Parte (10)
Abracei a Socorro, ali na rua, e dei um beijo nela, daqueles de cinema. Eu sentia desejo nela, e achei que ela merecia, estava quente nos meus braços e pareceu muito feliz com a minha reação.
Naquele momento, eu me sentia muito mais amadurecido e seguro de minhas decisões. O “tacar o foda-se” foi uma decisão consciente. Eu tinha que reconhecer que as trocas de mensagens com o Leon, foram fundamentais para eu me entender melhor naquela história. Havia lido muitos dos seus contos, e sabia que ele era um sujeito experiente, cabeça aberta, liberal, e que queria me ajudar. Um dos argumentos que ele usou e mais me impressionou tinha sido:
“O maior engano que criaram, especialmente as religiões, é que um relacionamento amoroso deve ser monogâmico, exclusivista, e que as pessoas não podem nem devem ter desejo ou fazer sexo com outras pessoas. É uma enorme mentira dessa sociedade hipócrita, uma prisão, e essa crença, que nasce da insegurança, do egoísmo, e da possessividade, é responsável pela maior parte dos desentendimentos, brigas, separações e vidas infelizes da maioria dos casais. A maioria prefere viver uma vida dupla, falsa, jurando e exigindo fidelidade, tendo relações paralelas por fora, traindo, enganando, escondendo, e tendo um discurso de pureza e retidão que poucos mantém. Muitos dos que não traem, ficam na vontade, e no fundo são insatisfeitos. Eu prefiro a verdade, as pessoas assumindo suas vontades, e se permitindo viver emoções e prazeres que são especiais. A maior prova de gostar de alguém é permitir que essa pessoa faça o que deseja, tenha prazer com quem sentir tesão, e seja feliz”.
Aquilo que ele me disse, me impressionou muito. Mas não foi somente aquilo que ele me falou. Ele explicou: “O fetiche do corno, o fato de fantasiar e se excitar com a companheira sendo motivo de desejo, de admiração, e de cobiça de outros, é muito mais comum e presente numa grande parte de homens, muito mais do que de mulheres. Acontece que pela formação machista a maioria dos homens rejeita, não admite, nega, ou tenta manter em segredo. Com medo de ser considerado um macho beta, e não um macho Alfa. Mas, não tem nada disso. Mesmo os machos alfas, na sua maioria, também acabam passando por uma situação de fetiche Cuckold, que tentam forçosamente, reprimir”.
Leon escreveu numa das mensagens: “É da nossa educação, nas sociedades ocidentais, é da nossa formação, e fruto da repressão que a sociedade judaico-cristã impõe em todos desde pequeninos. E tem outro mito que deve ser destruído. A falsa ideia de que quando se gosta muito de uma pessoa, não se consegue gostar de outra. É mentira que quando se gosta de uma pessoa, não se consegue ter desejo e prazer sexual com outra. Isso, foi fabricado, imposto, pelas religiões e por aqueles que sempre desejaram controlar as sociedades”.
Eu havia me aberto com ele, contado do quanto eu gostava da Laíse, e das minhas inseguranças, quando ela se mostrava independente, e se entregava ao prazer sexual com outros, sem nenhum receio, sem consultar, e sem se sentir presa a nada. Mas também confessei que aquele jeito dela, me excitava muito. Eu tinha muito mais tesão nela quando ela era daquela forma.
Leon, explicou que eu ainda estava relutante, hesitando entre admitir que admirava e me excitava com o jeito independente e liberado da Laíse, e com medo de vestir definitivamente a camisa do liberal, que gostava daquilo. Ele me falou: “Na hora que você admitir que adora essa Laíse, safada, livre, independente, e devassa no bom sentido, a mulher que gosta de ser assim, de seduzir, de despertar o desejo nos homens, que adora ver os mesmos gozando de tesão com ela, vai se sentir muito mais leve, mais desapegado dos valores conservadores, que fazem você se sentir inferior, ou desrespeitado. Na minha opinião, você tem uma mulher muito especial, que adora você, e queria fazer você se soltar e aprender com ela. Acho que ela aceita perfeitamente que você também faça sexo com outras. Mas ela fica insegura de você deixar de gostar dela, e gostar de outra. Em vez de ficar inseguro, você deve abraçar e assumir essa mulher, pois no fundo, é o que você deseja”.
