Rafaela e Natali ficaram no quarto, Natali pegou dois lenços, deu uma para Rafaela
— Não deixa ele ver a gente chorando, ele vai querer manipular a gente — Natali disse
— Ele te manipula? — Rafaela disse
— Ele manipula todo mundo Rafa, ele manipulou você essa a principal reclamação da minha mãe, ele sempre foi manipulador
Rafaela pegou o lenço e ficou pensando
A mãe dela apareceu na porta e atrás dela Carlinhos, Rafaela foi em direção à mãe e a empurrou
— Deixa ele aqui dentro com a gente — Rafaela disse — Isso é entre nós três
— Não senhora — Rose tirou a mão da filha do peito — Vamos resolver isso, todas nós transamos muito com ele e precisamos esclarecer algumas coisas aqui — Rose falou assertiva, olhou para a porta onde estavam Marcel e Roseane — Vocês tchau — Fechou a porta sem cerimônia.
Carlinhos olhou para as três, estava no canto do quarto, acuado, atrás da porta, sentiu-se acuado
— Eu cancelei uma cirurgia por causa disso, acho bom ser importante! — Ele disse sério tentando esconder seu nervosismo atrás de uma aura autoritária, conhecia aquelas três mulheres muito bem, manipulava-as à muito tempo.
— Seu filho da puta! — Rafaela se levantou em fúria indo para cima dele
Rose colocou a mão no peito dela e a empurrou de volta para a cama
— Vocês duas, fiquem quietas aí — Rose disse séria com a voz firme.
Observou Rafaela e Natali ficarem quietas, elas olhavam para Rose com atenção.
Rose voltou a atenção devagar para Carlinhos
— Carlos, vamos lá — Virou-se para a cama e se por cima dela alcançando o diário e entregou para ele — Reconhece isso?
Assim que ele tocou o pequeno caderno suas narinas se abriram ele ergueu o corpo dando uma golada seca
— Reconheço, é o meu diário, como vocês ousam invadir a minha privacidade desse jeito? Vocês deviam se envergonhar — Ele disse severo — Quem pegou? — Ergueu o diário no ar — Eu não fico lendo as coisas de vocês, invadindo as intimidades de vocês
— Para de graça Carlos — Rose disse firme — Elas se assustam com você, eu não, você sabe — Fez um sinal negativo com a cabeça e soltando o ar demonstrando cansaço — Só esclarece as coisas logo e poupa a dor.
Ele olhou para ela fazendo um gesto negativo com a cabeça, parecendo decepcionado.
— Que coisas Rose? — Ele perguntou sem entender
— Quando você transou com a Rafaela e tirou a virgindade dela você sabia que tinha uma chance grande dela ser sua filha, por que ela é parecida com a Natali — Rose indagou — Certo?
— Ela tem o problema no ouvido que é do pai dela, ela não é minha filha — Observou relutante — Isso é evidente — Carlos disse com firmeza
— Se soubesse que era sua filha teria transado com ela? — Rose perguntou séria
— Evidente que não — Carlos disse sério
— E quando você comeu a Natali no mesmo motel uma semana antes da Rafaela você sabia que a Natali era sua filha ou você tinha dúvidas? — Rose perguntou
Carlos tremeu, piscou e olhou para ela, depois para as meninas que olhavam apreensivas, pegou o diário e folheou. O suor brotou em seu rosto.
— Nem tudo o que está aqui é verdade — A voz dele falhou
— A gente verificou a história pai, bate certinho — Natali disse desanimada
Ele encostou na parede
— Você falou pra elas que no dia que você comeu a Natali a gente tinha dormido junto e no dia que você comeu a Rafa eu tinha chupado você hora antes? — Rose perguntou curiosa esperando a resposta dele
As meninas se assustaram, não sabiam disso.
Carlos não respondeu rápido, demorou alguns segundos
— A Noeli sabia, eu não estava traindo ninguém — Carlos disse
— Só eu né? — Rafaela afirmou — Você me traiu com essa história toda, meu primeiro dia, minha primeira vez, era para ser nosso momento, único, dentro da minha mente e você fez uma cópia barata do dia que você transou com sua própria filha Carlos? Você me traiu, traiu minha essência, minha juventude, eu entreguei minha virgindade para você, eu estava apaixonada.
