pra grande sala e de costas pra ele. Senti o líquido quente e viscoso bater nos meus peitos e ir descendo pela barriga até abaixo do umbigo. Uns 3 jatos fortes e molhados se acomodavam em meu corpo. O barulho de nossas respirações podia ser ouvido lá fora, de tão pesados. Não sei quanto tempo permaneci ali. Mas uma coisa era certa: qualquer virtude que eu tinha, foi embora junto com o desatino que eu acabara de cometer.
Indo pra casa, só me restava contar a verdade e lhe largar. E tinha que ser abruptamente, pra não sentir a dor de deixar uma relação bacana que eu tinha com você corroer minha mente e sanidade de tanta culpa. E assim o fiz. Quando entrei e lhe vi preocupadíssimo, não me restou nada e dizer que naquela noite nossa união chegaria ao fim”.
Zelito foi levado imediatamente praquele dia, oito anos atrás, quando Maristela entrou descabelada e assustada, parecendo que havia recebido a notícia da morte de algum parente e falou sem rodeios.
- Zelito! Acabei de trepar com outro homem! Eu preciso lhe deixar! Não podemos conviver mais juntos! Me conectei ao que trazia de pior em mim!
Sem ter como reagir a uma informação como aquela, só restou a ele ver aquela mulher entrar no quarto, arrumar as roupas como se estivesse fugindo da polícia, e carregar até a porta e dizer.
- Olha... espero um dia explicar direito tudo isso, porque nem tenho condições de justificar qualquer coisa agora! Acabaram comigo e eu adorei!!
E assim foi. Daquela maneira louca, parecendo um pesadelo cruel. Passou dias sem entender nada direito, ela não respondia mensagens e pediu demissão da academia onde trabalhava. Seus familiares e amigos nada entenderam. Parecia que o louco era ele, que havia matado a mulher e enterrado no quintal. Após alguns dias, um familiar dela entrou em contato e falou que ela “estava bem”. Com mais um abandono em sua vida, ele reviu a situação de estar envolvido emocionalmente com alguém e tratou de se dedicar a montar seu próprio negócio e ter encontros curtos, apenas para uma boa foda e adeus. A chilena é uma “comidilha” atual. Uma hora, isso acaba.
E a carta continuou
“Retornei naquela mesma noite pra casa daquele sujeito que nem sabia o nome direito! Quase me ajoelhei pra passar aquela noite com ele. O mesmo permitiu minha entrada sem pestanejar, nem perguntar que loucura era aquela, como se aquilo não fosse a primeira vez...
E assim, fui ficando, ficando, e ele nada de me cobrar, nem saber de onde vim, pra onde ia, quem eu era. Sei que ele foi me tratando como companheira. No começo, ele era bem solidário, comunicativo, me comia sempre que podia, e eu delirava. A verdade é que fui vivendo uma fantasia puramente sexual sem me dar conta. Conheci amigos dele, que traziam mulheres, todo mundo muito legal e sorridente, mas aos poucos, aquele fascínio de uma vida agitada e sexualmente satisfatória foi dando espaço pra algumas coisas que passaram a ocorrer. Ele foi me convencendo de que sempre teve relacionamento aberto, convivendo e conhecendo outras pessoas, e que eu deveria ter algumas experiencias. Sem notar onde me metia, fui cedendo, pois estava encantada com aquela vida de luxuria, estava afeiçoada. Ele me sustentava, passei a dar aulas pra algumas conhecidas e mulheres próximas a ele dentro de casa.
Até que rolou uma festinha regada a muita bebida e drogas – que eu jamais havia experimentado – e se descortinou pra mim aquele universo do sexo grupal. Eu me levava a fazer tudo, não passava dificuldades, e me sentia encantada. Teve um aniversário dele que no meio dos parabéns, ele tirou aquela rolona e esfregou no bolo, um ato assim... dantesco! Mas que só fez aumentar o clima de devassidão que já vivíamos. Uma mulher com seios muito grandes meteu aqueles peitões no bolo e ficou aquele esfrega de pica-bolo-peitos, uma perversão total. Tinha umas 10 pessoas nesse dia, todos eles amigos de suruba.
Nisso, foram quase quatro anos que eu mal via minha família, sempre falando que estava bem, mas sem vida social, raramente saia de casa, e me vi desolada ao perceber que eu estava prisioneira de tentações as quais me envolvi durante muito tempo por achar que vivia no país das maravilhas. Parece mentira, mas quando se está psicologicamente dependente de uma rotina baseada em sexo, drogas, e rock and roll, tudo é linear e normal. E daí se dá conta que a vida passa lá fora e você não vê. E foi assim que cobrei dele que todo aquele companheirismo não passava de uma farsa, que esse tempo todo jamais sai com ele acompanhada, somente algumas vezes sozinha e ainda assim para ver familiares ou comprar alguma coisa no mercado, mas não frequentei durante esse tempo todo nenhum evento social ou qualquer coisa na companhia dele. Estava totalmente absorta, perdida, afinal, deixei você assim de maneira completamente doida, não poderia estar com a cabeça saudável pra escapar das amarras de um prazer sexual intenso que me arrebatou naquela noite onde terminei nossa relação abruptamente e sai por aí!
Qual a reação dele? Me dizer que não forcei nada, que ele era assim, e se eu quisesse saísse de casa e tudo bem. Assim. Com essa simplicidade. Me toquei que eu me auto escravizei esse tempo todo pra ser usada e abusada por um homem que vivia praquilo mesmo. Minha tolice tinha chegado ao ápice. Não tinha que cobrar nada de ninguém, a não ser de mim mesma. Eu que me submeti aquilo, ele só manipulou bem a situação e sem muito esforço. Só me restou ir embora com o rabo entre as pernas.
Passada essa fase, passei um tempo na casa de minha mãe, com a qual nunca me dei bem, você sabe, mas não tinha escolha. Sai também de lá após aguentar aquela mulher falando um monte pra mim, logo ela! Hoje em dia, me encontro aqui no Paraná, acolhida por pequenos agricultores e vivendo num assentamento rural. Fiz tanto esforço pra me tornar outra pessoa que praticamente perdi todo encanto que eu tinha pela dança, pelas manifestações do corpo. Não tenho mais gingado pra nada! Nem sei se acerto um passo da performance artística que tanto lecionei. Minha reconstrução pessoal passava por isso, deixar aquela mulher horrorosa e promiscua pra trás. Soube, durante uma visita em grupo à sede do INCRA aqui que você estava com um novo empreendimento de sucesso e havia se tornado um respeitoso chef. Chorei emocionada, acredite. Pegando o endereço do restaurante, resolvi justificar o porquê daquela despedida sem pé nem cabeça quando lhe deixei. E apelei pra termos chulos e sentimentos de mulher satisfeita pra você sentir nojo de mim e ficar aliviado de ter escapado de uma mulher tão facilmente manejável como fui”
Zelito não conseguiu sentir esse nojo, não era rancoroso a esse ponto, e teve piedade de Martela, que foi decente até quando deixou se levar pela putaria. E nessas lembranças, bateram a sua porta. Um funcionário informou que uma mulher lhe procurava. O que? Seria Maristela pra contar aquilo de novo? Na cara dele? Ele a mandou entrar. Ao ver aquela figura com certo grau de obesidade, cabelos longos e malcuidados, e uma cara redonda portando um óculos que mal cabia naquele rosto, teve a segunda surpresa do dia, dessa vez tête-à-tête.
- Gracinha...