Parte 5.
No escuro, minha mente fervilhava rememorando os acontecimentos, meu coração batia acelerado, eu senti muita falta de ar, dor no estômago, e tonturas. Eu não vi quando apaguei. Mas acordei com o Maciel me chamando, preocupado, me chacoalhando na cama:
— Guto, o que se passa? Está passando mal.
Despertei e vi que minha cama estava toda revirada, os lençóis no chão. Olhei para o Maciel sem entender direito o que se passava, e ele falou:
— Voltamos da rua e eu ouvi você chorando, berrando, e vim ver o que acontecia. Você se debatia intensamente, como se estivesse lutando desesperado, e chorava de soluçar.
Olhei para ele, e tentei explicar, embora eu também não soubesse que estive fazendo aquilo.
— Devo ter passado por um pesadelo. Não recordo de nada.
Parei, sentado sobre a cama. Eu me sentia exausto, e com a garganta seca. Me levantei para ir ao frigobar e pegar uma água, e senti uma tontura muito grande, voltando a me atirar sobre a cama. Acho que apaguei novamente por um tempo. Ao abrir os olhos o Maciel estava sentado na beira da cama, e passava uma toalha molhada sobe o meu rosto.
Ele tinha o meu celular numa das mãos. Me mostrou e vi que eu havia esquecido desbloqueado. Ele falou:
— Relaxa Guto. Você está sentindo o quê? Levou um choque ao ver as imagens?
Eu não precisava mais esconder dele. Já devia ter visto tudo, inclusive os vídeos. Fiquei um tempo calado, pensando. Depois falei:
— Não esperava nada disso. O Lazuli me contou umas coisas...
Maciel me tranquilizou:
— Ele falou comigo, durante o passeio. Percebeu ontem que você não sabia de muita coisa. Vamos conversar. Tome esta água, se recupere.
Ele me passou o copo com água. Bebi ávido, e em seguida, repeti outra dose.
Pouco a pouco fui recobrando a cor, a circulação se normalizou. Maciel disse:
— Você parece que teve uma lipotimia, ou mais ainda, uma síncope.
— O que é isso? – Perguntei intrigado.
Maciel sorriu, e explicou:
— Não é grave. Já li sobre isso, e já tive também. A lipotimia representa uma indisposição que se caracteriza por uma sensação de desmaio, provocada pela queda brusca e repentina de pressão arterial. A síncope é mais forte e se caracteriza pela perda temporária da consciência.
Eu estava assustado.
— E o que causa isso?
Ele falou bem calmo:
— Não se apavore. Eu aprendi que esse fenômeno ocorre devido a uma estimulação exagerada do sistema nervoso autônomo, resultando em uma diminuição temporária do fluxo sanguíneo para o cérebro.
Perguntei:
— Apaguei muito tempo?
— Não, foi rápido, uns dois minutos, mas eu vi que sua respiração estava normal. Então, não fiquei preocupado. Sei que você deve estar abalado. Me diga, o que sente?
Eu não tinha muita intimidade com o Maciel, era tio da Laíse, mas era também o patrão. E quem nos ajudou para sair do Brasil e viver fora. Eu disse:
— Você viu as imagens. Eu não esperava nada disso, e o Lazuli me contou coisas que eu não sabia, e que era a Laíse que deveria ter me contado.
Maciel se sentou na beira da cama e falou com jeito de conselheiro:
— Vamos, lá, o que foi que mexeu com você? Preciso saber para entender.
Eu estava mesmo tenso, e precisava falar com alguém. Achei que ele, por ser o mais velho e experiente, seria o melhor para me abrir. Respirei fundo e comecei contando.
Falei tudo, desde o começo, contei como foi que fomos nos envolvendo com o Maycon e a Glenda. E não omiti nada. Ele me perguntou:
— Mas você gostou?
— Gostei, sim. Estava tudo bem. Até ontem. – Eu respondi.
O que houve ontem?
Expliquei:
— Antes de sair, eu sabia que a Laíse ia dormir com o Maycon e a Glenda, e conversamos pela manhã. Eu liberei, mas pedi que ela não desse o rabo, que eu não queria. Ela ficou chateada, pois já estava na vontade de dar. Ela gosta de dar o cu, tanto quanto a xoxota, e devia estar louca para dar para o Maycon que é pauzudo. Eles tiveram uma foda boa. Quando eu pedi, ela não gostou. Ficou emburrada. Contrariada. Eu percebi. No final, para não ficar um clima ruim, eu liberei, disse que ela decidia o que fazer. Mas eu não esperava que ela fosse fazer o que fez.
— O que foi que ela fez? – Ele quis saber.
— Uma suruba com dupla penetração com o Maycon e o gringo. Com participação da Glenda e da Sophie. Eu fiquei sabendo na mesma hora porque a Gessy contou para o Lazuli, e mandou fotos. Ele me mostrou.
— Mas ela fez escondido? Você não sabia? – Ele quis saber.