— Eu te amei Rafaela, isso era verdade, a primeira vez com a Nati foi tão perfeita que eu quis repetir, queria ter certeza que seria perfeito pra você também, vocês eram tão parecidas que eu não consegui pensar em outra coisa, se ela gostou você também iria gostar, a gente mal se conhecia de verdade, eu não sabia do que você gostava, eu tinha medo de te desagradar e te perder
Rafaela engoliu seco
— E você filha — Carlos disse virando para Natali — Você é a minha filha querida eu te amo como pai, te amo como homem, a sua existência faz a minha vida sem a sua mãe suportável, sem você eu não tenho nada no mundo.
Natali piscou forte, não sabia o que dizer, olhou para Rafaela e para Rose procurando algum tipo de apoio, mas ambas pareciam perdidas em seus próprios mundos particulares
Ele se virou pra Rose
— Você Rose, você sabe que eu te amo desde que te vi a primeira vez, falamos com a Noeli, tentei roubar você do Marcel por que você era perfeita e eu queria você e a Noeli para mim, minhas duas esposas lindas e perfeitas com as duas filhas perfeitas — Apontou para as meninas — Você sabe o que eu sinto por você
Rose ficou olhando para ele com cuidado, apreensiva, parecia tentar ler a mente dele, quando Carlos ia falar ela interrompeu.
— Carlos — Falou pensativa, coçou o canto da boca — Eu não caio nisso, você sabe, meu amor, eu sou mais velha, você já deu essa desculpinha do amor algumas vezes, por que eu não larguei o Marcel?
— Por que seu amor por mim nunca foi o suficiente — Carlos disse dramático
— Não, não — Rose colocou as mãos na cintura — Carlos, vamos lá, dessa vez, sem mentira, sem manipulação, olha pras duas, nossas filhas. — Apontou para Natali e Rafaela sentadas na cama.
Ele olhou para elas, Rose continuou
— A sua filha te ama, ela quis que você fosse o primeiro dela e ainda faz amor com você por que sente que você está sozinho — Rose olhou para Natali — Acertei Nati?
— Acertou tia — Natali disse falando quase num sussurro
— A minha filha — Rose continuou olhando para Rafaela — É tão apaixonada por você quanto eu sou, infelizmente ela também herdou esse problema de mim, ela perdeu um filho seu e isso partiu o coração dela.
Carlos engoliu seco
Rose aguardou alguns segundos, observou o suor descer da testa dele.
— Agora conta pra elas por que eu não larguei o Marcel para morar com você, não me faça perder tempo — Rose disse — Por favor — Rose deu as costas para Carlinhos e olhou para as meninas assustadas na cama.
Ele respirou fundo, parecia ter desarmado as defesas, pegou um lenço no bolso da calça e passou no rosto limpando o suor e acariciando o cabelo com o lenço.
— Vocês precisam saber que eu amo vocês, todas vocês — Ele disse explicativo
— Carlos, por favor! — Rose disse severa — Só responda.
— Por que eu estava traindo a Noeli com outra garota — Carlos disse
— Isso te lembra algo filha? — Rose perguntou ao olhar para Rafaela
— Você sempre faz isso? Está com uma, diz que ama e depois está com outra? — Rafaela perguntou — É sempre sexo e só sexo?
Ele hesitou em responder, Natali se pronunciou
— Você não se sente sozinho, pai? Só quer me comer mesmo? — Natali perguntou com a voz embargada — Eu sou só um buraco quente para você colocar seu pinto e gozar, é isso?
— Não é assim, calma meninas — Levantou o dedo para Natali — Em primeiro lugar eu te amo e depois a gente fala do nosso momento íntimo, aqui não é o lugar
— É o lugar sim! — Natali falou irritada se levantando e batendo os pés como se fosse uma menina birrenta — É a hora de falar toda a verdade seu velho tarado sem vergonha!
Carlos olhou assustado, não era comum ela ter aquele tipo de atitude
— Filha, calma — Carlos disse à Natali, se aproximando para tocá-la
Rose segurou-o com a mão no peito impedindo de tocar Natali
— Calma nada — Natali gritou histérica — hoje eu vou decidir se continuo te considerando meu pai ou não! — Falou magoada voltando a se sentar na cama sendo abraçada por Rafaela
— E aí, Carlos, quantos chifres você colocou em mim? — Rafaela perguntou — Será que bateu o recorde da sua ex esposa e da minha mãe?