Eu fiquei com muita confiança em me abrir com ele, e contei muito mais do que eu sentia e do conflito que estava vivendo. Ele me perguntou se eu aceitava que ele escrevesse um conto sobre essa minha experiência e eu concordei.
Estava começando a entender que deveria agir com mais naturalidade, e menos auto repressão. Leon havia falado a mesma coisa que o Maciel. Que não procurasse a Laíse, pois ela gostava mesmo de mim, e ela iria me procurar, quando tivesse resolvido seu problema emocional. E me explicou: “Não conheço a Laíse, mas pelo que me contou e pelo seu histórico, a Laíse é perdidamente apaixonada por você, nenhum homem se compara, você a fez se sentir especial, a princesa que toda mulher deseja ser no coração de um homem. Deixe que ela perceba que depende de ela vir buscar o amor da vida dela”.
Ele insistiu explicando: “Então, você vai ter que resolver sua própria insegurança, gostar dela como ela é, e abraçar a relação que ela está permitindo que os dois tenham e sejam felizes”.
Naquela madrugada, eu tinha lido isso tudo, as palavras do Leon me permitiram ver o quanto ele entendia do nosso processo. Mas, eu me sentia muito triste de estar vivendo uma separação tão dolorida, de quem eu gostava tanto. Até que ao encontrar a Socorro, pensei que precisava me desculpar com ela, sem a ferir e sem a magoar. E a reação da moreninha mineira, tinha sido a maior surpresa. Em segundos, eu percebi que poderia ser legal com ela, agradar a ela, me agradar, e nada daquilo afetaria o quanto eu era apaixonado pela Laíse. Foi isso que me fez abraça-la, beijá-la e aceitar a noite de despedida. Não era uma atitude sacana ou aproveitadora, era uma atitude de carinho, de respeito e de satisfação.
Após o beijo, intenso, passei a mão em sua cintura, e disse que ia com ela para o hotelzinho. Fomos andando, às vezes, parávamos pelo caminho, e trocávamos alguns beijos, e eu falei novamente:
— Você é apaixonante. Dá até vontade de pedir para ser a minha namorada. Mas, não estou fazendo isso para enganá-la. Eu adoro a minha mulher, é apenas um elogio sincero. Você é maravilhosa, e não tem obrigação de nada. Entendi sua maneira de ver.
Socorro sorriu, e falou:
— Eu acabei uma relação muito tóxica, de três anos. Não quero mais me prender a ninguém. Sou nova e agora eu quero viver. Mas confesso que se você falar a sério, que fica comigo, eu vou ficar balançada. Gostei muito de você, sua simpatia, meigo, afetuoso, bonito, gostoso, inteligente, viril, simples e generoso, e já fazendo sua vida profissional aqui. Que mulher que não quer esse presente?
Ao ouvir aquilo eu não acreditei que teria coragem de falar a ela o que havia aprendido:
— Socorro, eu aprendi recentemente, que podemos gostar muito de duas pessoas, e não precisamos excluir uma e ficar apenas com outra. Hoje eu sei que posso gostar de você e também da minha mulher. Eu gostei mesmo de você. Você vai voltar para o Brasil, fazer a sua vida, mas marcou um lugar no meu coração.
Faltavam apenas vinte metros para chegamos no hotelzinho. Socorro me abraçou novamente me deu um beijo muito apaixonado. Falou no meu ouvido:
— Que lindo! Me deixou com vontade de voltar, o mais urgente possível.
Naquele instante, ouvi a voz da Laíse dizendo:
— Ah, quer dizer que os dois pombinhos apaixonados voltaram ao seu ninho de amor? Eu já desconfiava...
Foi um susto e eu me virei apavorado.
Continua na parte 11.
Conto de Leon Medrado, inspirado no relato original do Guto.
e-mail: leonmedrado@gmail.com
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