Olhei para ele, e expliquei:
— A Glenda tirou fotos que ela me mandou, só mais tarde da noite. Mas eu estava já abalado, e sem sono. Nervoso.
Maciel, então, ficou um pouco em silêncio, pensando, depois perguntou:
— Me explique melhor. Você disse que gostou muito de ver a Laíse com outro. Viu ela dando para o Maycon. Deu muito tesão. Não foi?
Concordei. Ele perguntou:
— Bom, isso confirmou para eles, que você gosta de ser corno. Não é isso?
Eu não tinha interesse em negar. Expliquei:
— Sempre me excitou a ideia de ver a Laíse com outro. Era uma fantasia. Quando aconteceu com o Maycon, eu vi o quanto me deixou tarado e aproveitei. E o que mais me deixou louco foi ver o quanto que a Laíse estava gostando.
Maciel sorriu, e perguntou:
— Então, o que é que incomodou tanto, você ontem? Tinha liberado a esposa, sabia que ela ia dar, e já sabe que ela adora safadeza. E você gosta. Por que ficou tão transtornado?
Estava relutante de contar, mas vi que não tinha jeito, então expliquei:
— A Laíse não me contou tudo. Não me contou das conversas no salão, ela não teve segredos do que fizemos, e todos já sabiam desde o começo, só eu que pensava que era segredo nosso. Paguei de inocente.
— Talvez não foi ela que contou, mas a Glenda. A Glenda não tem nenhum filtro. E está totalmente integrada com todos. Ela já transou com todos da casa, até comigo. Você pode estar julgando a Laíse sem saber direito das coisas. – Ele ponderou.
Nessa hora, eu resolvi tocar no assunto mais delicado.
— O Lazuli disse que no salão a Meiry tem um esquema de prostituição. – Falei.
Maciel sorriu:
— Sim, ela tem. Já tinha no Rio de Janeiro, antes da gente vir para cá. Depois da sala de massagem, tem duas salas, e duas garotas atendem lá. Mas alguns clientes da Glenda também gostam de ir lá. A Sophie também faz programa, para juntar dinheiro, quer ter um apartamento dela. E o marido sabe. Não tem nada escondido.
— Mas eu não sabia, a Laíse não me disse nada. E parece que ela também fez programa lá.
Maciel não se abalou. Perguntou:
— Você sabe o passado da Laíse? Alguma vez quis saber?
Fiquei olhando para ele, sem ter o que responder. Apenas neguei com a cabeça. Ele falou:
— A Laíse, quando você a conheceu, trabalhava como manicure, mas fazia programa. Ela parou porque vocês se juntaram. E quem era a cafetina que gerenciava o negócio? A minha irmã, que foi sócia da Meiry. No começo de vocês, quando era só namoro, ela fez programa todo o tempo, enquanto namorava você. E isso, não impediu da Laíse ser uma parceira perfeita a ponto de vocês se juntarem.
Eu olhava para ele, chapado, quase sem acreditar no que ouvia. Minha reação foi dizer:
— Mas... ela nunca me disse nada!
Maciel, abanou a cabeça, como se negasse algo, e exclamou:
— Guto, você não sabe de nada. Era, e ainda é um bom menino, vindo de Minas Gerais, criado por gente honesta e humilde, e bastante inocente. Ela tinha medo de contar e você sair correndo. Quem acha que ensinou tudo no sexo para você? Não foi ela?
Fiquei olhando para o Maciel e lembrando do início do meu namoro com a Laíse. Era verdade, eu aprendi com ela, praticamente tudo que eu sabia em termos de sexo. Eu exclamei:
— Caralho... essa agora!
— Guto, você gosta da sua mulher não gosta? Acha que se soubesse antes, você resolvia assumir a relação e viver com ela? – Ele perguntou.
Era uma questão forte, e eu não tinha a certeza. Fiquei calado, pensando. Maciel falou:
— Fazer programa é algo que as pessoas começam a fazer por necessidade, mas depois se acostumam, especialmente se der grana. É muito difícil parar. É um trabalho como qualquer outro, prestação de serviço, sexo em troca de grana.
Fez uma pausa rápida, e continuou:
— Só que envolve uma entrega mínima para ter intimidade com uma pessoa desconhecida, e procurar agradar. Agradar é uma condição importante. E quem não tem pressão de crença religiosa, nem moralismo, não se sente culpado em fazer. Quando a pessoa é boa no que faz, é elogiada, procurada, e se sente bem com essa valorização. Não se sente mal com o sexo pago, muitas gostam de ser boas naquilo, como uma boa manicura, uma boa massagista, uma boa depiladora.... Sem falar que envolve a autoestima. Quanto mais procurada a pessoa se sente mais encantadora.
Ouvindo a Maciel falar, eu percebia como ele era experiente, e pensava diferente de tudo que eu havia aprendido. Eu disse:
— Isso é o seu modo de ver, talvez o dela, mas não é o jeito que eu aprendi a ser.