— Você também me traiu Rafaela, o filho não era meu — Carlos falou olhando para Rose para Natali
— A gente sabe — Rose disse tranquila
— Eu não te traí, a gente tava só ficando e eu te falei, você sempre soube — Rafaela apontou para ele — Você disse que queria assumir a criança mesmo assim, mesmo se não fosse sua! Não jogue isso pra cima de mim.
— Quer maior prova do que eu te amo? — Carlo disse em súplica — Assumi um filho que não sabia se era meu.
Rose tomou a frente
— Não é isso que está sendo discutido aqui Carlos, não é o seu amor pela gente que está a prova, você ama cada uma de nós de um jeito diferente e isso está claro, a discussão aqui é sobre respeito, sobre consideração, sobre tratamento e sobre futuro.
Ele observou Rose terminar de falar
— Você desrespeitava a sua mulher, mentia para mim também, me desrespeitava, manipulava a sua filha e mentiu pra minha filha, vamos lá Carlos você tem mais de cinquenta anos, tá na hora de parar com essas loucuras e assumir seus erros
— Juramento de Hipócrates pai! — Natali falou acusando-o enquanto Rafaela a abraçava — Você é um médico, você jurou seguir o Juramento que todos os médicos seguem e lá diz “fiel aos preceitos da honestidade”, cadê sua honestidade pai? Tô vendo tudo, mas nada de honestidade aqui, você só faz o mal!
Carlos hesitou, pela primeira vez parece que algo atingiu ele, abriu a boca, mas não emitiu som algum, deu um passo para trás, encostou-se na parede e tirou o óculos, pareceu desorientado, por um segundo elas pensaram que ele iria desmaiar.
O quarto ficou em silêncio por alguns segundos, apenas a respiração pesada dele, Carlos deslizou pela parede sentando-se ao chão, com os óculos na mão:
— O que vocês querem comigo? — Carlos disse pensativo — Me trouxeram aqui para acabar comigo? Se foi isso vocês conseguiram, eu não tenho o que dizer.
— Não é isso — Rose disse — Somos três mulheres diferentes compartilhando o nosso amor e nosso tesão por você, Deus sabe porque, pois você não merece — Rose disse — Nunca mereceu tanto amor assim.
Rafaela se levantou, estava mais calma
— Eu quero entender, por que você magoa tanto a gente e mesmo assim diz que nos ama — Uma lágrima desceu dos olhos dela e ela limpou — Explica isso, por favor.
O rosto de Carlos era entristecido, olhou para Natali, ela não disse nada, apenas olhava para ele com cara de decepção.
Ele respirou fundo
— Eu não queria magoar ninguém, nunca quis — Ele falou pensativo — Eu sempre quis o amor, sempre quis amar e ser amado — Apontou para Rose com os óculos nas mãos — Você foi a primeira mulher que eu amei de verdade, a primeira que eu disse “eu te amo”, você sabe que isso é verdade
Os olhos de Rose se encheram de lágrimas, ela virou-se de costas para a parede, não queria que ninguém a visse
— Sei — Respondeu seca, deixando a ambiguidade se ela sabia mesmo ou se era um desdém
— Você não amava minha mãe? — Natali perguntou com os olhos coloridos grandes brilhantes de lágrimas
— Amava sim, depois eu aprendi a amar e você foi o fruto desse amor — Carlos se defendeu — Amar você filha era como uma extensão da sua mãe, você é praticamente ela, eu… — Ele parou para pensar — Me perdoe pelo que vou falar agora, mas quando estou com você eu sinto que estou com ela, você de certa forma, para mim é ela. — Ele desviou o olhar
Natali se assustou, não esperava por aquilo, o olhar dela se perdeu
Carlos olhou para Rafaela
— E você — Ele disse — Você foi inesperada, você era linda, diferente, lembrava a Rose na juventude, sem a malícia, sem o sarcasmo, sem as dores que eu tinha ao vê-la, você era a chance perfeita para eu recomeçar.
Ele colocou as mãos nos rosto e enxugou os olhos se esquecendo do lenço
— Não que eu tivesse algum plano da sua mãe morrer — Falou para Natali — Aquilo foi uma fatalidade e Deus sabe o quanto eu lutei contra isso, dias e dias debruçado estudando para tentar resolver, correndo atrás de especialistas, remédios, procedimentos — O Rosto dele se contorceu sentindo dor e ele soluçou ao chorar.
