Algumas semanas se passaram e nada do Adriano me mandar mensagem. Só aparecia nos stories curtindo a vida, sempre no rolê, sempre naquele jeitão que me deixou hipnotizada.
É como se ele tivesse me passado alguma doença, a doença da loucura. Eu estava contagiada por aquela liberdade, aquele agir instintivo, como se ele não tivesse impedimentos ou inibições, mas, ao mesmo tempo, não era simplesmente um maluco, tarado, sem noção. Ele era desinibido sim, mas estava no controle de si mesmo. Isso conferia a ele um magnetismo indescritível, um poder sutil e inquestionável sobre o espaço e as pessoas ao seu redor. Eu ainda sentia esse domínio por todo o meu corpo, um misto de arrepio, calor, formigamento e falta de ar me envolvia a todo momento, subindo pelas minhas pernas, minha espinha dorsal, meu peito. Minha mente não conseguia se concentrar em mais nada. Sem perceber, ao longo dos dias, eu voltava para aquela festa, para aquele canto escuro onde a presença daquele ser me invadiu por inteiro. Acordava no meio da noite com a mão na calcinha molhada, sonhava com nossa conversa, a dança, a pegação.
Eu não sabia o que fazer, não sabia o que estava acontecendo, nunca tinha sentido nada disso, nunca ninguém havia passado por minha vida e produzido tamanha impressão, tantos efeitos, tantas marcas. Sabia apenas que aquele cara não era normal, tudo era diferente do que eu vivi até então. Em breves momentos de lucidez, eu tentava pensar comigo mesma: você está viajando, Elaine, foi só uma festinha, um pouco de álcool, uma conversa, uns beijos, um boquete. Nada demais. E, de repente, só de repassar os fatos daquela noite numa tentativa vã de racionalização, meu corpo tremia e a excitação se espalhava por todo o meu ser.
"Deixa estar," concluí comigo mesma. Seja o que for, com o tempo passa. Sempre segui esse mantra que sempre me serviu muito bem para levar a vida, especialmente nos momentos de angústia e incerteza. Quase um mês havia se passado daquela festinha e eu gradualmente fui recuperando a sanidade. O tempo e a distância são implacáveis. Uma noite, contudo, um sonho intenso me arrebatou. Eu estava presa num quarto escuro com luzes vermelhas e a voz quente e confiante do Adriano entrava pelos meus ouvidos e ecoava em meus pensamentos:
- Você vai ser minha putinha!
Acordei assustada e molhada. De imediato peguei meu celular na cabeceira da cama para me distrair do susto e me surpreendi ao abrir o Instagram e ver os stories do Adriano circulados na cor verde. Não tive nem tempo de imaginar o que ele poderia estar compartilhando ali ou por que me incluíra na lista de close friends assim do nada. Abri a foto e quase enlouqueci, achei que ainda estava sonhando: era um quarto escuro, repleto de acessórios de BDSM e a legenda: hoje a noite é da minha putinha!