Ele me cortou:
— Exatamente. Foi por esse motivo que ela não falou nada, apenas deixou de fazer programa, e foi viver com você. Por gostar muito de você, e estar apaixonada, ao encontrar um rapaz sangue-bom, trabalhador, honesto, dedicado e amoroso, que não fez perguntas, e a aceitou sem se importar que ela fosse uma moça simples e pobre.
Maciel deu uma parada na conversa, esperou que eu pensasse no que ele estava dizendo. Então, retomou:
— Você não sabe que ela ganhava bem com programas, e mandava quase toda a grana para a mãe dela, que é faxineira e vive num barraco lá na Rocinha. Ela só abriu mão disso, porque eu garanti uma mesada para a mãe dela, que é minha irmã. E foi para viver com você. Na época você estava empregado e ganhava bem. Mas a parte mais complicada você não sabe, e eu não vou contar. Vou deixar para ela contar.
Fiquei mais abestalhado ainda. Passava a ver minha mulher, de um jeito que eu nunca havia imaginado, conhecendo um passado que eu ignorava. Maciel me viu pensativo, e perguntou:
— Você acha que eu chamei vocês para cá, por quê? Ela comentou com a Meiry que vocês estavam muito apertados, sem emprego, e devendo ao agiota. E ela não queria se prostituir de novo lá no Rio de Janeiro. Se quisesse, ela tinha onde e como. Eu resolvi ajudar.
Eu agradeci:
— Porra, foi muito bom. Você foi a salvação.
Ele prosseguiu falando sem ligar para o que eu disse:
— Eu sei que vocês merecem, você é um bom profissional, inteligente, e foi muito bom trazer os dois para cá. Eu fiquei satisfeito de ajudar, estou gostando da sua atuação, e a Laíse, sabendo da dívida que tem comigo, pediu para a Meiry deixar ela fazer programa, só para ajudar a pagar a dívida mais rápido. A Meiry não deixou ela contar para você. Com medo de você não entender e dar merda. Por isso ela não contou. A Meiry que impôs essa condição. Ficar em segredo. Até você se acostumar melhor com a situação de ser corno. Está gostando, não está?
Fiquei mais abestalhado ainda com aquela informação. Nos últimos dias, tinham sido tantas mudanças, descobertas, surpresas, que eu não sabia se acreditava ou se achava que todos estavam me enrolando. Eu não sabia o que dizer ou pensar. Tentando encontrar uma justificativa para a minha sensação de insegurança.
Maciel aproveitou meu silêncio para dizer:
— Aquele jogo de se vestir bem sexy, na hora do jantar, ficar à vontade, foi para ir preparando você, fazer se acostumar com a turma, ficar mais liberal. E a Laíse adorou provocar o desejo em todos, e você ficou tarado com aquilo. Todos vimos.
Eu disse:
— Maciel, você viu as imagens dos vídeos. Minha mulher estava adorando dar para dois machos, tarada. Ela gosta de ser safada, bem putinha!
Maciel sorriu, um riso irônico, e ficou um pouco em silêncio. Pensando no que iria dizer. Eu olhava para ele, esperando uma resposta. Depois de uns segundos, ele colocou a mão no meu ombro, num gesto meio de pai, ou de irmão mais velho, e falou:
— Guto. Isso você tem que aceitar, ou não. A Laíse adora ser desejada, adora sexo, ela fode desde muito jovem, se prostituiu cedo para sobreviver. Aprendeu a fazer sexo com muitos machos, de tudo que é jeito. E gosta muito disso, nasceu para ser essa delicia de safada que você conhece. Todo macho fica tarado nela, logo que bota os olhos nela, e a danada adora isso. Laíse adora despertar o desejo nos machos. Fica excitada. Não tem jeito. Mas ela abriu mão disso para ser sua parceira. Por isso, ajudar você aprender a ser corno, foi um caminho que ela encontrou. Queria preparar você, para ser o marido dela, que aceita essa companheira safada como ela é. Você tem que aceitar e gostar de ter essa safada como sua parceira. Ou não. É algo que terá que resolver.
Nossa! Se ele tivesse dado dois tapas bem fortes na minha cara, não teria um efeito tão impactante. Fiquei ali, olhando para ele, sem reação. A cabeça a mil.
Maciel se levantou da cama e disse:
— Relaxa, procure dormir, descanse. Amanhã, ou melhor hoje, voltamos cedo para Lisboa. Espere chegar, saia com sua mulher, converse com a Laíse, e veja o que vai fazer.
Eu fiz que sim com a cabeça, ainda com os pensamentos embaralhados. Maciel foi dormir e eu ainda fiquei por um bom tempo pensando em tudo aquilo. Havia pelo menos uma sensação melhor. Eu tinha informações para confrontar com a Laíse. Mas, também persistia uma sensação estranha, de ter sabido de uma parte da pessoa, da sua vida, que eu jamais imaginei. Adormeci e dormi um sono agitado.
Continua na parte 5.
Conto de Leon Medrado, inspirado no relato original do Guto.
e-mail: leonmedrado@gmail.com
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