— A gente sabe disso Carlos — Rose disse ainda olhando pra parede — Não estamos duvidando que você não tentou salvá-la, eu mesma vi sua paixão, sua luta, suas noites em claro e suas viagens para falar com especialistas, as humilhações que você teve que cometer pedindo ajuda à desafetos.
Carlos ergueu a cabeça, estava pensativo o rosto vermelho.
— Eu sei que sabem, mas o que eu quero dizer é que eu sabia, sabia que em alguns anos a Noeli ia morrer, se eu conseguisse ela teria mais um ou dois anos pois a gente demorou demais para descobrir — Ele parou uns segundos — E eu vi na Rafa a chance de proteger, a chance de recomeçar a vida.
Ele olhou para Rafaela, ela ficou surpresa
— Comigo? — Rafaela perguntou sem entender
— Sim, você representava o recomeço, tudo do zero, eu precisava ser rápido, mas não consegui, não queria magoar a Natali nem a Rose nem cuspir no túmulo da Noeli — Ele falou surpreendo todas
E continuou:
— Eu queria me casar com você, ia propor casamento daquele dia que você me descobriu, aquela pessoa que te chamou para me desmascarar havia sido rejeitada por mim e eu disse que iria me casar com você e meu legado seria recomeçado com você, aquele filho foi um engano, ela me embebedou e transou comigo, eu não queria um filho nela, eu queria um filho em você.
— O filho dela nasceu? — Rafaela perguntou
— Sim — Carlos disse
— Era seu mesmo? — Rafaela perguntou
— Sim — Carlos disse — É meu filho.
Rafaela fez um sinal positivo com a cabeça.
Novamente um silêncio na sala
— Mas eu não a amo — Carlos disse
Rafaela fechou os olhos e soluçou baixinho com as lágrimas novamente caindo dos olhos.
— O que eu posso fazer para me desculpar com vocês, para reparar todo o mal que eu fiz, para colocar uma pedra em cima disso tudo? — Ele perguntou em súplica — Eu faço tudo o que me pedirem, eu amo vocês, não quero nenhuma de vocês mal de nenhuma forma, só de pensar que fiz mal a uma de vocês sinto meu peito doer.
Rose desistiu da parede, se virou para ele, o rosto vermelho, um lenço úmido na mão, tentava enxugar o rosto brilhante de lágrimas, mas era inútil, suas mãos tremiam, quem não conhecesse acharia que era apenas nervoso, mas Carlos sabia que aquela tremedeira era um outro problema.
— É impossível você me magoar mais Carlos — Rose disse sorrindo de forma triste — Pensando bem, eu achava que não era possível, aí você magoou a minha filha e me atingiu em cheio, então resolva com ela, comigo eu não tenho mais pretensão e falo sério, por mim está tudo bem, eu já te conheço eu não sou mais enganada por você. — Disse sincera — Vá em frente, tente enganar ela.
Ele olhou para Rafaela
— Me perdoa, eu não quis te magoar, eu posso ser melhor, se você me dar outra chance, eu prometo que tento remediar e tento ser um homem incrível pra você
Rose sentiu uma pontada quando ouviu ele falando aquilo.
Carlos se levantou, sua figura era imponente, mais alto que todas elas, parecia sozinho tomar sessenta por cento do quarto.
Rafaela olhou para ele, para a mãe e para a irmã pedindo ajuda, ninguém reagiu
— Eu, eu — Rafaela disse — Não, você me magoou muito, eu não consigo.
— Como eu posso consertar isso? — Carlos se aproximou dela, tocou o rosto confuso de Rafaela, ela o olho surpresa e distante, a expressão infantil, quase encantada
Rose colocou a mão no peito dele, em seguida segurou seu pulso e o afastou de Rafaela
— De longe, sua manipulação com o toque é mais fácil, eu sei — Rose disse — Aprendi isso já — Olhou para as garotas — Vocês aprendam isso também pois demorei para entender.
Rafaela olhou confusa
— Acho que você se explicou o suficiente Carlos, basta, melhor você ir — Rose disse decidida — Elas precisam pensar
— Nati — Carlos olhou para filha
Ela se levantou, pegou a bolsa e colocou no ombro, os olhos molhados, a maquiagem borrada
Olhou para Rafaela
— Depois a gente fala — E abriu a porta saiu pisando duro
— Nati — Ele falou pesaroso indo atrás dela.
Carlos foi embora, Rose também, Rafaela ficou sozinha no quarto, sentou-se de pernas cruzadas na cama, olhando para o infinito, queria se balançar levemente, lutou contra esse sentimento de infância, queria dormir, queria entrar no seu mundo, mas resolveu lutar contra aquele conforto, resolveu ficar imóvel.
Seu ouvido doeu, sua cicatriz na cabeça ardeu, suas mãos tremeram, ela respirou fundo e se concentrou num ponto infinito no meio dos seus olhos, estranhamento tudo pareceu ficar em paz, pensou sobre tudo, tudo o que estava fazendo e por que tudo dava errado.
Abriu os olhos, já haviam se passado horas, era o fim da tarde.
Ela esticou a mão e pegou o celular
Tinha uma mensagem de Natali
“Eu te amo tá, não esquece disso nunca!”
Mandou outra mensagem
“Também te amo, onde você está?” — Rafaela perguntou
Pensou consigo mesmo
Uma voz disse lá no interior dela, um pensamento
“Rafaela você precisa fazer algo diferente para ter um resultado diferente, ninguém comprometido, alguém só seu, está na hora já, o tempo vai passar e você vai ficar para trás, chega de homem problema, corre atrás da sua própria vida”
Olhou para o celular, foi até a agenda, desceu devagar os nomes e parou no primeo que chamou sua atenção
“Paulo - Oficina”
Ligou, o telefone tocou cinco vezes
— Rafaela? — A voz do outro lado era abafada
— Oi — Ela disse num tom doce
— Caramba, achei que tivesse esquecido de mim — Paulo disse pensativo — Precisa de alguma coisa? Tá tudo bem aí?
— Tá tudo bem, você quer sair hoje? — Rafaela disse sendo direta
Do outro lado da linha Paulo ficou em silêncio, Rafaela não sabia se a linha tinha caído
— Alô, Paulo? tá me ouvindo? — Ela perguntou mexendo a cabeça para tentar encontrar sinal
— Éééé…. — Ele murmurou — Tô ouvindo sim, você quer ir que horas? Pra onde é o horário?
— O que? — Ela perguntou sem entender
— Desculpa — Ele falou atrapalhado — Pra onde você quer ir? Que horas?
Ela sorriu, gostava quando os meninos ficavam atrapalhados com a presença dela, a fazia sentir-se poderosa.
— Só quero dar uma volta, tô meio cansada sabe, queria conversar, me distrair, sei lá — Rafaela disse pensativa
— Tá, tô só fechando aqui, em duas horas eu estou aí pra te pegar, pode ser?
— Pode sim, vou tomar um banho e ficar bonita — Rafaela disse, percebeu que sua autoestima estava baixa, a conversa com Carlos havia deixado ela triste
Ele riu
— Impossível estar diferente disso, Jajá chego aí, um beijo — Paulo falou animado
— Beijo — Ela respondeu e desligou sentindo-se melhor
Olhou o celular, tinha uma mensagem e Natali
“Estou em casa, no apartamento, e você?” — Natali disse
“Estou na cama, vou sair com o Paulo da Oficina” — Rafaela disse
“Ele é gatinho, você gosta dele?” — Natali perguntou curiosa
“Ele é legal, eu só preciso sair um pouco, como você está?” — Rafaela perguntou
“Esse negócio do meu pai, eu não sei bem, foi uma bosta né?” — Natali disse
“Foi sim, eu não sei o que pensar, o que você pensa sobre tudo?” — Rafaela perguntou
“Eu ainda amo ele, mas estou magoada, e você?” — Natali disse
“Impossível não amar esse filho da puta, impossível não estar magoada com esse filho de uma puta!” — Rafaela disse nervosa
Em seguida mandou outra mensagem
“Desculpe” — Rafaela se desculpou por ter ofendido
“Não se desculpe, ele é complicado mesmo” — Natali disse
“Encontrou ele aí já?” — Rafaela perguntou
“Já sim” — Natali disse sucinta
“E?” — Rafaela insistiu
“Conversamos” — Natali disse parecendo economizar palavras
Rafaela pensou um pouco
“Transou com você né?” — Rafaela perguntou
A resposta demorou para vir, mas veio simplória
“Sim” — Natali respondeu
Rafaela respirou fundo, outra mensagem chegou
“Pode me julgar, eu sou uma idiota, se não quiser falar mais comigo tudo bem” — Natali disse
“Não julgo ninguém, muito menos você” — Rafaela disse entristecida
“Obrigada” — Natali respondeu
“Vou sair tá, beijo, falamos depois, só se cuida” — Rafaela disse
“Divirta-se” — Natali respondeu
Rafaela se levantou e foi ao banheiro, tomou um banho, voltou ao quarto, arrumou o cabelo que já crescia, colocou um vestido preto justo, por baixo uma lingerie preta, rendada, sem muita pretensão, era confortável e bonita.
Olhou no relógio, estava quase na hora de Paulo chegar.
Desceu as escadas, a mãe, pai e tia conversavam na sala lendo uns papéis pareciam animados
— O que estão vendo? — Rafaela perguntou curiosa
— Tá bonita — O pai falando quando a viu
Ela se aproximou e se sentou no colo dele no sofá, parecia distante
— O que estão vendo? — Tentou ver os documentos que a mãe e a tia mexiam
— É só seu Padrinho Rafa, ele vai sair amanhã, o Juiz expediu já a ordem de soltura, preciso levar isso cedinho.
— Que legal! — Rafaela ergueu as mãos e pulou no colo da tia — Finalmente! — Falou abraçando-a comemorando — Vamos ter que comemorar! — Rafaela falou mostrando animação, mas ainda sentia uma pontada de tristeza — O que vamos fazer?
— Não sei, acho que quando ele chegar a gente vê, faz tanto tempo que não tô acreditando — Roseane falou animada
— Primeiro fica com ele sozinha, depois você vê isso — Rose falou para a irmã
Rafaela se ajeitou no colo da tia
— Isso mesmo tia — Segurou na mão da mãe — Fica com ele tá! — Pensou mais um pouco — Berinjela! — Falou arrumando o vestido que subia
— O que tem Berinjela? — Roseane perguntou
— Ele adorou minha lasanha de berinjela, vou fazer outra pra ele, o que acha? — Rafaela perguntou
Roseane revirou os olhos
— O que você fizer ele vai gostar, você sabe — Falou entediada
Rafaela sorriu
— Mãe, posso falar com você rapidinho ali na cozinha? — Perguntou
— Claro — Rose se levantou e foi até a cozinha, Rafaela foi junto
Rafaela deu um abraço na mãe e um beijo na bochecha
— Eu te amo tá, eu vi sua cara de dor, eu não queria te causar nenhuma dor, me perdoa por tudo o que eu te fiz passar.
Rose a abraçou de volta, com força
— Você não tem culpa, meu tempo passou amor, o seu é agora — Rose disse — Independentemente de você ficar ou não com aquele velho sem vergonha eu não vou ter ação nenhuma
Continuaram abraçadas
— Eu também te amo — Rose disse — Obrigada por vir falar comigo, significa muito pra mim
Rafaela olhou para a mãe e arrumou o cabelo fino dela, castanho com fios grisalhos, castigada pelo tempo
— Você é linda — Rafaela disse — Quero ser bonita assim na sua idade
Rose sorriu
— Você é mais, aonde vai? — Perguntou
— Vou sair com o rapaz da oficina, o Pedro, decidi que não vou ficar mais correndo atrás de quem me faz mal, vou fazer diferente para ter resultados diferentes — Rafaela falou sensata — E ele parece legal
Rose sorriu
— Que ótimo — Falou animada — Sabe da Natali?
— Falei com ela, ela tá lá com ele — Rafaela disse
— Entendo — Rose disse — Ela é a filha dele né — Falou pensativa — Enfim
— Eu não sei mãe, não sei se é perigoso pra ela
— Ela é sozinha Rafa, oferece pra ela vir morar aqui, pelo menos por um tempo, a gente dá um jeito, eu sei que ela tem dinheiro, mas aqui ela tem a gente — Rose disse — Tenho medo dela se perder na vida.
Rafaela abraçou a mãe
— Tá bom, eu vou arrastar ela pra cá
O Celular de Rafaela tocou, era Pedro
— Estou indo — Rafaela disse
— Onde você vai? — O pai de Rafaela perguntou
— Ah — Ela se aproximou do pai — Vou sair com o Pedro da oficina, ele vai me levar pra jantar — Se inclinou e deu um beijo desajeitado no pai, acabou virando um selinho, Rafaela passou o dedo na boca dele para tirar o batom, ao sair disse para a mãe — Dona Rose seu marido tá com batom de sirigaita na boca — Saiu e fechou a porta
Rose sorriu
🥰🥰🥰🥰
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